domingo, 11 de agosto de 2024

NÃO HÁ LUGAR COMO O LAR - Capítulo XXI a XXV

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Capítulo XXI

Percy tinha descoberto algo muito interessante nesses últimos dias. Tinha descoberto o caminho certeiro para ter um final feliz, tanto entre as pernas de Nico quando no coração de seu lindo bebê. O segredo para satisfazer Nico era fazer a coisa certa, no momento certo e no ritmo certo. Se ele fosse devagar no começo, o tratando com carinho e fizesse Nico relaxar, a tendência dele ter tudo o que queria de Nico e ir muito além disso, era grande. Sinceramente? Percy não pensava como alguém tão inocente em tudo o que fazia podia ter um lado tão desinibido entre quatro paredes. O engraçado era ver os raros momentos onde Nico se lembrava que não devia agir assim e se sentir encabulado para no momento seguinte Nico abrir as pernas e pedir por mais.

— Você foi um garoto muito arteiro hoje. Você merece uma punição. Meu garotinho lembra o que eu disse hoje mais cedo?

— Hmm… que você me deixaria gozar? — Nico tentou, esperançoso.

— Não, que eu te faria implorar.

— Oh. — Foi tudo o que Nico disse antes que ser jogado na cama e de suas calças serem arrancadas.

Mas Percy fez tudo com carinho. Tirou os tênis de Nico, puxou suas calças para baixo junto com sua cueca e apreciou o momento; não era sempre que Nico lhe deixava ver toda aquela pele exposta. Ele acariciou as longas pernas de Nico e as beijou devagar, mordiscando por onde ia, torturantemente lento em seus toques, subindo e subindo, chegando na virilha de Nico finalmente e se demorando por ali, massageando a junção das pernas com a pélvis e tocando no membro de Nico, ouvindo um choramingo.

— O que foi, bebê?

— Você… você está me torturando!

— Eu estou?

— Hmhmm. — Nico acenou, levando as mãos ao rosto, como se fosse escondê-lo, acabando por morder os dedos bem no momento em que Percy olhou para Nico.

Percy teve que parar para observar a cena. Ele sempre soube que Nico era manhoso, mas vendo a face corada e os olhos quase se fechando de sono, Nico prendendo o próximo gemido junto com um bocejar, Percy admitia que estava no clima para fazer exatamente o que Nico o acusava de fazer. Por isso, ignorou o membro ereto de Nico e foi um pouco mais abaixo e acariciou sua entrada, roçando em suaves e delicados círculos, apreciando o momento que o musculo se abriu feito uma flor para ele, pulsando contra seus dedos.

Mas Percy não o penetrou como Nico queria. Não, ele continuou roçando e roçando, vendo Nico se abrir e fechar continuamente, ouvindo os doces gemidos que seu bebê não conseguia conter dentro de si.

— Percy!

— O que foi?

— Eu…

— Sim?

— Eu preciso de você! Dentro de mim!

— Oh, não. Não chore, a gente nem começou ainda.

— O-obrigado. — Nico murmurou, todo choroso, e se inclinou em sua direção, agarrando em sua camisa, implorando docemente, seus grandes olhos negros o fitando tão desesperado e frustrado que Percy teve piedade, embora só agora Percy estivesse se lembrando do combinado deles. Se Nico não soubesse o que dizer e quiser continuar, diria “Obrigado” e quando estivesse gostoso e mesmo assim quisesse parar, diria “Por favor”.

“Tão doce”, Percy pensou. Ele faria tudo ficar melhor.

Percy puxou Nico contra seu peito e o consolou, beijando seus cabelos, murmurou:

— Pronto, pronto. Já vai passar. Viu? Tudo bem?

— Eu… eu queria…

— Eu sei o que você quer.

Ainda com Nico nos braços, Percy se virou para o lado e abriu a primeira gaveta na mesa de cabeceira e tirou um tubo de lubrificante de lá. Colocou um pouco nos dedos, esquentando o gel na mão e levou os dedos para a entrada de Nico. Exatamente como antes, Nico gemeu docemente e jogou a cabeça para trás quando Percy massageou ao redor da entrada, sentindo Nico derreter feito manteiga em seus braços, se entregando para as sensações que sentia.

Percy não pode evitar o calor que se espalhou em seu peito, ambos de prazer e de afeto, mas de luxúria também, aquele sentimento que o fazia se esquecer de tudo e que o incentivava a pegar tudo o que queria.

— É isso que você queria, lindo? Que eu te fudesse na casa dos meus pais?

Percy tentou ser o mais delicado possível, o mais deliciado que sua mente inebriada de prazer permitia. E ele admitia, não era o suficiente para ele, nunca seria, porque, no fundo, ele sabia que não era assim que devia tratar o seu bebê. Se Percy tivesse com a cabeça no lugar, nunca faria isso, mas algo dentro dele dominava o seu corpo, o fazendo agir de uma forma que ele nunca pensou que agiria.

A verdade é que, desde a volta de Nico, ele não estava agindo como ele mesmo, não estava se comportando como Nico merecia. Mas, no fim, cuidado e gentileza não era o que ele queria dar e não era o Nico tão pouco pedia. Percy não se orgulhava, quando menos viu estava com três dedos dentro de Nico, o abrindo devagar, mas com vontade e com mais profundamente que havia feito nas vezes passadas. Ele teve que parar por um momento e respirar fundo, tinha prometido que não deixaria que seus sentimentos interferirem em seu relacionamento com Nico. O que ele podia fazer se Nico ficava ainda mais bonito, gemendo com as costas curvadas, a ponto de gozar enquanto ele apenas continuava brincando com o corpo de Nico? Descobrindo os lugares que o fazia gemer e o que o fazia chorar de prazer, ou mesmo aquele lugarzinho que estava fazendo Nico gritar, tremendo dos pés a cabeça?

Foi por isso que Percy se obrigou a tirar os dedos de dentro de Nico e respirar fundo. Não era certo tratá-lo feito um boneco de retalhos, um brinquedinho que ele podia usar e depois guardar em uma caixa.

— Bebê? Tudo bem? — Percy se forçou a enxergar entre a névoa de luxúria e ver seu bebê e não… um amante onde ele poderia satisfazer todos os seus desejos.

Percy viu como em câmera lenta. Nico abriu os olhos, desfocados e dilatados, e respirou tão fundo como ele tinha feito, parecendo confuso.

— Não… ah… não pare… eu… obrigado. — Nico disse na voz mais suave e doce que Percy já tinha ouvido, todo obediente e contente, sorrindo, completando: — Estou tão bêbado.

E então, Nico estava rindo, parecendo mais chapado do que qualquer bebida poderia causar, colocando os braços em volta de seu pescoço e o beijando suavemente. Percy não poderia recriminá-lo, se sentia tão inebriado quanto Nico demonstrava estar, mas o que Percy não havia percebido até aquele momento eram as lágrimas que escorriam, vendo os olhos de Nico que além de estarem desfocados, estavam marejados também; a pele morena quente ao toque, manchada por linhas invisíveis. Por que Percy sabia disso? Ele teve que levantar sua mão e limpar o rosto de Nico, as deslizando até segurar Nico pela nuca e pescoço, as mantendo ali, fincadas nos cabelos de Nico. E Nico? Bem, ele apenas gemeu, deixou que Percy o inclinasse para mais perto e abriu mais as pernas, se oferecendo a Percy.

Percy não queria pensar nisso, nessa… demonstração de submissão. Aquilo fazia algo dentro dele acordar, algo que Percy tinha vergonha de admitir ter dentro de si. Mas… ele olhou para baixo e viu que Nico tinha gozado em algum momento. Eles deviam parar, não? Então, por que Percy estava abrindo as próprias calças e estava aplicando lubrificante no próprio membro?

Percy grunhiu quando sentiu a ponta da cabeça de seu membro entrar em contato com a entrada de Nico. Eles deviam usar camisinha, não deviam? Mas ele sabia que Nico era virgem antes de transar com ele, o que Percy sabia ser mais uma desculpa para seu cérebro cheio de endorfinas não o forçar a parar. Entretanto, Nico tinha pedido, não tinha?

Ele não hesitou mais, segurou Nico pela cintura e o puxou contra seu membro, deixando que a gravidade fizesse seu trabalho. Era uma experiência fora do corpo ver a entrada pequena e apertada de Nico acomodar seu tamanho, o observando descer devagar, o recebendo centímetro por centímetro, seu membro desaparecendo dentro de Nico quase sem esforço nenhum, ouvindo agora os gemidos agudos e arfados contra seu ouvido, peito contra peito, sentindo Nico o abraçar com força pelo pescoço e enrolar as pernas em volta dele, rebolando em seu colo tão gostoso que por um momento Percy se viu sem reação, apenas sendo capaz de arfar contra os cabelos negros de seu bebê, o ajudando no que pudesse.

Então, Nico soltou um longo e arfado gemido contra seu pescoço e o mordeu, parando de se mover imediatamente, o apertando tão forte que Percy não sabia como não tinha gozado naquele mesmo instante. Nem mesmo assim Percy teve forças o suficiente para parar, achando que eles tinham ficado por longos momentos naquela mesma posição, sentados e imóveis na cama e que talvez Nico tivesse pegado no sono, ou até que Nico tivesse gozado de novo e não quisesse mais continuar.

Esse foi o momento em que Percy ouviu um gemidinho manhoso e sentiu Nico se mover, só um pouquinho, girando os quadris, como se tentasse encontrar uma posição melhor. E Percy, como o cavaleiro que era, o ajudou. Ainda segurando na cintura de Nico, ele o moveu um pouco para a direita e então para a frente, encontrando um ângulo mais confortável. Sim! Percy achava que tinha encontrado, sentindo Nico o apertar forte e gemer como se estivesse morrendo.

— Assim? É gostoso?

— Ah… ah… obrigado! — Nico se contorceu todo e se forçou contra ele, voltando a abraçá-lo com força. E já que Nico estava tão decidido a matá-los de prazer, era a melhor forma que Percy poderia morrer.

Percy segurou com mais força nos quadris de Nico e quase o imobilizando, o puxou para cima e então o levou para baixo, devagar e gostoso, sentindo Nico o apertar tanto que quase chegava a doer.

— Bebê, você tem que relaxar, hm? Respire fundo pra mim.

Nico fez, porque ele era o melhor garoto do mundo, e se deixou cair sobre seu peito, relaxando com a cabeça apoiada em seus ombros.

Ah, assim era bem melhor, porque, de repente, seu membro estava deslizando para dentro e para fora de Nico sem nenhum esforço, Nico gemendo sem nenhum pudor com a cabeça jogada para trás. Percy observou por um momento como Nico se entregava para ele sem nenhum medo e se esqueceu dele mesmo, lamentando que quase perdeu Nico para sempre.

— Você quer gozar? — Percy perguntou, se sentindo flutuar.

— Per… eu… ah! Eu não sei! — E de novo na voz mais doce, porém agora arfada e desesperada, Nico abriu aqueles olhos negros e implorou com o olhar, algo que ele próprio parecia não saber o que era.

Percy não sabia muito o que estava fazendo, mas se Nico queria, ele faria isso ser realidade.

— Se toque.

— O-oquê? — Nico perguntou sem entender.

— Eu quero que você se toque.

Percy, então, segurou em uma das mãos de Nico e a levou entre seus corpos onde o membro de Nico estava ereto.

— Eu quero ver. — Percy repetiu e esperou para ver o que Nico faria.

Nico piscou lentamente para ele e ainda parecendo incerto e chapado, envolveu os dedos em volta de si mesmo e começou a deslizar a mão para cima e para baixo, no toque mais delicado e suave que Percy já tinha visto. Ele não fez nada além de observar Nico se tocar ainda com ele dentro de Nico, sentindo Nico pulsar e o apertar ritmicamente por curtos minutos.

Não demorou muito, tão devagar e suavemente como Nico tinha começado, Nico gozou, com longos movimentos e gemidos mais doces ainda. E dessa vez Percy viu, Nico ejaculando, o pequeno membro estremecendo e enfim soltando as últimas gotas até que Nico parou de mover a mão e olhou para Percy, piscando lentamente e respirando rápido, como se esperasse a próxima ordem.

Esse estava sendo um momento levemente estranho e maravilhosamente extraordinário para Percy. Ele estava contente em apenas observar o prazer de Nico e deixar que sua ereção sumisse sozinha. O fato é que Nico ainda olhava para ele, ainda parecendo incerto e sinceramente confuso.

— Você não vai gozar? — Nico perguntou a ele e Percy quase riu, achava que estava enlouquecendo.

— O que você sugere que eu faça, hm?

— Oh. — Nico murmurou, entortando a cabeça e encostando delicadamente suas mãos sobre os ombros de Percy. — Eu posso decidir?

— Claro.

Percy deu de ombros, por que não?

A surpresa veio imediatamente. Nico levantou o quadril, gemendo baixinho e deixou que o membro de Percy escorregasse para longe dele. Logo em seguida, Nico se ajoelhou na cama, se sentou entre as pernas de Percy e segurando na base, beijou a cabecinha por longos momentos. Ele lambeu e chupou sem pressa para enfim sugá-la inteira, começando uma sucção leve, na visão mais bonita e erótica que Percy já tinha tido o prazer de presenciar, achando que aquele seria o orgasmo mais rápido de sua vida.

Nico começou a mover as mãos também e de repente, seu membro estava deslizando para dentro da garganta de Nico. Mas o que o fez enfim gozar foi quando Nico engoliu em volta dele e arfou, engasgando levemente. E de novo, Percy não teve reação se não se apoiar na cama e jogar a cabeça para trás, gemendo longamente. Percy dirigiu o olhar para Nico e o observou continuar a chupá-lo, agora tão suavemente que ele mal podia sentir, só deslizando para longe quando Nico teve a certeza que Percy tinha terminado, enfim amolecendo contra seus lábios.

Percy suspirou e fechou os olhos por um momento, curtindo o prazer se esvair lentamente. Era como se um mundo novo tivesse se aberto bem em frente aos olhos dele; Percy não sabia que alguém chupar seu membro poderia sacudir seu mundo dessa forma. Mas, claro, Nico não era qualquer pessoa e ninguém além de Nico poderia causar essas sensações nele.

— Per? — Ele ouviu a voz baixinha de Nico o chamar. Percy abriu os olhos e percebeu que ele ainda tinha a cabeça jogada para trás e encarava o teto. Era difícil até de abrir a boca.

— Hm?

— Eu… desculpa… eu não queria…

Ele não queria? Percy queria rir de histeria e prazer.

Contente e verdadeiramente satisfeito, Percy enfim reuniu forças para se mover e se sentou na cama, vendo que Nico ainda estava entre suas pernas. O engraçado é que Nico não parecia feliz, parecendo que iria cair em lagrimas a qualquer momento.

— O que foi, bebê?

— Eu te machuquei.

— Me machucou?

— Você parecia com dor, mas eu não queria parar. Você nunca me deixa fazer isso.

Percy sorriu e puxou Nico para seu colo, o abraçando contra seu peito. Ele poderia dizer que Nico estava certo; foi tão bom que chegou a doer, como se seu orgasmo estivesse sendo puxado para fora dele e Percy não tivesse nenhum controle sobre isso.

— Você não me machucou. De fato, você só precisava pedir. Você foi ótimo.

— Eu fui… ótimo? — Nico se afundou contra o peito de Percy, mas ainda parecia em dúvida. — Se você diz, vou acreditar.

Percy sorriu novamente e beijou os cabelos de Nico. Ele só esperava que Nico não brigasse com ele na manhã seguinte quando ambos estivessem completamente sóbrios.


 

Capítulo XXII

— Se você diz, vou acreditar. — Percy ouve Nico dizer, o observando fechar os olhos e suspirar antes de relaxar contra seu peito, agora respirando profundamente em seu sono.

Percy quase caiu na tentação de fazer o mesmo e dormir naquela exata posição, sentado no meio da cama com Nico o usando como um travesseiro. Infelizmente, ele tinha que ser a pessoa responsável.

Sentindo as pernas ainda tremendo, colocou Nico deitado sobre os travesseiros, o cobriu com um lençol e se levantou. Entrou no banheiro da suíte e depois de se limpar e arrumar suas roupas, voltou para o quarto com uma toalha umedecida. Nico mal se mexeu, murmurando algo sem sentido quando Percy o virou de barriga para cima. Percy o limpou, dizendo um “Volto logo”, que Nico pareceu não ouvir e Percy saiu do quarto, fechando a porta suavemente atrás dele, deixando Nico debaixo das cobertas apenas de meias e camiseta.

Percy já se arrependia disso. Descendo as escadas, viu que ainda tinha pessoas na festa. Não que isso importasse para ele, era apenas mais um dia na casa dos Jackson. Por isso andou com passos decididos para a cozinha, porém, quando chegou lá, teve uma surpresa indesejada.

Era Annabeth, é claro! Quem mais poderia ser? Seu relaxamento desapareceu em um piscar de olhos, especialmente quando Annabeth se virou para ele e sorriu, segurando uma taça de cristal com vinho tinto contra os lábios, a bebida favorita dela. Percy infelizmente sabia disso.

Talvez ele tenha escondido algumas coisas de Nico e talvez ele tivesse passado mais tempo do que queria com Annabeth nos últimos anos; Nico tinha ido embora e Percy tinha se sentido solitário, imagina sua surpresa quando Annabeth lhe mostrou um pouco de solidariedade. Percy tinha baixado a guarda, ele admitia. Em nome dos velhos tempo e da infância, Percy decidiu que dar outra chance para a primeira amizade que tinha feito na vida poderia dar certo. O fato é que tudo ficou bem por algum tempo, a turma se reuniu mais uma vez e tudo ia bem. Isso é, até que Annabeth em uma sessão de estudo regada a bebida, seus melhores amigos e livros espalhados em todas as superfícies de seu quarto, tinha tentado o beijar. No fim, tudo o que Annabeth queria era ser a rainha do baile e se aproveitar da influência de sua família para conseguir uma bolsa de estudos e uma posição de líder de torcida na melhor universidade do país. Se ela tivesse pedido essas coisas para ele, Percy não teria se importado em ajudar, mas como ela decidiu pegar a força, Percy devolveu na mesma moeda.

Agora, aqui estavam eles. Annabeth em um longo vestido vermelho que não escondia nada, parada em frente a geladeira, parecendo observar algumas fotos presas nela, fotos deles e de seus outros amigos de quando eles eram crianças e Percy ainda não havia conhecido Nico. Percy quase acreditou no olhar de saudade dela, quase foi enganado mais uma vez, e tudo isso porque ele estava tentando levar um copo de água com analgésicos para seu bebê, hm?

Não dessa vez.

— O que você está fazendo aqui? Pensei que eu tinha sido claro.

— Eu queria conversar com você.

— É melhor você ir embora.

— Você não sente falta da gente? De como costumava ser?

Annabeth, então, se virou totalmente em sua direção e colocou a taça em cima da bancada, se aproximando mais dele, desfilando, como se tentasse seduzi-lo. Tudo o que aquilo causou foi seu estômago se revirar. Do que ele sentiria falta? De se sentir sozinho, como se ele fosse invisível? De viver para realizar todos os desejos egoístas dessa garota mimada? De não poder fazer algo se Annabeth não permitisse? O pior sempre seria saber que não importa o que ele fizesse, Percy sempre se sentiria com frio e abandonado, mesmo que ela estivesse há menos de cinco passos de distância.

 — Como você pretendia fazer isso? Invadindo meu quarto no meio da noite?

— É uma boa ideia. Eu ainda me lembro onde fica.

— Você enlouqueceu? É isso?

— É você que não entende! Deveria ser nós dois. Isso não é natural. O que seu pai diria se te visse assim? — Annabeth tocou em seu ombro e então a ânsia de vômito realmente veio, quase se materializando.

— Meu pai não tem nada a ver com isso. Você passou dos limites.

— Percy, querido. Ainda não é tarde demais. — Annabeth tocou em seu rosto e o encarou com aqueles frios olhos acinzentados, algo que no passado ele achou lindo e magnético, mas que agora congelava seu corpo e alma. Se tinha algo que ele havia aprendido com Annabeth é que a manipulação vinha em todos os tamanhos e formas.

Ele deu um passo para trás, saindo do alcance de Annabeth e respirou fundo, se sentindo libertar de um fantasma que continuava a assombrá-lo desde que ele decidiu que gostava mais de doces garotinhos bem-comportados do que de garotas manipuladoras e cruéis. Talvez Nico estivesse certo e a única forma dele realmente se livrar de Annabeth seria fugindo e desaparecendo, exatamente como Nico tinha feito.

— Você precisa ir embora. Agora!

— Percy, sei que você está confuso. Ele é tão bonitinho que até parece uma garota, não é? Ele nunca vai te dar o que eu posso. Uma família. Um lar.

“Nico pode me dar…?’’, Percy se perguntou por um momento, distraído. Então, ele sentiu vontade de rir. Nico lhe dava exatamente o que ele queria e do exato jeito que ele mais desejava.

— Você tem certeza?

Percy sabia que não devia, sabia que isso não era da conta de Annabeth, e mesmo assim, ele fez. Percy abriu os primeiros botões de sua camisa e mostrou a marca no meio de seu peito de dentes e unhas, perto do pescoço, porém discretos o suficiente para cobrir com a camisa.

— Você acha que Nico não me dá o que eu preciso? Ele é muito melhor do que você jamais será.

— Você vai se arrepender! Como você pôde me trocar por aquele--

— Na verdade, mesmo que eu não estivesse com ele, você seria a última pessoa na face da terra que--

Plaft!

