domingo, 11 de agosto de 2024

NÃO HÁ LUGAR COMO O LAR - Capítulo XXI a XXV

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Capítulo XXI

Percy tinha descoberto algo muito interessante nesses últimos dias. Tinha descoberto o caminho certeiro para ter um final feliz, tanto entre as pernas de Nico quando no coração de seu lindo bebê. O segredo para satisfazer Nico era fazer a coisa certa, no momento certo e no ritmo certo. Se ele fosse devagar no começo, o tratando com carinho e fizesse Nico relaxar, a tendência dele ter tudo o que queria de Nico e ir muito além disso, era grande. Sinceramente? Percy não pensava como alguém tão inocente em tudo o que fazia podia ter um lado tão desinibido entre quatro paredes. O engraçado era ver os raros momentos onde Nico se lembrava que não devia agir assim e se sentir encabulado para no momento seguinte Nico abrir as pernas e pedir por mais.

— Você foi um garoto muito arteiro hoje. Você merece uma punição. Meu garotinho lembra o que eu disse hoje mais cedo?

— Hmm… que você me deixaria gozar? — Nico tentou, esperançoso.

— Não, que eu te faria implorar.

— Oh. — Foi tudo o que Nico disse antes que ser jogado na cama e de suas calças serem arrancadas.

Mas Percy fez tudo com carinho. Tirou os tênis de Nico, puxou suas calças para baixo junto com sua cueca e apreciou o momento; não era sempre que Nico lhe deixava ver toda aquela pele exposta. Ele acariciou as longas pernas de Nico e as beijou devagar, mordiscando por onde ia, torturantemente lento em seus toques, subindo e subindo, chegando na virilha de Nico finalmente e se demorando por ali, massageando a junção das pernas com a pélvis e tocando no membro de Nico, ouvindo um choramingo.

— O que foi, bebê?

— Você… você está me torturando!

— Eu estou?

— Hmhmm. — Nico acenou, levando as mãos ao rosto, como se fosse escondê-lo, acabando por morder os dedos bem no momento em que Percy olhou para Nico.

Percy teve que parar para observar a cena. Ele sempre soube que Nico era manhoso, mas vendo a face corada e os olhos quase se fechando de sono, Nico prendendo o próximo gemido junto com um bocejar, Percy admitia que estava no clima para fazer exatamente o que Nico o acusava de fazer. Por isso, ignorou o membro ereto de Nico e foi um pouco mais abaixo e acariciou sua entrada, roçando em suaves e delicados círculos, apreciando o momento que o musculo se abriu feito uma flor para ele, pulsando contra seus dedos.

Mas Percy não o penetrou como Nico queria. Não, ele continuou roçando e roçando, vendo Nico se abrir e fechar continuamente, ouvindo os doces gemidos que seu bebê não conseguia conter dentro de si.

— Percy!

— O que foi?

— Eu…

— Sim?

— Eu preciso de você! Dentro de mim!

— Oh, não. Não chore, a gente nem começou ainda.

— O-obrigado. — Nico murmurou, todo choroso, e se inclinou em sua direção, agarrando em sua camisa, implorando docemente, seus grandes olhos negros o fitando tão desesperado e frustrado que Percy teve piedade, embora só agora Percy estivesse se lembrando do combinado deles. Se Nico não soubesse o que dizer e quiser continuar, diria “Obrigado” e quando estivesse gostoso e mesmo assim quisesse parar, diria “Por favor”.

“Tão doce”, Percy pensou. Ele faria tudo ficar melhor.

Percy puxou Nico contra seu peito e o consolou, beijando seus cabelos, murmurou:

— Pronto, pronto. Já vai passar. Viu? Tudo bem?

— Eu… eu queria…

— Eu sei o que você quer.

Ainda com Nico nos braços, Percy se virou para o lado e abriu a primeira gaveta na mesa de cabeceira e tirou um tubo de lubrificante de lá. Colocou um pouco nos dedos, esquentando o gel na mão e levou os dedos para a entrada de Nico. Exatamente como antes, Nico gemeu docemente e jogou a cabeça para trás quando Percy massageou ao redor da entrada, sentindo Nico derreter feito manteiga em seus braços, se entregando para as sensações que sentia.

Percy não pode evitar o calor que se espalhou em seu peito, ambos de prazer e de afeto, mas de luxúria também, aquele sentimento que o fazia se esquecer de tudo e que o incentivava a pegar tudo o que queria.

— É isso que você queria, lindo? Que eu te fudesse na casa dos meus pais?

Percy tentou ser o mais delicado possível, o mais deliciado que sua mente inebriada de prazer permitia. E ele admitia, não era o suficiente para ele, nunca seria, porque, no fundo, ele sabia que não era assim que devia tratar o seu bebê. Se Percy tivesse com a cabeça no lugar, nunca faria isso, mas algo dentro dele dominava o seu corpo, o fazendo agir de uma forma que ele nunca pensou que agiria.

A verdade é que, desde a volta de Nico, ele não estava agindo como ele mesmo, não estava se comportando como Nico merecia. Mas, no fim, cuidado e gentileza não era o que ele queria dar e não era o Nico tão pouco pedia. Percy não se orgulhava, quando menos viu estava com três dedos dentro de Nico, o abrindo devagar, mas com vontade e com mais profundamente que havia feito nas vezes passadas. Ele teve que parar por um momento e respirar fundo, tinha prometido que não deixaria que seus sentimentos interferirem em seu relacionamento com Nico. O que ele podia fazer se Nico ficava ainda mais bonito, gemendo com as costas curvadas, a ponto de gozar enquanto ele apenas continuava brincando com o corpo de Nico? Descobrindo os lugares que o fazia gemer e o que o fazia chorar de prazer, ou mesmo aquele lugarzinho que estava fazendo Nico gritar, tremendo dos pés a cabeça?

Foi por isso que Percy se obrigou a tirar os dedos de dentro de Nico e respirar fundo. Não era certo tratá-lo feito um boneco de retalhos, um brinquedinho que ele podia usar e depois guardar em uma caixa.

— Bebê? Tudo bem? — Percy se forçou a enxergar entre a névoa de luxúria e ver seu bebê e não… um amante onde ele poderia satisfazer todos os seus desejos.

Percy viu como em câmera lenta. Nico abriu os olhos, desfocados e dilatados, e respirou tão fundo como ele tinha feito, parecendo confuso.

— Não… ah… não pare… eu… obrigado. — Nico disse na voz mais suave e doce que Percy já tinha ouvido, todo obediente e contente, sorrindo, completando: — Estou tão bêbado.

E então, Nico estava rindo, parecendo mais chapado do que qualquer bebida poderia causar, colocando os braços em volta de seu pescoço e o beijando suavemente. Percy não poderia recriminá-lo, se sentia tão inebriado quanto Nico demonstrava estar, mas o que Percy não havia percebido até aquele momento eram as lágrimas que escorriam, vendo os olhos de Nico que além de estarem desfocados, estavam marejados também; a pele morena quente ao toque, manchada por linhas invisíveis. Por que Percy sabia disso? Ele teve que levantar sua mão e limpar o rosto de Nico, as deslizando até segurar Nico pela nuca e pescoço, as mantendo ali, fincadas nos cabelos de Nico. E Nico? Bem, ele apenas gemeu, deixou que Percy o inclinasse para mais perto e abriu mais as pernas, se oferecendo a Percy.

Percy não queria pensar nisso, nessa… demonstração de submissão. Aquilo fazia algo dentro dele acordar, algo que Percy tinha vergonha de admitir ter dentro de si. Mas… ele olhou para baixo e viu que Nico tinha gozado em algum momento. Eles deviam parar, não? Então, por que Percy estava abrindo as próprias calças e estava aplicando lubrificante no próprio membro?

Percy grunhiu quando sentiu a ponta da cabeça de seu membro entrar em contato com a entrada de Nico. Eles deviam usar camisinha, não deviam? Mas ele sabia que Nico era virgem antes de transar com ele, o que Percy sabia ser mais uma desculpa para seu cérebro cheio de endorfinas não o forçar a parar. Entretanto, Nico tinha pedido, não tinha?

Ele não hesitou mais, segurou Nico pela cintura e o puxou contra seu membro, deixando que a gravidade fizesse seu trabalho. Era uma experiência fora do corpo ver a entrada pequena e apertada de Nico acomodar seu tamanho, o observando descer devagar, o recebendo centímetro por centímetro, seu membro desaparecendo dentro de Nico quase sem esforço nenhum, ouvindo agora os gemidos agudos e arfados contra seu ouvido, peito contra peito, sentindo Nico o abraçar com força pelo pescoço e enrolar as pernas em volta dele, rebolando em seu colo tão gostoso que por um momento Percy se viu sem reação, apenas sendo capaz de arfar contra os cabelos negros de seu bebê, o ajudando no que pudesse.

Então, Nico soltou um longo e arfado gemido contra seu pescoço e o mordeu, parando de se mover imediatamente, o apertando tão forte que Percy não sabia como não tinha gozado naquele mesmo instante. Nem mesmo assim Percy teve forças o suficiente para parar, achando que eles tinham ficado por longos momentos naquela mesma posição, sentados e imóveis na cama e que talvez Nico tivesse pegado no sono, ou até que Nico tivesse gozado de novo e não quisesse mais continuar.

Esse foi o momento em que Percy ouviu um gemidinho manhoso e sentiu Nico se mover, só um pouquinho, girando os quadris, como se tentasse encontrar uma posição melhor. E Percy, como o cavaleiro que era, o ajudou. Ainda segurando na cintura de Nico, ele o moveu um pouco para a direita e então para a frente, encontrando um ângulo mais confortável. Sim! Percy achava que tinha encontrado, sentindo Nico o apertar forte e gemer como se estivesse morrendo.

— Assim? É gostoso?

— Ah… ah… obrigado! — Nico se contorceu todo e se forçou contra ele, voltando a abraçá-lo com força. E já que Nico estava tão decidido a matá-los de prazer, era a melhor forma que Percy poderia morrer.

Percy segurou com mais força nos quadris de Nico e quase o imobilizando, o puxou para cima e então o levou para baixo, devagar e gostoso, sentindo Nico o apertar tanto que quase chegava a doer.

