Capítulo XVI
— Bom garoto. — Percy tinha dito, ainda dentro de Nico. Ele
se permitiu curtir o momento, mas quando a sensitividade chegou, foi obrigado a
deslizar para fora de Nico, observando o sêmen escorrer pela pele morena.
Ele ainda estava irritado, levemente incomodado pela forma
que Nico o fez perder o controle. Mas agora vendo Nico estatelado no colchão
como se tivesse corrido uma maratona e ainda com lagrimas descendo de seus
olhos negros, Percy tinha se decidido, nunca mais deixaria que seus sentimentos
interferissem em seu relacionamento com Nico; Percy amava seu pequeno
mentirosinho que preferia esconder o que realmente queria se isso fosse
garantir que as pessoas gostassem dele.
Percy respirou fundo e deixou que suas mãos abandonassem os
cabelos de Nico, se deitando ao lado dele, prestes a sair da cama em busca de
algo para limpar Nico. Isso é, ele teria se levantado se Nico não tivesse
choramingado, segurando em seu braço, seus olhos já se enchendo de lagrimas.
— Aonde você vai? Eu estou perdoado? — Nico piscou
lentamente, parecendo que iria cair no choro se não escutasse o que queria
ouvir.
O que Percy podia dizer? No fim, as lágrimas de crocodilo
sempre funcionavam; o que o fez sorrir, sabendo que isso sempre acalmava seu
doce bebê. Percy se aproximou mais uma vez e o beijou suavemente nos lábios,
acariciando os cabelos de Nico.
— Não há nada a perdoar.
— Per.
— Lindo. — Percy o beijou de novo e de novo até que Nico
voltou a relaxar na cama, ainda de barriga para baixo, seus olhos negros
entreabertos, preguiçosos devido ao sono.
— Não me deixe.
— Nem pra ir no banheiro?
Nico negou, afundando o rosto no travesseiro. Ele pegou na
mão de Percy e a trouxe para o próprio pescoço, no exato lugar onde Percy tinha
o segurado momentos atrás.
Percy entendeu tudo e começou a acariciá-lo ali, devagar e
suavemente, subindo por seus cabelos e descendo pelo pescoço longo, ouvindo
Nico ronronar feito um gatinho manhoso.
— Nós não terminamos de conversar ainda.
— Desculpa. — Nico murmurou, sua voz saindo abafada.
— O que você esconde que te faz hesitar tanto, hm?
— Como você pode me amar depois disso? Como alguém poderia?
— Nico enfim levantou a cabeça e o encarou todo choroso.
— Nico.
— Eu me sinto uma vadia suja que não precisava cobrar por
sexo, mas faz porque gosta.
— Qual o problema em gostar?
— Eu sou uma farsa! Todo mundo acha que eu sou esse… esse
ser puro… e olha pra mim agora! — Nico voltou a enterrar o rosto no travesseiro
e reclamar, mas parecia que suas lágrimas estavam acabando. Ele devia estar
muito relaxado para conseguir ficar irritado.
— Nico! — Percy acabou rindo e Nico choramingou de volta,
indignado. Ele então acariciou as costas desnudas de Nico e Nico se rendeu,
derretendo em suas mãos, se aproximando um pouco mais.
— Isso não é justo! Você nunca me leva a sério. — Nico se
virou de costas para a cama e o encarou fazendo uma careta adorável, e
percebendo seu estado, tentou puxar as cobertas para cima de si, escondendo as
marcas de mordidas e dedos em sua pele. Nico teria conseguido se Percy não o
tivesse parado, o segurando pelo ombro, deslizando suas mãos até elas chegarem
na nuca de Nico, o puxando para perto dele, juntando suas testas.
— Eu te levo a sério, juro que levo. Na verdade, queria
pedir desculpas. Não devia ter te tratado assim.
— Me tratado como?
— Você não vê o problema?
— Hm?
— Nico, eu bati em você, te joguei na cama. Fiz algo que
você não queria.
— Eu… — Nico piscou lentamente, e o surpreendeu, não
desviando o olhar do seu. — Eu gostei. Só… não foi uma boa experiência quando
tentaram me amarrar. Eu não me importo de tentar com você. Eu me assustei, você
nunca foi violento comigo. Eu gostei. Gostei
muito.
— Não faz isso comigo. — Percy implorou, tentando impedir
que aquelas ideias se formassem em sua cabeça.
— Eu quero que você me bata de novo. Pode me jogar na cama
quantas vezes quiser. Só me promete que sempre vai me amar. — Nico disse, sua
expressão toda aberta e vulnerável, e infelizmente Percy soube, Nico não estava
mentindo.
— Eu te amo. Sempre. Mesmo quando você me deixa louco.
Nico desviou os olhos dele por um instante e quando voltou a
encará-lo, mordia os lábios, como se não tivesse certeza de algo.
— Eu quero… quero te satisfazer… e se… e se me fazer chorar
ou me fazer gritar é o que te agrada… eu não me importo.
Percy arfou, tentando não demonstrar como seu corpo estava
reagindo com essas palavras, mas como resistir quando Nico falava daquela forma
quase inocente e na voz mais doce e afável?
— Eu não quero te fazer chorar.
— Mentiroso. — Nico disse, um sorriso começando a surgir em
suas suaves feições. — Eu não quero que você se reprima por minha causa.
— Você tem que fazer o mesmo.
Nico mordeu os lábios e pareceu pensar sobre o assunto, suas
mãos pequenas vindo parar sobre os ombros de Percy.
— Eu não sei se consigo. Como eu poderia dizer essas coisas?
— Você parece não ter problemas no momento.
— É porque estou… estou flutuando nas endorfinas. Não sei
quanto tempo vai durar.
— O que te faria sentir melhor?
— Eu amo quando você me toca em qualquer lugar.
— Onde?
— No pescoço. Na mão. No pulso. Na… na minha cintura.
— Assim? — Percy deslizou os lábios pelo rosto de Nico e o
beijou no lado do pescoço, aplicando uma leve pressão ali.
— Hmhmm. — Nico suspirou, fechando os olhos. — Eu amo
quando… quando você me diz o que fazer, quando… quando toma o controle.
Percy parou por um momento e deixou o ar sair. Com Nico
sempre era difícil saber, se ele fazia o que queria ou se Nico fazia o que os
outros esperavam dele. Era melhor ir com calma.
— Eu quero que você saiba. Você pode me contar qualquer
coisa. Vou ficar com ciúme, mas nunca vou te julgar.
Nico soltou uma risadinha toda feliz e manhosa, e se virou
em direção a Percy, encostando a cabeça em seu ombro.
— Só se você me contar também.
— É um trato, então.
Ele beijou o rosto de Nico, se levantou e foi até o
banheiro. Quando voltou com uma toalha quente e umedecida, Nico finalmente
estava dormindo, todo encolhido em seu lado da cama e com um doce sorriso nos
lábios.
Extra - Se
conhecendo
Mais uma cena no passado, de quando Percy e Nico se conheceram.