Percy não sentiu a dor vir, apenas escutou o barulho da mão de Annabeth contra seu rosto, o toque frio da mão dela o congelando por dentro. O choque veio quando seu rosto virou para o lado com o impacto, veio quando o grito de fúria dela chegou a seus ouvidos, completamente enraivecida, como se um demônio tivesse possuído o corpo da beldade de olhos claros e cabelos loiros.

— Você acha que pode falar comigo desse jeito? Que pode me tratar assim? Quem você pensa que você é! — Annabeth bradou, indo para cima dele mais uma vez. Mas dessa vez, Percy se negava a se submeter as vontades dela, ele não tinha medo do que os outros diriam ou quais seriam as consequências.

Dessa vez, Percy segurou nos braços de Annabeth e a encarou, sem medo, antes que o próximo tapa pudesse chegar.

— Nós terminamos aqui. Não quero te ver, escutar sua voz ou saber de você. Você não é bem-vinda na minha vida ou na vida de Nico. E se você tentar algo, vai se arrepender. Esse é meu último aviso.

Com isso, Percy deu as costas a ela e saiu da cozinha ainda ouvindo os gritos de Annabeth. Quando Percy voltou, Annabeth ainda estava na cozinha andando de um lado para o outro, furiosa, com a taça de cristal na mão. Mas se fosse por Percy, Annabeth que guardasse a taça de recordação. Ele não queria nada em que ela tivesse tocado.

— Se certifiquem que ela nunca mais coloque os pés nessa casa.

Parado, no meio do corredor que dava para a entrada da cozinha, Percy observou os homens acenarem e irem em direção à intrusa. Cada um segurou Annabeth por um braço e sem mais palavras, Annabeth foi levada pelos homens, berrando e ofendida, porque, finalmente, a pessoa que assombrava seus pesadelos estava banida de sua casa e de sua vida de uma vez por todas.

***

Ainda escutando os gritos da loira, Percy pôde enfim pegar o copo de água e os analgésicos que Nico iria precisar. E se sentindo exausto e com o rosto latejando, subiu a escada para o andar superior e entrou em seu quarto no fim do corredor, encontrando Nico acordado, encostado contra o batente da cama, olhando para o próprio colo coberto apenas pelos lenções com a expressão mais triste e cabisbaixa que Percy já tinha visto em seu bebê.

Tudo ficou pior no momento em que Percy fechou a porta e entrou no quarto. Nico levanta a cabeça e olha para ele com aqueles grandes olhos negros, agora marejados.

— Onde você estava? — Nico diz em voz baixa, soando rouca e cansada.

— Eu fui buscar um remédio para ressaca.

— Eu não estou de ressaca.

Mas Nico parecia que iria cair no sono a qualquer momento, continuando a olhar para ele, como se não acreditasse nele. Não havia nada que Percy pudesse fazer além de desistir de tentar convencê-lo. Porque, nisso, eles eram parecidos. Uma vez que eles se decidissem por algo, nada os faria mudar de ideia. Seria pior se eles descobrissem que o outro estava mentindo. Assim, conformado, Percy andou a passos rápidos até a mesa de cabeceira, colocou a água e o remédio em cima dela e se sentou ao lado de Nico, o puxando para seu colo.

— O que foi, hm?

— Não é nada. — Nico enfiou o rosto na curva do pescoço de Percy e o abraçou forte pela cintura, relaxando, e só assim se sentiu confortável o suficiente para dizer o que pensava. — Eu vi Annabeth na festa. Depois que você mandou ela embora. Eu odeio saber que ela ainda está por perto, rondando a gente e esperando o momento certo para atacar.

Então, esse era o problema.

Bem, Nico estava mais certo do que pensava.

Percy abraçou Nico mais forte, o envolvendo completamente em seus braços e suspirou, encostando sua cabeça no topo dos cabelos de Nico.

— É isso o que você pensa de mim? Que eu iria correr para o lado dela depois de ficar com você?

— Não, acho que não. Eu só… ela tem uma influência estranha sobre você. Eu só… não gosto disso.

— Não gosta do quê?

— Do jeito que ela olha para você. Como se quisesse te… dominar. Me mata pensar que… pensar que ela pode conseguir o que quer.

“Como eu faço com você?”, Percy teve o impulso de perguntar, mas parou antes que eles entrassem em uma discussão que ambos não estavam prontos para enfrentar. Embora ele soubesse que a situação deles fosse diferente, e mesmo que Percy quisesse dominar Nico, era algo completamente consensual entre ambas as partes; já com Annabeth, ele não poderia dizer o mesmo. Apenas o pensamento disso revirava seu estômago.

— Você não precisa se preocupar. — Percy disse por fim, tentando relaxar.

— Sei.

— Nico.

Percy segurou no rosto de Nico, puxando sua cabeça para cima e o forçou a encará-lo:

— Eu te amo. Só você e ninguém mais. Quando você vai entender isso?

— Eu entendo. Acreditar, é mais difícil. Eu lembro das vezes que você vinha cheirando diferente… ou com mordidas em lugares suspeitos… — Nico levou as mãos ao lugar que ele mesmo tinha deixado uma marca, afastando a camisa para tocar na pele e fazendo Percy entender tudo.

— Eles não significavam mais do que… alívio de estresse. — Percy disse, tocando na mão de Nico sobre seu peito. — Eles nunca significaram nada mais do que isso. Você precisa acreditar em mim.

— Na época eu não conseguia entender. Era tão confuso. Você dormia na minha cama e fazia sexo com eles. — Mas agora, Nico parecia entender melhor, indo para a Itália e sentindo a necessidade de aliviar esse mesmo tipo de estresse.

— Você era… um anjo perfeito, delicado e imaculado. Eu não queria te sujar.

— Me sujar? — Nico disse, parecendo confuso mais uma vez.

— Eu não queria te forçar como aqueles meninos fizeram.

Nico levantou a cabeça, pronto a dizer que aqueles garotos nunca se comparariam a Percy, voltando a encará-lo. Porém, quando Nico viu uma marca grande no lado direito do rosto de Percy a confusão foi substituída por preocupação.

— O que aconteceu? — Percy estranhou imediatamente a mudança em Nico. O garotinho estava fazendo uma careta, algo entre confuso e irritado.

— Seu rosto. Quem te bateu?

Será que seria muito brega dizer que Nico o fez esquecer da dor? Percy decidiu que sim, era uma das coisas mais bregas que ele já tinha pensado em dizer.

— Não foi nada. Apenas um arranhão.

— Eu quero saber. — Quando Nico percebeu que exigir não funcionaria, ele tocou suavemente no rosto de Percy e o beijou docemente nos lábios, dizendo todo delicado e baixinho: — Estou preocupado com você. Por favor, Per. Me diz quem fez isso com você.

— Nem doí mais.

— Por favor?

— Annabeth. Foi Annabeth. Eu encontrei ela na cozinha. — Percy suspirou e fechou os olhos, quase ronronando com o toque carinhoso de Nico. — Ela não aceitou um não como resposta.

— Per! Você devia fazer uma denúncia!

— Talvez amanhã. Quando Sally ver meu rosto e me obrigar a ir. Ou Paul chegar de viagem e me arrastar até lá com a ajuda de Tyson.

— Per. — Nico murmurou fracamente, seus olhos se enchendo de lagrimas, fazendo o coração de Percy se apertar e se encher de afeto na mesma proporção.

— Estou bem. Eu juro. — Para provar seu ponto, Percy o beijou suavemente e acariciou os cabelos de Nico, os penteando para trás. — Viu? Está tudo bem.

— Então, você tem que tomar o remédio.

— Mas eu trouxe para você.

— Vamos dividir.

Percy sorriu e deu de ombros. Quebrou o remédio no meio, deu uma parte para Nico, engoliu a outra parte e segurou nas mãos de Nico.

— Que tal um banho antes de ir pra cama?

Nico aceitou a oferta, é claro. Porque Nico era o garoto mais obediente e bem-comportado do mundo, sempre querendo o agradar e cuidar dele, mesmo que Percy não merecesse.

Assim, Nico tomou o remédio com a água e eles tiraram o resto das roupas, tomaram uma ducha rápida e logo estavam debaixo das cobertas. Tinha sido um longo dia e tudo o que eles queriam eram um momento de paz e silencio.


Capítulo XXIII

Nico não sabia o que estava acontecendo com ele. Quer dizer, ele sabia, sim. A questão era o porquê.

— Bebê. — Percy murmurou em seu ouvido, fincando os dedos em seus cabelos por um breve momento que quase o fez gozar. Logo as mãos de Percy viajaram para seus ombros, descendo até segurar em sua cintura, parando ambos seus movimentos. — Eles vão ouvir.

Nico fechou a boca e tentou sufocar o próximo gemido, falhando miseravelmente. Ele não conseguia evitar, rebolando no colo de Percy e se curvando todo, e era isso o que ele não entendia. Nico nunca tinha transado com ninguém dessa forma e de repente, era tudo o que ele conseguia pensar. Como isso podia estar acontecendo com ele? O pior era que Percy estava sendo um perfeito cavalheiro. Ou foi o caso até Nico acordar na manhã seguinte. Ele tinha ido no banheiro e quando tinha voltado, Percy ainda estava ali, todo esticado na cama, sem nada o cobrindo… quando foi que Percy tinha ficado tão alto ou arranjado aqueles músculos? E aqueles braços? Nico não conseguiu evitar, voltou para a cama e… bem, Nico gostaria de dizer que apenas tinha o observado dormir.

Mesmo se sentindo sensível da noite anterior e com dor de cabeça da ressaca, Nico engatinhou pela cama e se sentou na cintura de Percy, tentando ser cuidadoso. Isso era tão errado, a conversa sobre consentimento voltando com tudo. Mas, talvez se Nico o acordasse de uma forma interessante, Percy não ficaria bravo com ele. Então, Nico fez o que queria ter feito há muito tempo, colocou as mãos sobre o abdômen de Percy e as escorregou para cima, dedilhando os gominhos e voltando para baixo, sentindo os pelos se arrepiarem contra seus dedos. O que ele teria que fazer para Percy acordar? Talvez se ele…Nico se curvou sobre Percy e chegou ao rosto bronzeado de sol e quadrado, sentindo a barba que começava a crescer, vendo um sorriso nos largos lábios de Percy.

— Per? — E quando mesmo assim, Percy se negou a abrir os olhos, Nico continuou com sua exploração. Massageou o peito largo e roçou com a ponta dos dedos os mamilos eriçados.

Parece que ele teria que fazer tudo sozinho no fim, o que estava tudo bem, isso apenas lhe dava coragem para continuar.

Como quem não quer nada, Nico deslizou sua bunda para baixo e encontrou um volume que não estava lá cinco minutos atrás. Será que ele devia? Nico sabia que iria doer um pouco, mas ele não queria procurar o lubrificante. Não poderia doer tanto assim, certo? Testando as águas, Nico se sentou mais uma vez no colo de Percy, levou a mão para trás dele e encontrou o membro de Percy completamente ereto. Talvez ele fosse um masoquista, era a única explicação para o gemido que soltou quando se forçou contra a resistência e a cabeça passou pela entrada apertada, deslizando com muito mais facilidade que ele esperava. Deuses! A pontinha estava tão molhada que ele acabou indo ao final mais rápido do que esperava. Nico achava que tinha gritado, achava que tinha apertado o membro de Percy dentro dele com todas as forças que tinha. Como isso poderia se traduzir como prazer para seus nervos, como?!

— Você vai se machucar. — Ele ouviu ao fundo Percy dizer e sentiu mãos apertarem com força suas pernas. Era difícil se concentrar em qualquer coisa que não fosse o membro o esticando e os tremores de prazer e dor que atingiam seus sentidos. Mas… mas tudo ficaria bem, porque alguns momentos depois Nico sentiu mãos quentes acariciarem suas costas, o membro sair para fora dele e então dedos molhados estavam massageando dentro dele para o membro de Percy voltar a penetrá-lo, fundo e gostoso, alcançando aquele lugar que até noite passada Nico não sabia existir.

— O que foi, hm? Por que meu bebê está chorando? Onde doí?

Ele negou, balançando a cabeça, e se deixou levar. Colocou os braços ao redor do pescoço de Percy e relaxou, o que deixou tudo melhor. Mas Percy ainda estava parado, respirando rápido contra seu pescoço e o segurando forte pela cintura.

— Per… eu preciso.

— Não está doendo? Da noite passada?

Nico negou mais uma vez, se acomodando melhor no colo de Percy, fazendo o membro dentro dele acertar os melhores lugares apenas com esse movimento acidental.

— Por favor… eu quero que você… quero que você… ah!

— Assim? — Percy perguntou e demonstrou mais uma vez. Levantou Nico pela cintura e o fez descer mais uma vez, o encontrando no meio do caminho com um movimento certeiro.

— Bebê, eles vão ouvir.

— Percy!

Ele achava que realmente estava gritando agora. Doía! Doía tanto e mesmo assim não conseguia parar, sentindo cada um de seus músculos se desfazerem a cada vez que os quadris de Percy se encontravam com os dele.

— Você tem que se responsabilizar por seus atos, bebê. — Percy sussurrou em seu ouvido. Aquilo era demais para ele.

Choramingando, sem saber o que seu corpo queria, Nico empurrou Percy pelo ombro e rastejou para fora do colo de Percy, gemendo e soluçando, suas pernas falhando no meio do caminho o fazendo cair de cara nos travesseiros. Nico não entendia o que acontecia com si próprio, ele só… só… iria explodir a qualquer momento se o mundo não voltasse a fazer sentido. Como dor poderia se misturar tão ao prazer a ponto de o fazer delirar? Porque o olhar no rosto de Percy só poderia ser uma ilusão que sua mente estava criando. Parecia tão… como se ele fosse a caça e Percy o predador.

— Onde você vai?

— Eu… eu não sei!

— Bebê.

Um calafrio subiu por sua coluna e fez suas pernas tremerem. Tinha algo na voz de Percy que o fez congelar no lugar onde Nico tinha caído. O que estava acontecendo com eles? Ele não conseguia olhar para Percy, como medo ver o que iria encontrar lá, e queria fugir, mas… mas Nico não queria se mover e talvez descobrir o que tanto o assustava. Entretanto, Nico estava se movendo da mesma forma, se arrastando pela cama enorme em direção… ele não sabia, qualquer lugar estava bom. Então, porque parou na beirada da cama, ainda tremendo e… e sentindo uma antecipação que ele não sabia de onde vinha? A porta estava bem a sua frente, tanto a do banheiro ou a da saída. Se ele se sentia tão encurralado, por que não estava indo em direção a eles?

Nico gemeu, surpreso, quando a mão de Percy tocou no meio de suas costas, e suavemente deslizou para cima e para baixo num dos gestos mais confortantes que Nico já tinha experimentado.

— Você quer brincar? — Percy perguntou em seguida, ainda sem se aproximar. — Ou quer dormir mais um pouco? Ainda está cedo.

— Eu… — Nico se curvou contra si mesmo e escondeu o rosto no travesseiro.

Ele não entendia o que estava acontecendo. Nada fazia sentido. Nico não queria estar sentindo essas coisas e não queria ser desse tipo de pessoa. Quer dizer, alguns dias atrás ele estava bem com o que estava acontecendo. Então, qual era o problema?

— Você pode me dizer.

— Eu quero gozar. — Nico admitiu, seu rosto afundado contra o travesseiro.

— Então, olha para mim. Sim?

Nico negou, se encolhendo ainda mais.

A cama ao redor dele balançou e então Percy estava ao lado dele, mãos quentes estavam de volta em sua coluna junto a lábios que deslizaram por toda a extensão, até chegar a curva de suas nádegas, as mordiscando.

— Você está pronto para conversar? — Percy murmurou contra sua pele.

Quando Nico negou mais uma vez, os lábios de Percy desceram mais um pouco e encontraram sua entrada, beijando a área suavemente. — Nunca mais faça isso. Não quero te ver machucado.

Nico não teve outra reação além de estremecer e gemer contra os travesseiros, se sentindo derreter quando a língua de Percy alcançou um lugar mais profundo.

— Quer que eu toque seu membro?

Nico negou. Tudo o que ele fazia era negar. O que estava acontecendo!

— Quer que eu pare?

Então, negou mais uma vez, se surpreendendo.

— Bebê. — Percy disse na voz mais afável que ele já tinha ouvido e isso o fez se sentir estranhamente… contente, satisfeito até.

— Eu quero você… dentro de mim.

— É mesmo? — Agora Percy soou quase condescendente, irônico até. O que fazia sentido. Eles estavam fazendo exatamente isso até que Nico teve um ataque de pânico.

— Me diga se for muito.

Tudo o que Nico conseguiu fazer foi arfar, ficando sem ar devido ao movimento repentino. O colchão se afundou ligeiramente atrás dele e Percy se encaixou sob suas costas. Mãos rodearam sua cintura, o puxando para mais perto e dedos se fincaram em seu cabelo, estranhamente o forçando inspirar profundamente. O engraçado é que Percy nem empregava muita força, sua cabeça girando, tentando criar explicações porque esse momento parecia tão diferente dos outros. O que o fazia se sentir tão angustiado e tão excitado ao mesmo tempo? No momento, não importava.

Nico sentiu a cabeça do membro de Percy contra sua entrada mais uma vez e então sua visão ficou embaçada, sua cabeça esvaziando por alguns instantes. Era difícil descrever. Nico não sabia se era o agarre de Percy que ficava cada vez mais forte em sua pele, se era Percy arfando contra seu ouvido ou se era a forma decidida e com vigor que Percy o fodia, devagar, mas com proposito em cada estocada certeira, curta e bem colocada.

Talvez ele só quisesse que Percy o mantesse sob controle e lhe dissesse o que fazer em seguida. Será que ele seria obrigado a falar sobre isso também? Antes que isso pudesse acontecer, Nico preferia fugir e nunca mais voltar. Ou ele teria feito isso se Nico não estivesse sentindo as mãos de Percy o prenderem contra seu peito largo, o impedindo de se mover muito.

— Está tudo bem. Comigo, certo? — Percy o manteve preso entre seus braços e diminuiu a velocidade de seus movimentos, mas era tarde demais. Algo no modo como Percy o continha finalmente fez Nico se deixar levar. Nico permitiu que Percy continuasse a segurá-lo e estremeceu pelos próximos minutos, relaxando contra o peito de Percy, sentindo Percy ir junto com ele.

— Tudo bem? — Percy disse depois de alguns momentos quando nenhum dos dois fez nada para se mover.

— Não tenho certeza. — Essa era a coisa mais sincera que tinha saído de seus lábios desde que tinha acordado.

***

— Não tenho certeza. — Nico disse, ainda afundado contra o peito de Percy, finalmente se sentindo seguro e em paz.

Ele se sentia tão estranho que Nico nunca teria palavras para expressar. O que tinha mudado em cinco minutos que o fazia se sentir tão bem agora?

— Tudo está bem. Você foi ótimo. — Percy ainda tinha uma das mãos fincadas em seus cabelos e a outra em sua cintura, que nesse momento massageava sua barriga e baixo ventre, suavemente o ninando.

— O que está acontecendo? Eu não… não queria fugir.

— Sei que não.

— Eu só…

— Está tudo bem se você se deixar sentir.

— Me deixar sentir?

— Eu aprendi que às vezes nossas mentes vão para lugares estranhos. Como se nosso corpo quisesse uma coisa e nossa mente outra. Então, tudo bem sentir, seja o que for.

— Desde quando você sabe tanto sobre isso?

— Eu… busquei ajuda.

— Psicológica?

Percy acenou que sim contra suas costas e Nico teve que se virar, para ver com os próprios olhos, mas Percy não o encarava; ele olhava para fora da janela.

— Quando você foi embora, percebi que não era comum sofrer tanto por alguém a ponto de querer me matar.

 — Percy! Eu nunca quis que isso acontecesse! Por que você não me disse?

— Você não é responsável por meus atos e eu não sou responsável pelos seus. Ou pelo menos, não era o caso naquela época.

Então, Percy deu um sorrisinho sacana e Nico revirou os olhos. Parece que eles tinham muito a conversar.

— A questão é que eu não podia te pedir para voltar e não era justo deixar que a depressão me afundasse. Eu fiz o que Sally pediu. — Percy deu de ombros. — Fui no médico. E mesmo com ajuda, eu ainda sentia sua falta. Não tive escolha senão te ver se divertindo e amadurecendo sem mim.

— Eu… nunca foi algo definitivo. — Nico murmurou, se sentindo um monstro. — Devia ser alguns meses, depois um ano. Eu não tive coragem de te encarar.

— O que te fez mudar de ideia?

— Uma foto. Annabeth e você sentados na sua cama.

Nico observou como em câmera lenta, o olhar de tristeza se transformar em divertimento e felicidade, Percy o abraçando com mais força.

— Ah, se ela soubesse.

— Soubesse o quê?

— Annabeth fez aquilo de proposito, pensando que iria te atingir. Acho que ela conseguiu, não foi?

— Percy! — Agora Percy estava rindo de verdade, se jogando para trás na cama e o levando junto, o prendendo em um agarre de urso.

— Me solta!

— Não, agora é sério. Você quer conversar sobre o que aconteceu?

— Acho que não.

— Não vai nem me dar uma pista? Um ponteiro? Nadinha?

Nico até poderia imaginar o pesadelo. Se Percy soubesse o que Nico realmente queria… seria a seu fim.

— Tudo bem. Já entendi.