— Bebê, você tem que relaxar, hm? Respire fundo pra mim.

Nico fez, porque ele era o melhor garoto do mundo, e se deixou cair sobre seu peito, relaxando com a cabeça apoiada em seus ombros.

Ah, assim era bem melhor, porque, de repente, seu membro estava deslizando para dentro e para fora de Nico sem nenhum esforço, Nico gemendo sem nenhum pudor com a cabeça jogada para trás. Percy observou por um momento como Nico se entregava para ele sem nenhum medo e se esqueceu dele mesmo, lamentando que quase perdeu Nico para sempre.

— Você quer gozar? — Percy perguntou, se sentindo flutuar.

— Per… eu… ah! Eu não sei! — E de novo na voz mais doce, porém agora arfada e desesperada, Nico abriu aqueles olhos negros e implorou com o olhar, algo que ele próprio parecia não saber o que era.

Percy não sabia muito o que estava fazendo, mas se Nico queria, ele faria isso ser realidade.

— Se toque.

— O-oquê? — Nico perguntou sem entender.

— Eu quero que você se toque.

Percy, então, segurou em uma das mãos de Nico e a levou entre seus corpos onde o membro de Nico estava ereto.

— Eu quero ver. — Percy repetiu e esperou para ver o que Nico faria.

Nico piscou lentamente para ele e ainda parecendo incerto e chapado, envolveu os dedos em volta de si mesmo e começou a deslizar a mão para cima e para baixo, no toque mais delicado e suave que Percy já tinha visto. Ele não fez nada além de observar Nico se tocar ainda com ele dentro de Nico, sentindo Nico pulsar e o apertar ritmicamente por curtos minutos.

Não demorou muito, tão devagar e suavemente como Nico tinha começado, Nico gozou, com longos movimentos e gemidos mais doces ainda. E dessa vez Percy viu, Nico ejaculando, o pequeno membro estremecendo e enfim soltando as últimas gotas até que Nico parou de mover a mão e olhou para Percy, piscando lentamente e respirando rápido, como se esperasse a próxima ordem.

Esse estava sendo um momento levemente estranho e maravilhosamente extraordinário para Percy. Ele estava contente em apenas observar o prazer de Nico e deixar que sua ereção sumisse sozinha. O fato é que Nico ainda olhava para ele, ainda parecendo incerto e sinceramente confuso.

— Você não vai gozar? — Nico perguntou a ele e Percy quase riu, achava que estava enlouquecendo.

— O que você sugere que eu faça, hm?

— Oh. — Nico murmurou, entortando a cabeça e encostando delicadamente suas mãos sobre os ombros de Percy. — Eu posso decidir?

— Claro.

Percy deu de ombros, por que não?

A surpresa veio imediatamente. Nico levantou o quadril, gemendo baixinho e deixou que o membro de Percy escorregasse para longe dele. Logo em seguida, Nico se ajoelhou na cama, se sentou entre as pernas de Percy e segurando na base, beijou a cabecinha por longos momentos. Ele lambeu e chupou sem pressa para enfim sugá-la inteira, começando uma sucção leve, na visão mais bonita e erótica que Percy já tinha tido o prazer de presenciar, achando que aquele seria o orgasmo mais rápido de sua vida.

Nico começou a mover as mãos também e de repente, seu membro estava deslizando para dentro da garganta de Nico. Mas o que o fez enfim gozar foi quando Nico engoliu em volta dele e arfou, engasgando levemente. E de novo, Percy não teve reação se não se apoiar na cama e jogar a cabeça para trás, gemendo longamente. Percy dirigiu o olhar para Nico e o observou continuar a chupá-lo, agora tão suavemente que ele mal podia sentir, só deslizando para longe quando Nico teve a certeza que Percy tinha terminado, enfim amolecendo contra seus lábios.

Percy suspirou e fechou os olhos por um momento, curtindo o prazer se esvair lentamente. Era como se um mundo novo tivesse se aberto bem em frente aos olhos dele; Percy não sabia que alguém chupar seu membro poderia sacudir seu mundo dessa forma. Mas, claro, Nico não era qualquer pessoa e ninguém além de Nico poderia causar essas sensações nele.

— Per? — Ele ouviu a voz baixinha de Nico o chamar. Percy abriu os olhos e percebeu que ele ainda tinha a cabeça jogada para trás e encarava o teto. Era difícil até de abrir a boca.

— Hm?

— Eu… desculpa… eu não queria…

Ele não queria? Percy queria rir de histeria e prazer.

Contente e verdadeiramente satisfeito, Percy enfim reuniu forças para se mover e se sentou na cama, vendo que Nico ainda estava entre suas pernas. O engraçado é que Nico não parecia feliz, parecendo que iria cair em lagrimas a qualquer momento.

— O que foi, bebê?

— Eu te machuquei.

— Me machucou?

— Você parecia com dor, mas eu não queria parar. Você nunca me deixa fazer isso.

Percy sorriu e puxou Nico para seu colo, o abraçando contra seu peito. Ele poderia dizer que Nico estava certo; foi tão bom que chegou a doer, como se seu orgasmo estivesse sendo puxado para fora dele e Percy não tivesse nenhum controle sobre isso.

— Você não me machucou. De fato, você só precisava pedir. Você foi ótimo.

— Eu fui… ótimo? — Nico se afundou contra o peito de Percy, mas ainda parecia em dúvida. — Se você diz, vou acreditar.

Percy sorriu novamente e beijou os cabelos de Nico. Ele só esperava que Nico não brigasse com ele na manhã seguinte quando ambos estivessem completamente sóbrios.


 

Capítulo XXII

— Se você diz, vou acreditar. — Percy ouve Nico dizer, o observando fechar os olhos e suspirar antes de relaxar contra seu peito, agora respirando profundamente em seu sono.

Percy quase caiu na tentação de fazer o mesmo e dormir naquela exata posição, sentado no meio da cama com Nico o usando como um travesseiro. Infelizmente, ele tinha que ser a pessoa responsável.

Sentindo as pernas ainda tremendo, colocou Nico deitado sobre os travesseiros, o cobriu com um lençol e se levantou. Entrou no banheiro da suíte e depois de se limpar e arrumar suas roupas, voltou para o quarto com uma toalha umedecida. Nico mal se mexeu, murmurando algo sem sentido quando Percy o virou de barriga para cima. Percy o limpou, dizendo um “Volto logo”, que Nico pareceu não ouvir e Percy saiu do quarto, fechando a porta suavemente atrás dele, deixando Nico debaixo das cobertas apenas de meias e camiseta.

Percy já se arrependia disso. Descendo as escadas, viu que ainda tinha pessoas na festa. Não que isso importasse para ele, era apenas mais um dia na casa dos Jackson. Por isso andou com passos decididos para a cozinha, porém, quando chegou lá, teve uma surpresa indesejada.

Era Annabeth, é claro! Quem mais poderia ser? Seu relaxamento desapareceu em um piscar de olhos, especialmente quando Annabeth se virou para ele e sorriu, segurando uma taça de cristal com vinho tinto contra os lábios, a bebida favorita dela. Percy infelizmente sabia disso.

Talvez ele tenha escondido algumas coisas de Nico e talvez ele tivesse passado mais tempo do que queria com Annabeth nos últimos anos; Nico tinha ido embora e Percy tinha se sentido solitário, imagina sua surpresa quando Annabeth lhe mostrou um pouco de solidariedade. Percy tinha baixado a guarda, ele admitia. Em nome dos velhos tempo e da infância, Percy decidiu que dar outra chance para a primeira amizade que tinha feito na vida poderia dar certo. O fato é que tudo ficou bem por algum tempo, a turma se reuniu mais uma vez e tudo ia bem. Isso é, até que Annabeth em uma sessão de estudo regada a bebida, seus melhores amigos e livros espalhados em todas as superfícies de seu quarto, tinha tentado o beijar. No fim, tudo o que Annabeth queria era ser a rainha do baile e se aproveitar da influência de sua família para conseguir uma bolsa de estudos e uma posição de líder de torcida na melhor universidade do país. Se ela tivesse pedido essas coisas para ele, Percy não teria se importado em ajudar, mas como ela decidiu pegar a força, Percy devolveu na mesma moeda.

Agora, aqui estavam eles. Annabeth em um longo vestido vermelho que não escondia nada, parada em frente a geladeira, parecendo observar algumas fotos presas nela, fotos deles e de seus outros amigos de quando eles eram crianças e Percy ainda não havia conhecido Nico. Percy quase acreditou no olhar de saudade dela, quase foi enganado mais uma vez, e tudo isso porque ele estava tentando levar um copo de água com analgésicos para seu bebê, hm?

Não dessa vez.

— O que você está fazendo aqui? Pensei que eu tinha sido claro.

— Eu queria conversar com você.

— É melhor você ir embora.

— Você não sente falta da gente? De como costumava ser?

Annabeth, então, se virou totalmente em sua direção e colocou a taça em cima da bancada, se aproximando mais dele, desfilando, como se tentasse seduzi-lo. Tudo o que aquilo causou foi seu estômago se revirar. Do que ele sentiria falta? De se sentir sozinho, como se ele fosse invisível? De viver para realizar todos os desejos egoístas dessa garota mimada? De não poder fazer algo se Annabeth não permitisse? O pior sempre seria saber que não importa o que ele fizesse, Percy sempre se sentiria com frio e abandonado, mesmo que ela estivesse há menos de cinco passos de distância.

 — Como você pretendia fazer isso? Invadindo meu quarto no meio da noite?

— É uma boa ideia. Eu ainda me lembro onde fica.

— Você enlouqueceu? É isso?

— É você que não entende! Deveria ser nós dois. Isso não é natural. O que seu pai diria se te visse assim? — Annabeth tocou em seu ombro e então a ânsia de vômito realmente veio, quase se materializando.

— Meu pai não tem nada a ver com isso. Você passou dos limites.

— Percy, querido. Ainda não é tarde demais. — Annabeth tocou em seu rosto e o encarou com aqueles frios olhos acinzentados, algo que no passado ele achou lindo e magnético, mas que agora congelava seu corpo e alma. Se tinha algo que ele havia aprendido com Annabeth é que a manipulação vinha em todos os tamanhos e formas.