Percy olhou para os
lados, se certificando que ninguém estava o seguindo e saiu da sala de aula vazia.
Esse era o preço para não ver sua mãe chorando pelos cantos e se chamando de
fracasso.
Desde que o
restaurante de sua família tinha se tornado cinco estrelas, a perseguição tinha
começado. Quem nunca tinha falado com ele agora queria ser seu amigo, e seus
melhores amigos começaram a tratá-lo como se ele fosse realeza. Não importava
aonde ele fosse, todos sabiam seu nome, tentando arranjar uma reserva em nome
de outros adultos. Percy tinha aprendido bem rápido a se esgueirar dessas
pessoas que agora eram quase todos que ele conhecia. E sabe o que era pior?
Essas pessoas não estavam interessadas na comida de sua mãe e sim em quem
frequentava o restaurante. Isso era tão injusto! Até para ir no banheiro,
multidões o seguiam sem lhe dar um minuto de paz. Tyson era tão sortudo! Ele já
tinha terminado o colégio e estava a ponto de se formar na faculdade. Restava a
Percy lidar com as fofocas e pessoas interesseiras.
Olhando mais uma vez
para o corredor vazio, Percy guardou o celular no bolso e entrou no banheiro.
Ah, finalmente.
Silêncio. Somente ele e o mictório. Abriu
o ziper de sua calça e… e escutou um gemido. Bem perto dele. Virou o rosto e
ali estavam três garotos em uma rodinha. Viu que um deles abria a própria
calça.
Bem, isso não era da
sua conta.
— Não, por favor. Eu…
eu…
— Você o quê? Vai
contar pra irmãzinha? Pro papai?
— Por favor!
Percy suspirou e
caminhou em direção a eles. Sua mãe não tinha o educado para ver alguém ser
abusado.
Ele parou atrás deles,
em frente ao espelho, e viu o que acontecia. Um garoto com as feições mais
suaves e femininas que ele já tinha visto tentava tampar o rosto e se encolhia
contra a parede, ele era tão pequeno que reagir contra aqueles garotos seria burrice.
O problema é que Percy se distraiu tanto com a beleza do garoto que acabou
perdendo o momento em que um dos garotos segurou no próprio membro e apontou em
direção ao garoto no chão.
— O que vocês estão
fazendo? — Percy enfim disse.
Os garotos se
assustaram e se afastaram num pulo, se cobrindo como puderam.
— A gente… ei, você
não é aquele garoto rico?
Era só o que faltava.
— Eu disse, o que
vocês estão fazendo?
— Não é o que parece.
— Ah, não é? Como você
explica isso?
Os três garotos e
Percy olharam para o garotinho no chão que escondia o rosto e chorava
desoladamente.
— Vocês sabem de uma
coisa? Eu não quero saber. Se eu pegar vocês fazendo isso de novo…
— Você não tem provas!
— Quer pagar pra ver?
Os garotos se
entreolharam e depois de alguns momentos, saíram correndo. Finalmente ele podia
fazer o que precisava e ir embora.
Isso é, se o garotinho
não tivesse levantado o rosto e olhado para ele com aqueles profundos olhos
negros, inchados e brilhantes. Cabelos levemente encaracolados em ondas negras
e os lábios mais bonitos e avermelhados que ele já tinha visto. Admitia que tinha
congelado, apreciando a visão. Percy que nunca tinha se interessado por ninguém em seus onze anos de vida se via encantado.
E mesmo quando o garotinho mordeu os lábios e olhou para ele, ainda estatelado
no chão do banheiro, Percy não conseguia parar de olhar.
— Você não precisava.
— O garotinho murmurou, se encolhendo mais contra a parede perto da pia.
— Eu… era o certo. —
Essa era a verdade, era o certo a se fazer, mas o que não era certo era admirar
o lindo garotinho, principalmente numa situação como aquela. Ele se sentia um
monstro. — Qual seu nome?
— Nico. Niccolas.
Hmm… italiano. Dizem
que é a linguagem do amor.
— Percy Jackson.
— Oh. — Nico disse, o
olhando dos pés à cabeça, suas bochechas altas se esquentando mais. — Você não vai fazer o que aqueles garotos
queriam fazer… vai?
— O que eles queriam
fazer?
Nico olhou para baixo
e Percy acompanhou o olhar.
Oh, de fato, seu zíper
ainda estava aberto, porém agora havia um certo… volume ali.
— Eu não sou como
aqueles garotos.
— Não é? — Nico ainda
parecia em dúvida, embora ele mesmo tivesse um volume nas calças. Um bem menor
e que Percy parecia estar analisando com mais atenção do que deveria.
— Eu não sou. — Ele se
virou, tentando convencer a si próprio e andou até o mictório.
Abaixou a cueca e
tentou se concentrar. Ninguém o avisou que seria difícil se aliviar com uma
ereção no caminho. Respirou fundo, relaxando, e enfim conseguiu. Quando voltou
para a pia, pretendendo lavar a mão viu que o garotinho ainda estava no chão, o
observando se aproximar.
Nico tinha o
observado… ir no banheiro? Já que a área era bem aberta, era impossível não ver o que acontecia.
— Você precisa de
ajuda? — Percy disse enquanto lavava as mãos, encarando ambas suas reflexões no
espelho. Nico parecia assustado e encabulado, enquanto ele próprio estava todo
sério e quase ausente, sem mostrar emoções.
— Não! Quer dizer, eu
estou bem. Obrigado.
— Tudo bem, então.
Percy secou a mão e se
virou em direção à saída. Ele tinha oferecido ajuda, não tinha? A partir dali
não era sua responsabilidade o que acontecia com Nico.
***
Percy nunca tinha
percebido como aquela escola era grande. Duas quadras cobertas e mais duas ao
ar livre, cinquenta salas de aula, dez laboratórios. Piscinas, trilhas de
corrida e até uma floresta com uma plantação variada. Era um bom lugar para
quem estivesse procurando uma educação abrangente, também era um ótimo lugar para
quem estivesse procurando um lugar para se esconder. Felizmente, Percy tinha
encontrado o lugar perfeito: deserto e silencioso, bem em frente a uma das
quadras descobertas. O melhor de tudo era que a visão da arquibancada era bem
limitada, impedindo que as pessoas o achassem com facilidade.
Ele caminhou
calmamente pelos corredores do colégio e chegou a seu lugar favorito, decidido
a fazer algumas cestas na quadra e comer algo rápido antes da próxima aula. Percy pretendia entrar para o time e não queria
que fosse por puro favoritismo. Isso é, ele já ia entrar na quadra quando viu
uma cabeleira negra no lado mais distante da arquibancada. Agora, Percy não
tinha escolha, ele precisava saber quem era, só assim saberia se ainda era um
lugar seguro ou não.