Percy se espreguiçou e colocou Nico contra os travesseiros. Antes de levantar, ele beijou Nico e sorriu para ele, dando a volta na cama. Abriu uma gaveta em seu lado da cama e tirou de lá um diário com capa azul, parecido com o que ele tinha dado a Nico.

— Acho que vou escrever depois de tomar um banho. É relaxante, você não acha? — Percy colocou o diário do seu lado da cama e beijou Nico mais uma vez, indo para o banheiro dentro da suíte e fechando a porta.

Nico escutou o barulho de água cair no chão e se sentiu a pessoa mais idiota do mundo. Seu próprio diário estava bem a seu lado na cômoda e tudo o que ele menos queria era escrever sobre seus sentimentos. Ele se sentia forçado e manipulado a fazer algo que não queria, afinal, era o justo; Percy tinha contado a ele algo profundo e pessoal, o que o deixava na posição de contar alto tão pessoal quanto. No fim, não era o que ele queria? Que Percy o… dissesse o que fazer? Nico apenas não pensava que isso escorreria para fora do sexo também. Mas se Percy queria saber, ele faria Percy se arrepender disso.


 

Capítulo XXIV

Nico colocou a caneta na última página em que havia escrito e repousou o diário ao lado de seu travesseiro, se espreguiçando. Ele tinha escrito mais do que pretendia. Bem, Percy teria uma pequena surpresa quando lesse. Mas no fim, Percy estava certo, escrever tinha tirado a pressão de seus ombros que Nico nem sabia estar lá. Foi um momento mágico, ao colocar seus pensamentos no papel, sua mente ficou leve e vazia, como se contasse o que o incomodava para alguém que não o julgaria e não tentaria dar ‘conselhos’ que ele não havia pedido.

Cansado de esperar, Nico deitou na cama e colocou a cabeça no travesseiro. O que Percy fazia para demorar tanto? Quando menos viu, tinha fechado os olhos, os abrindo novamente para sentir algo macio deslizar por seu corpo. Era uma toalha úmida e morna que Percy segurava. Nico piscou lentamente e então a figura de Percy se fez presente, cabelos molhados e peito desnudo, vestindo apenas uma tolha enquanto limpava seu corpo com delicadeza.

— Quer tomar um banho? — Percy murmurou, se aproximando mais dele, o fazendo se sentar contra o batente da cama. — Enchi a banheira pra você.

— Pode ser. — Ele deu de ombros, parecia uma boa ideia. Nico raramente via motivos para usar a banheira.

Assim, Percy o segurou pela mão e o guiou para o banheiro, perguntando:

— Como você se sente?

Nico não sabia. Um leve ardor que pulsava dentro dele, talvez? Um cansaço muscular e mental? Um relaxamento que nunca havia sentido antes? Era tudo isso junto e mais. No geral? Nico se sentia bem, ou tão bem o quanto seria possível, parecido com quando ele ainda não tinha fugido para a Itália, talvez até melhor, agora que ele não precisava esconder o que sentia.

— Estou bem. — Nico deu de ombro novamente.

— Você se lembra das nossas regras?

Infelizmente, Nico lembrava. Percy devia estar se referindo a sempre ser sincero.

— Eu não sei. — Nico disse, tentando ser o mais sincero que podia. — É tudo muito novo para eu ter uma opinião formada.

— Nico.

Ele parou e encarou Percy que agora tinha os braços cruzados.

— Você tem que parar com isso. Não me diga o que eu quero ouvir.

— O que você quer que eu fale?

— O que você está sentindo. Algo doí? Você precisa de alguma coisa?

— Por que você está sempre me questionando?

— Porque você sempre está tentando me agradar.

— Qual o problema nisso?

Ele olhou para Percy e Percy olhou para ele parecendo que iria explodir. Mas nada disso aconteceu. Percy respirou fundo, fechou os olhos por um momento e quando voltou a abri-los, uma aura de calmaria se fez presente. Era um daqueles momentos onde Nico sabia que não iria ganhar, não importava o que ele fizesse. Então, deixou que Percy o guiasse até a banheira e o ensaboasse devagar e sem pressa.

— Você não vê o problema nisso? Mesmo? — Percy perguntou distraído, suas mãos deslizando para baixo, entre as pernas de Nico.

— As coisas sempre foram assim.

— É por isso que eu não fui atrás de você.

— Acho que não entendo.

— Descobri que eu… não consigo me controlar perto de você. Eu fiz você agir desse jeito. Te coloquei nessa caixinha perfeita e inquebrável. Ninguém devia viver assim, conforme os desejos de outra pessoa.

— Não é verdade, eu sempre fui assim.

— Será que foi mesmo? Precisou que você fosse para longe e de dois anos para dizer todas essas coisas para mim. Se você não se sentia confortável em me dizer o que você sentia antes, o que isso quer dizer?

Nico voltou a encarar Percy que tinha um olhar distante e percebeu que isso incomodava Percy mais do que ele pensava.

— Eu não gosto de brigar. Prefiro que as coisas fiquem assim.

— Assim, como?

— Sem conflito e sem drama. Não quero ter que pensar em cada passo do caminho. Eu só quero ficar com você e… te satisfazer. Não é o suficiente?

— Eu não posso fazer isso. — Então, Percy segurou em seu rosto e deslizou os dedos para sua nuca, a massageando devagar e o fazendo relaxar ainda mais. — Como posso ter certeza que não estou te machucando ou te impedindo de fazer outras coisas?

— Essa é a questão, não é? Você se sente culpado de quer as mesmas coisas que eu.

— Nico, não me torture.

— Eu não estou. —  Quer dizer, ele achava que não estava. — Quando eu não quiser mais… essa coisa que a gente tem, você vai saber.

— Como?

— Eu vou querer fugir. Não como aconteceu hoje. Com vontade, como se minha vida dependesse disso.

— Nico!

— Sabe, quando as pessoas tentam se aproximar de mim eu costumo me sentir sufocado. Mas quando é com você eu só me sinto livre e seguro, mesmo que eu sinta medo.

Nico achava que estava enlouquecendo, parecendo um lunático a beira do precipício. Mas era a pura verdade, o que ele buscou em todas aquelas faces, não foi a beleza ou os olhos verdes profundos, não, sempre foi aquele sentimento de segurança e estabilidade, o conforto que os braços de Percy sempre lhe deram. Pois essas coisas eram difíceis de emular; se somente ele pudesse ter encontrado isso em outro lugar, Nico não se sentiria tão controlado e condicionado a fazer aquelas coisas que Percy tanto criticava, mesmo que Percy nunca tivesse pedido por elas. No fim, ele entendia o que Percy estava tentando implicar; as coisas só ficariam piores dali para a frente e eles provavelmente continuariam nesse jogo de gato e rato por um longo tempo até que ele se rendesse. O que Nico podia fazer se Percy era o único que o fazia se sentir assim, tão livre e preso ao mesmo tempo?

— Nico. — Agora a voz de Percy soou toda rouca e firme.

Ops. Ele olhou para baixo e viu que sua mão estava no colo de Percy, em cima da tolha, mas em um lugarzinho bem estratégico.

— Por que você não pode me dizer o que te incomoda?

Nico negou, não estava pronto para dizer o que realmente pensava para Percy. Embora ele soubesse, Percy sentia algo similar ou pior. Nico viu o quanto Percy tentou superá-lo com outras pessoas, antes e depois dele ir para a Itália. Então, no fundo, discutir era inútil. Eles precisavam de um consenso.

— Isso não vai levar a nada. Eu sugiro uma trégua. — Nico disse ao invés de se explicar.

— Trégua? Isso não é uma guerra.

— Então, por que tudo o que a gente faz é brigar e transar? Eu prefiro muito mais só transar.

Isso colocou um sorrisinho no canto dos lábios de Percy.

— O que você sugere?

— Eu vou… confiar em você e fazer tudo o que você me pedir se você parar de me questionar.

Agora, Percy só parecia triste.

— Não quero que você se sinta mal e acuado. Eu só me preocupo. Eu quero que você seja a sua melhor versão possível.

— E se eu só quiser ser o Nico que quer ficar com o Percy e não ter que discutir?

— Tudo bem. A gente pode fazer do seu jeito. Você tem que me prometer que se não estiver funcionando, você vai me contar.

— Eu prometo.

Tudo o que Nico podia fazer era esperar pelo melhor e tentar manter sua parte do acordo.

***

Quando eles acordaram de novo, o sol estava alto no céu, a manhã já dando lugar para a tarde numa temperatura mais amena. Eles ainda estavam na cama, sua cabeça no ombro de Percy e os braços de Percy em volta de sua cintura. Finalmente o silêncio durava mais do que cinco minutos. Eles não precisavam fazer nada ou estar em nenhum outro lugar que não fosse ali, onde eles tinham decido estar.

— Com fome? — Nico escutou Percy dizer bem baixinho, com a voz rouca de sono.

— Não.

— Nenhum pouquinho? Daqui a pouco Sally vai vir aqui, para ver se a gente ainda está vivo.

Isso seria engraçado. Nico até podia imaginar, Sally abrindo a porta e os pegando na cama assim, pelados e abraçados. Seria ótimo mesmo.

Com esse pensamento o assombrando, Nico se desgrudou de Percy e se sentou na cama, se sentindo levemente zonzo, porém contente, e se espreguiçou até cair para trás, fechando os olhos. Talvez ele de fato precisasse comer alguma coisa. Quando tinha sido a última vez? Ele se quer tinha comido algo na festa ou tinha apenas bebido?

— Cansado?

Nico suspirou e se deu por vencido, sabendo que sua paz estava prestes a acabar. Ele ficou de lado na cama e encarou Percy que não parecia nenhum pouco contente.

— Não muito.

— Sabe, acho que a gente devia criar um sistema.

— Eu acho que--

— Cada vez que você mentir para mim você será castigado.

— Você disse que não iria duvidar de mim!

— Não é uma dúvida quando eu sei a verdade, quando eu te vejo mentindo para mim.

— O que você quer que eu faça!

— Diga a verdade ou não diga nada.

— Oh.

— Você vai passar o resto da vida calado para me agradar?

Essa era uma boa pergunta. Era difícil voltar para a escuridão quando se via tanta luz.

— Isso não tem graça. — Ele murmurou, sentindo algo dentro do peito se alastrar.

— Não tem mesmo. Imagina o que eu sinto vendo vejo você se rebaixar, sendo menos do que você poderia ser.

— Eu não faço isso sempre.

— Não?

— Só com você.

Então, Nico observou Percy estender o braço e tocar em seu rosto numa leve carícia.

— Eu odeio o que eu fiz com você, o que seu pai fez.

— Você não fez nada. — Já o pai, era outra conversa.

— Eu te moldei nessa pessoa perfeita que tem medo de ofender qualquer um.

— Isso não é verdade! Eu…

— Quero que você grite se você quiser. Quero que você me bata, que me xingue se tiver vontade. Que se revolte. Que exija. Eu nunca mais quero te ver tão magoado.

Talvez Percy tenha razão. Mas ele tinha mesmo que fazer essas coisas? Não era algo que ele se via fazendo.

— Não me entenda mal. Você não precisa. Mas se você quiser ou um dia fizer essas coisas, está tudo bem e é completamente normal.

— Normal? Como fazer essas coisas pode ser normal?

— Deuses. — Percy o abraçou com mais força e encostou a cabeça em seu ombro. — Você não tem que ser perfeito. Você entende isso?

Mas se ele não for perfeito, ninguém vai gostar dele. Como Nico não poderia ser o que ele já era?

— Está tudo bem. — Percy disse, mas Nico tinha a impressão que Percy falava isso para si mesmo.

No fim, Nico preferiu ficar calado. O que ele tinha a dizer não faria diferença nenhuma, e talvez Percy tenha razão. Se ele não tinha nada de bom para dizer era melhor ficar calado.

***

— Deuses, o que Percy fez com você?!

Assim que desceram as escadas, Sally os recebeu com um sorriso amoroso e abraços apertados. Isso é, foi o que aconteceu até Sally ver o hematoma no pescoço de Nico; hematoma esse que era, na verdade, um chupão bem colocado.

— Mãe, você está exagerando.

Nico, coitadinho, olhou entre eles, tentando entender o que acontecia. E Percy como um bom samaritano, o ajudou a entender. Como quem não quer nada, Percy levou a mão até o pescoço de Nico e Nico gemeu. Agora se era de dor, surpresa ou prazer, era difícil distinguir. Fosse o que fosse, aquilo fez seu coração disparar e outra coisa acordar.

— Oh. — Nico então disse, levando a mão ao próprio pescoço. — Eu não percebi. Está muito feio?

— Eu não diria feio.

Percy ouviu risadas atrás dele, mas preferiu se concentrar em Nico que fazia um biquinho fofo e pegava o celular do bolso, se olhando no reflexo da tela.

— Percy! O que você estava tentando fazer? Arrancar um pedaço?

— Você não foi o único. — Percy abriu os dois primeiros botões de sua camisa e mostrou seu conjunto de marcas, unhas pequenas e o formato de dentes que desciam até desaparecer dentro de sua camisa.

— Eu… eu não fiz isso! Fiz?

— E muito mais.

Percy não se aguentou, ele riu e puxou Nico para um abraço, beijando seu rosto. Mas tudo parecia estar bem, porque assim que Percy o abraçou, Nico derreteu contra seu ombro, o abraçando de volta.

— Esta tudo bem. Você pode me morder o quanto quiser, eu gosto. — E pelo jeito que as coisas iam, Nico gostava também.

Percy ouviu um pigarro e se virou para ver Sally, nenhum pouco feliz com a demonstração de… afeto.

— Percy Jackson! Não é assim que se trata as pessoas.

— Foi algo mútuo. E se você quer saber, Nico que começou. Pode perguntar para Annabeth, ela foi a primeira a ver. Ta vendo aqui? Foi o primeiro. — E bem perto de sua nuca, onde o cabelo começava a crescer longo, estava uma marca que começava a sumir.

Nico escondeu o rosto em seu ombro e Sally cruzou os braços. E antes que outra onda de reclamações chegassem, Percy se apressou:

— Permissão para chupões? — Nico acenou que sim, muito encabulado para enfrentar a sala cheia de testemunhas, o que não impediu os xingamentos e protestos.

— É o suficiente. — Sally levantou uma de suas mãos, as levando ao rosto, e se virou para Nico, o fazendo levantar o rosto. — Está tudo bem, querido? Como estava a festa? Melhor que nos velhos tempos, não?

Imediatamente, Percy viu que tinha algo errado. De repente, Nico abriu a boca, prestes a falar alguma coisa e então, a fechou, se encolhendo contra seus braços. O pior foi ver Nico levantando a cabeça e olhando para ele, como se esperasse a permissão de Percy para alguma coisa, mantendo os lábios selados com força. Ele ouviu outro pigarro e percebeu que todos estavam esperando que Nico respondesse. Grover, Tyson e Sally, todos estranhando o comportamento de Nico.

Restou a Percy sorrir e guiar Nico para a sala de estar e sentar com ele no sofá.

— O que está acontecendo, hm?

Mas tudo o que Nico fez foi negar e olhar para o próprio colo, se recusando a encará-lo.

— Por favor.

Isso fez Nico olhar entre os cílios para ele e respirar fundo: — Eu pensei sobre o que você disse ontem a noite.

— Sobre não mentir?

— Sobre ficar calado.

Algo no peito de Percy se apertou naquele instante, e torcendo para que não fosse o que ele pensava, perguntou: — Por que você ficaria calado?

— Você disse que se fosse para eu mentir, eu devia ficar calado, e já que eu não tenho nada de importante para dizer, vou fazer o que você pediu.

Percy achava que tinha parado de respirar. Ele não estava falando sério! Quem é que iria seguir uma ordem tão ridícula. Ele só queria fazer Nico responder de qualquer forma que não fosse aceitar tudo sem protestar, queria fazê-lo reagir e ver o que estava acontecendo. E ao contrário disso, Nico decide seguir a risca da pior forma possível?

— Bebê, por favor. Eu estava errado. Eu só queira que você reagisse.

— Reagisse, como?

— Como você quiser. — Percy então sorriu, tentando incentivar Nico. — Vamos, pode gritar comigo. Pode me xingar. Eu fiz algo muito ruim. Eu mereço uma punição.

— Punição? — Nico entortou a cabeça, feito um cachorrinho confuso e se aproximou. Ele o beijou nos lábios, num selinho doce e suave e tocou em seus cabelos, sorrindo angelicalmente. — Pronto. Sua punição.

Percy queria chorar. Por que tudo o que ele falava parecia sair ao inverso? Ou talvez fosse Nico fazendo o melhor que podia.

— Você está me punindo ou me consolando?

— Se eu escolho a punição, você tem que aceitar.

Percy se deixou levar e abraçou Nico bem apertado, o ouvindo suspirar de prazer.

— Eu não te mereço. Eu só queria que você se sentisse livre para se expressar. Te fizeram ficar calado por tanto tempo que tenho medo que agora aconteça o mesmo.

— Eu sei. — Nico murmurou baixinho, parecendo contente.

— O que você tem a dizer é importante, sempre será.

— Pensei que se eu ficasse calado não precisaria medir minhas palavras.

— Não me faça chorar.

— Você é um bobo. — Nico enfim diz, parecendo a única coisa sincera no meio daquilo tudo. — Eu tomei essa decisão. Eu tive toda a liberdade do mundo, mas no fim do dia, ainda sentia falta de você e de como as coisas eram.

Porque no fim, a vida se tratava de decisões e consequências. Ele continuou abraçado a Percy e entendeu, Percy estava tão perdido quando ele nessa confusão toda, entendeu que era um período de adaptação e logo tudo voltaria ao normal. Agora, o que esse normal era, ambos não faziam ideia, já que eles nunca tiveram uma amizade comum.

— Eu sinto muito. — Nico disse mais uma vez. — Acho que é um período de adaptação. Vou tentar não levar a sério tudo o que você disser.

— Eu fico muito contente com isso. — A verdade é que Percy estava aliviado, dando graças a todos os deuses e divindades por encontrar alguém tão compreensivo, embora ele gostaria que Nico fosse mais combativo.

Não o intendam mal, Nico era uma das pessoas mais independentes e responsáveis que ele já tinha conhecido, mas o que Nico tinha de independente, também tinha de dependência emocional. E às vezes essa dependência emocional era pesada demais para que ele pudesse carregar sozinho, embora ele estivesse disposto a carregá-la pelo resto da vida se isso garantisse a permanência de Nico em sua vida.

— Então, a gente tá bem? — Nico perguntou, levantando a cabeça e o espiando timidamente.

— É claro, bebê. Contanto que você esteja.

Nico pareceu imediatamente tranquilizado. E se era isso o que Nico queria, Percy faria seu melhor para resolver as coisas. Obviamente pedir não tinha resolvido, tão pouco conversar ou pressionar. O jeito seria fazer as coisas do jeito tradicional. Não que ele soubesse estar fazendo algo no passado, mas se funcionou antes, vai funcionar agora.

Sorrindo, como se nada tivesse acontecido, ele guiou Nico de volta para a cozinha e se sentou ao lado de Nico em frente a mesa, descobrindo tarde demais que todos ouviram sua conversa com Nico. O que ele podia fazer? O bem-estar de Nico era mais importante do que os olhares de reprovação. Ele sabia que logo veria a repreensão, e se errar um pouco fosse necessário para consertar o que ele havia feito, que fosse! Percy nunca se arrependeria de colocar Nico em primeiro lugar.

— Panquecas ou ovos?

— Panquecas. — Nico respondeu para ele. Então, panquecas seriam. Não era uma novidade. As comidas favoritas de Nico eram doces, e as salgadas tinham um sentimento nostálgico, do tempo em que a mãe de Nico ainda estava viva. Então, ao lado das panquecas e da cobertura de chocolate, Percy colocou um croissant de queijo junto com um copo de suco e uma xícara de café.

Era incrível mesmo. Até parecia que nada de ruim tinha acontecido há menos de dez minutos atrás. Nico deu o primeiro cole em sua xícara de café e sorriu como se fosse o dia mais feliz de sua vida, mergulhando em suas panquecas açucaradas. E assim, como num passe de mágica, o ambiente voltou a ser amigável, Nico conversando com Sally animadamente, enquanto ele, Grover e Tyson observavam, temendo pelo próximo banquete que eles seriam obrigados a participar.

— Cara, obrigado por me deixar ficar. Minha mãe está de volta.

— Pode ficar o quanto quiser, o quarto é seu. Por que você não faz uma mala e fica até a formatura? Não falta muito.

— Se um ano inteiro não é muito… — Ambos, ele e Grover, deram de ombros e Grover socou seu ombro amigavelmente, fazendo os dois sorriem. Era uma boa ideia, especialmente quando ele e Nico fossem embora; sua mãe ficaria sozinha e Grover sempre seria uma ótima companhia.

— De verdade! O que você ainda faz naquela casa?

— É! Sempre vai ter espaço para você. — Tyson finalmente se dignou a participar da conversa, geralmente preferindo ficar longe do drama. — Você já trabalha pra gente, o que custa ser parte da família?

— Você chama sorrir para os clientes e levá-los para a mesa certa quando outros não podem, trabalhar?

— É claro que é. Você até usa um terno bonitinho e penteia o cabelo com gel. — Tyson continuou, todo feliz em zombar de Grover, de volta a rotina natural deles.

— Cala a boca! Aquilo nem é um uniforme. Juniper gosta dessas coisas… — As últimas palavras de Grover soaram bem baixas, parecendo estar encabulado.