Ele deu um passo para trás, saindo do alcance de Annabeth e respirou fundo, se sentindo libertar de um fantasma que continuava a assombrá-lo desde que ele decidiu que gostava mais de doces garotinhos bem-comportados do que de garotas manipuladoras e cruéis. Talvez Nico estivesse certo e a única forma dele realmente se livrar de Annabeth seria fugindo e desaparecendo, exatamente como Nico tinha feito.

— Você precisa ir embora. Agora!

— Percy, sei que você está confuso. Ele é tão bonitinho que até parece uma garota, não é? Ele nunca vai te dar o que eu posso. Uma família. Um lar.

“Nico pode me dar…?’’, Percy se perguntou por um momento, distraído. Então, ele sentiu vontade de rir. Nico lhe dava exatamente o que ele queria e do exato jeito que ele mais desejava.

— Você tem certeza?

Percy sabia que não devia, sabia que isso não era da conta de Annabeth, e mesmo assim, ele fez. Percy abriu os primeiros botões de sua camisa e mostrou a marca no meio de seu peito de dentes e unhas, perto do pescoço, porém discretos o suficiente para cobrir com a camisa.

— Você acha que Nico não me dá o que eu preciso? Ele é muito melhor do que você jamais será.

— Você vai se arrepender! Como você pôde me trocar por aquele--

— Na verdade, mesmo que eu não estivesse com ele, você seria a última pessoa na face da terra que--

Plaft!

Percy não sentiu a dor vir, apenas escutou o barulho da mão de Annabeth contra seu rosto, o toque frio da mão dela o congelando por dentro. O choque veio quando seu rosto virou para o lado com o impacto, veio quando o grito de fúria dela chegou a seus ouvidos, completamente enraivecida, como se um demônio tivesse possuído o corpo da beldade de olhos claros e cabelos loiros.

— Você acha que pode falar comigo desse jeito? Que pode me tratar assim? Quem você pensa que você é! — Annabeth bradou, indo para cima dele mais uma vez. Mas dessa vez, Percy se negava a se submeter as vontades dela, ele não tinha medo do que os outros diriam ou quais seriam as consequências.

Dessa vez, Percy segurou nos braços de Annabeth e a encarou, sem medo, antes que o próximo tapa pudesse chegar.

— Nós terminamos aqui. Não quero te ver, escutar sua voz ou saber de você. Você não é bem-vinda na minha vida ou na vida de Nico. E se você tentar algo, vai se arrepender. Esse é meu último aviso.

Com isso, Percy deu as costas a ela e saiu da cozinha ainda ouvindo os gritos de Annabeth. Quando Percy voltou, Annabeth ainda estava na cozinha andando de um lado para o outro, furiosa, com a taça de cristal na mão. Mas se fosse por Percy, Annabeth que guardasse a taça de recordação. Ele não queria nada em que ela tivesse tocado.

— Se certifiquem que ela nunca mais coloque os pés nessa casa.

Parado, no meio do corredor que dava para a entrada da cozinha, Percy observou os homens acenarem e irem em direção à intrusa. Cada um segurou Annabeth por um braço e sem mais palavras, Annabeth foi levada pelos homens, berrando e ofendida, porque, finalmente, a pessoa que assombrava seus pesadelos estava banida de sua casa e de sua vida de uma vez por todas.

***

Ainda escutando os gritos da loira, Percy pôde enfim pegar o copo de água e os analgésicos que Nico iria precisar. E se sentindo exausto e com o rosto latejando, subiu a escada para o andar superior e entrou em seu quarto no fim do corredor, encontrando Nico acordado, encostado contra o batente da cama, olhando para o próprio colo coberto apenas pelos lenções com a expressão mais triste e cabisbaixa que Percy já tinha visto em seu bebê.

Tudo ficou pior no momento em que Percy fechou a porta e entrou no quarto. Nico levanta a cabeça e olha para ele com aqueles grandes olhos negros, agora marejados.

— Onde você estava? — Nico diz em voz baixa, soando rouca e cansada.

— Eu fui buscar um remédio para ressaca.

— Eu não estou de ressaca.

Mas Nico parecia que iria cair no sono a qualquer momento, continuando a olhar para ele, como se não acreditasse nele. Não havia nada que Percy pudesse fazer além de desistir de tentar convencê-lo. Porque, nisso, eles eram parecidos. Uma vez que eles se decidissem por algo, nada os faria mudar de ideia. Seria pior se eles descobrissem que o outro estava mentindo. Assim, conformado, Percy andou a passos rápidos até a mesa de cabeceira, colocou a água e o remédio em cima dela e se sentou ao lado de Nico, o puxando para seu colo.

— O que foi, hm?

— Não é nada. — Nico enfiou o rosto na curva do pescoço de Percy e o abraçou forte pela cintura, relaxando, e só assim se sentiu confortável o suficiente para dizer o que pensava. — Eu vi Annabeth na festa. Depois que você mandou ela embora. Eu odeio saber que ela ainda está por perto, rondando a gente e esperando o momento certo para atacar.

Então, esse era o problema.

Bem, Nico estava mais certo do que pensava.

Percy abraçou Nico mais forte, o envolvendo completamente em seus braços e suspirou, encostando sua cabeça no topo dos cabelos de Nico.

— É isso o que você pensa de mim? Que eu iria correr para o lado dela depois de ficar com você?

— Não, acho que não. Eu só… ela tem uma influência estranha sobre você. Eu só… não gosto disso.

— Não gosta do quê?

— Do jeito que ela olha para você. Como se quisesse te… dominar. Me mata pensar que… pensar que ela pode conseguir o que quer.

“Como eu faço com você?”, Percy teve o impulso de perguntar, mas parou antes que eles entrassem em uma discussão que ambos não estavam prontos para enfrentar. Embora ele soubesse que a situação deles fosse diferente, e mesmo que Percy quisesse dominar Nico, era algo completamente consensual entre ambas as partes; já com Annabeth, ele não poderia dizer o mesmo. Apenas o pensamento disso revirava seu estômago.

— Você não precisa se preocupar. — Percy disse por fim, tentando relaxar.

— Sei.

— Nico.

Percy segurou no rosto de Nico, puxando sua cabeça para cima e o forçou a encará-lo:

— Eu te amo. Só você e ninguém mais. Quando você vai entender isso?

— Eu entendo. Acreditar, é mais difícil. Eu lembro das vezes que você vinha cheirando diferente… ou com mordidas em lugares suspeitos… — Nico levou as mãos ao lugar que ele mesmo tinha deixado uma marca, afastando a camisa para tocar na pele e fazendo Percy entender tudo.

— Eles não significavam mais do que… alívio de estresse. — Percy disse, tocando na mão de Nico sobre seu peito. — Eles nunca significaram nada mais do que isso. Você precisa acreditar em mim.

— Na época eu não conseguia entender. Era tão confuso. Você dormia na minha cama e fazia sexo com eles. — Mas agora, Nico parecia entender melhor, indo para a Itália e sentindo a necessidade de aliviar esse mesmo tipo de estresse.

— Você era… um anjo perfeito, delicado e imaculado. Eu não queria te sujar.

— Me sujar? — Nico disse, parecendo confuso mais uma vez.

— Eu não queria te forçar como aqueles meninos fizeram.

Nico levantou a cabeça, pronto a dizer que aqueles garotos nunca se comparariam a Percy, voltando a encará-lo. Porém, quando Nico viu uma marca grande no lado direito do rosto de Percy a confusão foi substituída por preocupação.

— O que aconteceu? — Percy estranhou imediatamente a mudança em Nico. O garotinho estava fazendo uma careta, algo entre confuso e irritado.

— Seu rosto. Quem te bateu?

Será que seria muito brega dizer que Nico o fez esquecer da dor? Percy decidiu que sim, era uma das coisas mais bregas que ele já tinha pensado em dizer.

— Não foi nada. Apenas um arranhão.

— Eu quero saber. — Quando Nico percebeu que exigir não funcionaria, ele tocou suavemente no rosto de Percy e o beijou docemente nos lábios, dizendo todo delicado e baixinho: — Estou preocupado com você. Por favor, Per. Me diz quem fez isso com você.

— Nem doí mais.

— Por favor?

— Annabeth. Foi Annabeth. Eu encontrei ela na cozinha. — Percy suspirou e fechou os olhos, quase ronronando com o toque carinhoso de Nico. — Ela não aceitou um não como resposta.

— Per! Você devia fazer uma denúncia!

— Talvez amanhã. Quando Sally ver meu rosto e me obrigar a ir. Ou Paul chegar de viagem e me arrastar até lá com a ajuda de Tyson.

— Per. — Nico murmurou fracamente, seus olhos se enchendo de lagrimas, fazendo o coração de Percy se apertar e se encher de afeto na mesma proporção.

— Estou bem. Eu juro. — Para provar seu ponto, Percy o beijou suavemente e acariciou os cabelos de Nico, os penteando para trás. — Viu? Está tudo bem.

— Então, você tem que tomar o remédio.

— Mas eu trouxe para você.

— Vamos dividir.

Percy sorriu e deu de ombros. Quebrou o remédio no meio, deu uma parte para Nico, engoliu a outra parte e segurou nas mãos de Nico.

— Que tal um banho antes de ir pra cama?

Nico aceitou a oferta, é claro. Porque Nico era o garoto mais obediente e bem-comportado do mundo, sempre querendo o agradar e cuidar dele, mesmo que Percy não merecesse.

Assim, Nico tomou o remédio com a água e eles tiraram o resto das roupas, tomaram uma ducha rápida e logo estavam debaixo das cobertas. Tinha sido um longo dia e tudo o que eles queriam eram um momento de paz e silencio.


Capítulo XXIII

Nico não sabia o que estava acontecendo com ele. Quer dizer, ele sabia, sim. A questão era o porquê.

— Bebê. — Percy murmurou em seu ouvido, fincando os dedos em seus cabelos por um breve momento que quase o fez gozar. Logo as mãos de Percy viajaram para seus ombros, descendo até segurar em sua cintura, parando ambos seus movimentos. — Eles vão ouvir.