Percy andou a passos
apressados e viu que era o mesmo garotinho da vez passada. Ele tinha o lábio
cortado e o lado direito do rosto arroxeado. Percy teve o impulso de perguntar
quem tinha feito aquilo com ele, mas se lembrou, não era de sua conta. Até porque
Nico parecia estar bem, tirando o rosto machucado, vendo que ele comia um
pequeno banquete. Percy podia ver pelo menos quatro tipos de pratos diferentes,
todos organizados em pequenas marmitinhas, a visão esquentando seu coração por algum motivo. Devia ser a forma
que Nico se encolheu, tentando se esconder dele, mas mesmo assim o encarou,
sorrindo.
Ele observou Nico
levantar uma das marmitas e da forma mais tímida possível, oferecer a ele,
dizendo: — Você quer?
Percy se viu andando o
resto da distância até Nico, abandonando sua mochila e bola de basquete no pé
da arquibancada, e se sentando em frente a Nico.
— Eu trouxe também.
Minha mãe é cozinheira.
— Ah. — Nico murmurou
e deu de ombros, pegando seus talheres. — Eu sempre faço muito. Vê?
Então Nico abriu as
outras duas marmitas e mostrou a ele. Torta de legumes com queijo. Bolinho de
carne. Pão de calabresa. Bolo, também.
— Você faz? E sua mãe?
— Eu não tenho. Ela
morreu.
Foi quando Percy se
deu conta do que fazia. Feito um esquisito, observava Nico comer como se fosse
a coisa mais maravilhosa do mundo enquanto o garoto comia sozinho, tendo que
fazer a própria comida.
— Seu pai? Você deve
ter um, certo?
Nico negou e enfiou
outro pedaço de torta na boca, ignorando todo o resto dos pratos.
— Papai nunca está em
casa.
— Então…?
— Eu aprendi com a
mama antes dela morrer. A comida dela era o máximo! A vovó também cozinha muito
bem. — Mas Nico falava aquilo com tanta felicidade que Percy se sentiu melhor.
— Quem cuida de você?
— Eu tenho uma babá.
Minha irmã, também! Ela é a melhor irmã do mundo. — Nico continuou comendo todo
contente e Percy sentiu algo em seus olhos. O que estava acontecendo? Esse
garoto não podia ser tão ingênuo, certo? Tão... feliz? Quantos anos ele tinha?
Nove? Dez? Devia ser mais novo que ele próprio.
— Você não quer mesmo?
Fiz tudo sozinho!
— Tudo? Você sequer
alcança o fogão?
— Fiz, sim! A babá só
ligou o fogão. Eu tenho uma escada que fica perto da bancada e...
— E?
— Você é muito
malvado. Não quero mais falar com você!
Percy não aguentou,
ele colocou a mão em volta da barriga e gargalhou. Fazia tempo que ele não via
uma coisa tão fofa e engraçada. As bochechas gordinhas de Nico se enchendo
feito um balãozinho, os braços cruzados, os lábios num biquinho ainda mais
fofo.
— Quantos anos você
tem, hein?
— Eu tenho onze! Qual
o problema?
— Você é tão baixinho
e pequeno. Quem está te alimentando?
E de novo, Percy não
aguentou. Rindo da própria piada, se deixou cair de costas na arquibancada,
rindo e rindo até que seu ar sumisse e depois voltasse, um sorriso feliz
permanecendo em seus lábios muito tempo após sua crise passar.
— Você está bem? —
Nico perguntou numa voz pequena e suave, fazendo seu coração derreter.
Percy abriu os olhos
para ver que Nico tinha se aproximado de onde ele estava deitado, sentando
sobre os próprios joelhos, todo preocupado, seus olhos negros arregalados e
bochechas coradas.
— Então... — Percy
disse, tentando parar de sorrir. —
Estamos no mesmo ano. Como eu não te vi por aí?
— Eu te vi. — Nico
disse e abaixou os olhos para o próprio colo. — É difícil não ver quando as
pessoas só falam de você.
— O que eles falam?
— Que você tira as
melhores notas. É o melhor nos esportes. Tem a melhor namorada. Essas coisas.
— Que namorada é essa?
— Acho que... Annabeth Chase? Não sei direito.
Cheguei há poucas semanas.
— É bom saber disso.
— Saber do quê?
— Que eu tenho uma
namorada.
— Você... não sabe? —
Nico entortou a cabeça, feito um cachorrinho confuso e isso arrancou outra
gargalhada dele. Dessa vez, Nico riu junto. Ele parecia estar segurando o riso,
mas quando Percy não parou, Nico se viu sem escapatória, se juntando a ele.
— Você é engraçado. —
Nico lhe disse.
— Você que é.
E feito um garoto da
terceira série, coisa que ambos eram, riram novamente, enquanto ouviam o sinal
tocar. Percy nem tinha percebido que meia hora tinha se passado, o que era mais
tempo do que ele costumava passar com seus velhos amigos nos últimos tempos.
E o que isso dizia
sobre ele, hm?
— A gente tem que ir.
— Ele ouviu Nico dizer.
Eles realmente tinham.
Com pressa, ajudou
Nico a recolher as marmitas e o acompanhou para a próxima aula, descobrindo que
Nico de fato estava na mesma sala que ele. Percy estava tão distraído em tentar
se esconder que não via o que acontecia à sua volta? Bem, esse fato iria mudar
a partir daquele instante.
Capítulo XVII
— Nico.
— Hm.
— É hora de acordar.
Nico resmungou e se aconchegou mais debaixo dos cobertores.
Ele estava tão cansado que sentia que precisaria de uma semana inteira para se
recuperar.
Ele se remexeu de novo, prestes a colocar o cobertor sobre a
cabeça quando sentiu braços fortes rodearem sua cintura. Entretanto, o que o
fez abrir os olhos foi o beijo em seu pescoço, naquele lugarzinho perto da nuca
que agora o fazia reagir mais intensamente do que ele achava que deveria. Era
tudo culpa de Percy, culpa da forma que Percy havia o tocado na noite anterior
e de todas aquelas palavras.
Deuses! O que ele tinha feito? Nico tinha realmente dito
tudo aquilo para Percy? Ele não acreditava nisso! Nico se sentou em um pulo e
olhou ao redor. Ele ainda estava em seu quarto, e Percy? Bem, o idiota ainda
estava a seu lado, encostado contra a cabeceira da cama e com um sorriso tão
satisfeito no rosto que isso o fazia se perguntar: Será que ele tinha dito algo
que não se lembrava na noite anterior?
— Então, você gosta de apanhar?
— Percy!
— Pensei que eu fosse o único que você permitisse te fu--
— Não se atreva! — Nico admitia que estava entrando em
pânico.
— Eu me pergunto onde está o garoto que queria ir devagar,
hmm?
Em outro pulo, Nico se jogou em cima de Percy e tampou a
boca dele com as mãos.
— Retiro tudo o que eu disse. Tudo!
Percy lambeu sua mão e continuou sorrindo para ele até que
Nico se deu por vencido, deixando que Percy falasse:
— É uma pena. A gente podia se divertir tanto…
— Eu… eu não sei. — Nico teve que desviar o olhar, talvez
ele não quisesse retirar nada, por mais humilhante que fosse.