E bem, quem era Percy para interromper um momento tão doce e feliz.

Ele se virou para sua comida e deu a primeira garfada em seus ovos, macios e com pouco sal, do jeito que ele mais gostava e deu um cole em seu café forte sem açúcar ou leite, percebendo que Nico já tinha terminado de comer e olhava para ele com um sorrisinho no rosto.

— O que foi, hm? Quer mais?

— Não. Eu gosto de te ver feliz e se divertindo com seus amigos. Você não costumava fazer isso.

— É verdade. Eu disse que tinha problemas, não disse?

— Acho que não levei isso a sério. Você sempre parece tão decidido e confiante.

— Isso não quer dizer que eu estivesse certo.

— Hm. — Nico murmurou, pensativo. — Nunca pensei por esse ângulo. Acho que todos tem algo a esconder. Algumas pessoas só escondem melhor.

— É isso mesmo. Quanto mais coisas a esconder, melhores atores somos, não? — Percy não pode se conter, Nico estava sendo tão sincero que ele merecia uma recompensa. Ele puxou Nico pela nuca e o beijou ali mesmo na frente de todos, um beijo daqueles destinados para quatro paredes.

— O que foi isso? — Nico disse assim que recuperou o folego.

— Uma recompensa para um bebê obediente.

Corando dos pés a cabeça, Nico apenas olhou para ele, fazendo um biquinho lindo, mas sem reclamar. O que ele podia fazer? Se era desse jeito que Nico entendia, então era como seria dali para frente.


 

Capítulo XXV

Nico admitia que ter conversado com Percy tinha tornado as coisas mais fáceis. Sinceramente? Ele não se importava, pensava que não mudaria muito se ele dissesse o que pensava ou não. Nico estava enganado, é claro, embora somente tenha feito tudo aquilo porque via como esses segredos incomodavam Percy. Não eram segredos exatamente, eram… algumas coisas pequenas que o faziam sentir vergonha ou que ele pensava não serem importantes. No fim, Percy estava certo. Era o melhor sentimento do mundo, saber que Percy se importava tanto com o que ele pensava e sentia, a ponto de insistir tanto e o forçar a ver que ele era importante, mesmo que fosse para uma única pessoa; ele não era mais invisível e o que ele pensava era valido.

Quer dizer, Nico sabia o que tinha acontecido com ele. Tinha plena consciência que seu pai tinha o abandonado muito antes de sua mãe morrer, mas deixar uma criança sozinha sob os cuidados da irmã mais velha que mal podia cuidar de si mesma? Ele nunca culparia Bianca e muito menos Percy que tinha o recebido de braços abertos quando o garoto não tinha obrigação nenhuma. Nico nem conseguia imaginar onde estaria hoje se não fosse por Percy que mesmo um pouquinho rebelde e controlador, era gentil e preocupado, muito mais afetuoso do que a imagem que Percy passava para o resto do mundo. O menino marrento e um tanto violento que escondia dentro do peito a vontade de amar e ser amado, não pelo o que ele tinha e sim pelo o que ele era. E disso, Nico entendia perfeitamente bem. Quando as pessoas a seu redor descobriram que ele era rico, o estrago já estava feito; algumas pessoas passaram a evitá-lo e outras a bajulá-lo, mas não Percy, Percy sempre a foi mesma pessoa protetora e afetuosa, sempre lhe oferecendo um sorriso e disposto a compartilhar tudo o que tivesse com Nico; sua casa, seu dinheiro e até sua família.

Era por isso que naquele momento, quando Percy disse que sua opinião importava, ele acreditou. E quando Percy pediu para ele ser sincero, Nico fez o máximo que pôde. Sabia que podia ter inventado alguma coisa ou fingido que nada estava acontecendo, vendo que Percy estava quase desistindo e se dando por vencido, por que nisso? Eles eram iguais; era melhor ter algo quebrado do que não ter, certo? Nico não tinha mais certeza, tudo o que sabia era que ele estava exatamente onde deveria estar, no lado de fora da casa deitado numa espreguiçadeira com um livro na mão, vendo a família Jackson se divertir. Percy nadava, Sally grelhava legumes e carnes na churrasqueira elétrica e Grover e Tyson estavam sentados na grama, fazendo o que eles faziam de melhor, organizavam os próximos eventos do restaurante e decidiam o design do cardápio para o próximo mês. Nico até podia respirar mais facilmente, sentindo o sol do meio da tarde atingir seu rosto, o fazendo fechar os olhos por um momento. Momento esse que parecia ter se estendido mais do que ele pensava, sendo acordado por uma voz suave e mãos carinhosas que tocavam em seus cabelos.

— Nico, a comida está pronta. Você não devia ficar tanto tempo no sol. — Era Sally, que sorria para ele e o ajudava a levantar da cadeira.

Nico piscou devagar e ainda com a visão embaçada, deixou que Sally o guiasse para as mesas perto da churrasqueira que estavam debaixo de enormes guarda-sóis, servindo de tendas improvisadas já que eles raramente usavam a parte externa da casa. Ou era o que Percy tinha lhe contado.

— Que cheiro bom! — Ele ouviu alguém dizer de longe.

Nico se sentia no paraíso.

Ainda meio sonolento, observou Percy dar mais uma volta na piscina e ir até a borda, se impulsionando para fora dela e vindo em direção a eles, desfilando, como se não tivesse nenhuma preocupação no mundo, jogando os cabelos molhados para trás e vestindo uma sunga, molhando o chão por onde passasse. Era quase como se a água se apegasse a seu corpo e não quisesse abandoná-lo. Nico nem se irritou quando Percy se inclinou sobre ele e o beijou, o molhando no processo, ao se sentar a seu lado.

— Boa leitura?

Era uma pergunta interessante, ele não lembrava de sequer uma palavra, muito menos se tinha lido qualquer página. E ao invés de questionar sua falta de resposta, Percy meramente sorriu para ele e beijou seu rosto. Parece que a trégua deles ainda estava de pé.

— Que tal a gente comer e descansar depois?

Nico acenou, é claro, de repente se sentindo exausto. Percy colocou um pedaço de filé bem-passado, batatas e uma salada para ele e fez outro prato para si mesmo. Eles comeram em silêncio e Nico mal notou quando sol foi se amenizando e se escondendo no horizonte. Ele também mal notou o momento que tinha subido para o quarto com Percy e entrado debaixo dos cobertores, a única luz que iluminava o ambiente sendo os raios fracos que ultrapassava a persiana.

— Durma. Vou estar aqui quando você acordar.

Nico fez seu máximo para manter os olhos abertos. Mas Percy ainda estava do seu lado, vestindo apenas uma sunga, acariciando seus cabelos e o ninando feito o bebê que Percy insistia que ele era. Talvez ele fosse, e talvez Percy gostasse disso. As coisas eram o que eram, e lutar contra a natureza fosse uma batalha fadada ao fracasso. Assim, ele se deixou ninar e relaxou contra os travesseiros. Talvez quando ele acordasse não se sentiria tão estranho e cansado.

***

Percy esperou até que a respiração de Nico se tornasse profunda e se levantou, e sem fazer barulho, desceu as escadas, indo para onde sua mãe ainda estava sentada debaixo de um guarda-sol.

— Ele está dormindo?

— Sim. Acho que eu o cansei.

— Percy, nós já conversamos sobre isso.

— Eu sei disso, tá bom! É que… Nico está tão desinteressado sobre tudo.

— Querido, eu entendo. Mas se você quer que Nico fique aqui, você tem que seguir nossas regras.

— Você não entende! Ele está começando a ficar quieto de novo. Nico quase não come e não quer falar sobre nada. O que você quer que eu faça se sexo é a única coisa que prende a atenção dele?

— Você já pensou que Nico esteja se sentindo confortável o suficiente para ser ele mesmo?

— Mas ele está tão calmo! Nada parece o afetar.

— Querido. — Agora Sally estava rindo dele, e nem escondia seu divertimento. — O problema aqui talvez seja outro.

— O quê?

— Sua mania de controle? Se você não entende, você tenta controlar.

— Eu não entendo mesmo.

— Pense assim, Nico estava sozinho, então ele tinha que agir de certo modo para não continuar sozinho, certo? Ele ainda está sozinho?

— Você quer me dizer que ele é quieto e calado porque quer? Por que se sente bem assim?

— Percy! Nico faz parte da família, mas ele não é sua responsabilidade.

— É claro que ele é. Se o pai dele nunca se importou e a irmã se importa quando é conveniente, alguém tem que se importar!

— Percy.

— Sei que não é minha responsabilidade, eu não vejo assim. Eu só me preocupo. E se da próxima vez que ele fugir, Nico se machucar? O que vai acontecer quando ninguém puder ajudá-lo?

— Ainda assim não será sua culpa. Como também não é culpa dele se Nico se sentir acuado e querer se proteger. Você tem que aceitar isso.

— Eu odeio que você tenha feito psicologia.

— De que outra forma eu poderia entender o que passa na cabeça do meu filho?

— Mã-nhe!

— Estou falando sério, Percy. Pense nisso. Você age igual em todos os lugares e com todas as pessoas? Então não espere que Nico faça o mesmo. Você prefere que ele finja ser algo só para te agradar? Não era esse o problema?

— Eu só… eu tenho medo. Eu estraguei tudo antes, sabe? E se eu fizer a mesma coisa?

— Ainda não será sua culpa.

— Então, é de quem?

— De ninguém. São coisas da vida. Cabe a nós perdoar e seguir em frente. No fim, a vida é sobre escolhas.

— Eu não gosto disso.

— Bem, querido, ninguém gosta. Você tem que entender que no fundo não é sobre você.

— É uma pena. Se fosse, eu já teria resolvido.

— Percy! Você tem que respeitar o que Nico quer.

— Hm. — Era um bom lugar para começar. — Tudo bem, eu vou fazer o que você quer. Mas eu não posso prometer nada.

— Perseu Jackson!

Sally deu um tapa em seu braço e tudo o que ele fez foi rir. Sally não era do tipo de pessoa que punia através da dor, não, e sim tirando o que você mais gostava. Por isso, Percy sabia que a mãe não falava sério e ela nunca o puniria de forma tão cruel. No fim, ela o abraçou e disse a ele: — Se comporte que no fim tudo vai dar certo. Tenha paciência.

***

— Se comporte que no fim tudo vai dar certo. Tenha paciência.

Nico não queria estar espiando, ele jurava que não queria. Percy tinha dito que estaria do seu lado quando acordasse, e quando Percy não estava lá, a única coisa em sua mente foi ir em busca do mentiroso. Estava tudo bem, ele perdoava Percy já que Percy precisava mais de Sally do que ele precisava de Percy no momento; e pensar que Percy pedia para que ele fosse sincero quando Percy não fazia o mesmo. Porque, sim, ele tinha ouvido tudo. Desde sua “falta de interesse” até “você tem que respeitar o que Nico quer”.

Era engraçado de uma forma quase doentia. O que ele queria? Era difícil decidir. No passado, ele queria um amigo verdadeiro, depois, alguém para segurar sua mão. E quando tudo isso tinha se tornado realidade, as coisas começaram a se complicar; ele queria um namorado e não queria que Percy soubesse o que ele sentia; queria beijos e não queria que Percy descobrisse. Agora? Bem, agora que ele tinha tudo isso, percebia que no fim todos esses desejos se concentravam em uma só uma pessoa, e contanto que ele tivesse isso, estava satisfeito, mesmo que soubesse não ser muito saudável ou correto de um ponto de vista ético, moral e mental. Entretanto, era algo a se pensar… o que adiantava ter o que ele queria quando o preço era ver Percy tão frustrado e ansioso?

Antes que eles pudessem notar sua presença, Nico entrou na casa e subiu as escadas, se deitando na cama onde Percy o havia deixado. Talvez ele pudesse… mostrar mais interesse? Não seria tanto esforço assim, certo? E poderia ser até divertido. Então, colocou a cabeça no travesseiro e não precisou esperar muito. Logo a porta do quarto se abriu e a cama a seu lado se mexeu, braços se encaixaram em sua cintura e um beijo foi colocado atrás de sua orelha, o fazendo arrepiar dos pés ao pescoço.

— Eu te acordei?

— Eu sinto muito. — Nico disse, se virando nos braços de Percy, o encarando de perto. — Eu não sabia que você se importava tanto.

— Você ouviu? — Percy fez uma careta seria e Nico sentiu seu coração se apertar.

Ele envolveu o pescoço de Percy com seus braços e o beijou por longos minutos, fechando os olhos bem forte, sabendo que preferia não olhar para Percy quando começasse a falar.

Ainda com os olhos fechados, encostou sua testa na de Percy e falou:

— Sua mãe está certa. Eu… você pode ter certa influência sobre minha personalidade, mas não é isso exatamente. Eu gosto de ser assim, só quero um pouco de paz e silencio, sabe? Um lugar para pertencer. Eu quero ter alguém que me…

— Alguém?

— Eu quero ter alguém que me possua. Que tenha o controle. Que não me deixe fugir e que saiba o que eu preciso.

— Te possui? Como? Você não é uma propriedade, uma coisa para pessoas comprarem.

— Às vezes, é como eu me sinto. Sou só uma coisa, às vezes eu tenho valor e outras, não.

— Nico.

— Eu prefiro ficar com quem me dá favor e vai me tratar bem. Quero que você seja meu dono e ninguém mais. Você também é meu?

Era por isso que Nico não queria falar nada. Enquanto Percy pensasse que ele tinha um mínimo de normalidade, as coisas ficariam bem. Agora que a caixa de pandora tinha sido aberta, só lhe restava a esperança. Ele conseguia sentir a frustração explodindo para fora de Percy, a culpa, a tensão. Quanto mais tempo eles permaneciam quietos e calados, pior tudo ficava. Nico se obrigou a abrir os olhos e respirar bem fundo, tentando ser corajoso.

O que ele viu o surpreendeu. Percy não parecia nem feliz, nem triste, chocado ou chateado, só… quieto, uma quietude tão intensa que se rivalizava a sua, apenas seu rosto permanecendo sério e tenso.

— O que você está dizendo é algo muito sério. Desde quando você se sente assim?

E se era para ser sincero…

— Acho que sempre foi assim. Desde aquela vez no banheiro. Sei que não é muito comum. E sei que eu não sabia de muita coisa naquela época. A questão é que mesmo com a distância nada mudou. Você pode tentar ser mais… correto e justo, mas no fim, não faz diferença para mim. Só porque você se deu conta que fazia coisas erradas, ainda assim, nada muda o que passamos ou o que vamos passar. A única coisa que mudou foi a distância me mostrar que eu te amo, e que amo cada coisinha em você, boa ou má, bondosa e maldosa. Eu te aceito como você me aceita. Então, não me faça mudar assim como eu não quero que você mude.

Parece que era isso que Percy precisava para descongelar de seu estado catatônico. Percy pegou em sua mão e a beijou, voltando a abraçá-lo fortemente.

— Eu te aceito como você é. Eu não queria que você visse essas partes de mim. Elas não me definem e eu não quero que elas te definam também. Pensei que se eu me esforçasse bastante elas ficariam enterradas e ninguém precisaria notá-las.

— Eu sei. Eu te amo. Eu amo cada uma delas. E quando eu digo todas, são todas.

Percy deu uma risadinha no pé de seu ouvido que o fez arrepiar dos pés a cabeça, sua voz saindo rouca quando Percy o prensou contra a cama e se colocou entre suas pernas.

— Todas mesmo? Sem exceção?

— Nenhuma. Bem, talvez quando você hesita em me tocar. Essa eu não gosto.

Mais uma risada e um roçar de dentes que desceu por sua nuca e pescoço, chegando em seu ombro. Hmmm… isso deixaria uma marca, com toda certeza.

— Vou manter isso em mente. Mais alguma sugestão?

— Você está indo devagar demais. Talvez se você me torturasse menos?

— Isso eu não posso garantir.

— Oh!

O que Nico poderia fazer além de se entregar e gemer? Suas calças foram puxadas para baixo e logo seu membro tomado pela boca de Percy. Não havia nada melhor do que isso.

sábado, 10 de agosto de 2024

NÃO HÁ LUGAR COMO O LAR - Capítulo XVI a XX

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Capítulo XVI

— Bom garoto. — Percy tinha dito, ainda dentro de Nico. Ele se permitiu curtir o momento, mas quando a sensitividade chegou, foi obrigado a deslizar para fora de Nico, observando o sêmen escorrer pela pele morena.

Ele ainda estava irritado, levemente incomodado pela forma que Nico o fez perder o controle. Mas agora vendo Nico estatelado no colchão como se tivesse corrido uma maratona e ainda com lagrimas descendo de seus olhos negros, Percy tinha se decidido, nunca mais deixaria que seus sentimentos interferissem em seu relacionamento com Nico; Percy amava seu pequeno mentirosinho que preferia esconder o que realmente queria se isso fosse garantir que as pessoas gostassem dele.

Percy respirou fundo e deixou que suas mãos abandonassem os cabelos de Nico, se deitando ao lado dele, prestes a sair da cama em busca de algo para limpar Nico. Isso é, ele teria se levantado se Nico não tivesse choramingado, segurando em seu braço, seus olhos já se enchendo de lagrimas.

— Aonde você vai? Eu estou perdoado? — Nico piscou lentamente, parecendo que iria cair no choro se não escutasse o que queria ouvir.

O que Percy podia dizer? No fim, as lágrimas de crocodilo sempre funcionavam; o que o fez sorrir, sabendo que isso sempre acalmava seu doce bebê. Percy se aproximou mais uma vez e o beijou suavemente nos lábios, acariciando os cabelos de Nico.

— Não há nada a perdoar.

— Per.

— Lindo. — Percy o beijou de novo e de novo até que Nico voltou a relaxar na cama, ainda de barriga para baixo, seus olhos negros entreabertos, preguiçosos devido ao sono.

— Não me deixe.

— Nem pra ir no banheiro?

Nico negou, afundando o rosto no travesseiro. Ele pegou na mão de Percy e a trouxe para o próprio pescoço, no exato lugar onde Percy tinha o segurado momentos atrás.

Percy entendeu tudo e começou a acariciá-lo ali, devagar e suavemente, subindo por seus cabelos e descendo pelo pescoço longo, ouvindo Nico ronronar feito um gatinho manhoso.

— Nós não terminamos de conversar ainda.

— Desculpa. — Nico murmurou, sua voz saindo abafada.

— O que você esconde que te faz hesitar tanto, hm?

— Como você pode me amar depois disso? Como alguém poderia? — Nico enfim levantou a cabeça e o encarou todo choroso.

— Nico.

— Eu me sinto uma vadia suja que não precisava cobrar por sexo, mas faz porque gosta.

— Qual o problema em gostar?

— Eu sou uma farsa! Todo mundo acha que eu sou esse… esse ser puro… e olha pra mim agora! — Nico voltou a enterrar o rosto no travesseiro e reclamar, mas parecia que suas lágrimas estavam acabando. Ele devia estar muito relaxado para conseguir ficar irritado.

— Nico! — Percy acabou rindo e Nico choramingou de volta, indignado. Ele então acariciou as costas desnudas de Nico e Nico se rendeu, derretendo em suas mãos, se aproximando um pouco mais.

— Isso não é justo! Você nunca me leva a sério. — Nico se virou de costas para a cama e o encarou fazendo uma careta adorável, e percebendo seu estado, tentou puxar as cobertas para cima de si, escondendo as marcas de mordidas e dedos em sua pele. Nico teria conseguido se Percy não o tivesse parado, o segurando pelo ombro, deslizando suas mãos até elas chegarem na nuca de Nico, o puxando para perto dele, juntando suas testas.

— Eu te levo a sério, juro que levo. Na verdade, queria pedir desculpas. Não devia ter te tratado assim.

— Me tratado como?

— Você não vê o problema?

— Hm?

— Nico, eu bati em você, te joguei na cama. Fiz algo que você não queria.

— Eu… — Nico piscou lentamente, e o surpreendeu, não desviando o olhar do seu. — Eu gostei. Só… não foi uma boa experiência quando tentaram me amarrar. Eu não me importo de tentar com você. Eu me assustei, você nunca foi violento comigo. Eu gostei. Gostei muito.

— Não faz isso comigo. — Percy implorou, tentando impedir que aquelas ideias se formassem em sua cabeça.

— Eu quero que você me bata de novo. Pode me jogar na cama quantas vezes quiser. Só me promete que sempre vai me amar. — Nico disse, sua expressão toda aberta e vulnerável, e infelizmente Percy soube, Nico não estava mentindo.

— Eu te amo. Sempre. Mesmo quando você me deixa louco.

Nico desviou os olhos dele por um instante e quando voltou a encará-lo, mordia os lábios, como se não tivesse certeza de algo.

— Eu quero… quero te satisfazer… e se… e se me fazer chorar ou me fazer gritar é o que te agrada… eu não me importo.

Percy arfou, tentando não demonstrar como seu corpo estava reagindo com essas palavras, mas como resistir quando Nico falava daquela forma quase inocente e na voz mais doce e afável?

— Eu não quero te fazer chorar.

— Mentiroso. — Nico disse, um sorriso começando a surgir em suas suaves feições. — Eu não quero que você se reprima por minha causa.

— Você tem que fazer o mesmo.

Nico mordeu os lábios e pareceu pensar sobre o assunto, suas mãos pequenas vindo parar sobre os ombros de Percy.

— Eu não sei se consigo. Como eu poderia dizer essas coisas?

— Você parece não ter problemas no momento.