Nico fechou a boca e tentou sufocar o próximo gemido, falhando miseravelmente. Ele não conseguia evitar, rebolando no colo de Percy e se curvando todo, e era isso o que ele não entendia. Nico nunca tinha transado com ninguém dessa forma e de repente, era tudo o que ele conseguia pensar. Como isso podia estar acontecendo com ele? O pior era que Percy estava sendo um perfeito cavalheiro. Ou foi o caso até Nico acordar na manhã seguinte. Ele tinha ido no banheiro e quando tinha voltado, Percy ainda estava ali, todo esticado na cama, sem nada o cobrindo… quando foi que Percy tinha ficado tão alto ou arranjado aqueles músculos? E aqueles braços? Nico não conseguiu evitar, voltou para a cama e… bem, Nico gostaria de dizer que apenas tinha o observado dormir.

Mesmo se sentindo sensível da noite anterior e com dor de cabeça da ressaca, Nico engatinhou pela cama e se sentou na cintura de Percy, tentando ser cuidadoso. Isso era tão errado, a conversa sobre consentimento voltando com tudo. Mas, talvez se Nico o acordasse de uma forma interessante, Percy não ficaria bravo com ele. Então, Nico fez o que queria ter feito há muito tempo, colocou as mãos sobre o abdômen de Percy e as escorregou para cima, dedilhando os gominhos e voltando para baixo, sentindo os pelos se arrepiarem contra seus dedos. O que ele teria que fazer para Percy acordar? Talvez se ele…Nico se curvou sobre Percy e chegou ao rosto bronzeado de sol e quadrado, sentindo a barba que começava a crescer, vendo um sorriso nos largos lábios de Percy.

— Per? — E quando mesmo assim, Percy se negou a abrir os olhos, Nico continuou com sua exploração. Massageou o peito largo e roçou com a ponta dos dedos os mamilos eriçados.

Parece que ele teria que fazer tudo sozinho no fim, o que estava tudo bem, isso apenas lhe dava coragem para continuar.

Como quem não quer nada, Nico deslizou sua bunda para baixo e encontrou um volume que não estava lá cinco minutos atrás. Será que ele devia? Nico sabia que iria doer um pouco, mas ele não queria procurar o lubrificante. Não poderia doer tanto assim, certo? Testando as águas, Nico se sentou mais uma vez no colo de Percy, levou a mão para trás dele e encontrou o membro de Percy completamente ereto. Talvez ele fosse um masoquista, era a única explicação para o gemido que soltou quando se forçou contra a resistência e a cabeça passou pela entrada apertada, deslizando com muito mais facilidade que ele esperava. Deuses! A pontinha estava tão molhada que ele acabou indo ao final mais rápido do que esperava. Nico achava que tinha gritado, achava que tinha apertado o membro de Percy dentro dele com todas as forças que tinha. Como isso poderia se traduzir como prazer para seus nervos, como?!

— Você vai se machucar. — Ele ouviu ao fundo Percy dizer e sentiu mãos apertarem com força suas pernas. Era difícil se concentrar em qualquer coisa que não fosse o membro o esticando e os tremores de prazer e dor que atingiam seus sentidos. Mas… mas tudo ficaria bem, porque alguns momentos depois Nico sentiu mãos quentes acariciarem suas costas, o membro sair para fora dele e então dedos molhados estavam massageando dentro dele para o membro de Percy voltar a penetrá-lo, fundo e gostoso, alcançando aquele lugar que até noite passada Nico não sabia existir.

— O que foi, hm? Por que meu bebê está chorando? Onde doí?

Ele negou, balançando a cabeça, e se deixou levar. Colocou os braços ao redor do pescoço de Percy e relaxou, o que deixou tudo melhor. Mas Percy ainda estava parado, respirando rápido contra seu pescoço e o segurando forte pela cintura.

— Per… eu preciso.

— Não está doendo? Da noite passada?

Nico negou mais uma vez, se acomodando melhor no colo de Percy, fazendo o membro dentro dele acertar os melhores lugares apenas com esse movimento acidental.

— Por favor… eu quero que você… quero que você… ah!

— Assim? — Percy perguntou e demonstrou mais uma vez. Levantou Nico pela cintura e o fez descer mais uma vez, o encontrando no meio do caminho com um movimento certeiro.

— Bebê, eles vão ouvir.

— Percy!

Ele achava que realmente estava gritando agora. Doía! Doía tanto e mesmo assim não conseguia parar, sentindo cada um de seus músculos se desfazerem a cada vez que os quadris de Percy se encontravam com os dele.

— Você tem que se responsabilizar por seus atos, bebê. — Percy sussurrou em seu ouvido. Aquilo era demais para ele.

Choramingando, sem saber o que seu corpo queria, Nico empurrou Percy pelo ombro e rastejou para fora do colo de Percy, gemendo e soluçando, suas pernas falhando no meio do caminho o fazendo cair de cara nos travesseiros. Nico não entendia o que acontecia com si próprio, ele só… só… iria explodir a qualquer momento se o mundo não voltasse a fazer sentido. Como dor poderia se misturar tão ao prazer a ponto de o fazer delirar? Porque o olhar no rosto de Percy só poderia ser uma ilusão que sua mente estava criando. Parecia tão… como se ele fosse a caça e Percy o predador.

— Onde você vai?

— Eu… eu não sei!

— Bebê.

Um calafrio subiu por sua coluna e fez suas pernas tremerem. Tinha algo na voz de Percy que o fez congelar no lugar onde Nico tinha caído. O que estava acontecendo com eles? Ele não conseguia olhar para Percy, como medo ver o que iria encontrar lá, e queria fugir, mas… mas Nico não queria se mover e talvez descobrir o que tanto o assustava. Entretanto, Nico estava se movendo da mesma forma, se arrastando pela cama enorme em direção… ele não sabia, qualquer lugar estava bom. Então, porque parou na beirada da cama, ainda tremendo e… e sentindo uma antecipação que ele não sabia de onde vinha? A porta estava bem a sua frente, tanto a do banheiro ou a da saída. Se ele se sentia tão encurralado, por que não estava indo em direção a eles?

Nico gemeu, surpreso, quando a mão de Percy tocou no meio de suas costas, e suavemente deslizou para cima e para baixo num dos gestos mais confortantes que Nico já tinha experimentado.

— Você quer brincar? — Percy perguntou em seguida, ainda sem se aproximar. — Ou quer dormir mais um pouco? Ainda está cedo.

— Eu… — Nico se curvou contra si mesmo e escondeu o rosto no travesseiro.

Ele não entendia o que estava acontecendo. Nada fazia sentido. Nico não queria estar sentindo essas coisas e não queria ser desse tipo de pessoa. Quer dizer, alguns dias atrás ele estava bem com o que estava acontecendo. Então, qual era o problema?

— Você pode me dizer.

— Eu quero gozar. — Nico admitiu, seu rosto afundado contra o travesseiro.

— Então, olha para mim. Sim?

Nico negou, se encolhendo ainda mais.

A cama ao redor dele balançou e então Percy estava ao lado dele, mãos quentes estavam de volta em sua coluna junto a lábios que deslizaram por toda a extensão, até chegar a curva de suas nádegas, as mordiscando.

— Você está pronto para conversar? — Percy murmurou contra sua pele.

Quando Nico negou mais uma vez, os lábios de Percy desceram mais um pouco e encontraram sua entrada, beijando a área suavemente. — Nunca mais faça isso. Não quero te ver machucado.

Nico não teve outra reação além de estremecer e gemer contra os travesseiros, se sentindo derreter quando a língua de Percy alcançou um lugar mais profundo.

— Quer que eu toque seu membro?

Nico negou. Tudo o que ele fazia era negar. O que estava acontecendo!

— Quer que eu pare?

Então, negou mais uma vez, se surpreendendo.

— Bebê. — Percy disse na voz mais afável que ele já tinha ouvido e isso o fez se sentir estranhamente… contente, satisfeito até.

— Eu quero você… dentro de mim.

— É mesmo? — Agora Percy soou quase condescendente, irônico até. O que fazia sentido. Eles estavam fazendo exatamente isso até que Nico teve um ataque de pânico.

— Me diga se for muito.

Tudo o que Nico conseguiu fazer foi arfar, ficando sem ar devido ao movimento repentino. O colchão se afundou ligeiramente atrás dele e Percy se encaixou sob suas costas. Mãos rodearam sua cintura, o puxando para mais perto e dedos se fincaram em seu cabelo, estranhamente o forçando inspirar profundamente. O engraçado é que Percy nem empregava muita força, sua cabeça girando, tentando criar explicações porque esse momento parecia tão diferente dos outros. O que o fazia se sentir tão angustiado e tão excitado ao mesmo tempo? No momento, não importava.

Nico sentiu a cabeça do membro de Percy contra sua entrada mais uma vez e então sua visão ficou embaçada, sua cabeça esvaziando por alguns instantes. Era difícil descrever. Nico não sabia se era o agarre de Percy que ficava cada vez mais forte em sua pele, se era Percy arfando contra seu ouvido ou se era a forma decidida e com vigor que Percy o fodia, devagar, mas com proposito em cada estocada certeira, curta e bem colocada.

Talvez ele só quisesse que Percy o mantesse sob controle e lhe dissesse o que fazer em seguida. Será que ele seria obrigado a falar sobre isso também? Antes que isso pudesse acontecer, Nico preferia fugir e nunca mais voltar. Ou ele teria feito isso se Nico não estivesse sentindo as mãos de Percy o prenderem contra seu peito largo, o impedindo de se mover muito.

— Está tudo bem. Comigo, certo? — Percy o manteve preso entre seus braços e diminuiu a velocidade de seus movimentos, mas era tarde demais. Algo no modo como Percy o continha finalmente fez Nico se deixar levar. Nico permitiu que Percy continuasse a segurá-lo e estremeceu pelos próximos minutos, relaxando contra o peito de Percy, sentindo Percy ir junto com ele.

— Tudo bem? — Percy disse depois de alguns momentos quando nenhum dos dois fez nada para se mover.

— Não tenho certeza. — Essa era a coisa mais sincera que tinha saído de seus lábios desde que tinha acordado.

***

— Não tenho certeza. — Nico disse, ainda afundado contra o peito de Percy, finalmente se sentindo seguro e em paz.