— Bebê. Vem aqui.
Nico foi, é claro.
Percy o segurou pela cintura e o fez se deitar sobre o peito
dele, uma das mãos de Percy indo a seus cabelos imediatamente. Nico não
entendia por que aquele gesto o acalmava tanto ou porque esse sentimento de
ternura o fazia querer contar tudo o que não tinha dito na noite anterior. É
que… Nico se sentia condicionado a nunca mentir para Percy, e ele já havia dito
tanto… Nico queria ter uma máquina do tempo para se certificar que nada daquilo
tivesse acontecido, porque só assim teria certeza de que nada entre eles
mudaria.
— Eu sinto muito.
— Nico.
— Eu não devia ter ido embora. Mas quando você me disse para
conhecer outras pessoas, pensei que… pensei que a gente nunca teria uma chance.
Então, por que ficar esperando por algo que nunca vai acontecer?
— Está tudo bem. É minha culpa.
— Não quero saber de quem é a culpa. Quero que você diga que
me perdoa e que no futuro isso não vai afetar as coisas.
— Eu te perdoo e isso não vai mudar nada.
Nico sabia que Percy falava isso apenas porque ele havia
pedido, mas mesmo assim, o nó em seu estômago pareceu se afrouxar.
— Promete?
— Eu prometo.
Nico se afastou o suficiente para poder olhar no rosto de
Percy e o tocou ali suavemente, acariciando os lados do pescoço de Percy.
— Você sabe que eu te amo, não sabe? De verdade? — Nico se
forçou a dizer, vendo um sorriso pequeno aparecer nos lábios de Percy.
— Por que essas declarações agora?
— Eu percebi… pensei que gostava de você porque você foi o
meu primeiro amigo. Mas quando eu estava na Itália, parecia que algo estava
faltando. Tentei encontrar isso em outras pessoas, sabe?
— O que você estava procurando? — Foi quando Percy tocou em
seus ombros, tentando consolá-lo.
Ahg, ele não conseguia olhar para Percy quando Percy agia de
forma tão gentil.
— Eu não sei! — Era uma mentira, é claro. E Percy sabia
disso. — É difícil expressar o quanto você significa pra mim. Então, quando eu
não te conto as coisas é porque eu não consigo, não porque eu não quero.
— Eu sei disso. Mas eu preciso que você me diga. Preciso que
você me dê permissão. — Então, Percy tocou em sua nuca, puxando sua cabeça para
cima, o fazendo encará-lo. E ainda assim, quando Nico se negou e manteve os
olhos fechados, Percy insistiu: — Lindo. Olhe para mim.
Nico fez, ele fez porque era impossível resistir quando
Percy falava com ele naquele tom firme e ao mesmo tempo tranquilizador.
— Eu entendo. Você não precisa se forçar.
— Eu sinto muito.
— Não, Nico. Não é sua culpa.
— Não quero te preocupar.
Porque essa era a verdade. Ele sempre gostou de passar pela
vida quieto e despercebido, o problema era que Percy o notou e não o largou
desde então. Não importava quanto tempo passasse, nunca se acostumaria com a
atenção que Percy lhe dava e mesmo depois de uma década, era estranho, era como
se Nico estivesse em um sonho e a qualquer momento iria acordar, percebendo que
Percy tinha sido sua imaginação lhe pregando peças.
— Isso não vai se repetir.
— O quê? — Nico perguntou, sem entender.
— Não vou te obrigar. Apenas… me diga se você precisar.
Qualquer coisa.
— Qualquer coisa?
— É claro.
— Então diz que me ama.
— Eu te amo.
— De novo.
— Eu te amo.
— De novo.
— Nico. — Percy sorriu e o beijou, o interrompendo. — O que
está acontecendo? É sobre a noite passada?
— Não é nada.
— Prometo que não vou
fazer aquilo de novo.
— Aquilo…?
— Eu não vou ser… tão intenso ou… você sabe.
Por que ele sentia que seu rosto estava esquentando? E já
que esse era o caso…
— Por que não?
Esse era o momento que Nico mais temia. Percy ficou em
silêncio e o encarou por longos segundos, sem lhe dar escolha se não o encarar
de volta. Ele temia tanto esses silêncios porque esse era o momento em que Nico
não conseguia mentir, e se ele não pudesse falar, não teria como desviar a
atenção para longe da verdade.
Sim, essa era a realidade, não importava o quanto ele
tentasse dissimular, Percy sempre saberia de tudo no final.
— Tudo isso é por vergonha? A humilhação é demais para você?
Ou é porque você gosta da sensação?
Nico não sabia como Percy conseguia falar tudo isso de forma
tão séria e compenetrada. Bem, Percy estava mais certo do que imaginava.
Entretanto, quando Nico ficava nervoso esses sentimentos saíam apenas de duas
formas, lágrimas de ansiedade ou de risada. Então, imagina a cena onde ele
começou a rir do nada enquanto Percy continuava sério e todo austero.
— Você acha que eu sou uma piada? — Percy disse e estufou o
peito, fingindo estar ofendido.
— Eu nunca acharia isso.
— Eu te amo. — Então, Percy o abraçou forte e acariciou suas
costas. — Não importa o que seja essa coisa entre a gente, vamos superar
juntos.
Era o que Nico esperava.
***
— Você está pronto? Não contei
que a gente vinha. — Percy pegou em sua mão e o puxou para fora do carro.
Nico nem podia acreditar que estava de volta na casa onde
suas melhores memórias foram feitas. Essa era a casa de sua infância, o lugar
que ele tinha descoberto que o amor e carinho ainda eram possíveis depois que
sua mãe morreu. Era o lugar que Nico tinha descoberto que o amor podia vir em
diversos tamanhos e formas e ser expressado de jeitos simples ou complicados.
— Talvez a gente devesse voltar depois?
— Ela vai adorar te ver.
— Você tem certeza?
— Nico, essa é sua casa também. Sempre vai ser.
Nico teve que respirar fundo, parando em frente a porta de
entrada. Ele se sentia tão culpado! Percy não foi a única pessoa que ele tinha
deixado para trás. Sally também tinha sido uma delas. Sua segunda mãe, a pessoa
que ele podia contar tudo depois de Percy, sempre oferecendo um abraço apertado
e uma cozinha aberta a ele.
— Percy, eu--
— Shhh. — Percy apertou sua mão, sorriu para ele e enfim
empurrou a porta da casa, o guiando para dentro. — Mãe! Chegamos!
Não demorou muito e logo ambos puderam ouvir o som de saltos
pelo chão de granito branco, e aparecendo de uma das portas que Nico sabia dar
na cozinha, Sally veio quase correndo e com tanta energia que por um momento
Nico se viu no passado, na primeira vez que ele tinha entrado por aquela mesma
porta, vendo a decoração simples, porém, elegante. Sofás cor creme, paredes num
azul quase branco, puffs e cobertores espalhados pelo cômodo e uma grande
televisão. O cheiro era o mesmo, a mesma fragrância de comida recém-feita,
açucarada e agridoce, o fazendo sorrir imediatamente.