— É porque estou… estou flutuando nas endorfinas. Não sei quanto tempo vai durar.

— O que te faria sentir melhor?

— Eu amo quando você me toca em qualquer lugar.

— Onde?

— No pescoço. Na mão. No pulso. Na… na minha cintura.

— Assim? — Percy deslizou os lábios pelo rosto de Nico e o beijou no lado do pescoço, aplicando uma leve pressão ali.

— Hmhmm. — Nico suspirou, fechando os olhos. — Eu amo quando… quando você me diz o que fazer, quando… quando toma o controle.

Percy parou por um momento e deixou o ar sair. Com Nico sempre era difícil saber, se ele fazia o que queria ou se Nico fazia o que os outros esperavam dele. Era melhor ir com calma.

— Eu quero que você saiba. Você pode me contar qualquer coisa. Vou ficar com ciúme, mas nunca vou te julgar.

Nico soltou uma risadinha toda feliz e manhosa, e se virou em direção a Percy, encostando a cabeça em seu ombro.

— Só se você me contar também.

— É um trato, então.

Ele beijou o rosto de Nico, se levantou e foi até o banheiro. Quando voltou com uma toalha quente e umedecida, Nico finalmente estava dormindo, todo encolhido em seu lado da cama e com um doce sorriso nos lábios.

Extra - Se conhecendo

Mais uma cena no passado, de quando Percy e Nico se conheceram.

Percy olhou para os lados, se certificando que ninguém estava o seguindo e saiu da sala de aula vazia. Esse era o preço para não ver sua mãe chorando pelos cantos e se chamando de fracasso.

Desde que o restaurante de sua família tinha se tornado cinco estrelas, a perseguição tinha começado. Quem nunca tinha falado com ele agora queria ser seu amigo, e seus melhores amigos começaram a tratá-lo como se ele fosse realeza. Não importava aonde ele fosse, todos sabiam seu nome, tentando arranjar uma reserva em nome de outros adultos. Percy tinha aprendido bem rápido a se esgueirar dessas pessoas que agora eram quase todos que ele conhecia. E sabe o que era pior? Essas pessoas não estavam interessadas na comida de sua mãe e sim em quem frequentava o restaurante. Isso era tão injusto! Até para ir no banheiro, multidões o seguiam sem lhe dar um minuto de paz. Tyson era tão sortudo! Ele já tinha terminado o colégio e estava a ponto de se formar na faculdade. Restava a Percy lidar com as fofocas e pessoas interesseiras.

Olhando mais uma vez para o corredor vazio, Percy guardou o celular no bolso e entrou no banheiro.

Ah, finalmente. Silêncio. Somente ele e o mictório. Abriu o ziper de sua calça e… e escutou um gemido. Bem perto dele. Virou o rosto e ali estavam três garotos em uma rodinha. Viu que um deles abria a própria calça.

Bem, isso não era da sua conta.

— Não, por favor. Eu… eu…

— Você o quê? Vai contar pra irmãzinha? Pro papai?

— Por favor!

Percy suspirou e caminhou em direção a eles. Sua mãe não tinha o educado para ver alguém ser abusado.

Ele parou atrás deles, em frente ao espelho, e viu o que acontecia. Um garoto com as feições mais suaves e femininas que ele já tinha visto tentava tampar o rosto e se encolhia contra a parede, ele era tão pequeno que reagir contra aqueles garotos seria burrice. O problema é que Percy se distraiu tanto com a beleza do garoto que acabou perdendo o momento em que um dos garotos segurou no próprio membro e apontou em direção ao garoto no chão.

— O que vocês estão fazendo? — Percy enfim disse.

Os garotos se assustaram e se afastaram num pulo, se cobrindo como puderam.

— A gente… ei, você não é aquele garoto rico?

Era só o que faltava.

— Eu disse, o que vocês estão fazendo?

— Não é o que parece.

— Ah, não é? Como você explica isso?

Os três garotos e Percy olharam para o garotinho no chão que escondia o rosto e chorava desoladamente.

— Vocês sabem de uma coisa? Eu não quero saber. Se eu pegar vocês fazendo isso de novo…

— Você não tem provas!

— Quer pagar pra ver?

Os garotos se entreolharam e depois de alguns momentos, saíram correndo. Finalmente ele podia fazer o que precisava e ir embora.

Isso é, se o garotinho não tivesse levantado o rosto e olhado para ele com aqueles profundos olhos negros, inchados e brilhantes. Cabelos levemente encaracolados em ondas negras e os lábios mais bonitos e avermelhados que ele já tinha visto. Admitia que tinha congelado, apreciando a visão. Percy que nunca tinha se interessado por ninguém em seus onze anos de vida se via encantado. E mesmo quando o garotinho mordeu os lábios e olhou para ele, ainda estatelado no chão do banheiro, Percy não conseguia parar de olhar.

— Você não precisava. — O garotinho murmurou, se encolhendo mais contra a parede perto da pia.

— Eu… era o certo. — Essa era a verdade, era o certo a se fazer, mas o que não era certo era admirar o lindo garotinho, principalmente numa situação como aquela. Ele se sentia um monstro. — Qual seu nome?

— Nico. Niccolas.

Hmm… italiano. Dizem que é a linguagem do amor.

— Percy Jackson.

— Oh. — Nico disse, o olhando dos pés à cabeça, suas bochechas altas se esquentando mais. — Você não vai fazer o que aqueles garotos queriam fazer… vai?

— O que eles queriam fazer?

Nico olhou para baixo e Percy acompanhou o olhar.

Oh, de fato, seu zíper ainda estava aberto, porém agora havia um certo… volume ali.

— Eu não sou como aqueles garotos.

— Não é? — Nico ainda parecia em dúvida, embora ele mesmo tivesse um volume nas calças. Um bem menor e que Percy parecia estar analisando com mais atenção do que deveria.

— Eu não sou. — Ele se virou, tentando convencer a si próprio e andou até o mictório.

Abaixou a cueca e tentou se concentrar. Ninguém o avisou que seria difícil se aliviar com uma ereção no caminho. Respirou fundo, relaxando, e enfim conseguiu. Quando voltou para a pia, pretendendo lavar a mão viu que o garotinho ainda estava no chão, o observando se aproximar.

Nico tinha o observado… ir no banheiro? Já que a área era bem aberta, era impossível não ver o que acontecia.

— Você precisa de ajuda? — Percy disse enquanto lavava as mãos, encarando ambas suas reflexões no espelho. Nico parecia assustado e encabulado, enquanto ele próprio estava todo sério e quase ausente, sem mostrar emoções.

— Não! Quer dizer, eu estou bem. Obrigado.

— Tudo bem, então.

Percy secou a mão e se virou em direção à saída. Ele tinha oferecido ajuda, não tinha? A partir dali não era sua responsabilidade o que acontecia com Nico.

***

Percy nunca tinha percebido como aquela escola era grande. Duas quadras cobertas e mais duas ao ar livre, cinquenta salas de aula, dez laboratórios. Piscinas, trilhas de corrida e até uma floresta com uma plantação variada. Era um bom lugar para quem estivesse procurando uma educação abrangente, também era um ótimo lugar para quem estivesse procurando um lugar para se esconder. Felizmente, Percy tinha encontrado o lugar perfeito: deserto e silencioso, bem em frente a uma das quadras descobertas. O melhor de tudo era que a visão da arquibancada era bem limitada, impedindo que as pessoas o achassem com facilidade.

Ele caminhou calmamente pelos corredores do colégio e chegou a seu lugar favorito, decidido a fazer algumas cestas na quadra e comer algo rápido antes da próxima aula. Percy pretendia entrar para o time e não queria que fosse por puro favoritismo. Isso é, ele já ia entrar na quadra quando viu uma cabeleira negra no lado mais distante da arquibancada. Agora, Percy não tinha escolha, ele precisava saber quem era, só assim saberia se ainda era um lugar seguro ou não.

Percy andou a passos apressados e viu que era o mesmo garotinho da vez passada. Ele tinha o lábio cortado e o lado direito do rosto arroxeado. Percy teve o impulso de perguntar quem tinha feito aquilo com ele, mas se lembrou, não era de sua conta. Até porque Nico parecia estar bem, tirando o rosto machucado, vendo que ele comia um pequeno banquete. Percy podia ver pelo menos quatro tipos de pratos diferentes, todos organizados em pequenas marmitinhas, a visão esquentando seu coração por algum motivo. Devia ser a forma que Nico se encolheu, tentando se esconder dele, mas mesmo assim o encarou, sorrindo.

Ele observou Nico levantar uma das marmitas e da forma mais tímida possível, oferecer a ele, dizendo: — Você quer?

Percy se viu andando o resto da distância até Nico, abandonando sua mochila e bola de basquete no pé da arquibancada, e se sentando em frente a Nico.

— Eu trouxe também. Minha mãe é cozinheira.

— Ah. — Nico murmurou e deu de ombros, pegando seus talheres. — Eu sempre faço muito. Vê?

Então Nico abriu as outras duas marmitas e mostrou a ele. Torta de legumes com queijo. Bolinho de carne. Pão de calabresa. Bolo, também.

— Você faz? E sua mãe?

— Eu não tenho. Ela morreu.

Foi quando Percy se deu conta do que fazia. Feito um esquisito, observava Nico comer como se fosse a coisa mais maravilhosa do mundo enquanto o garoto comia sozinho, tendo que fazer a própria comida.

— Seu pai? Você deve ter um, certo?

Nico negou e enfiou outro pedaço de torta na boca, ignorando todo o resto dos pratos.

— Papai nunca está em casa.

— Então…?

— Eu aprendi com a mama antes dela morrer. A comida dela era o máximo! A vovó também cozinha muito bem. — Mas Nico falava aquilo com tanta felicidade que Percy se sentiu melhor.

— Quem cuida de você?

— Eu tenho uma babá. Minha irmã, também! Ela é a melhor irmã do mundo. — Nico continuou comendo todo contente e Percy sentiu algo em seus olhos. O que estava acontecendo? Esse garoto não podia ser tão ingênuo, certo? Tão... feliz? Quantos anos ele tinha? Nove? Dez? Devia ser mais novo que ele próprio.

— Você não quer mesmo? Fiz tudo sozinho!

— Tudo? Você sequer alcança o fogão?

— Fiz, sim! A babá só ligou o fogão. Eu tenho uma escada que fica perto da bancada e...

— E?

— Você é muito malvado. Não quero mais falar com você!

Percy não aguentou, ele colocou a mão em volta da barriga e gargalhou. Fazia tempo que ele não via uma coisa tão fofa e engraçada. As bochechas gordinhas de Nico se enchendo feito um balãozinho, os braços cruzados, os lábios num biquinho ainda mais fofo.

— Quantos anos você tem, hein?

— Eu tenho onze! Qual o problema?

— Você é tão baixinho e pequeno. Quem está te alimentando?

E de novo, Percy não aguentou. Rindo da própria piada, se deixou cair de costas na arquibancada, rindo e rindo até que seu ar sumisse e depois voltasse, um sorriso feliz permanecendo em seus lábios muito tempo após sua crise passar.

— Você está bem? — Nico perguntou numa voz pequena e suave, fazendo seu coração derreter.

Percy abriu os olhos para ver que Nico tinha se aproximado de onde ele estava deitado, sentando sobre os próprios joelhos, todo preocupado, seus olhos negros arregalados e bochechas coradas.

— Então... — Percy disse, tentando parar de sorrir. —  Estamos no mesmo ano. Como eu não te vi por aí?

— Eu te vi. — Nico disse e abaixou os olhos para o próprio colo. — É difícil não ver quando as pessoas só falam de você.

— O que eles falam?

— Que você tira as melhores notas. É o melhor nos esportes. Tem a melhor namorada. Essas coisas.

— Que namorada é essa?

  Acho que... Annabeth Chase? Não sei direito. Cheguei há poucas semanas.

— É bom saber disso.

— Saber do quê?

— Que eu tenho uma namorada.

— Você... não sabe? — Nico entortou a cabeça, feito um cachorrinho confuso e isso arrancou outra gargalhada dele. Dessa vez, Nico riu junto. Ele parecia estar segurando o riso, mas quando Percy não parou, Nico se viu sem escapatória, se juntando a ele.

— Você é engraçado. — Nico lhe disse.

— Você que é.

E feito um garoto da terceira série, coisa que ambos eram, riram novamente, enquanto ouviam o sinal tocar. Percy nem tinha percebido que meia hora tinha se passado, o que era mais tempo do que ele costumava passar com seus velhos amigos nos últimos tempos.

E o que isso dizia sobre ele, hm?

— A gente tem que ir. — Ele ouviu Nico dizer.

Eles realmente tinham.

Com pressa, ajudou Nico a recolher as marmitas e o acompanhou para a próxima aula, descobrindo que Nico de fato estava na mesma sala que ele. Percy estava tão distraído em tentar se esconder que não via o que acontecia à sua volta? Bem, esse fato iria mudar a partir daquele instante.


 

Capítulo XVII

— Nico.

— Hm.

— É hora de acordar.

Nico resmungou e se aconchegou mais debaixo dos cobertores. Ele estava tão cansado que sentia que precisaria de uma semana inteira para se recuperar.

Ele se remexeu de novo, prestes a colocar o cobertor sobre a cabeça quando sentiu braços fortes rodearem sua cintura. Entretanto, o que o fez abrir os olhos foi o beijo em seu pescoço, naquele lugarzinho perto da nuca que agora o fazia reagir mais intensamente do que ele achava que deveria. Era tudo culpa de Percy, culpa da forma que Percy havia o tocado na noite anterior e de todas aquelas palavras.

Deuses! O que ele tinha feito? Nico tinha realmente dito tudo aquilo para Percy? Ele não acreditava nisso! Nico se sentou em um pulo e olhou ao redor. Ele ainda estava em seu quarto, e Percy? Bem, o idiota ainda estava a seu lado, encostado contra a cabeceira da cama e com um sorriso tão satisfeito no rosto que isso o fazia se perguntar: Será que ele tinha dito algo que não se lembrava na noite anterior?

— Então, você gosta de apanhar?

— Percy!

— Pensei que eu fosse o único que você permitisse te fu--

— Não se atreva! — Nico admitia que estava entrando em pânico.

— Eu me pergunto onde está o garoto que queria ir devagar, hmm?

Em outro pulo, Nico se jogou em cima de Percy e tampou a boca dele com as mãos.

— Retiro tudo o que eu disse. Tudo!

Percy lambeu sua mão e continuou sorrindo para ele até que Nico se deu por vencido, deixando que Percy falasse:

— É uma pena. A gente podia se divertir tanto…

— Eu… eu não sei. — Nico teve que desviar o olhar, talvez ele não quisesse retirar nada, por mais humilhante que fosse.

— Bebê. Vem aqui.

Nico foi, é claro.

Percy o segurou pela cintura e o fez se deitar sobre o peito dele, uma das mãos de Percy indo a seus cabelos imediatamente. Nico não entendia por que aquele gesto o acalmava tanto ou porque esse sentimento de ternura o fazia querer contar tudo o que não tinha dito na noite anterior. É que… Nico se sentia condicionado a nunca mentir para Percy, e ele já havia dito tanto… Nico queria ter uma máquina do tempo para se certificar que nada daquilo tivesse acontecido, porque só assim teria certeza de que nada entre eles mudaria.

— Eu sinto muito.

— Nico.

— Eu não devia ter ido embora. Mas quando você me disse para conhecer outras pessoas, pensei que… pensei que a gente nunca teria uma chance. Então, por que ficar esperando por algo que nunca vai acontecer?

— Está tudo bem. É minha culpa.

— Não quero saber de quem é a culpa. Quero que você diga que me perdoa e que no futuro isso não vai afetar as coisas.

— Eu te perdoo e isso não vai mudar nada.

Nico sabia que Percy falava isso apenas porque ele havia pedido, mas mesmo assim, o nó em seu estômago pareceu se afrouxar.

— Promete?

— Eu prometo.

Nico se afastou o suficiente para poder olhar no rosto de Percy e o tocou ali suavemente, acariciando os lados do pescoço de Percy.

— Você sabe que eu te amo, não sabe? De verdade? — Nico se forçou a dizer, vendo um sorriso pequeno aparecer nos lábios de Percy.

— Por que essas declarações agora?

— Eu percebi… pensei que gostava de você porque você foi o meu primeiro amigo. Mas quando eu estava na Itália, parecia que algo estava faltando. Tentei encontrar isso em outras pessoas, sabe?

— O que você estava procurando? — Foi quando Percy tocou em seus ombros, tentando consolá-lo.

Ahg, ele não conseguia olhar para Percy quando Percy agia de forma tão gentil.

— Eu não sei! — Era uma mentira, é claro. E Percy sabia disso. — É difícil expressar o quanto você significa pra mim. Então, quando eu não te conto as coisas é porque eu não consigo, não porque eu não quero.

— Eu sei disso. Mas eu preciso que você me diga. Preciso que você me dê permissão. — Então, Percy tocou em sua nuca, puxando sua cabeça para cima, o fazendo encará-lo. E ainda assim, quando Nico se negou e manteve os olhos fechados, Percy insistiu: — Lindo. Olhe para mim.

Nico fez, ele fez porque era impossível resistir quando Percy falava com ele naquele tom firme e ao mesmo tempo tranquilizador.

— Eu entendo. Você não precisa se forçar.

— Eu sinto muito.

— Não, Nico. Não é sua culpa.

— Não quero te preocupar.

Porque essa era a verdade. Ele sempre gostou de passar pela vida quieto e despercebido, o problema era que Percy o notou e não o largou desde então. Não importava quanto tempo passasse, nunca se acostumaria com a atenção que Percy lhe dava e mesmo depois de uma década, era estranho, era como se Nico estivesse em um sonho e a qualquer momento iria acordar, percebendo que Percy tinha sido sua imaginação lhe pregando peças.

— Isso não vai se repetir.

— O quê? — Nico perguntou, sem entender.

— Não vou te obrigar. Apenas… me diga se você precisar. Qualquer coisa.

— Qualquer coisa?

— É claro.

— Então diz que me ama.

— Eu te amo.

— De novo.

— Eu te amo.

— De novo.

— Nico. — Percy sorriu e o beijou, o interrompendo. — O que está acontecendo? É sobre a noite passada?

— Não é nada.

  Prometo que não vou fazer aquilo de novo.

— Aquilo…?

— Eu não vou ser… tão intenso ou… você sabe.

Por que ele sentia que seu rosto estava esquentando? E já que esse era o caso…

— Por que não?

Esse era o momento que Nico mais temia. Percy ficou em silêncio e o encarou por longos segundos, sem lhe dar escolha se não o encarar de volta. Ele temia tanto esses silêncios porque esse era o momento em que Nico não conseguia mentir, e se ele não pudesse falar, não teria como desviar a atenção para longe da verdade.

Sim, essa era a realidade, não importava o quanto ele tentasse dissimular, Percy sempre saberia de tudo no final.

— Tudo isso é por vergonha? A humilhação é demais para você? Ou é porque você gosta da sensação?

Nico não sabia como Percy conseguia falar tudo isso de forma tão séria e compenetrada. Bem, Percy estava mais certo do que imaginava. Entretanto, quando Nico ficava nervoso esses sentimentos saíam apenas de duas formas, lágrimas de ansiedade ou de risada. Então, imagina a cena onde ele começou a rir do nada enquanto Percy continuava sério e todo austero.

— Você acha que eu sou uma piada? — Percy disse e estufou o peito, fingindo estar ofendido.

— Eu nunca acharia isso.

— Eu te amo. — Então, Percy o abraçou forte e acariciou suas costas. — Não importa o que seja essa coisa entre a gente, vamos superar juntos.

Era o que Nico esperava.

***

— Você está pronto? Não contei que a gente vinha. — Percy pegou em sua mão e o puxou para fora do carro.

Nico nem podia acreditar que estava de volta na casa onde suas melhores memórias foram feitas. Essa era a casa de sua infância, o lugar que ele tinha descoberto que o amor e carinho ainda eram possíveis depois que sua mãe morreu. Era o lugar que Nico tinha descoberto que o amor podia vir em diversos tamanhos e formas e ser expressado de jeitos simples ou complicados.

— Talvez a gente devesse voltar depois?

— Ela vai adorar te ver.

— Você tem certeza?

— Nico, essa é sua casa também. Sempre vai ser.

Nico teve que respirar fundo, parando em frente a porta de entrada. Ele se sentia tão culpado! Percy não foi a única pessoa que ele tinha deixado para trás. Sally também tinha sido uma delas. Sua segunda mãe, a pessoa que ele podia contar tudo depois de Percy, sempre oferecendo um abraço apertado e uma cozinha aberta a ele.

— Percy, eu--

— Shhh. — Percy apertou sua mão, sorriu para ele e enfim empurrou a porta da casa, o guiando para dentro. — Mãe! Chegamos!

Não demorou muito e logo ambos puderam ouvir o som de saltos pelo chão de granito branco, e aparecendo de uma das portas que Nico sabia dar na cozinha, Sally veio quase correndo e com tanta energia que por um momento Nico se viu no passado, na primeira vez que ele tinha entrado por aquela mesma porta, vendo a decoração simples, porém, elegante. Sofás cor creme, paredes num azul quase branco, puffs e cobertores espalhados pelo cômodo e uma grande televisão. O cheiro era o mesmo, a mesma fragrância de comida recém-feita, açucarada e agridoce, o fazendo sorrir imediatamente.

— Nico, meu filho. — Foi tudo o que ouviu antes do ataque de Sally vir, braços magros e fortes o rodearam e cabelos longos e castanhos escuros caíram sobre ele, o perfume de Sally ainda era o mesmo.