Ele se sentia tão estranho que Nico nunca teria palavras para expressar. O que tinha mudado em cinco minutos que o fazia se sentir tão bem agora?

— Tudo está bem. Você foi ótimo. — Percy ainda tinha uma das mãos fincadas em seus cabelos e a outra em sua cintura, que nesse momento massageava sua barriga e baixo ventre, suavemente o ninando.

— O que está acontecendo? Eu não… não queria fugir.

— Sei que não.

— Eu só…

— Está tudo bem se você se deixar sentir.

— Me deixar sentir?

— Eu aprendi que às vezes nossas mentes vão para lugares estranhos. Como se nosso corpo quisesse uma coisa e nossa mente outra. Então, tudo bem sentir, seja o que for.

— Desde quando você sabe tanto sobre isso?

— Eu… busquei ajuda.

— Psicológica?

Percy acenou que sim contra suas costas e Nico teve que se virar, para ver com os próprios olhos, mas Percy não o encarava; ele olhava para fora da janela.

— Quando você foi embora, percebi que não era comum sofrer tanto por alguém a ponto de querer me matar.

 — Percy! Eu nunca quis que isso acontecesse! Por que você não me disse?

— Você não é responsável por meus atos e eu não sou responsável pelos seus. Ou pelo menos, não era o caso naquela época.

Então, Percy deu um sorrisinho sacana e Nico revirou os olhos. Parece que eles tinham muito a conversar.

— A questão é que eu não podia te pedir para voltar e não era justo deixar que a depressão me afundasse. Eu fiz o que Sally pediu. — Percy deu de ombros. — Fui no médico. E mesmo com ajuda, eu ainda sentia sua falta. Não tive escolha senão te ver se divertindo e amadurecendo sem mim.

— Eu… nunca foi algo definitivo. — Nico murmurou, se sentindo um monstro. — Devia ser alguns meses, depois um ano. Eu não tive coragem de te encarar.

— O que te fez mudar de ideia?

— Uma foto. Annabeth e você sentados na sua cama.

Nico observou como em câmera lenta, o olhar de tristeza se transformar em divertimento e felicidade, Percy o abraçando com mais força.

— Ah, se ela soubesse.

— Soubesse o quê?

— Annabeth fez aquilo de proposito, pensando que iria te atingir. Acho que ela conseguiu, não foi?

— Percy! — Agora Percy estava rindo de verdade, se jogando para trás na cama e o levando junto, o prendendo em um agarre de urso.

— Me solta!

— Não, agora é sério. Você quer conversar sobre o que aconteceu?

— Acho que não.

— Não vai nem me dar uma pista? Um ponteiro? Nadinha?

Nico até poderia imaginar o pesadelo. Se Percy soubesse o que Nico realmente queria… seria a seu fim.

— Tudo bem. Já entendi.

Percy se espreguiçou e colocou Nico contra os travesseiros. Antes de levantar, ele beijou Nico e sorriu para ele, dando a volta na cama. Abriu uma gaveta em seu lado da cama e tirou de lá um diário com capa azul, parecido com o que ele tinha dado a Nico.

— Acho que vou escrever depois de tomar um banho. É relaxante, você não acha? — Percy colocou o diário do seu lado da cama e beijou Nico mais uma vez, indo para o banheiro dentro da suíte e fechando a porta.

Nico escutou o barulho de água cair no chão e se sentiu a pessoa mais idiota do mundo. Seu próprio diário estava bem a seu lado na cômoda e tudo o que ele menos queria era escrever sobre seus sentimentos. Ele se sentia forçado e manipulado a fazer algo que não queria, afinal, era o justo; Percy tinha contado a ele algo profundo e pessoal, o que o deixava na posição de contar alto tão pessoal quanto. No fim, não era o que ele queria? Que Percy o… dissesse o que fazer? Nico apenas não pensava que isso escorreria para fora do sexo também. Mas se Percy queria saber, ele faria Percy se arrepender disso.


 

Capítulo XXIV

Nico colocou a caneta na última página em que havia escrito e repousou o diário ao lado de seu travesseiro, se espreguiçando. Ele tinha escrito mais do que pretendia. Bem, Percy teria uma pequena surpresa quando lesse. Mas no fim, Percy estava certo, escrever tinha tirado a pressão de seus ombros que Nico nem sabia estar lá. Foi um momento mágico, ao colocar seus pensamentos no papel, sua mente ficou leve e vazia, como se contasse o que o incomodava para alguém que não o julgaria e não tentaria dar ‘conselhos’ que ele não havia pedido.

Cansado de esperar, Nico deitou na cama e colocou a cabeça no travesseiro. O que Percy fazia para demorar tanto? Quando menos viu, tinha fechado os olhos, os abrindo novamente para sentir algo macio deslizar por seu corpo. Era uma toalha úmida e morna que Percy segurava. Nico piscou lentamente e então a figura de Percy se fez presente, cabelos molhados e peito desnudo, vestindo apenas uma tolha enquanto limpava seu corpo com delicadeza.

— Quer tomar um banho? — Percy murmurou, se aproximando mais dele, o fazendo se sentar contra o batente da cama. — Enchi a banheira pra você.

— Pode ser. — Ele deu de ombros, parecia uma boa ideia. Nico raramente via motivos para usar a banheira.

Assim, Percy o segurou pela mão e o guiou para o banheiro, perguntando:

— Como você se sente?

Nico não sabia. Um leve ardor que pulsava dentro dele, talvez? Um cansaço muscular e mental? Um relaxamento que nunca havia sentido antes? Era tudo isso junto e mais. No geral? Nico se sentia bem, ou tão bem o quanto seria possível, parecido com quando ele ainda não tinha fugido para a Itália, talvez até melhor, agora que ele não precisava esconder o que sentia.

— Estou bem. — Nico deu de ombro novamente.

— Você se lembra das nossas regras?

Infelizmente, Nico lembrava. Percy devia estar se referindo a sempre ser sincero.

— Eu não sei. — Nico disse, tentando ser o mais sincero que podia. — É tudo muito novo para eu ter uma opinião formada.

— Nico.

Ele parou e encarou Percy que agora tinha os braços cruzados.

— Você tem que parar com isso. Não me diga o que eu quero ouvir.

— O que você quer que eu fale?

— O que você está sentindo. Algo doí? Você precisa de alguma coisa?

— Por que você está sempre me questionando?

— Porque você sempre está tentando me agradar.

— Qual o problema nisso?

Ele olhou para Percy e Percy olhou para ele parecendo que iria explodir. Mas nada disso aconteceu. Percy respirou fundo, fechou os olhos por um momento e quando voltou a abri-los, uma aura de calmaria se fez presente. Era um daqueles momentos onde Nico sabia que não iria ganhar, não importava o que ele fizesse. Então, deixou que Percy o guiasse até a banheira e o ensaboasse devagar e sem pressa.

— Você não vê o problema nisso? Mesmo? — Percy perguntou distraído, suas mãos deslizando para baixo, entre as pernas de Nico.

— As coisas sempre foram assim.

— É por isso que eu não fui atrás de você.

— Acho que não entendo.

— Descobri que eu… não consigo me controlar perto de você. Eu fiz você agir desse jeito. Te coloquei nessa caixinha perfeita e inquebrável. Ninguém devia viver assim, conforme os desejos de outra pessoa.

— Não é verdade, eu sempre fui assim.

— Será que foi mesmo? Precisou que você fosse para longe e de dois anos para dizer todas essas coisas para mim. Se você não se sentia confortável em me dizer o que você sentia antes, o que isso quer dizer?

Nico voltou a encarar Percy que tinha um olhar distante e percebeu que isso incomodava Percy mais do que ele pensava.

— Eu não gosto de brigar. Prefiro que as coisas fiquem assim.

— Assim, como?

— Sem conflito e sem drama. Não quero ter que pensar em cada passo do caminho. Eu só quero ficar com você e… te satisfazer. Não é o suficiente?

— Eu não posso fazer isso. — Então, Percy segurou em seu rosto e deslizou os dedos para sua nuca, a massageando devagar e o fazendo relaxar ainda mais. — Como posso ter certeza que não estou te machucando ou te impedindo de fazer outras coisas?

— Essa é a questão, não é? Você se sente culpado de quer as mesmas coisas que eu.

— Nico, não me torture.

— Eu não estou. —  Quer dizer, ele achava que não estava. — Quando eu não quiser mais… essa coisa que a gente tem, você vai saber.

— Como?

— Eu vou querer fugir. Não como aconteceu hoje. Com vontade, como se minha vida dependesse disso.

— Nico!

— Sabe, quando as pessoas tentam se aproximar de mim eu costumo me sentir sufocado. Mas quando é com você eu só me sinto livre e seguro, mesmo que eu sinta medo.

Nico achava que estava enlouquecendo, parecendo um lunático a beira do precipício. Mas era a pura verdade, o que ele buscou em todas aquelas faces, não foi a beleza ou os olhos verdes profundos, não, sempre foi aquele sentimento de segurança e estabilidade, o conforto que os braços de Percy sempre lhe deram. Pois essas coisas eram difíceis de emular; se somente ele pudesse ter encontrado isso em outro lugar, Nico não se sentiria tão controlado e condicionado a fazer aquelas coisas que Percy tanto criticava, mesmo que Percy nunca tivesse pedido por elas. No fim, ele entendia o que Percy estava tentando implicar; as coisas só ficariam piores dali para a frente e eles provavelmente continuariam nesse jogo de gato e rato por um longo tempo até que ele se rendesse. O que Nico podia fazer se Percy era o único que o fazia se sentir assim, tão livre e preso ao mesmo tempo?

— Nico. — Agora a voz de Percy soou toda rouca e firme.

Ops. Ele olhou para baixo e viu que sua mão estava no colo de Percy, em cima da tolha, mas em um lugarzinho bem estratégico.

— Por que você não pode me dizer o que te incomoda?

Nico negou, não estava pronto para dizer o que realmente pensava para Percy. Embora ele soubesse, Percy sentia algo similar ou pior. Nico viu o quanto Percy tentou superá-lo com outras pessoas, antes e depois dele ir para a Itália. Então, no fundo, discutir era inútil. Eles precisavam de um consenso.