— Nico, meu filho. — Foi tudo o que ouviu antes do ataque de
Sally vir, braços magros e fortes o rodearam e cabelos longos e castanhos
escuros caíram sobre ele, o perfume de Sally ainda era o mesmo.
— Deuses, olha como você cresceu! E essas bochechas, hm? Tão
bonito.
— Mãe!
— Percy, olhe para ele. Vocês já se resolveram? Espero que
sim! Você sumiu por três dias! É o mínimo que eu espero.
— Sally. — Nico finalmente disse, sorrindo, e se inclinou em
direção a ela, recebendo mais um abraço de Sally com prazer.
— Não acredito que vou ter meu assistente de volta! Nosso
cardápio sofreu muito com sua partida. Que tal discutirmos isso amanhã? Você
vai ficar hoje conosco? Que pergunta! É claro que você vai.
Sally segurou em sua mão, o puxando em direção a cozinha e
Nico olhou para trás, vendo Percy dar de ombros. Ele sabia que agora demoraria
para Sally se cansar dele. E como diz o ditado, “tal mãe, tal filho”, ou algo
assim. E como não adiantava lutar contra nenhum dos Jackson, Nico se deixou ser
levado por Sally, não que ele se importasse; era sempre divertido passar
algumas horas na companhia de Sally Jackson, comida gostosa, conversa
descontraída e um ombro amigo para desabafar.
***
Fazia tempo que Percy não andava pelas ruas do bairro. Elas
não eram o que costumavam ser, pois de quietas e humildes, se tornaram cheias
de prédios altos e carros barulhentos devido à linha de metrô localizada há
poucos quarteirões de sua casa. O bom nisso tudo é que agora praticamente em
cada esquina tinha uma loja ou mercado, ou até um shopping center. Exatamente o
que ele estava procurando. Andando despreocupado, foi diretamente a uma loja de
papelaria e logo encontrou o que procurava, um diário de couro escuro e de
aparência delicada e bonita, exatamente como Nico. Ele pagou, deu uma volta
pelo shopping e se viu parando em frente a uma relojoaria familiar, se
lembrando de ter entrado naquele lugar anos atrás e comprado algo especial, mas
nunca ter prosseguido com seu plano. Agora, algumas horas depois, voltava para
casa. Imagina sua surpresa ao ver os ajudantes de sua mãe entrarem com sacolas
atrás de sacolas com comida e panelas. Percy nem se surpreendia mais. Na
verdade, era uma visão familiar, mas que ele não presenciava desde que Nico
tinha ido embora, a casa cheia e o aroma de doces e salgados permeando o ar.
Bem, parecia que seu presente teria que esperar.
Sem ser visto, foi até seu quarto, deixou a sacola em cima
da cama e abriu a primeira gaveta da cômoda, encontrando os anéis que tinha
comprado três anos atras. Será que esse era o momento que vinha esperando?
Afinal, eles já tinham deixado claro que se amavam, então, por que não dar o
próximo passo? Tinha aprendido que o melhor a fazer era nunca assumir nada, e
se ele não se expressasse, como Nico poderia saber? Percy mal podia esperar
para ver a reação de Nico.
Assim, trocando os anéis pelo diário, pegou a caixinha com
as alianças e colocou o diário dentro da gaveta, se sentindo confiante. Saiu do
quarto e foi em direção a cozinha, quase trombando com uma garota que usava um
avental do restaurante de sua mãe. Ela pediu desculpa e continuou apressada
para fora da casa, sem a bajulação usual. Ele esperava que essa durasse mais do
que as outras. O caso não era sua mãe ser uma chefe ruim, o problema é que a
maioria das pessoas não tinha o mesmo entusiasmo que ela ou Nico tinham quando
se tratava de culinária.
Percy enfim entrou na cozinha e se deparou com um banquete
completo. Ele viu carnes assadas, fritas, cozidas, grãos e massas de vários
tipos, sem contar os doces e comidas salgadas nem tão saudáveis.
— A gente vai ter um jantar de gala ou o quê? — Ele teve que
perguntar assim que entrou na cozinha. Era até engraçado. Sally e Nico estavam
ali, além de vários ajudantes, cobertos de farinha e outras coisas que Percy
não conseguia identificar, todos vestindo aventais idênticos e andando de um
lado para o outro de uma forma tão organizada que pareciam formigas operárias.
— Você tem razão, querido! — Sua mãe exclamou. Ela limpou a
mão em uma toalha, tão energética como ele não via há muito tempo, ou pelo
menos não nesse nível de “criança que comeu muito açúcar” e o abraçou apertado
para logo em seguida, voltar a andar pela cozinha checando o forno e vendo se
tudo estava em ordem. — Chame seus amigos! Chame os amigos dos seus amigos.
Não, melhor, também chame os pais dos seus amigos.
Percy não tinha certeza sobre isso. Será que ele sequer
ainda tinha tantos amigos assim? Percy deu de ombros, prestes a fazer o que a
mãe tinha pedido quando Nico apareceu em sua frente, tentando encontrar um
lugar para colocar uma espécie de bolo esbranquiçado na mesa.
— Eu te ajudo.
Percy moveu algumas coisas ao redor e enfim achou um espaço,
pegando a travessa das mãos de Nico e a colocando em cima da bancada.
— Aqui está meu bebê. Onde você se meteu?
— Eu não sou seu bebê.
— Não é?
Será que agora era um bom momento? Não importava como Nico
estivesse vestido, com o uniforme da escola ou com suas calças justas, e mesmo
agora com farinha dos pés a cabeça. Nico sempre seria a coisa mais bonita e
fofa que Percy jamais encontraria, principalmente quanto tentava não se
constranger pela demonstração de afeto em público.
Percy colocou a mão no bolso, tocando na caixinha e observou
por mais um momento, vendo Nico abaixar a cabeça, seus cabelos negros
protegidos por uma redinha de cabelo, permitindo que ele visse o rubor se
espalhar com força na face de Nico, descendo pelo pescoço longo e elegante.
Percy não se reprimiu, segurou na nuca de Nico e o puxou para perto, o beijou
devagar e longamente, e só parou quando ouviu um gemido e o repentino silêncio
que se seguiu; os murmúrios ao redor deles pararam e o barulho de panelas
batendo, também.
— Per. — Nico sussurrou numa voz quase inexistente e segurou
em seu braço, seu rosto agora pegando fogo. Tão tímido e tão doce que Percy
pôde sentir o açúcar na língua de Nico, a doçura em seu toque suave.
Capítulo XVIII
— Per. — Nico sussurrou numa voz quase inexistente e segurou
em seu braço, seu rosto agora pegando fogo. Tão tímido e tão doce que Percy
pôde sentir o açúcar na língua de Nico, a doçura em seu toque suave. Mas quando
ele achava que Nico iria se afastar, como ele de costume faria no passado, Nico
apenas ficou ali, agarrado a seu braço, olhando para ele sem saber o que fazer.