— Deuses, olha como você cresceu! E essas bochechas, hm? Tão bonito.

— Mãe!

— Percy, olhe para ele. Vocês já se resolveram? Espero que sim! Você sumiu por três dias! É o mínimo que eu espero.

— Sally. — Nico finalmente disse, sorrindo, e se inclinou em direção a ela, recebendo mais um abraço de Sally com prazer.

— Não acredito que vou ter meu assistente de volta! Nosso cardápio sofreu muito com sua partida. Que tal discutirmos isso amanhã? Você vai ficar hoje conosco? Que pergunta! É claro que você vai.

Sally segurou em sua mão, o puxando em direção a cozinha e Nico olhou para trás, vendo Percy dar de ombros. Ele sabia que agora demoraria para Sally se cansar dele. E como diz o ditado, “tal mãe, tal filho”, ou algo assim. E como não adiantava lutar contra nenhum dos Jackson, Nico se deixou ser levado por Sally, não que ele se importasse; era sempre divertido passar algumas horas na companhia de Sally Jackson, comida gostosa, conversa descontraída e um ombro amigo para desabafar.

***

Fazia tempo que Percy não andava pelas ruas do bairro. Elas não eram o que costumavam ser, pois de quietas e humildes, se tornaram cheias de prédios altos e carros barulhentos devido à linha de metrô localizada há poucos quarteirões de sua casa. O bom nisso tudo é que agora praticamente em cada esquina tinha uma loja ou mercado, ou até um shopping center. Exatamente o que ele estava procurando. Andando despreocupado, foi diretamente a uma loja de papelaria e logo encontrou o que procurava, um diário de couro escuro e de aparência delicada e bonita, exatamente como Nico. Ele pagou, deu uma volta pelo shopping e se viu parando em frente a uma relojoaria familiar, se lembrando de ter entrado naquele lugar anos atrás e comprado algo especial, mas nunca ter prosseguido com seu plano. Agora, algumas horas depois, voltava para casa. Imagina sua surpresa ao ver os ajudantes de sua mãe entrarem com sacolas atrás de sacolas com comida e panelas. Percy nem se surpreendia mais. Na verdade, era uma visão familiar, mas que ele não presenciava desde que Nico tinha ido embora, a casa cheia e o aroma de doces e salgados permeando o ar.

Bem, parecia que seu presente teria que esperar.

Sem ser visto, foi até seu quarto, deixou a sacola em cima da cama e abriu a primeira gaveta da cômoda, encontrando os anéis que tinha comprado três anos atras. Será que esse era o momento que vinha esperando? Afinal, eles já tinham deixado claro que se amavam, então, por que não dar o próximo passo? Tinha aprendido que o melhor a fazer era nunca assumir nada, e se ele não se expressasse, como Nico poderia saber? Percy mal podia esperar para ver a reação de Nico.

Assim, trocando os anéis pelo diário, pegou a caixinha com as alianças e colocou o diário dentro da gaveta, se sentindo confiante. Saiu do quarto e foi em direção a cozinha, quase trombando com uma garota que usava um avental do restaurante de sua mãe. Ela pediu desculpa e continuou apressada para fora da casa, sem a bajulação usual. Ele esperava que essa durasse mais do que as outras. O caso não era sua mãe ser uma chefe ruim, o problema é que a maioria das pessoas não tinha o mesmo entusiasmo que ela ou Nico tinham quando se tratava de culinária.

Percy enfim entrou na cozinha e se deparou com um banquete completo. Ele viu carnes assadas, fritas, cozidas, grãos e massas de vários tipos, sem contar os doces e comidas salgadas nem tão saudáveis.

— A gente vai ter um jantar de gala ou o quê? — Ele teve que perguntar assim que entrou na cozinha. Era até engraçado. Sally e Nico estavam ali, além de vários ajudantes, cobertos de farinha e outras coisas que Percy não conseguia identificar, todos vestindo aventais idênticos e andando de um lado para o outro de uma forma tão organizada que pareciam formigas operárias.

— Você tem razão, querido! — Sua mãe exclamou. Ela limpou a mão em uma toalha, tão energética como ele não via há muito tempo, ou pelo menos não nesse nível de “criança que comeu muito açúcar” e o abraçou apertado para logo em seguida, voltar a andar pela cozinha checando o forno e vendo se tudo estava em ordem. — Chame seus amigos! Chame os amigos dos seus amigos. Não, melhor, também chame os pais dos seus amigos.

Percy não tinha certeza sobre isso. Será que ele sequer ainda tinha tantos amigos assim? Percy deu de ombros, prestes a fazer o que a mãe tinha pedido quando Nico apareceu em sua frente, tentando encontrar um lugar para colocar uma espécie de bolo esbranquiçado na mesa.

 — Eu te ajudo.

Percy moveu algumas coisas ao redor e enfim achou um espaço, pegando a travessa das mãos de Nico e a colocando em cima da bancada.

— Aqui está meu bebê. Onde você se meteu?

— Eu não sou seu bebê.

— Não é?

Será que agora era um bom momento? Não importava como Nico estivesse vestido, com o uniforme da escola ou com suas calças justas, e mesmo agora com farinha dos pés a cabeça. Nico sempre seria a coisa mais bonita e fofa que Percy jamais encontraria, principalmente quanto tentava não se constranger pela demonstração de afeto em público.

Percy colocou a mão no bolso, tocando na caixinha e observou por mais um momento, vendo Nico abaixar a cabeça, seus cabelos negros protegidos por uma redinha de cabelo, permitindo que ele visse o rubor se espalhar com força na face de Nico, descendo pelo pescoço longo e elegante. Percy não se reprimiu, segurou na nuca de Nico e o puxou para perto, o beijou devagar e longamente, e só parou quando ouviu um gemido e o repentino silêncio que se seguiu; os murmúrios ao redor deles pararam e o barulho de panelas batendo, também.

— Per. — Nico sussurrou numa voz quase inexistente e segurou em seu braço, seu rosto agora pegando fogo. Tão tímido e tão doce que Percy pôde sentir o açúcar na língua de Nico, a doçura em seu toque suave.


 

Capítulo XVIII

— Per. — Nico sussurrou numa voz quase inexistente e segurou em seu braço, seu rosto agora pegando fogo. Tão tímido e tão doce que Percy pôde sentir o açúcar na língua de Nico, a doçura em seu toque suave. Mas quando ele achava que Nico iria se afastar, como ele de costume faria no passado, Nico apenas ficou ali, agarrado a seu braço, olhando para ele sem saber o que fazer.

Talvez esse não fosse o momento indicado para declarações. Se com somente um beijo Nico tinha reagido assim, pego despreparado e todo ansioso, o que Nico faria se ele se ajoelhasse no meio da cozinha e mostrasse o anel para ele? Infelizmente quando isso acontecia, Nico não sabia o que fazer. Nico tinha a tendencia a congelar dos pés à cabeça e se esconder. Era como se ele não tivesse um script para tal situação e preferisse não fazer nada com medo de errar.

[1] — Lindo. Me dá um abraço, hm?

Nico piscou lentamente e mordeu os lábios, parecendo indeciso. No fim, Nico fez o que Percy pediu. Colocou os braços ao redor da cintura de Percy, escondeu o rosto e o abraçou forte por longos momentos, escondendo o rosto contra seu pescoço, Percy o abraçou de volta e acariciou os longos cabelos de Nico.

— Certo. — Percy levantou a cabeça e ainda abraçando Nico, olhou ao redor, encarando cada um dos ajudantes de sua mãe, o que teve o efeito desejado.

Todos começaram a se mover como se fossem um e o ambiente voltou ao normal. Ele pensou em se desculpar para Nico, mas só o pensamento de Nico entender que beijá-lo na frente de outras pessoas era errado, embrulhava seu estômago. Nico era um ser bem perceptivo, e se ele entendesse que estava fazendo algo errado, nunca mais faria tal coisa, como na vez que eles estavam conversando com algumas pessoas, Nico riu muito alto e alguém o repreendeu, depois disso demorou meses para ele ver Nico sorrindo em público.

— O que você fez de gostoso?

— Já comeu bolo japonês? — Nico pareceu aliviado com a mudança de assunto e largou de sua cintura. Ele pegou na mão de Percy e o levou até um bolo leve e de textura esponjosa, diferente de tudo o que ele já tinha comido.

Nico cortou um pedaço e colocou em um prato para ele. Assim que levou uma garfada na boca, o bolo se desfez em sua língua, algo tão gostoso que Percy não sabia explicar, então ele apenas gemeu, fechando os olhos de prazer.

— Tão bom assim?

— Tudo o que meu bebê faz é exemplar.

— Obrigado.

Percy parou de comer e prestou atenção em Nico. De verdade, ele parou e o observou. Nico parecia feliz e contente em seu avental e roupa suja de farinha. Ele parecia um pequeno chefe de cozinha, orgulhoso de um trabalho bem feito.

— Eu vi num restaurante em Verona e quis tentar.

— Lindo.

— Você devia estudar culinária. — Dessa vez quem falou tinha sido Sally. Ainda em frente ao forno, ela comentou, terminando de bater uma torta de chocolate, os observando discretamente. Ela se aproximou deles e colocou um de suas mãos sobre os ombros de Nico. — Você já pensou sobre isso?

***

— Você devia estudar culinária. Já pensou sobre isso?

Nico piscou lentamente, tentando se concentrar em qualquer coisa que não fosse o jeito que Percy olhava para ele, que quase perdeu o momento onde Sally se aproximou do canto onde eles estavam.

— Hm?

— Já se decidiu sobre a faculdade?

— Ah. — Nico olhou de canto de olho para Percy, mas se focou em Sally. — Eu não sei. Hades quer que eu faça administração.

— Por que não algo que você tenha talento? Como música e culinária? Artes?

— Eu… eu gostaria muito. Não sei se Hades iria permitir.

— Sabe, outro dia desses, esse senhor muito educado trouxe a família para jantar. Ele disse que o lugar onde ele trabalha tem um curso excelente de culinária. — Nico olhou bem para Sally, tentando desvendar o que isso significava. — Por que você não faz uma graduação dupla? Tenho o contato dele se você estiver interessado.

— E também fica perto de casa. — Percy completou.

Nico parou tudo e se apoiou na quina da bancada, tentando não criar expectativas.

— Eu não poderia.

— Querido, você não precisa se preocupar com os detalhes. Dê uma olhada, sim? Eu cuido de tudo.

— Não, Sally. Você não precisa… eu nunca--

— Deixe disso. Dinheiro não é problema, querido. — Então, Sally sorriu para ele toda radiante e o pegou desprevenido mais uma vez, o abraçando forte. — Não importa o que você escolha. Vamos te apoiar, sempre.

— Oh. — Foi tudo o que escapou de sua garganta, um som engasgado e abafado contra o ombro de Sally. Sua visão ficou embaçada e sua garganta se apertou, mas seu coração batia forte, um calor gostoso aquecendo seu peito, ao mesmo tempo em que as mãos de Percy o tocaram nos ombros, abraçando ele e a Sally de uma vez só.

— Mamãe está certa. Vamos te apoiar não importa o que aconteça, mesmo que eu tenha que ir para a Itália com você.

— Vocês planejaram isso? Me surpreender para não me deixar pensar sobre o assunto?

— Nico, é claro que não! — Sally exclamou toda energética e segurou em seus ombros, seus grandes olhos castanhos claros o acertando em cheio no meio do peito. — Percy fez alguns testes vocacionais e de aptidão ano passado e desde então estamos procurando as melhores opções. Você também tem que fazer! Eles são bastante certeiros. Semana que vem parece bom? Ah, nós temos tanto a fazer!

E assim, como se conversar sobre seu futuro fosse algo corriqueiro, Sally continuou, voltando a bater a massa com uma espátula em uma grande travessa de vidro.

— Então, está certo. Faculdade decidida. Teremos um casamento?

— Ca-casamento?

— É claro! Quanto mais cedo marcarmos a data, melhor! E uma casa? Vocês vão ficar perto da gente, certo? E… Percy ainda não falou com você?

Nico não sabia se estava pronto para um passo tão grande, ele ainda nem sabia se conseguiria terminar o colégio sem se autodestruir, quem dera um… um casamento.

— Mãe! — Percy resmungou. — Ela está brincando. Não escute o que ela diz.

Era Percy que dizia isso, mas seu olhar era intenso sobre ele, pensativo e analítico. E… talvez… talvez Sally não estivesse brincando, se fosse pela expressão decepcionada no rosto de Percy.

— Desde quando você vem planejando essas coisas?

— Desde que…

— Desde quando?

— Desde que entendi que acordar do seu lado todo dia era a melhor parte do meu dia.

Nico achava que tinha algo estranho em seus olhos, eles não paravam de lacrimejar. Devia ser sinusite, só podia. Sim, era isso. Talvez uma alergia.

— Você não vai dizer nada? — Percy insistiu, e de repente, o mundo sumia e só eles dois importavam; o som de panelas batendo e os sussurros sumiram, e até os murmúrios apressados ao redor deles desapareceram.

— O que eu devia dizer? Você está me pedindo em casamento?

Esse era o melhor e o pior momento de sua vida. Percy sorriu para ele e colocou a mão dentro do bolso, tirando de lá uma caixinha em veludo delicada. E então, o pior veio, Percy se ajoelhou no chão cheio de farinha e açúcar, e abriu a tal caixinha, lhe mostrando que dentro havia dois anéis idênticos banhados a ouro e com um pequeno diamante no centro, um deles de tamanho grande e o outro menor, com delicadas gravuras ao redor das alianças, os anéis tão delicados que Nico tinha medo de tocá-los.

— Você não pode estar falando sério!

— Eu comprei eles antes de você fugir para a Itália. Queria ter te contado antes. Tinha medo que isso fosse te afastar mais uma vez.

E sem pedir permissão, Percy segurou em sua mão e deslizou a menor das alianças em seu dedo anelar da mão direita.

— Esse anel é a prova do meu comprometimento e fidelidade a você. É a promessa que eu faço de sempre estar a seu lado e sempre dar o que você precisar e desejar. Não importa o que seja ou onde seja.

— Percy, para com isso! Agora mesmo! Você não quer isso. — Nico se afastou das mãos de Percy e tentou tirar o anel, se sentindo ansioso, mas não conseguiu tirá-lo. Algo dentro dele o impediu.

— É claro que eu quero. Eu te amo. Quero passar o resto da minha vida com você. — Percy continuava sorrindo e continuava ajoelhado, como se pagasse por seus pecados em uma prece enamorada.

Percy se arrastou de joelhos até estar novamente perto o suficiente para tocá-lo e ofereceu a caixinha a Nico, dizendo: — É sua vez de colocar em mim. Você aceita se casar comigo?

— Deuses! — Nico choramingou, aquele aperto no coração e quentura no peito se alastrando feito chamas infernais por suas veias. — Você vai se arrepender disso. Vai se arrepender tanto. Depois não me culpa pelo o que acontecer.

— Eu tomo toda a responsabilidade.

Fungando, Nico se ajoelhou também e fez o mesmo que Percy, colocou o anel no dedo anelar da mão direita de Percy e observou suas mãos juntas. Nem em seus sonhos mais selvagens Nico poderia imaginar algo assim.

— Satisfeito agora? — Nico disse ainda fungando.

— E o meu beijo, hm?

Ainda se sentindo ansioso e trêmulo, Nico pulou no colo de Percy e o beijou com tudo o que tinha, sendo recebido pelos braços fortes da pessoa que ele mais amava no mundo.

***

— Lindo.

Nico ignorou Percy que estava deitado na cama e terminou de secar os cabelos com a toalha, os penteando para trás. Colocou a camiseta, a puxou para baixo e abotoou suas calças, puxou o zíper para cima e se olhou em frente ao espelho.

Se fosse por ele, Nico teria ficado na cozinha, onde pertencia, e teria terminado de ajudar com os preparativos para a festa mais tarde. Infelizmente, logo depois do pedido de casamento, Sally havia o expulsado da cozinha, o empurrando para longe do fogão enquanto Percy tinha lhe pegado no colo e o carregado pelas escadas até que chegaram ao quarto de Percy. E sem escolha, ainda cheio de farinha pelas roupas, entrou no banheiro sem reclamar, tomando um longo banho na banheira para logo depois procurar por roupas que ainda o servisse. Aparentemente, Percy não tinha jogado fora as coisas que ele havia deixado para trás, como sua calça jeans preta favorita ou suas camisetas cheias de piadas e de super-heróis estampadas nelas, ou mesmo sua jaqueta de couro, roupa que sua mãe costumava usar antes do câncer a impedir de levantar da cama.

Ele admitia que as camisetas que antes eram largas e chegavam a suas coxas, agora serviam perfeitamente bem, embora um pouco mais justas do que Nico gostaria, contornando suas curvas não tão masculinas; tirando seus ombros largos e altura, o resto era bem… bem magro em algumas partes e delgadas em outras, impossível de não reparar naquelas roupas justas. Ele nem gostava de pensar sobre isso. Talvez fosse por isso que Percy adorava segurar em sua cintura.

— Desde quando você tem esses músculos, hm? — Percy voltou a perguntar com bom-humor.

Músculos? Ele não via muitos. E claro, Percy até poderia enganá-lo se fosse alguns anos atrás. Agora? Ele conseguia ouvir o puro ciúme por trás do riso.

— Eu não sei. Tive tempo livre na Itália.

De fato, a vida em Verona era bem mais fácil e descomplicada do que essa primeira semana de volta estava sendo. Quer dizer, quando Percy estava envolvido, problemas e emoções fortes eram garantidos. Ele nem sabia por que ainda se lamentava, as coisas sempre tinham sido assim.

— Não faça essa cara. Hoje é dia de comemorar. Ou pelo menos é de acordo com Sally.

— Claro. — Nico revirou os olhos e enfim colocou sua jaqueta, enfiando os pés dentro de seus tênis de cano alto que também tinha ficado dentro do guarda-roupa de Percy.

Agora sim, Nico estava de volta no passado e com o look completo. Ele quase se sentia nostálgico; se não fosse a ansiedade e a autodúvida constante, sentiria saudade daquela época. — Vamos.

— Espera. Comprei uma coisa pra você.

— Mais um presente? O que vai ser agora? Um carro?

— Você precisa de outro? — Mas Percy estava sorrindo. Nico observou ele se levantar e dar a volta na cama, abrindo a gaveta da cômoda ao lado da cama. — Não é nada muito caro.

— O que é isso? — Dessa vez, o objeto nas mãos de Percy despertou sua curiosidade. Ele conseguia ver o que era, a questão era que Percy nunca tinha lhe dado nada desse tipo, foi o que o fez se aproximar mais e pegar o diário das mãos de Percy, abrindo a capa rígida e negra de couro, encontrando páginas simples e pautadas, notando uma dedicatória no lado de dentro da capa: “Para que seus pensamentos e ideias nunca se percam”. — Per?

— Eu pensei sobre o que você disse… sobre não conseguir se expressar.

— Me expressar?

— Na cama. — Percy disse e então segurou em suas mãos sobre o diário, o fazendo encará-lo. — Sei como as coisas podem ser… assustadoras de vez em quando. Quero que esse diário seja uma forma da gente conversar sem precisar de todo aquele… drama.

Percy usou a palavra “drama”, mas para Nico era mais… “humilhação”.

— Você vai escrever também?

— É claro.

— E você vai… vai ler tudo? Tudo o que eu escrever?

— Se você quiser.

Nico parou por um momento e encarou Percy, seu noivo, o amor de sua vida, a pessoa que sempre o aceitou incondicionalmente. Percy parecia tão calmo e confiante, tão sincero… ninguém antes fez tanto esforço para tentar entendê-lo.

— Não precisa ser sobre isso. — Percy voltou a dizer. — Você pode escrever sobre qualquer coisa. Ou algo que você queira que eu saiba.

— Qualquer coisa? De verdade?

— O que foi? — Então, Percy voltou a sorrir, despreocupado. — O que você ainda tem para esconder de mim?

Esse foi o momento que a mortificação o tomou. Nico desviou o olhar e encarou o diário que ambos ainda seguravam, as alianças brilhando em seus dedos. Se somente Percy soubesse… ele não sabia se era a melhor ou a pior das ideias que Percy já tinha sugerido.

— Olha, você não precisa se forçar. Vamos deixar o diário do lado da cama e se você sentir vontade, ele vai estar aqui. Tudo bem?

Percy sorriu mais uma vez para ele, pegou o diário de suas mãos e o colocou em cima da cômoda, há menos de um metro de distância deles. Mas esse era o problema, Nico já sentia vontade de folhear aquele caderno e escrever o que viesse à mente, como num exercício de escrita livre, só que mais estranho e constrangedor. Sentia vontade de escrever e deixar tudo sair como há anos não fazia.

— Não, eu quero! Me dá. — E feito uma criancinha, Nico esticou a mão e pegou o diário, o abraçando contra o peito, se sentindo satisfeito ao segurar mais uma vez naquele caderno de couro negro.

— Fico feliz de saber que você gostou. — E agindo feito o papai que ambos se negavam a admitir, mesmo que ambos tivessem a mesma idade, Percy o abraçou forte e beijou seus cabelos, dizendo: — Bom garoto.

É claro que isso teve o efeito esperado. Nico escondeu o rosto no ombro de Percy e gemeu mais uma vez, mortificado, se recriminando por se sentir tão bem e contente com aquelas palavras. Ou com o cuidado que Percy continuava demonstrando dia após dia.