— Isso não vai levar a nada. Eu sugiro uma trégua. — Nico disse ao invés de se explicar.

— Trégua? Isso não é uma guerra.

— Então, por que tudo o que a gente faz é brigar e transar? Eu prefiro muito mais só transar.

Isso colocou um sorrisinho no canto dos lábios de Percy.

— O que você sugere?

— Eu vou… confiar em você e fazer tudo o que você me pedir se você parar de me questionar.

Agora, Percy só parecia triste.

— Não quero que você se sinta mal e acuado. Eu só me preocupo. Eu quero que você seja a sua melhor versão possível.

— E se eu só quiser ser o Nico que quer ficar com o Percy e não ter que discutir?

— Tudo bem. A gente pode fazer do seu jeito. Você tem que me prometer que se não estiver funcionando, você vai me contar.

— Eu prometo.

Tudo o que Nico podia fazer era esperar pelo melhor e tentar manter sua parte do acordo.

***

Quando eles acordaram de novo, o sol estava alto no céu, a manhã já dando lugar para a tarde numa temperatura mais amena. Eles ainda estavam na cama, sua cabeça no ombro de Percy e os braços de Percy em volta de sua cintura. Finalmente o silêncio durava mais do que cinco minutos. Eles não precisavam fazer nada ou estar em nenhum outro lugar que não fosse ali, onde eles tinham decido estar.

— Com fome? — Nico escutou Percy dizer bem baixinho, com a voz rouca de sono.

— Não.

— Nenhum pouquinho? Daqui a pouco Sally vai vir aqui, para ver se a gente ainda está vivo.

Isso seria engraçado. Nico até podia imaginar, Sally abrindo a porta e os pegando na cama assim, pelados e abraçados. Seria ótimo mesmo.

Com esse pensamento o assombrando, Nico se desgrudou de Percy e se sentou na cama, se sentindo levemente zonzo, porém contente, e se espreguiçou até cair para trás, fechando os olhos. Talvez ele de fato precisasse comer alguma coisa. Quando tinha sido a última vez? Ele se quer tinha comido algo na festa ou tinha apenas bebido?

— Cansado?

Nico suspirou e se deu por vencido, sabendo que sua paz estava prestes a acabar. Ele ficou de lado na cama e encarou Percy que não parecia nenhum pouco contente.

— Não muito.

— Sabe, acho que a gente devia criar um sistema.

— Eu acho que--

— Cada vez que você mentir para mim você será castigado.

— Você disse que não iria duvidar de mim!

— Não é uma dúvida quando eu sei a verdade, quando eu te vejo mentindo para mim.

— O que você quer que eu faça!

— Diga a verdade ou não diga nada.

— Oh.

— Você vai passar o resto da vida calado para me agradar?

Essa era uma boa pergunta. Era difícil voltar para a escuridão quando se via tanta luz.

— Isso não tem graça. — Ele murmurou, sentindo algo dentro do peito se alastrar.

— Não tem mesmo. Imagina o que eu sinto vendo vejo você se rebaixar, sendo menos do que você poderia ser.

— Eu não faço isso sempre.

— Não?

— Só com você.

Então, Nico observou Percy estender o braço e tocar em seu rosto numa leve carícia.

— Eu odeio o que eu fiz com você, o que seu pai fez.

— Você não fez nada. — Já o pai, era outra conversa.

— Eu te moldei nessa pessoa perfeita que tem medo de ofender qualquer um.

— Isso não é verdade! Eu…

— Quero que você grite se você quiser. Quero que você me bata, que me xingue se tiver vontade. Que se revolte. Que exija. Eu nunca mais quero te ver tão magoado.

Talvez Percy tenha razão. Mas ele tinha mesmo que fazer essas coisas? Não era algo que ele se via fazendo.

— Não me entenda mal. Você não precisa. Mas se você quiser ou um dia fizer essas coisas, está tudo bem e é completamente normal.

— Normal? Como fazer essas coisas pode ser normal?

— Deuses. — Percy o abraçou com mais força e encostou a cabeça em seu ombro. — Você não tem que ser perfeito. Você entende isso?

Mas se ele não for perfeito, ninguém vai gostar dele. Como Nico não poderia ser o que ele já era?

— Está tudo bem. — Percy disse, mas Nico tinha a impressão que Percy falava isso para si mesmo.

No fim, Nico preferiu ficar calado. O que ele tinha a dizer não faria diferença nenhuma, e talvez Percy tenha razão. Se ele não tinha nada de bom para dizer era melhor ficar calado.

***

— Deuses, o que Percy fez com você?!

Assim que desceram as escadas, Sally os recebeu com um sorriso amoroso e abraços apertados. Isso é, foi o que aconteceu até Sally ver o hematoma no pescoço de Nico; hematoma esse que era, na verdade, um chupão bem colocado.

— Mãe, você está exagerando.

Nico, coitadinho, olhou entre eles, tentando entender o que acontecia. E Percy como um bom samaritano, o ajudou a entender. Como quem não quer nada, Percy levou a mão até o pescoço de Nico e Nico gemeu. Agora se era de dor, surpresa ou prazer, era difícil distinguir. Fosse o que fosse, aquilo fez seu coração disparar e outra coisa acordar.

— Oh. — Nico então disse, levando a mão ao próprio pescoço. — Eu não percebi. Está muito feio?

— Eu não diria feio.

Percy ouviu risadas atrás dele, mas preferiu se concentrar em Nico que fazia um biquinho fofo e pegava o celular do bolso, se olhando no reflexo da tela.

— Percy! O que você estava tentando fazer? Arrancar um pedaço?

— Você não foi o único. — Percy abriu os dois primeiros botões de sua camisa e mostrou seu conjunto de marcas, unhas pequenas e o formato de dentes que desciam até desaparecer dentro de sua camisa.

— Eu… eu não fiz isso! Fiz?

— E muito mais.

Percy não se aguentou, ele riu e puxou Nico para um abraço, beijando seu rosto. Mas tudo parecia estar bem, porque assim que Percy o abraçou, Nico derreteu contra seu ombro, o abraçando de volta.

— Esta tudo bem. Você pode me morder o quanto quiser, eu gosto. — E pelo jeito que as coisas iam, Nico gostava também.

Percy ouviu um pigarro e se virou para ver Sally, nenhum pouco feliz com a demonstração de… afeto.

— Percy Jackson! Não é assim que se trata as pessoas.

— Foi algo mútuo. E se você quer saber, Nico que começou. Pode perguntar para Annabeth, ela foi a primeira a ver. Ta vendo aqui? Foi o primeiro. — E bem perto de sua nuca, onde o cabelo começava a crescer longo, estava uma marca que começava a sumir.

Nico escondeu o rosto em seu ombro e Sally cruzou os braços. E antes que outra onda de reclamações chegassem, Percy se apressou:

— Permissão para chupões? — Nico acenou que sim, muito encabulado para enfrentar a sala cheia de testemunhas, o que não impediu os xingamentos e protestos.

— É o suficiente. — Sally levantou uma de suas mãos, as levando ao rosto, e se virou para Nico, o fazendo levantar o rosto. — Está tudo bem, querido? Como estava a festa? Melhor que nos velhos tempos, não?

Imediatamente, Percy viu que tinha algo errado. De repente, Nico abriu a boca, prestes a falar alguma coisa e então, a fechou, se encolhendo contra seus braços. O pior foi ver Nico levantando a cabeça e olhando para ele, como se esperasse a permissão de Percy para alguma coisa, mantendo os lábios selados com força. Ele ouviu outro pigarro e percebeu que todos estavam esperando que Nico respondesse. Grover, Tyson e Sally, todos estranhando o comportamento de Nico.

Restou a Percy sorrir e guiar Nico para a sala de estar e sentar com ele no sofá.

— O que está acontecendo, hm?

Mas tudo o que Nico fez foi negar e olhar para o próprio colo, se recusando a encará-lo.

— Por favor.

Isso fez Nico olhar entre os cílios para ele e respirar fundo: — Eu pensei sobre o que você disse ontem a noite.

— Sobre não mentir?

— Sobre ficar calado.

Algo no peito de Percy se apertou naquele instante, e torcendo para que não fosse o que ele pensava, perguntou: — Por que você ficaria calado?

— Você disse que se fosse para eu mentir, eu devia ficar calado, e já que eu não tenho nada de importante para dizer, vou fazer o que você pediu.

Percy achava que tinha parado de respirar. Ele não estava falando sério! Quem é que iria seguir uma ordem tão ridícula. Ele só queria fazer Nico responder de qualquer forma que não fosse aceitar tudo sem protestar, queria fazê-lo reagir e ver o que estava acontecendo. E ao contrário disso, Nico decide seguir a risca da pior forma possível?

— Bebê, por favor. Eu estava errado. Eu só queira que você reagisse.

— Reagisse, como?

— Como você quiser. — Percy então sorriu, tentando incentivar Nico. — Vamos, pode gritar comigo. Pode me xingar. Eu fiz algo muito ruim. Eu mereço uma punição.

— Punição? — Nico entortou a cabeça, feito um cachorrinho confuso e se aproximou. Ele o beijou nos lábios, num selinho doce e suave e tocou em seus cabelos, sorrindo angelicalmente. — Pronto. Sua punição.

Percy queria chorar. Por que tudo o que ele falava parecia sair ao inverso? Ou talvez fosse Nico fazendo o melhor que podia.

— Você está me punindo ou me consolando?

— Se eu escolho a punição, você tem que aceitar.

Percy se deixou levar e abraçou Nico bem apertado, o ouvindo suspirar de prazer.

— Eu não te mereço. Eu só queria que você se sentisse livre para se expressar. Te fizeram ficar calado por tanto tempo que tenho medo que agora aconteça o mesmo.

— Eu sei. — Nico murmurou baixinho, parecendo contente.

— O que você tem a dizer é importante, sempre será.

— Pensei que se eu ficasse calado não precisaria medir minhas palavras.

— Não me faça chorar.

— Você é um bobo. — Nico enfim diz, parecendo a única coisa sincera no meio daquilo tudo. — Eu tomei essa decisão. Eu tive toda a liberdade do mundo, mas no fim do dia, ainda sentia falta de você e de como as coisas eram.