Talvez esse não fosse o momento indicado para declarações.
Se com somente um beijo Nico tinha reagido assim, pego despreparado e todo
ansioso, o que Nico faria se ele se ajoelhasse no meio da cozinha e mostrasse o
anel para ele? Infelizmente quando isso acontecia, Nico não sabia o que fazer.
Nico tinha a tendencia a congelar dos pés à cabeça e se esconder. Era como se ele
não tivesse um script para tal situação e preferisse não fazer nada com medo de
errar.
[1] —
Lindo. Me dá um abraço, hm?
Nico piscou lentamente e mordeu os lábios, parecendo
indeciso. No fim, Nico fez o que Percy pediu. Colocou os braços ao redor da
cintura de Percy, escondeu o rosto e o abraçou forte por longos momentos, escondendo
o rosto contra seu pescoço, Percy o abraçou de volta e acariciou os longos
cabelos de Nico.
— Certo. — Percy levantou a cabeça e ainda abraçando Nico,
olhou ao redor, encarando cada um dos ajudantes de sua mãe, o que teve o efeito
desejado.
Todos começaram a se mover como se fossem um e o ambiente
voltou ao normal. Ele pensou em se desculpar para Nico, mas só o pensamento de
Nico entender que beijá-lo na frente de outras pessoas era errado, embrulhava
seu estômago. Nico era um ser bem perceptivo, e se ele entendesse que estava
fazendo algo errado, nunca mais faria tal coisa, como na vez que eles estavam
conversando com algumas pessoas, Nico riu muito alto e alguém o repreendeu,
depois disso demorou meses para ele ver Nico sorrindo em público.
— O que você fez de gostoso?
— Já comeu bolo japonês? — Nico pareceu aliviado com a
mudança de assunto e largou de sua cintura. Ele pegou na mão de Percy e o levou
até um bolo leve e de textura esponjosa, diferente de tudo o que ele já tinha
comido.
Nico cortou um pedaço e colocou em um prato para ele. Assim
que levou uma garfada na boca, o bolo se desfez em sua língua, algo tão gostoso
que Percy não sabia explicar, então ele apenas gemeu, fechando os olhos de
prazer.
— Tão bom assim?
— Tudo o que meu bebê faz é exemplar.
— Obrigado.
Percy parou de comer e prestou atenção em Nico. De verdade,
ele parou e o observou. Nico parecia feliz e contente em seu avental e roupa
suja de farinha. Ele parecia um pequeno chefe de cozinha, orgulhoso de um
trabalho bem feito.
— Eu vi num restaurante em Verona e quis tentar.
— Lindo.
— Você devia estudar culinária. — Dessa vez quem falou tinha
sido Sally. Ainda em frente ao forno, ela comentou, terminando de bater uma
torta de chocolate, os observando discretamente. Ela se aproximou deles e
colocou um de suas mãos sobre os ombros de Nico. — Você já pensou sobre isso?
***
— Você devia estudar culinária. Já pensou sobre isso?
Nico piscou lentamente, tentando se concentrar em qualquer
coisa que não fosse o jeito que Percy olhava para ele, que quase perdeu o
momento onde Sally se aproximou do canto onde eles estavam.
— Hm?
— Já se decidiu sobre a faculdade?
— Ah. — Nico olhou de canto de olho para Percy, mas se focou
em Sally. — Eu não sei. Hades quer que eu faça administração.
— Por que não algo que você tenha talento? Como música e
culinária? Artes?
— Eu… eu gostaria muito. Não sei se Hades iria permitir.
— Sabe, outro dia desses, esse senhor muito educado trouxe a
família para jantar. Ele disse que o lugar onde ele trabalha tem um curso
excelente de culinária. — Nico olhou bem para Sally, tentando desvendar o que
isso significava. — Por que você não faz uma graduação dupla? Tenho o contato
dele se você estiver interessado.
— E também fica perto de casa. — Percy completou.
Nico parou tudo e se apoiou na quina da bancada, tentando
não criar expectativas.
— Eu não poderia.
— Querido, você não precisa se preocupar com os detalhes. Dê
uma olhada, sim? Eu cuido de tudo.
— Não, Sally. Você não precisa… eu nunca--
— Deixe disso. Dinheiro não é problema, querido. — Então,
Sally sorriu para ele toda radiante e o pegou desprevenido mais uma vez, o
abraçando forte. — Não importa o que você escolha. Vamos te apoiar, sempre.
— Oh. — Foi tudo o que escapou de sua garganta, um som
engasgado e abafado contra o ombro de Sally. Sua visão ficou embaçada e sua
garganta se apertou, mas seu coração batia forte, um calor gostoso aquecendo
seu peito, ao mesmo tempo em que as mãos de Percy o tocaram nos ombros,
abraçando ele e a Sally de uma vez só.
— Mamãe está certa. Vamos te apoiar não importa o que
aconteça, mesmo que eu tenha que ir para a Itália com você.
— Vocês planejaram isso? Me surpreender para não me deixar
pensar sobre o assunto?
— Nico, é claro que não! — Sally exclamou toda energética e
segurou em seus ombros, seus grandes olhos castanhos claros o acertando em
cheio no meio do peito. — Percy fez alguns testes vocacionais e de aptidão ano
passado e desde então estamos procurando as melhores opções. Você também tem
que fazer! Eles são bastante certeiros. Semana que vem parece bom? Ah, nós
temos tanto a fazer!
E assim, como se conversar sobre seu futuro fosse algo
corriqueiro, Sally continuou, voltando a bater a massa com uma espátula em uma
grande travessa de vidro.
— Então, está certo. Faculdade decidida. Teremos um
casamento?
— Ca-casamento?
— É claro! Quanto mais cedo marcarmos a data, melhor! E uma
casa? Vocês vão ficar perto da gente, certo? E… Percy ainda não falou com você?
Nico não sabia se estava pronto para um passo tão grande,
ele ainda nem sabia se conseguiria terminar o colégio sem se autodestruir, quem
dera um… um casamento.
— Mãe! — Percy resmungou. — Ela está brincando. Não escute o
que ela diz.
Era Percy que dizia isso, mas seu olhar era intenso sobre
ele, pensativo e analítico. E… talvez… talvez Sally não estivesse brincando, se
fosse pela expressão decepcionada no rosto de Percy.
— Desde quando você vem planejando essas coisas?
— Desde que…
— Desde quando?
— Desde que entendi que acordar do seu lado todo dia era a
melhor parte do meu dia.
Nico achava que tinha algo estranho em seus olhos, eles não
paravam de lacrimejar. Devia ser sinusite, só podia. Sim, era isso. Talvez uma
alergia.
— Você não vai dizer nada? — Percy insistiu, e de repente, o
mundo sumia e só eles dois importavam; o som de panelas batendo e os sussurros
sumiram, e até os murmúrios apressados ao redor deles desapareceram.
— O que eu devia dizer? Você está me pedindo em casamento?