Capítulo XIX

Antes de irem para a festa, Nico guardou o diário junto com a caixinha das alianças agora vazia dentro da mochila e segurou na mão Percy, fazendo o peito de Percy se aquecer com o gesto distraído de Nico.

Não era o gesto mais romântico ou afetivo que Percy já tinha visto, mas Nico fazia tudo com tanto cuidado que ele tinha certeza de ter feito a escolha certa ao esperar até aquele momento. Sabia que essas atitudes, tanto quanto as dele ou de Nico, vinha de um lugar doloroso; da perda e do abandono, coisas que ambos sentiram na pele e que queriam evitar a todo custo. Por isso, cada momento que servisse para a aproximá-los seria motivo para comemorar.

Ainda não acreditava que finalmente tinha proposto para Nico. Eles iriam se casar! Houve uma época em que Percy pensou que nunca mais veria Nico, e quem dera que estariam tão contentes e felizes, mesmo que o garotinho escondesse por detrás de um biquinho zangado e o costumeiro mau-humor e insegurança. E quem era ele para julgar como outras pessoas se comportavam quando ele era o pior deles? Tudo o que Percy sabia é que tinha um plano e que faria tudo para executá-lo com maestria.

Ele sorriu para Nico, segurou de volta na mão oferecida a ele e quando menos percebeu, um dos ajudantes de sua mãe o guiavam para a parte externa da casa onde mesas estavam dispostas no jardim e pessoas já andavam pela pista de dança improvisada ao lado de uma mesa de buffet dividida em três fileiras organizadas por pratos doces, frios e quentes, e ali nem estava toda a comida que ele tinha visto na cozinha.

— Vocês exageraram dessa vez.

— Não foi nada além do normal. — Nico deu de ombros.

— Claro. Eu queria--

— Nico! Finalmente consegui te encontrar!

Percy suspirou e se deu por vencido, agora que eles estavam no meio daquelas pessoas seria impossível ter a atenção de Nico só para ele. Como em câmera lenta, viu Clarisse se aproximar deles em passos apressados e pegar Nico em um abraço de urso, o puxando para longe dele.

— Até quando você ia me ignorar!

— Eu não estava te ignorando! — Nico gritou de volta, mas abraçou Clarisse tão forte como ela tinha feito, fechando os olhos com prazer.

— Por que você não me disse que tinha voltado? E quando isso aconteceu?

— Faz… cinco dias? Seis?

— Aposto que é culpa dele.

— Clare!

— Não venha com isso pra cima de mim. Eu quero saber tudo!

— Pra depois você contar para Annabeth? Não, muito obrigado.

— Isso é não verdade. Fiz isso uma vez e--

Parecia que não teria jeito. Percy deixou Nico com Clarisse, vendo as pessoas se aproximarem do par barulhento e voltou para dentro da casa, encontrando sua mãe agora com um longo vestido preto e saltos altos, embora ela ainda andasse pela cozinha de um lado para o outro, dando ordens e verificando os fornos ainda em funcionamento.

— Mãe.

— Oh, Percy, querido. — Sua mãe veio em passos rápidos até ele e apertou suas bochechas, as beijando em seguida. — Você podia ter me contado antes. Não tive tempo de preparar nada.

— Também não tive tempo. Você não deixou.

Esse foi o momento que Percy abraçou a mãe e se deixou relaxar.

— O que foi, querido?

— Acho que Nico não quer ficar comigo.

— Percy, isso não faz sentido. Por que você pensaria isso? — Então, sua mãe tocou em seu rosto novamente e o encarou com afeto.

— Ele mudou. A gente parece brigar a cada passo do caminho, e agora ele tem tantos amigos e coisas para fazer…

— Percy. — Agora sua mãe parecia decepcionada. — Nós conversamos sobre isso. Você precisa de ajuda?

— Não. — Ele negou, se afastando. Não queria voltar para horas eternas no psiquiatra ou se entupir de remédios.

— Querido, Nico está crescendo e você também devia.

— Eu sei. É só que… ele está me dizendo tantas coisas… eu não sabia que ele se sentia assim.

— Isso é ótimo. Quer dizer que ele confia em você, não?

No fundo Percy sabia disso. Ele só queria que alguém lhe dissesse que tudo ficaria bem. Mas não era o que sua mãe estava fazendo, como sempre ela dizia o que ele precisava ouvir e não o que ele gostaria de escutar.

— O que eu devo fazer?

— Nada que você não queira.

— E se ele só se casar comigo por pressão?

— Percy! — Sally segurou em seus ombros e riu em sua cara. — Meu garotinho está crescendo tão rápido. Me lembro como você fugia de qualquer responsabilidade e agora aqui estamos nós, você se preocupando com o bem-estar de outra pessoa?

— Ma-nhe! Estou falando sério!

— Olha, pelo meu ponto de vista, nunca vi Nico tão feliz ou calmo. Ele não parece estar se forçando a nada.

— Ele disse que não queria namorar comigo e eu insisti! E se ele falou a verdade?

— Querido, nada disso é sua responsabilidade. Ele aceitou por vontade própria. Mesmo que você queira protegê-lo, é decisão de Nico. Ele aceitando ou não, ainda que no futuro ele decida ir embora mais uma vez, não será sua culpa.

— Então, de quem é?

— De Ninguém. São coisas que acontecem e nós temos que aceitá-las. E sendo sincera? Já era tempo, não? Se você tivesse conversado com Nico, nada disso teria acontecido.

— Você… você estragou a surpresa. Eu devia ter falado com ele sozinho.

— Exatamente, querido. Você não vê? Quanto menos você disser, mais Nico se afastará de você.

— Você acha mesmo?

— Acredite em mim. Sei tudo sobre relações fracassadas. Não crie distância entre vocês, sim?

— Eu nunca faria isso.

— Não? Se você não diz o que sente, Nico pode pensar que você não se importa.

— Eu--

— Você conversou com ele nos últimos dias?

— Sim, mas--

— Como ele reagiu?

Percy queria revirar os olhos. Sua mãe estava certa, como sempre. Nico tinha sido sincero de volta. O pior era pensar que Nico tinha guardado tudo dentro do peito, pensando que Percy não iria aceitá-lo ou que Percy não se importava. Pelo menos o tempo perdido no psiquiatra tinha servido para algo.

— Você tem razão. — Percy admitiu, olhando ao redor para as pessoas que continuavam andando de um lado para outro. — Eu não queria admitir a derrota.

— Querido.

— Eu fiz Nico ir embora antes e não quero ser o culpado de novo. É tão ruim ter cuidado em não destruir as coisas?

— É claro que não. Eu entendo.

— Entende mesmo? — Então, Percy voltou a encarar a mãe. — Se você entende, você pode ficar fora disso?

— Tudo bem, não vou me meter. Mas você devia prestar atenção em quem são seus amigos.

— O que isso significa?

— Aquela sua amiga loira está na festa. Pensei que vocês não se falavam mais?

— Quem? Annabeth?

— Ela mesmo.

— Eu não convidei ela.

— Então, quem convidou? — Sally e Percy se encararam durante longos momentos não entendendo o que estava acontecendo até que Percy em um estalo dá as costas para a mãe, voltando para o lado de fora.

No jardim, ele encontrou uma cena que pensou que nunca fosse ver. Annabeth com seus longos cabelos prateados, brilhando no sol, parecendo furiosa e Nico, com as calças rasgadas e camiseta preta, a encarando como se ela fosse uma minhoca prestes a ser pisoteada.

***

— O que está acontecendo aqui?

Quando Percy menos viu estava parado no meio da multidão, vendo Annabeth e Nico o encarar de volta.

Como em um passe de mágica, o ambiente mudou. Nico veio para seu lado e se segurou em sua mão, abaixando a cabeça e a encostando em seu ombro como o garotinho mais obediente e comportado, enquanto que Annabeth ficou lá, de cabeça erguida, parecendo mais furiosa ainda com a demonstração de afeto.

— Não foi nada, Per. A gente estava conversando sobre os velhos tempos. Não é, Anne? — Nico sorriu, o abraçando pela cintura e de repente o silêncio se fez, até os garçons e ajudantes da cozinha ficaram em silêncio.

— Você, por acaso, está bêbado?

— Eu? Nunca! — Ele olhou para Nico e Nico fez um biquinho fofo. — Eu nunca faria isso.

Para provar sua teoria, Percy se inclinou sobre Nico e o beijou ali mesmo. Dessa vez, Nico não pareceu nenhum pouco encabulado. O garotinho o agarrou forte pela nuca e se deixou ser beijado, abrindo a boca na demonstração mais sem vergonha de afeto.

— Meu bebê está com ciúmes, hm?

— Não sei do que você está falando. — Mas o rubor no rosto de Nico dizia o que Percy precisava saber.

— Por que a gente não conversa num lugar mais calmo? — Entretanto, antes de guiar Nico para longe da multidão, Percy se voltou para Annabeth: — Você não foi convidada. Vá embora.

— Mas, Percy! Você prometeu!

— Eu não prometi nada.

— Seu mentir--

— Não vou repetir.

Com isso, ele pegou Nico pela mão e o guiou para dentro da casa, deixando para trás uma multidão curiosa e uma loira espumando de raiva.

Extra

— Você é engraçado. — Nico lhe disse.

— Você que é.

E feito um garoto da terceira série, coisa que ambos eram, riram novamente enquanto ouviam o sinal tocar. Percy nem tinha percebido que meia hora tinha se passado, o que era mais tempo do que ele costumava passar com seus velhos amigos nos últimos tempos. E o que isso dizia sobre ele, hm?

— A gente tem que ir. — Ele ouviu Nico dizer.

Eles realmente tinham. Com pressa, ajudou Nico a recolher as marmitas e o acompanhou para a próxima aula, descobrindo que Nico de fato estava na mesma sala que ele. Percy estava tão distraído em tentar se esconder que não via o que acontecia à sua volta? Bem, esse fato iria mudar a partir daquele instante.

***

Mais alguns dias tinham passado e com eles, Percy começava a prestar atenção à sua volta.

Era estranho.

Como Percy não tinha percebido a presença de Nico até aquele momento? Em qualquer direção que Percy olhasse, Nico estaria ali, em qualquer lugar ou hora do dia, também. Isso é, até que ambos fossem para suas respectivas casas, ensaios ou treinos, e ainda assim, Percy continuaria pensando em Nico; enquanto esperava seu irmão mais velho vir buscá-lo ou em casa ajudando a mãe cozinhar, provando novos pratos. Foi o que continuou acontecendo por um longo tempo, dias, semanas, meses até, era difícil ter uma noção de tempo quando as horas passavam tão rápido e os dias eram todos iguais. Sentia como se emergisse de um sono paralisante, algo que finalmente detinha sua atenção. Um dia ele notou que Nico sentava na frente da sala e bem perto da porta de saída. Em outro, Nico estava mais para o meio do cômodo e, então, o garotinho apareceu do seu lado, dividindo a carteira dupla com ele. Grover estava na carteira ao lado da sua com Júniper, Luke atrás dele com Thalia.

Percy olhou mais uma vez para Nico e o viu escrevendo algo em volta de um desenho, um elmo negro, a caligrafia tão bonita quanto os traços da figura. Percy queria perguntar desde quando eles sentavam juntos. Desde quando Nico fazia parte do grupo de seus amigos e desde quando ele se sentia tão confortável com a presença de Nico, com a quietude que os atos de Nico traziam. Ao contrário disso, ele disse na voz mais baixinha possível:

— O que é isso?

— Hm? — Nico murmurou e olhou para ele, tão calmo como sempre. — Um design para uma novel. Não sei se vou terminá-la.

O mais estranho era que ele sabia exatamente sobre o que Nico falava, Percy tinha visto o rascunho da novel em um dos intervalos compartilhados com comida, e como tudo o que Nico fazia, era lindo e delicado, como se Nico colocasse uma parte de sua alma em cada coisa que tocasse com as mãos, fosse um pedaço de papel, arte, comida ou a tarefa de casa.

— Você devia. É lindo.

Nico não disse nada, ele apenas abaixou a cabeça e continuou rabiscando, seu rosto escondido por detrás dos cabelos compridos e negros que brilhavam ao refletir a luz do sol. Nico em seguida rabiscou uma espada e uma armadura, luvas de couro, uma coroa de rosas. Quanto mais ele via Nico desenhar, menos Percy entendia o que tanto prendia sua atenção. Talvez fossem as mãos magras, os dedos longos e elegantes, talvez fosse a atitude concentrada de Nico ou, ainda, fosse o corpo relaxado ao lado do seu, sua cabeça junto a de Nico, admirando os traçados suaves que revelavam tanta beleza.

— Muito bem, pessoal. Peguem seus livros. — A professora disse e do nada, parte da magia foi quebrada.

Os desenhos ainda estavam no caderno de Nico, tão bonitos quanto antes e eles ainda estavam colados um ao outro, inclinados sobre a carteira compartilhada. A diferença é que Nico tinha tencionado e olhado para cima em direção a Percy, como se Nico não tivesse prestado atenção ao que acontecia em volta dele até ouvir a voz da professora. Percy também percebeu algo, talvez ele estivesse muito perto de Nico, o abraçando pelos ombros feito uma prisão sem escapatória.

— Desculpa. — Mesmo com tudo isso em mente, e mesmo se desculpando, Percy não fez nada para se afastar ou soltá-lo.

Se Percy achava que Nico era a coisa mais bonita que ele já tinha visto, nada se comprava em ver o rubor se espalhar no rosto de Nico, a pele morena tomando um tom mais quente, ao olhar e ao toque também, porque mesmo sobre as roupas, Percy podia sentir o calor emanar de Nico nos pontos onde eles se tocavam, nos ombros e nos quadris, quase fazendo Percy tocar naquele rosto delicado e bonito.

— … porto.

— O que foi?

— Eu não me importo. — Nico repetiu no mesmo tom baixo e discreto, logo em seguida se voltando para seu caderno, pegando os livros que eles iriam precisar.

Percy teve a impressão que Nico se importava, sim, porém, de um jeito… positivo. Viu o garotinho abrir o livro na página certa, se encostar no apoio da cadeira e contra seu braço e começar a ler enquanto a professora explicava o assunto, como se aquela cena fosse algo completamente comum.

Isso fez Percy se perguntar mais uma vez: ele já havia feito isso com Nico? Desde quando eles eram tão próximos? Não era Annabeth que devia estar a seu lado? Quer dizer, eles nunca foram tão próximos ou agiram feito ele e Nico estava agindo, mas… desde quando ela se sentava do outro lado da sala com Clarisse e Silena? Ele não devia se importar um pouco mais além de levemente estranhar o acontecimento? Ela era sua amiga, não era…? Percy não devia sentir falta dela? Então, por que só havia percebido a ausência de Annabeth agora?

— Está tudo bem? — Ele ouviu uma voz suave a seu lado, e então, a mão de Nico pousou sobre seu braço, Percy encontrando o semblante fincado em preocupação do amigo.

Percy respirou fundo, deixando seus ombros relaxarem e se viu sorrindo, algo dentro de seu peito se esquentando e pulsando, como se a faísca de um sentimento desconhecido dentro dele estivesse acordando.

— Está tudo ótimo. Maravilhoso. Incrível.

— Seu bobo. — Nico revirou os olhos e voltou a se encostar contra ele, continuando a ler o texto que a professora tinha pedido.

Bem, depois disso, Percy entendeu rápido o que acontecia; ou melhor, sua psiquiatra tinha lhe ajudado a entender. Nico não estava o perseguindo, mas de fato, Nico fazia o mesmo que ele; tentava viver uma vida discreta e longe dos olhares curiosos. Até ele com seus onze anos de vida admirava a imagem que Nico fazia, o garotinho se destacava tanto entre os outros alunos que Percy conseguia notar claramente a diferença. Cabelos lisos e ondulados, grossos, boca pequena e carnuda, intensos olhos negros, era um conjunto tão bonito que chegava a dar a Nico um ar andrógeno e feminino, embora fosse impossível confundir Nico com uma garota.

A questão era que Nico tinha encontrado os melhores lugares para se esconder, os mesmos que Percy tinha encontrado também. A sala de música, a floresta, as arquibancadas que ficavam perto das quadras de esporte mais afastadas das salas de aula.

Percy não podia se conter, dia após dia, se pegava fazendo os mesmos passos.

Além de passar seu tempo em sala de aula perto de Nico, sempre na hora dos intervalos, fosse durante o dia ou à tarde, ele se via andando e encontrando seu caminho para a familiar arquibancada com a familiar cabeleira ao canto mais distante tentando se esconder. Eles nunca combinavam em voz alta, era apenas algo que tinha se tornado rotina. Nico saia primeiro, Percy trocava algumas palavras com os amigos que tinham restado e então ele seguiria Nico; praticaria basquete durante alguns minutos na quarta coberta e em seguida, se sentaria ao lado de Nico, aceitando uma marmita recheada das coisas que ele mais amava, bolo e torta, suco de Mirtilo também, e às vezes, Nico o surpreenderia, batatas assadas ou panquecas; se Nico estivesse de bom humor uma lasanha ou algo italiano. Não importava o que fosse, Percy comeria cada grão e cada pedaço de comida de bom grado. Se Nico fazia para ele, o mínimo que ele podia fazer era retribuir comendo tudo. Mas parecia tão pouco em comparação com o que Nico fazia por ele… Percy queria compartilhar com Nico algo que fosse importante e valioso também. Mas o que poderia ser mais valioso do que compartilhar a comida que você mesmo fez com alguém?

— Os seus desenhos são muito bons. Onde você aprendeu?

Eles estavam mais uma vez nas arquibancadas, Percy ignorava a bola que ainda estava em suas mãos para ver Nico levar uma garfada de comida a boca, parando no meio do caminho com o garfo entre os lábios.

— Hm?

— Onde você aprendeu a desenhar?

— Ah, isso? — Então, Nico olhou para o próprio colo onde o caderno estava, e colocou sua marmita no chão. — Eu tinha muito tempo livre.

Percy não sabia se tinha entendido… mas Nico sorria para ele, parecendo ter entendido sua confusão.

— Eu não tenho amigos. Nunca tive. Imaginação era tudo o que restava.

— E eu sou o quê? Uma árvore?

— Não, você é um atleta popular e rico.

— Você tem razão. Eu tenho muitas riquezas, que tal eu dividir com você?

— O que você está dizendo? — Nico sorriu mais uma vez e Percy sentiu um palpitar no peito que não tinha nada a ver com a asma que ele tinha quando bebê.

— Minha mãe gosta de cozinhar.

— Isso não é óbvio? Quer dizer, ela tem um restaurante, não tem? — Nico disse e inclinou a cabeça para o lado, como se isso fosse fazê-lo entender o que Percy queria dizer com isso.

— Ela ia adorar a companhia.

— A gente… não tem um trabalho para terminar?

— Eu tenho bastante espaço em casa. Minha mãe não vai se importar.

— Você tem certeza? Eu nunca fui na casa de ninguém.

Isso só fez o peito de Percy se apertar mais ainda.

— Sempre tem a primeira vez, certo?

Nico olhou para ele, parecendo analisá-lo dos pés a cabeça e acabou dando de ombros.

— Vou confiar em você.

Naquela época Percy não sabia o porquê de tantas palpitações ou porque a sensação de alívio tinha o tomado de forma tão intensa. Mais tarde, ele reconheceria isso como o medo de ser rejeitado, e mesmo que ele não entendesse ainda, sabia que alguém tão doce, bonito e talentoso como Nico nunca o rejeitaria de forma tão rude. Desse jeito, eles terminaram de comer e seguiram para suas próximas aulas, combinando de se encontrar no portão principal após a última aula.

***

Percy admitia, tinha perdido mais tempo do que pretendia falando com a professora de literatura. Aparentemente, ele precisaria se esforçar mais se quisesse ter um futuro naquele colégio. Ela brigou com ele, abordou cada coisinha errada que ele tinha feito, e ainda por cima passou tarefas extras para se certificar que seus erros seriam corrigidos. Percy saiu da sala de aula o mais rápido que pôde assim que viu as horas e correu pelos corredores em direção ao portão principal da escola. Quando chegou no lugar que ele e Nico tinham marcado, se lembrou porque Nico vivia se escondendo pelos cantos, o que fez Percy se lembrar porque ele também se escondia.

Eles já tinham vivido essa cena. Nico estava prensado contra a parede do muro ao lado de fora do portão e dois garotos o rodeavam, um deles segurando Nico pelo pescoço enquanto o outro olhava ao redor de forma suspeita. A diferença dessa vez era que uma multidão os observava e ninguém fazia nada para impedir o que estava prestes a acontecer. Percy se aproximou deles, fingindo ser mais um espectador, ouvindo murmúrios, enquanto um dos garotos falou:

— Quem vai te proteger agora, hein? Por sua culpa nossos amigos foram expulsos. Porque você não se coloca no seu lugar e--

— Que lugar seria esse?

Percy não conseguiu se segurar. Dessa vez, ele não queria explicações. Saiu do meio da multidão e quando viu estava cara a cara com os garotos, ou melhor, seu punho estava contra eles. A dor veio imediatamente, sentindo seus ossos se chocarem com o rosto daqueles garotos que por sinal eram mais velhos do que ele, mas que não eram páreo para Percy.

— É fácil mexer com pessoas menores que você, não é? Por que você não brinca com alguém do seu tamanho?

— Esse alguém seria você?

— O que você acha?