Porque no fim, a vida se tratava de decisões e consequências. Ele continuou abraçado a Percy e entendeu, Percy estava tão perdido quando ele nessa confusão toda, entendeu que era um período de adaptação e logo tudo voltaria ao normal. Agora, o que esse normal era, ambos não faziam ideia, já que eles nunca tiveram uma amizade comum.

— Eu sinto muito. — Nico disse mais uma vez. — Acho que é um período de adaptação. Vou tentar não levar a sério tudo o que você disser.

— Eu fico muito contente com isso. — A verdade é que Percy estava aliviado, dando graças a todos os deuses e divindades por encontrar alguém tão compreensivo, embora ele gostaria que Nico fosse mais combativo.

Não o intendam mal, Nico era uma das pessoas mais independentes e responsáveis que ele já tinha conhecido, mas o que Nico tinha de independente, também tinha de dependência emocional. E às vezes essa dependência emocional era pesada demais para que ele pudesse carregar sozinho, embora ele estivesse disposto a carregá-la pelo resto da vida se isso garantisse a permanência de Nico em sua vida.

— Então, a gente tá bem? — Nico perguntou, levantando a cabeça e o espiando timidamente.

— É claro, bebê. Contanto que você esteja.

Nico pareceu imediatamente tranquilizado. E se era isso o que Nico queria, Percy faria seu melhor para resolver as coisas. Obviamente pedir não tinha resolvido, tão pouco conversar ou pressionar. O jeito seria fazer as coisas do jeito tradicional. Não que ele soubesse estar fazendo algo no passado, mas se funcionou antes, vai funcionar agora.

Sorrindo, como se nada tivesse acontecido, ele guiou Nico de volta para a cozinha e se sentou ao lado de Nico em frente a mesa, descobrindo tarde demais que todos ouviram sua conversa com Nico. O que ele podia fazer? O bem-estar de Nico era mais importante do que os olhares de reprovação. Ele sabia que logo veria a repreensão, e se errar um pouco fosse necessário para consertar o que ele havia feito, que fosse! Percy nunca se arrependeria de colocar Nico em primeiro lugar.

— Panquecas ou ovos?

— Panquecas. — Nico respondeu para ele. Então, panquecas seriam. Não era uma novidade. As comidas favoritas de Nico eram doces, e as salgadas tinham um sentimento nostálgico, do tempo em que a mãe de Nico ainda estava viva. Então, ao lado das panquecas e da cobertura de chocolate, Percy colocou um croissant de queijo junto com um copo de suco e uma xícara de café.

Era incrível mesmo. Até parecia que nada de ruim tinha acontecido há menos de dez minutos atrás. Nico deu o primeiro cole em sua xícara de café e sorriu como se fosse o dia mais feliz de sua vida, mergulhando em suas panquecas açucaradas. E assim, como num passe de mágica, o ambiente voltou a ser amigável, Nico conversando com Sally animadamente, enquanto ele, Grover e Tyson observavam, temendo pelo próximo banquete que eles seriam obrigados a participar.

— Cara, obrigado por me deixar ficar. Minha mãe está de volta.

— Pode ficar o quanto quiser, o quarto é seu. Por que você não faz uma mala e fica até a formatura? Não falta muito.

— Se um ano inteiro não é muito… — Ambos, ele e Grover, deram de ombros e Grover socou seu ombro amigavelmente, fazendo os dois sorriem. Era uma boa ideia, especialmente quando ele e Nico fossem embora; sua mãe ficaria sozinha e Grover sempre seria uma ótima companhia.

— De verdade! O que você ainda faz naquela casa?

— É! Sempre vai ter espaço para você. — Tyson finalmente se dignou a participar da conversa, geralmente preferindo ficar longe do drama. — Você já trabalha pra gente, o que custa ser parte da família?

— Você chama sorrir para os clientes e levá-los para a mesa certa quando outros não podem, trabalhar?

— É claro que é. Você até usa um terno bonitinho e penteia o cabelo com gel. — Tyson continuou, todo feliz em zombar de Grover, de volta a rotina natural deles.

— Cala a boca! Aquilo nem é um uniforme. Juniper gosta dessas coisas… — As últimas palavras de Grover soaram bem baixas, parecendo estar encabulado.

E bem, quem era Percy para interromper um momento tão doce e feliz.

Ele se virou para sua comida e deu a primeira garfada em seus ovos, macios e com pouco sal, do jeito que ele mais gostava e deu um cole em seu café forte sem açúcar ou leite, percebendo que Nico já tinha terminado de comer e olhava para ele com um sorrisinho no rosto.

— O que foi, hm? Quer mais?

— Não. Eu gosto de te ver feliz e se divertindo com seus amigos. Você não costumava fazer isso.

— É verdade. Eu disse que tinha problemas, não disse?

— Acho que não levei isso a sério. Você sempre parece tão decidido e confiante.

— Isso não quer dizer que eu estivesse certo.

— Hm. — Nico murmurou, pensativo. — Nunca pensei por esse ângulo. Acho que todos tem algo a esconder. Algumas pessoas só escondem melhor.

— É isso mesmo. Quanto mais coisas a esconder, melhores atores somos, não? — Percy não pode se conter, Nico estava sendo tão sincero que ele merecia uma recompensa. Ele puxou Nico pela nuca e o beijou ali mesmo na frente de todos, um beijo daqueles destinados para quatro paredes.

— O que foi isso? — Nico disse assim que recuperou o folego.

— Uma recompensa para um bebê obediente.

Corando dos pés a cabeça, Nico apenas olhou para ele, fazendo um biquinho lindo, mas sem reclamar. O que ele podia fazer? Se era desse jeito que Nico entendia, então era como seria dali para frente.


 

Capítulo XXV

Nico admitia que ter conversado com Percy tinha tornado as coisas mais fáceis. Sinceramente? Ele não se importava, pensava que não mudaria muito se ele dissesse o que pensava ou não. Nico estava enganado, é claro, embora somente tenha feito tudo aquilo porque via como esses segredos incomodavam Percy. Não eram segredos exatamente, eram… algumas coisas pequenas que o faziam sentir vergonha ou que ele pensava não serem importantes. No fim, Percy estava certo. Era o melhor sentimento do mundo, saber que Percy se importava tanto com o que ele pensava e sentia, a ponto de insistir tanto e o forçar a ver que ele era importante, mesmo que fosse para uma única pessoa; ele não era mais invisível e o que ele pensava era valido.

Quer dizer, Nico sabia o que tinha acontecido com ele. Tinha plena consciência que seu pai tinha o abandonado muito antes de sua mãe morrer, mas deixar uma criança sozinha sob os cuidados da irmã mais velha que mal podia cuidar de si mesma? Ele nunca culparia Bianca e muito menos Percy que tinha o recebido de braços abertos quando o garoto não tinha obrigação nenhuma. Nico nem conseguia imaginar onde estaria hoje se não fosse por Percy que mesmo um pouquinho rebelde e controlador, era gentil e preocupado, muito mais afetuoso do que a imagem que Percy passava para o resto do mundo. O menino marrento e um tanto violento que escondia dentro do peito a vontade de amar e ser amado, não pelo o que ele tinha e sim pelo o que ele era. E disso, Nico entendia perfeitamente bem. Quando as pessoas a seu redor descobriram que ele era rico, o estrago já estava feito; algumas pessoas passaram a evitá-lo e outras a bajulá-lo, mas não Percy, Percy sempre a foi mesma pessoa protetora e afetuosa, sempre lhe oferecendo um sorriso e disposto a compartilhar tudo o que tivesse com Nico; sua casa, seu dinheiro e até sua família.

Era por isso que naquele momento, quando Percy disse que sua opinião importava, ele acreditou. E quando Percy pediu para ele ser sincero, Nico fez o máximo que pôde. Sabia que podia ter inventado alguma coisa ou fingido que nada estava acontecendo, vendo que Percy estava quase desistindo e se dando por vencido, por que nisso? Eles eram iguais; era melhor ter algo quebrado do que não ter, certo? Nico não tinha mais certeza, tudo o que sabia era que ele estava exatamente onde deveria estar, no lado de fora da casa deitado numa espreguiçadeira com um livro na mão, vendo a família Jackson se divertir. Percy nadava, Sally grelhava legumes e carnes na churrasqueira elétrica e Grover e Tyson estavam sentados na grama, fazendo o que eles faziam de melhor, organizavam os próximos eventos do restaurante e decidiam o design do cardápio para o próximo mês. Nico até podia respirar mais facilmente, sentindo o sol do meio da tarde atingir seu rosto, o fazendo fechar os olhos por um momento. Momento esse que parecia ter se estendido mais do que ele pensava, sendo acordado por uma voz suave e mãos carinhosas que tocavam em seus cabelos.

— Nico, a comida está pronta. Você não devia ficar tanto tempo no sol. — Era Sally, que sorria para ele e o ajudava a levantar da cadeira.

Nico piscou devagar e ainda com a visão embaçada, deixou que Sally o guiasse para as mesas perto da churrasqueira que estavam debaixo de enormes guarda-sóis, servindo de tendas improvisadas já que eles raramente usavam a parte externa da casa. Ou era o que Percy tinha lhe contado.

— Que cheiro bom! — Ele ouviu alguém dizer de longe.

Nico se sentia no paraíso.

Ainda meio sonolento, observou Percy dar mais uma volta na piscina e ir até a borda, se impulsionando para fora dela e vindo em direção a eles, desfilando, como se não tivesse nenhuma preocupação no mundo, jogando os cabelos molhados para trás e vestindo uma sunga, molhando o chão por onde passasse. Era quase como se a água se apegasse a seu corpo e não quisesse abandoná-lo. Nico nem se irritou quando Percy se inclinou sobre ele e o beijou, o molhando no processo, ao se sentar a seu lado.

— Boa leitura?

Era uma pergunta interessante, ele não lembrava de sequer uma palavra, muito menos se tinha lido qualquer página. E ao invés de questionar sua falta de resposta, Percy meramente sorriu para ele e beijou seu rosto. Parece que a trégua deles ainda estava de pé.

— Que tal a gente comer e descansar depois?