Esse era o melhor e o pior momento de sua vida. Percy sorriu
para ele e colocou a mão dentro do bolso, tirando de lá uma caixinha em veludo
delicada. E então, o pior veio, Percy se ajoelhou no chão cheio de farinha e
açúcar, e abriu a tal caixinha, lhe mostrando que dentro havia dois anéis
idênticos banhados a ouro e com um pequeno diamante no centro, um deles de
tamanho grande e o outro menor, com delicadas gravuras ao redor das alianças,
os anéis tão delicados que Nico tinha medo de tocá-los.
— Você não pode estar falando sério!
— Eu comprei eles antes de você fugir para a Itália. Queria
ter te contado antes. Tinha medo que isso fosse te afastar mais uma vez.
E sem pedir permissão, Percy segurou em sua mão e deslizou a
menor das alianças em seu dedo anelar da mão direita.
— Esse anel é a prova do meu comprometimento e fidelidade a
você. É a promessa que eu faço de sempre estar a seu lado e sempre dar o que
você precisar e desejar. Não importa o que seja ou onde seja.
— Percy, para com isso! Agora mesmo! Você não quer isso. —
Nico se afastou das mãos de Percy e tentou tirar o anel, se sentindo ansioso,
mas não conseguiu tirá-lo. Algo dentro dele o impediu.
— É claro que eu quero. Eu te amo. Quero passar o resto da
minha vida com você. — Percy continuava sorrindo e continuava ajoelhado, como
se pagasse por seus pecados em uma prece enamorada.
Percy se arrastou de joelhos até estar novamente perto o
suficiente para tocá-lo e ofereceu a caixinha a Nico, dizendo: — É sua vez de
colocar em mim. Você aceita se casar comigo?
— Deuses! — Nico choramingou, aquele aperto no coração e
quentura no peito se alastrando feito chamas infernais por suas veias. — Você
vai se arrepender disso. Vai se arrepender tanto. Depois não me culpa pelo o
que acontecer.
— Eu tomo toda a responsabilidade.
Fungando, Nico se ajoelhou também e fez o mesmo que Percy,
colocou o anel no dedo anelar da mão direita de Percy e observou suas mãos
juntas. Nem em seus sonhos mais selvagens Nico poderia imaginar algo assim.
— Satisfeito agora? — Nico disse ainda fungando.
— E o meu beijo, hm?
Ainda se sentindo ansioso e trêmulo, Nico pulou no colo de
Percy e o beijou com tudo o que tinha, sendo recebido pelos braços fortes da
pessoa que ele mais amava no mundo.
— Lindo.
Nico ignorou Percy que estava deitado na cama e terminou de
secar os cabelos com a toalha, os penteando para trás. Colocou a camiseta, a
puxou para baixo e abotoou suas calças, puxou o zíper para cima e se olhou em
frente ao espelho.
Se fosse por ele, Nico teria ficado na cozinha, onde
pertencia, e teria terminado de ajudar com os preparativos para a festa mais
tarde. Infelizmente, logo depois do pedido de casamento, Sally havia o
expulsado da cozinha, o empurrando para longe do fogão enquanto Percy tinha lhe
pegado no colo e o carregado pelas escadas até que chegaram ao quarto de Percy.
E sem escolha, ainda cheio de farinha pelas roupas, entrou no banheiro sem
reclamar, tomando um longo banho na banheira para logo depois procurar por
roupas que ainda o servisse. Aparentemente, Percy não tinha jogado fora as
coisas que ele havia deixado para trás, como sua calça jeans preta favorita ou
suas camisetas cheias de piadas e de super-heróis estampadas nelas, ou mesmo
sua jaqueta de couro, roupa que sua mãe costumava usar antes do câncer a
impedir de levantar da cama.
Ele admitia que as camisetas que antes eram largas e
chegavam a suas coxas, agora serviam perfeitamente bem, embora um pouco mais
justas do que Nico gostaria, contornando suas curvas não tão masculinas;
tirando seus ombros largos e altura, o resto era bem… bem magro em algumas
partes e delgadas em outras, impossível de não reparar naquelas roupas justas.
Ele nem gostava de pensar sobre isso. Talvez fosse por isso que Percy adorava
segurar em sua cintura.
— Desde quando você tem esses músculos, hm? — Percy voltou a
perguntar com bom-humor.
Músculos? Ele não via muitos. E claro, Percy até poderia
enganá-lo se fosse alguns anos atrás. Agora? Ele conseguia ouvir o puro ciúme
por trás do riso.
— Eu não sei. Tive tempo livre na Itália.
De fato, a vida em Verona era bem mais fácil e descomplicada
do que essa primeira semana de volta estava sendo. Quer dizer, quando Percy
estava envolvido, problemas e emoções fortes eram garantidos. Ele nem sabia por
que ainda se lamentava, as coisas sempre tinham sido assim.
— Não faça essa cara. Hoje é dia de comemorar. Ou pelo menos
é de acordo com Sally.
— Claro. — Nico revirou os olhos e enfim colocou sua
jaqueta, enfiando os pés dentro de seus tênis de cano alto que também tinha
ficado dentro do guarda-roupa de Percy.
Agora sim, Nico estava de volta no passado e com o look
completo. Ele quase se sentia nostálgico; se não fosse a ansiedade e a
autodúvida constante, sentiria saudade daquela época. — Vamos.
— Espera. Comprei uma coisa pra você.
— Mais um presente? O que vai ser agora? Um carro?
— Você precisa de outro? — Mas Percy estava sorrindo. Nico
observou ele se levantar e dar a volta na cama, abrindo a gaveta da cômoda ao
lado da cama. — Não é nada muito caro.
— O que é isso? — Dessa vez, o objeto nas mãos de Percy
despertou sua curiosidade. Ele conseguia ver o que era, a questão era que Percy
nunca tinha lhe dado nada desse tipo, foi o que o fez se aproximar mais e pegar
o diário das mãos de Percy, abrindo a capa rígida e negra de couro, encontrando
páginas simples e pautadas, notando uma dedicatória no lado de dentro da capa:
“Para que seus pensamentos e ideias nunca se percam”. — Per?
— Eu pensei sobre o que você disse… sobre não conseguir se
expressar.
— Me expressar?
— Na cama. — Percy disse e então segurou em suas mãos sobre
o diário, o fazendo encará-lo. — Sei como as coisas podem ser… assustadoras de
vez em quando. Quero que esse diário seja uma forma da gente conversar sem
precisar de todo aquele… drama.
Percy usou a palavra “drama”, mas para Nico era mais…
“humilhação”.
— Você vai escrever também?
— É claro.
— E você vai… vai ler tudo? Tudo o que eu escrever?
— Se você quiser.
Nico parou por um momento e encarou Percy, seu noivo, o amor
de sua vida, a pessoa que sempre o aceitou incondicionalmente. Percy parecia
tão calmo e confiante, tão sincero… ninguém antes fez tanto esforço para tentar
entendê-lo.
— Não precisa ser sobre isso. — Percy voltou a dizer. — Você
pode escrever sobre qualquer coisa. Ou algo que você queira que eu saiba.