O silêncio se fez, silêncio esse que tinha se tornado comum não importava por onde Percy fosse. O nariz do garoto que ele tinha socado agora escorria sangue rosto abaixo, o outro que tinha observado tudo chocado demais para reagir, pareceu acordar do transe. Esse seria o momento perfeito para eles revidarem, não?

Bem, era o que as pessoas diziam; covardes logo desistem se encontram alguém que as combata. E foi o que eles fizeram, o garoto que tinha assistido seu amigo ser derrubado com um soco só, puxou o outro pelos braços, o ajudando a levantar e ambos cambalearam para dentro da multidão, fugindo com o rabo entre as pernas.

Percy os observou fugindo ao longe entre os carros e se virou para Nico que ainda estava encostado contra o muro, o canto de seus lábios avermelhados e em seus braços e pescoço, marcas de dedos e unhas. O pior era ver as lágrimas que não paravam de cair ou como Nico se encolhia, como se esperasse que outras pessoas fossem vir e fazer o mesmo com ele. Percy não pensou, se dando conta de que isso estava se tornando algo comum para eles, e Percy não gostava disso nenhum pouco. O fato de Nico ter que se esconder pelos cantos por causa do preconceito das pessoas era inaceitável.

Ele foi até Nico e parou em frente a ele, oferecendo sua mão. Tinha aprendido da pior forma que tocar em alguém quando não se sente seguro ou quando estamos em choque era a pior coisa a fazer. Então, ele apenas ficou perto sem tocar em Nico, e tentou chamar a atenção dele:

— Nico. — Percy disse na voz mais suave possível.

— Não, eu… Percy? — Percy se segurou e tentou ser forte, Nico parecia estar reagindo a tudo pior do que na vez anterior.

— Desculpa. Eu não queria… eu estava te esperando… aí esses… esses garotos apareceram e…

Percy não sabia o que fazer. Sentiu seu coração quebrar quando Nico deu um passo em sua direção e abriu bem os olhos, suas pupilas desfocadas e molhadas, como se Nico estivesse acordando de um pesadelo, e segurou em suas mãos, tremendo e respirando rápido, ainda encolhido em si mesmo.

— Está tudo bem. Posso te abraçar?

— Me abraçar? Por que… por que você iria querer tocar em alguém como eu?

— Parece que você precisa.

— Eu… preciso? — Então, Nico olhou para Percy com o olhar mais desolado e perdido que ele já havia visto.

— Nico. Está tudo bem. — Percy repetiu, se negando a aceitar o que aquelas pessoas estavam fazendo com Nico.

— Eu tenho… tenho que falar com Bianca, minha-- minha irmã.

— Nós vamos, depois que chegarmos na minha casa. Sim?

— Você promete?

— Eu prometo.

Então, como se uma chave tivesse sido virada, Nico segurou em seu braço e pegou suas bolsas do chão, dizendo: — Você deixou cair. — Simples assim, como se nada tivesse acontecido. Mas Nico ainda tremia, segurando mais firme em seu braço e entregando uma das bolsas para Percy, segurando a sua própria contra o peito na esperança de que a bolsa e Percy fossem protegê-lo.

Deuses! Como alguém podia fazer isso com um ser tão vulnerável e indefeso? O que Nico tinha feito para ser tratado dessa forma? Então, Percy olhou ao redor, reconhecendo aquelas pessoas. Alguns estavam na mesma classe que eles, outros Percy conhecia de passagem, e nenhum deles teve a decência de ajudar um colega sendo maltratado. Era por isso que diziam que ele era “rebelde” e se dependesse dele, as coisas continuariam exatamente como estavam.

— Você está pronto? — Percy disse quando viu que Nico começava a se acalmar.

— Hm. Obrigado.

Percy pegou a mochila do ombro de Nico, a colocou junto com a sua, e assim, guiou Nico pela mão entre os carros estacionados perto da escola, avistando uma caminhonete preta e familiar.


 

Capítulo XX

Anteriormente:

— Meu bebê está com ciúmes, hm?

— Não sei do que você está falando. — Mas o rubor no rosto de Nico dizia o que Percy precisava saber.

— Por que a gente não conversa num lugar mais calmo? — Mas antes de guiar Nico para longe da multidão, Percy se voltou para Annabeth: — Você não foi convidada. Vá embora.

— Mas, Percy! Você prometeu!

— Eu não prometi nada.

— Seu mentir--

— Não vou repetir.

Com isso, ele pegou Nico pela mão e o guiou para dentro da casa, deixando para trás uma multidão curiosa e uma loira espumando de raiva. O pior era que ao invés de ficar bravo com a demonstração de possessividade, seu peito voltou a se aquecer. Ele nem ao menos poderia julgar o comportamento de Nico quando ele próprio fez coisas piores. Na verdade, Percy amava ver Nico tão afetado e emotivo, tão diferente do garotinho que guardava tudo para si mesmo e que nunca mostrava o que sentia. Percy se sentia aliviado, como se não precisasse carregar esses sentimentos sozinho e que talvez, só talvez, Nico o quisesse tanto quando Percy queria Nico.

— Para de sorrir. — Nico murmurou contra seu ombro, ainda o segurando pela cintura. Estava tudo bem porque Percy o segurava de volta, tão forte quanto Nico, o guiando pelas costas e escadas acima, para dentro de seu quarto mais uma vez, ambos se sentando em sua cama.

— Você quer conversar? — Percy tentou. Ele amava saber que Nico tinha agido daquela forma por causa dele, o problema era que esse não era um comportamento que Nico costumava ter. E se tinha alguma coisa errada, Percy queria consertar antes que fosse tarde demais.

Não que ele realmente esperasse que Nico fosse esconder algo dele, mas…

— Não é nada. — Então, Nico levantou a cabeça do seu ombro e o encarou com aqueles grandes olhos negros, lacrimejando, e segurou em sua camisa como se fosse arrancá-la para fora do caminho. — É só que… é só que ela continua me perseguindo! Dizendo que você ficou com ela e… e que vocês passaram muito tempo juntos e que por isso você ia no baile com ela!

— Nico. Bebê. — Talvez ele tenha soado um pouco… autoritário. Rude. Até frio. Às vezes, era o único jeito de fazer Nico escutá-lo, o que funcionou perfeitamente.

Nico parou imediatamente de reclamar e seu rosto corou num tom incrivelmente avermelhado. Percy amava esses momentos onde ele podia ver o velho Nico ressurgindo, todo obediente e comportado, tão tímido que o fazia querer trancar a porta e mostrar o quanto Annabeth era insignificante. Talvez ele devesse, ações sempre falariam mais alto do que palavras.

— Qual o problema? — Percy tentou mais uma vez.

— É verdade?

— Eu fiquei com alguns garotos. Luke é um deles. Ela só me ajudou com algumas sessões de estudo e em troca eu iria no baile com ela.

— É só isso? — Nico se aproximou mais dele, se ajoelhando na cama e engatinhando para sentar em seu colo.

— Eu nunca ficaria com ela. Depois de estudar com ela duas vezes, encerrei nossas sessões.

— Por quê?

— Eu não precisava mais. — Percy deu de ombros, mas isso não pareceu convencer Nico mesmo em seu estado inebriado.

— Ela tentou te beijar, não foi?

— Como você sabe disso?

— Ela pode ter insinuado algo assim…

Então esse era o problema.

— Lindo, você não precisa se preocupar. Eu vou me casar com você. Não é o suficiente para provar o quanto eu te amo?

Nico o encarou longamente e mordeu os lábios, parecendo ansioso: — Só porque você me deu uma aliança não significa que um casamento vai acontecer.

Deuses! E Percy pensando que ele era o inseguro da relação.

— Você quer marcar a data? Que tal no mês seguinte da nossa graduação? No verão antes da faculdade?

— Eu… — Nico abriu bem os olhos, parecendo acordar, e se sentou melhor no colo de Percy, colocando certa distância entre eles. — A gente nem teve uma festa de noivado! Como eu poderia marcar… marcar…

Agora Nico parecia que iria vomitar. Ou talvez sair correndo de ansiedade.

— Shhh… é uma ideia que eu quero que você pense com cuidado. Quero ficar com você pelo resto da vida. Uma festa e um documento dizendo que somos um casal é apenas um detalhe. Você está me entendendo, Nico?

— Per! — Nico guinchou e se atirou contra Percy, o pegando desprevenido. Nico os derrubou para trás na cama e Percy gargalhou, surpreso e contente, ouvindo Nico fungar: — Porque você faz isso comigo!? Eu quero casar em um lugar bonito e ao ar livre! Com muita música e comida. Depois quero viajar o verão inteiro com você e te levar para conhecer minha nona!

— Isso é ótimo. Por que você está chorando? — Percy sorriu para Nico e levou a mão ao rosto levemente corado e agora começando a inchar por causa das lágrimas. — Não chore, sim?

— Então, não fale essas coisas pra mim! Meu coração não aguenta. — Para mostrar o quanto Nico estava sendo sincero, ele segurou na mão de Percy e a levou para o próprio peito.

De fato, o coração de Nico estava disparado, pulsando forte e descompassado sobre suas mãos. Talvez Percy devesse dar mais uma razão para o coração de Nico continuar a bater tão forte por sua causa. Então, observando Nico respirar rápido, Percy deslizou sua mão do peito de Nico para o abdômen dele, devagar e sensual, desceu mais um pouco e encontrou as calças de Nico. Bastaram alguns suaves toques e com uma leve pressão, um pequeno volume se formou ali, Percy decidindo que se eles se apressassem ninguém perceberia a demora deles.

— O que-- o que você está fazendo?

— Mostrando o quanto o meu garoto é especial para mim.

— Percy!

Já era tarde para Nico.

Percy tirou Nico de seu colo, o colocou sobre os lençóis, se ajoelhou no tapete felpudo e puxou Nico para a beirada da cama. Em poucos instantes, Percy abriu as calças jeans de Nico e puxou o membro para fora, todo ereto e molhado na cabecinha, poucos pelos finos decorando a virilha. Percy gostava disso em Nico, gostava de tudo nele, desde o membro pequeno até os pelos discretos, amava que com o mais suave dos toques Nico sempre ficava excitado, às vezes tentando esconder, outras, manhoso, se deixando levar. Hoje, eles pareciam estar no meio-termo, Nico tocando em seus ombros, parecendo que iria pará-lo só para gemer e jogar a cabeça para trás quando Percy acariciou a base, sentindo a pele macia, envolvendo o membro inteiro de Nico com a mão, massageando devagar até que uma verdadeira bagunça se estabelecesse.

— Você quer gozar na minha mão ou na minha boca? — Percy perguntou na intenção de permitir que Nico decidisse, apenas para ter o prazer de ver o constrangimento emanar das feições de Nico. — Se você não me dizer, não vou te deixar gozar.

— Per-cy!

— Vamos, é só uma palavrinha.

— Não!

— Você quer que eu pare?

— Percy!

— Por favor?

Quando Percy viu que dessa vez ele tinha perdido, se deu por vencido.

— Dessa vez, eu decido. Mas na próxima, vou te torturar até você implorar.

Percy era um homem de palavra. Sem avisar, segurou nas pernas de Nico, as colocou sobre seus ombros e agarrou os quadris de Nico, o mantendo no lugar. Ele gostaria de dizer que tinha durado, o problema é que eles não tinham muito tempo. Bastou uma longa lambida, um beijinho na cabecinha e algumas chupadas para que Nico estivesse gozando, as pernas de Nico se enrolaram em volta de seu ombro e os dedos longos e finos se fincaram, puxando seu cabelo. Foi uma visão maravilhosa para Percy, em dois minutos Nico tinha gozado e agora o garotinho arfava olhando para teto, derretido contra os lençóis. Percy podia dizer com segurança, tinha sido um recorde até para ele. Mas tudo bem, eles tinham o resto da noite e do domingo para aproveitar.

***

Depois de cinco minutos, Nico e Percy reapareceram na festa de mãos dadas e ambos bem mais calmos que antes. Nico tinha o rosto corado e a expressão relaxada, enquanto Percy estava com os cabelos ligeiramente fora do lugar e um grande sorriso no rosto. Era óbvio o que tinha acontecido para qualquer pessoa com um bom senso, embora fosse algo novo para a pequena multidão naquele jantar. Nico costumava ser um anjo intocado, mas parecia que agora ele tinha se tornado humano como todos os outros.

Bem, Percy não se importava com as fofocas, o que não significava que ele gostasse da forma que as pessoas olhavam para Nico. Será que seria muito ruim se ele pegasse Nico e fosse para outro lugar? Talvez…

— Percy, meu rapaz! — Percy ouviu uma voz retumbar atrás deles e imediatamente soube quem era. O tão infame Hades. Não para ele, porém não foi Percy quem teve que viver com um pai ausente. Poseidon podia ter traído sua mãe, mas o homem esteve presente em cada etapa de sua vida.

— Senhor. — Percy cumprimentou.

— Vejo que vocês finalmente se acertaram.

Hades se aproximou e com um grande sorriso cheio de dentes brancos e olhos tão negros quanto os de Nico, apertou sua mão de forma energética. Já quando chegou a vez de Nico ganhar um abraço, o garoto deu um passo para trás, suas feições antes contentes se amargurando mais rápido do que uma fruta podre caindo ao chão.

— Hades. — Nico disse, e só para se certificar, deu outro passo para trás, se afastando de Hades e Percy. — Quem te convidou?

— Sally. Vim com Bianca. Ela deve estar em algum lugar por aqui.

— Ótimo. — Sem qualquer outra palavra, Nico deu as costas para eles e se meteu na multidão, desaparecendo de vista.

— Vejo que as coisas estão indo bem?

— Elas estão. Obrigado.

— Como Nico está?

— Muito bem. Melhor do que antes.

— Isso é bom. Continue assim.

Com isso, Hades tocou em seu ombro, acenou e tão rápido quanto Nico, desapareceu entre as pessoas.

O que Percy podia dizer? Os Di Angelo eram conhecidos pela brevidade. Eles eram diretos e diziam apenas o que precisavam dizer. Podia parecer estranho, Percy sabia disso. O fato era que ele e Hades tinham um trato. Percy contava o que acontecia na vida de Nico e Hades não se meteria no relacionamento deles. Funcionava bem para todo mundo. Houve um tempo em que Percy pensou que Hades iria impedir a amizade entre ele e Nico, mas, então, no dia seguinte Hades fez uma visita a sua casa, falou com sua mãe e pediu desculpas. Desde então eles têm esse acordo. Nico sabe disso, é claro, o que não torna nada mais fácil. Percy sempre ficava preocupado quando pai e filho se encontravam, por isso, foi sua vez de se meter na multidão, buscando pela cabeleira negra de Nico.

Não demorou muito para encontrá-lo, Nico estava sentado em uma das mesas vazias. Pratos, taças e talheres já estavam organizados na mesa para o jantar que aconteceria mais tarde. Ninguém precisava dizer o que estava acontecendo.

Percy deu a volta na mesa e abraçou Nico por trás, o apertando forte entre seus braços.

— Sinto muito. — Sussurrou para que somente Nico pudesse escutar.

— Ele perguntou como eu estava?

— Sim.

— Ridículo.

E realmente era. Ao invés de Hades falar com o filho, o homem preferia perguntar para ele, ou para qualquer pessoa que não fosse o próprio Nico.

— Sinto muito. — Era tudo o que ele podia dizer. Então, colocou o rosto contra o pescoço de Nico e o beijou ali, escutando Nico rir, se contraindo todo.

— Faz cócegas.

— Cócegas. Sei.

— Seu bobo.

Nico se virou em seus braços e enfim o abraçou de volta, suspirando, colocando o rosto encostado em seu ombro.

— Não sei por que ainda me importo.

— Ele é seu pai.

— Ele nem teve coragem de visitar a gente na casa da nona! E depois, ele aparece assim, como se tudo estivesse bem.

— Eu sei.

— Sabe quanto tempo eu não via ele? Um ano inteiro! Tive que telefonar para ele avisando que eu estava voltando. Que tipo de pai faz isso?

— Shhh. Ele não vale sua preocupação.

— É tão frustrante!

— Nico.

— O quê foi?

— Quer dançar comigo?

— O quê? — Isso fez Nico parar no meio de outra reclamação e levantar a cabeça, seus olhos lacrimejando, sem derrubar nenhuma lágrima.

— Vamos dançar.

Percy segurou na mão de Nico e o puxou suavemente pelo gramado até chegar no centro do jardim, onde uma pista de dança improvisada tinha sido colocada. Percy parou no centro da pista feita de uma espécie de piso de plástico e se aproximou de Nico, colocou uma de suas mãos na cintura de Nico e outra em seu ombro, enquanto Nico apenas ficou lá, parado no meio das outras pessoas que dançavam, sua reação congelada chamando mais atenção ainda do que seria o normal.

— Percy! Eles estão olhando pra gente! — Nico murmurou entre os dentes, tentando se esconder contra o peito de Percy.

— Deixe eles olhar. Devem estar com inveja. Olha pra você, tão bonito e inteligente. Como eles poderiam não admirar algo tão lindo?

— Per-cy!

— Tá bom. — Percy sorriu para Nico e o puxou para mais perto até que nenhum centímetro restasse entre eles. — Olhe para mim, tudo bem? Só pra mim.

A expressão no rosto de Nico se suavizou e só assim Nico relaxou, colocando as mãos nos ombros de Percy.

— Obrigado. — Nico murmurou, o olhando entre os cílios. — Não sei o que eu faria sem você.

Percy queria soltar uma piadinha para ver se aliviava o peso no coração de Nico, mas quando se tratava de família, não havia como consertar as coisas. Então, ele decidiu fazer o que de melhor Percy sabia fazer; segurou no pescoço de Nico e o beijou no meio da pista de dança. O mundo parou de girar e o silêncio se fez dentro de sua cabeça, porque Nico o abraçou pelo pescoço e abriu a boca, permitindo que seus lábios se tocassem, sem vergonha e sem pudor algum. Foi quando Percy finalmente soube que não havia nada a temer ou a esconder. Mesmo com todos os problemas, agora sabia que Nico finalmente era seu.

***

A festa tinha sido um grande sucesso. Os pratos já tinham sido retirados e as sobremesas comidas pela metade estavam espalhadas pelas mesas, embora taças de bebidas ainda estivessem sendo oferecidas. Champanhe, vinho, whisky e cerveja, apenas as pessoas que gostavam de beber ou que ainda dançavam estavam presentes, com a maioria dos convidados se despedindo de sua família no caminho para a saída. Bem, o fato é que estava ficando tarde e eles enfim poderiam abandonar a festa sem parecer mal-educados.

Ele acenou para Luke, Thalia, Clarisse e Cris que passaram por eles, decidindo que era a vez deles irem também.

— Bebê.

— Hm?

— Está na hora de ir pra cama.

— Cama?

Percy segurou Nico pela cintura para que ele não caísse e Nico se ajeitou em seu colo, arrumando a cabeça contra o ombro de Percy. Era agora ou nunca, parecendo que passariam o resto da noite sentados e bebendo sem controle, o que acabaria dando em um espetáculo mais grandioso do que Percy estava preparado para lidar.

Ele beijou o rosto de Nico e se levantou, segurando nas pernas de Nico, enquanto Nico se apoiava sobre seus ombros.

— Hmmm… Per.

— Shhh. Segura firme.

Foi o que Nico fez. Eles andaram pelo gramado, Percy carregando Nico feito um bebê e Nico reclamando de ser acordado. O bom é que não restava mais ninguém que pudesse envergonhá-los. Sua mãe já tinha se retirado com Tyson já que Paul, o novo marido de sua mãe estava fora em uma viagem de negócios, Hades e Bianca tinham ficado na festa pelo menor tempo possível e todos seus amigos estavam bêbados demais para se lembrar de alguma coisa, ou também já tinham ido embora. Percy queria dizer que Nico estava pesado e que era difícil de ver por onde eles iam, mas isso seria uma mentira. Nico era tão leve que ele mal sentia o peso, o que ele sentia era Nico colado a ele, suas pernas em volta de sua cintura, o volume entre elas óbvio demais para que ele pudesse ignorar.

— Per. — Nico disse novamente, naquele mesmo tom suave e doce. Só que ele não esperava que Nico fosse ser quem iria iniciar as coisas, beijando seu pescoço e respirando contra sua orelha, ou melhor, gemendo e o agarrando com força.

— Estamos quase lá.

Eles estavam mesmo, Percy apenas precisava andar mais alguns passos e abrir a porta. Ou é o que ele teria feito se Nico não escolhesse aquele momento para levantar a cabeça e com os olhos desfocados e dilatados, e rosto corado, segurar em seu rosto e encostar seus lábios em um suave e quase inocente toque.

 — Você vai me fuder hoje? Na sua cama, onde sua família pode ouvir?

Percy congelou no meio do caminho, suas pernas falhando na mesma velocidade que o sangue em seu corpo descia para seu membro.

— Deuses, Nico! O quanto você bebeu?

— Eu não estou bêbado!

A forma que Nico mal conseguia manter os olhos abertos ou sua fala lenta, mostrava o contrário. Felizmente, Percy estava sóbrio o suficiente para continuar os poucos passos até seu quarto e trancar a porta, se certificando que ninguém os interromperia.

— Você foi um garoto muito arteiro hoje. Você merece uma punição. Meu garotinho lembra o que eu disse hoje mais cedo?

— Hmm… que você me deixaria gozar? — Nico tentou, esperançoso.

— Não, que eu te faria implorar.

— Oh. — Foi tudo o que Nico disse antes de ser jogado na cama e de suas calças serem arrancadas.