Nico acenou, é claro, de repente se sentindo exausto. Percy colocou um pedaço de filé bem-passado, batatas e uma salada para ele e fez outro prato para si mesmo. Eles comeram em silêncio e Nico mal notou quando sol foi se amenizando e se escondendo no horizonte. Ele também mal notou o momento que tinha subido para o quarto com Percy e entrado debaixo dos cobertores, a única luz que iluminava o ambiente sendo os raios fracos que ultrapassava a persiana.

— Durma. Vou estar aqui quando você acordar.

Nico fez seu máximo para manter os olhos abertos. Mas Percy ainda estava do seu lado, vestindo apenas uma sunga, acariciando seus cabelos e o ninando feito o bebê que Percy insistia que ele era. Talvez ele fosse, e talvez Percy gostasse disso. As coisas eram o que eram, e lutar contra a natureza fosse uma batalha fadada ao fracasso. Assim, ele se deixou ninar e relaxou contra os travesseiros. Talvez quando ele acordasse não se sentiria tão estranho e cansado.

***

Percy esperou até que a respiração de Nico se tornasse profunda e se levantou, e sem fazer barulho, desceu as escadas, indo para onde sua mãe ainda estava sentada debaixo de um guarda-sol.

— Ele está dormindo?

— Sim. Acho que eu o cansei.

— Percy, nós já conversamos sobre isso.

— Eu sei disso, tá bom! É que… Nico está tão desinteressado sobre tudo.

— Querido, eu entendo. Mas se você quer que Nico fique aqui, você tem que seguir nossas regras.

— Você não entende! Ele está começando a ficar quieto de novo. Nico quase não come e não quer falar sobre nada. O que você quer que eu faça se sexo é a única coisa que prende a atenção dele?

— Você já pensou que Nico esteja se sentindo confortável o suficiente para ser ele mesmo?

— Mas ele está tão calmo! Nada parece o afetar.

— Querido. — Agora Sally estava rindo dele, e nem escondia seu divertimento. — O problema aqui talvez seja outro.

— O quê?

— Sua mania de controle? Se você não entende, você tenta controlar.

— Eu não entendo mesmo.

— Pense assim, Nico estava sozinho, então ele tinha que agir de certo modo para não continuar sozinho, certo? Ele ainda está sozinho?

— Você quer me dizer que ele é quieto e calado porque quer? Por que se sente bem assim?

— Percy! Nico faz parte da família, mas ele não é sua responsabilidade.

— É claro que ele é. Se o pai dele nunca se importou e a irmã se importa quando é conveniente, alguém tem que se importar!

— Percy.

— Sei que não é minha responsabilidade, eu não vejo assim. Eu só me preocupo. E se da próxima vez que ele fugir, Nico se machucar? O que vai acontecer quando ninguém puder ajudá-lo?

— Ainda assim não será sua culpa. Como também não é culpa dele se Nico se sentir acuado e querer se proteger. Você tem que aceitar isso.

— Eu odeio que você tenha feito psicologia.

— De que outra forma eu poderia entender o que passa na cabeça do meu filho?

— Mã-nhe!

— Estou falando sério, Percy. Pense nisso. Você age igual em todos os lugares e com todas as pessoas? Então não espere que Nico faça o mesmo. Você prefere que ele finja ser algo só para te agradar? Não era esse o problema?

— Eu só… eu tenho medo. Eu estraguei tudo antes, sabe? E se eu fizer a mesma coisa?

— Ainda não será sua culpa.

— Então, é de quem?

— De ninguém. São coisas da vida. Cabe a nós perdoar e seguir em frente. No fim, a vida é sobre escolhas.

— Eu não gosto disso.

— Bem, querido, ninguém gosta. Você tem que entender que no fundo não é sobre você.

— É uma pena. Se fosse, eu já teria resolvido.

— Percy! Você tem que respeitar o que Nico quer.

— Hm. — Era um bom lugar para começar. — Tudo bem, eu vou fazer o que você quer. Mas eu não posso prometer nada.

— Perseu Jackson!

Sally deu um tapa em seu braço e tudo o que ele fez foi rir. Sally não era do tipo de pessoa que punia através da dor, não, e sim tirando o que você mais gostava. Por isso, Percy sabia que a mãe não falava sério e ela nunca o puniria de forma tão cruel. No fim, ela o abraçou e disse a ele: — Se comporte que no fim tudo vai dar certo. Tenha paciência.

***

— Se comporte que no fim tudo vai dar certo. Tenha paciência.

Nico não queria estar espiando, ele jurava que não queria. Percy tinha dito que estaria do seu lado quando acordasse, e quando Percy não estava lá, a única coisa em sua mente foi ir em busca do mentiroso. Estava tudo bem, ele perdoava Percy já que Percy precisava mais de Sally do que ele precisava de Percy no momento; e pensar que Percy pedia para que ele fosse sincero quando Percy não fazia o mesmo. Porque, sim, ele tinha ouvido tudo. Desde sua “falta de interesse” até “você tem que respeitar o que Nico quer”.

Era engraçado de uma forma quase doentia. O que ele queria? Era difícil decidir. No passado, ele queria um amigo verdadeiro, depois, alguém para segurar sua mão. E quando tudo isso tinha se tornado realidade, as coisas começaram a se complicar; ele queria um namorado e não queria que Percy soubesse o que ele sentia; queria beijos e não queria que Percy descobrisse. Agora? Bem, agora que ele tinha tudo isso, percebia que no fim todos esses desejos se concentravam em uma só uma pessoa, e contanto que ele tivesse isso, estava satisfeito, mesmo que soubesse não ser muito saudável ou correto de um ponto de vista ético, moral e mental. Entretanto, era algo a se pensar… o que adiantava ter o que ele queria quando o preço era ver Percy tão frustrado e ansioso?

Antes que eles pudessem notar sua presença, Nico entrou na casa e subiu as escadas, se deitando na cama onde Percy o havia deixado. Talvez ele pudesse… mostrar mais interesse? Não seria tanto esforço assim, certo? E poderia ser até divertido. Então, colocou a cabeça no travesseiro e não precisou esperar muito. Logo a porta do quarto se abriu e a cama a seu lado se mexeu, braços se encaixaram em sua cintura e um beijo foi colocado atrás de sua orelha, o fazendo arrepiar dos pés ao pescoço.

— Eu te acordei?

— Eu sinto muito. — Nico disse, se virando nos braços de Percy, o encarando de perto. — Eu não sabia que você se importava tanto.

— Você ouviu? — Percy fez uma careta seria e Nico sentiu seu coração se apertar.

Ele envolveu o pescoço de Percy com seus braços e o beijou por longos minutos, fechando os olhos bem forte, sabendo que preferia não olhar para Percy quando começasse a falar.

Ainda com os olhos fechados, encostou sua testa na de Percy e falou:

— Sua mãe está certa. Eu… você pode ter certa influência sobre minha personalidade, mas não é isso exatamente. Eu gosto de ser assim, só quero um pouco de paz e silencio, sabe? Um lugar para pertencer. Eu quero ter alguém que me…

— Alguém?

— Eu quero ter alguém que me possua. Que tenha o controle. Que não me deixe fugir e que saiba o que eu preciso.

— Te possui? Como? Você não é uma propriedade, uma coisa para pessoas comprarem.

— Às vezes, é como eu me sinto. Sou só uma coisa, às vezes eu tenho valor e outras, não.

— Nico.

— Eu prefiro ficar com quem me dá favor e vai me tratar bem. Quero que você seja meu dono e ninguém mais. Você também é meu?

Era por isso que Nico não queria falar nada. Enquanto Percy pensasse que ele tinha um mínimo de normalidade, as coisas ficariam bem. Agora que a caixa de pandora tinha sido aberta, só lhe restava a esperança. Ele conseguia sentir a frustração explodindo para fora de Percy, a culpa, a tensão. Quanto mais tempo eles permaneciam quietos e calados, pior tudo ficava. Nico se obrigou a abrir os olhos e respirar bem fundo, tentando ser corajoso.

O que ele viu o surpreendeu. Percy não parecia nem feliz, nem triste, chocado ou chateado, só… quieto, uma quietude tão intensa que se rivalizava a sua, apenas seu rosto permanecendo sério e tenso.

— O que você está dizendo é algo muito sério. Desde quando você se sente assim?

E se era para ser sincero…

— Acho que sempre foi assim. Desde aquela vez no banheiro. Sei que não é muito comum. E sei que eu não sabia de muita coisa naquela época. A questão é que mesmo com a distância nada mudou. Você pode tentar ser mais… correto e justo, mas no fim, não faz diferença para mim. Só porque você se deu conta que fazia coisas erradas, ainda assim, nada muda o que passamos ou o que vamos passar. A única coisa que mudou foi a distância me mostrar que eu te amo, e que amo cada coisinha em você, boa ou má, bondosa e maldosa. Eu te aceito como você me aceita. Então, não me faça mudar assim como eu não quero que você mude.

Parece que era isso que Percy precisava para descongelar de seu estado catatônico. Percy pegou em sua mão e a beijou, voltando a abraçá-lo fortemente.

— Eu te aceito como você é. Eu não queria que você visse essas partes de mim. Elas não me definem e eu não quero que elas te definam também. Pensei que se eu me esforçasse bastante elas ficariam enterradas e ninguém precisaria notá-las.

— Eu sei. Eu te amo. Eu amo cada uma delas. E quando eu digo todas, são todas.

Percy deu uma risadinha no pé de seu ouvido que o fez arrepiar dos pés a cabeça, sua voz saindo rouca quando Percy o prensou contra a cama e se colocou entre suas pernas.

— Todas mesmo? Sem exceção?

— Nenhuma. Bem, talvez quando você hesita em me tocar. Essa eu não gosto.

Mais uma risada e um roçar de dentes que desceu por sua nuca e pescoço, chegando em seu ombro. Hmmm… isso deixaria uma marca, com toda certeza.

— Vou manter isso em mente. Mais alguma sugestão?

— Você está indo devagar demais. Talvez se você me torturasse menos?

— Isso eu não posso garantir.

— Oh!

O que Nico poderia fazer além de se entregar e gemer? Suas calças foram puxadas para baixo e logo seu membro tomado pela boca de Percy. Não havia nada melhor do que isso.

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