— Qualquer coisa? De verdade?
— O que foi? — Então, Percy voltou a sorrir, despreocupado.
— O que você ainda tem para esconder de mim?
Esse foi o momento que a mortificação o tomou. Nico desviou
o olhar e encarou o diário que ambos ainda seguravam, as alianças brilhando em
seus dedos. Se somente Percy soubesse… ele não sabia se era a melhor ou a pior
das ideias que Percy já tinha sugerido.
— Olha, você não precisa se forçar. Vamos deixar o diário do
lado da cama e se você sentir vontade, ele vai estar aqui. Tudo bem?
Percy sorriu mais uma vez para ele, pegou o diário de suas
mãos e o colocou em cima da cômoda, há menos de um metro de distância deles.
Mas esse era o problema, Nico já sentia vontade de folhear aquele caderno e
escrever o que viesse à mente, como num exercício de escrita livre, só que mais
estranho e constrangedor. Sentia vontade de escrever e deixar tudo sair como há
anos não fazia.
— Não, eu quero! Me dá. — E feito uma criancinha, Nico
esticou a mão e pegou o diário, o abraçando contra o peito, se sentindo
satisfeito ao segurar mais uma vez naquele caderno de couro negro.
— Fico feliz de saber que você gostou. — E agindo feito o
papai que ambos se negavam a admitir, mesmo que ambos tivessem a mesma idade,
Percy o abraçou forte e beijou seus cabelos, dizendo: — Bom garoto.
É claro que isso teve o efeito esperado. Nico escondeu o
rosto no ombro de Percy e gemeu mais uma vez, mortificado, se recriminando por
se sentir tão bem e contente com aquelas palavras. Ou com o cuidado que Percy
continuava demonstrando dia após dia.
Capítulo XIX
Antes de irem para a festa, Nico guardou o diário junto com
a caixinha das alianças agora vazia dentro da mochila e segurou na mão Percy,
fazendo o peito de Percy se aquecer com o gesto distraído de Nico.
Não era o gesto mais romântico ou afetivo que Percy já tinha
visto, mas Nico fazia tudo com tanto cuidado que ele tinha certeza de ter feito
a escolha certa ao esperar até aquele momento. Sabia que essas atitudes, tanto
quanto as dele ou de Nico, vinha de um lugar doloroso; da perda e do abandono,
coisas que ambos sentiram na pele e que queriam evitar a todo custo. Por isso,
cada momento que servisse para a aproximá-los seria motivo para comemorar.
Ainda não acreditava que finalmente tinha proposto para
Nico. Eles iriam se casar! Houve uma época em que Percy pensou que nunca mais
veria Nico, e quem dera que estariam tão contentes e felizes, mesmo que o
garotinho escondesse por detrás de um biquinho zangado e o costumeiro mau-humor
e insegurança. E quem era ele para julgar como outras pessoas se comportavam
quando ele era o pior deles? Tudo o que Percy sabia é que tinha um plano e que
faria tudo para executá-lo com maestria.
Ele sorriu para Nico, segurou de volta na mão oferecida a
ele e quando menos percebeu, um dos ajudantes de sua mãe o guiavam para a parte
externa da casa onde mesas estavam dispostas no jardim e pessoas já andavam
pela pista de dança improvisada ao lado de uma mesa de buffet dividida em três
fileiras organizadas por pratos doces, frios e quentes, e ali nem estava toda a
comida que ele tinha visto na cozinha.
— Vocês exageraram dessa vez.
— Não foi nada além do normal. — Nico deu de ombros.
— Claro. Eu queria--
— Nico! Finalmente consegui te encontrar!
Percy suspirou e se deu por vencido, agora que eles estavam
no meio daquelas pessoas seria impossível ter a atenção de Nico só para ele.
Como em câmera lenta, viu Clarisse se aproximar deles em passos apressados e
pegar Nico em um abraço de urso, o puxando para longe dele.
— Até quando você ia me ignorar!
— Eu não estava te ignorando! — Nico gritou de volta, mas
abraçou Clarisse tão forte como ela tinha feito, fechando os olhos com prazer.
— Por que você não me disse que tinha voltado? E quando isso
aconteceu?
— Faz… cinco dias? Seis?
— Aposto que é culpa dele.
— Clare!
— Não venha com isso pra cima de mim. Eu quero saber tudo!
— Pra depois você contar para Annabeth? Não, muito obrigado.
— Isso é não verdade. Fiz isso uma vez e--
Parecia que não teria jeito. Percy deixou Nico com Clarisse,
vendo as pessoas se aproximarem do par barulhento e voltou para dentro da casa,
encontrando sua mãe agora com um longo vestido preto e saltos altos, embora ela
ainda andasse pela cozinha de um lado para o outro, dando ordens e verificando
os fornos ainda em funcionamento.
— Mãe.
— Oh, Percy, querido. — Sua mãe veio em passos rápidos até
ele e apertou suas bochechas, as beijando em seguida. — Você podia ter me
contado antes. Não tive tempo de preparar nada.
— Também não tive tempo. Você não deixou.
Esse foi o momento que Percy abraçou a mãe e se deixou
relaxar.
— O que foi, querido?
— Acho que Nico não quer ficar comigo.
— Percy, isso não faz sentido. Por que você pensaria isso? —
Então, sua mãe tocou em seu rosto novamente e o encarou com afeto.
— Ele mudou. A gente parece brigar a cada passo do caminho,
e agora ele tem tantos amigos e coisas para fazer…
— Percy. — Agora sua mãe parecia decepcionada. — Nós
conversamos sobre isso. Você precisa de ajuda?
— Não. — Ele negou, se afastando. Não queria voltar para
horas eternas no psiquiatra ou se entupir de remédios.
— Querido, Nico está crescendo e você também devia.
— Eu sei. É só que… ele está me dizendo tantas coisas… eu
não sabia que ele se sentia assim.
— Isso é ótimo. Quer dizer que ele confia em você, não?
No fundo Percy sabia disso. Ele só queria que alguém lhe
dissesse que tudo ficaria bem. Mas não era o que sua mãe estava fazendo, como
sempre ela dizia o que ele precisava ouvir e não o que ele gostaria de escutar.
— O que eu devo fazer?
— Nada que você não queira.
— E se ele só se casar comigo por pressão?
— Percy! — Sally segurou em seus ombros e riu em sua cara. —
Meu garotinho está crescendo tão rápido. Me lembro como você fugia de qualquer
responsabilidade e agora aqui estamos nós, você se preocupando com o bem-estar
de outra pessoa?
— Ma-nhe! Estou falando sério!
— Olha, pelo meu ponto de vista, nunca vi Nico tão feliz ou
calmo. Ele não parece estar se forçando a nada.
— Ele disse que não queria namorar comigo e eu insisti! E se
ele falou a verdade?
— Querido, nada disso é sua responsabilidade. Ele aceitou
por vontade própria. Mesmo que você queira protegê-lo, é decisão de Nico. Ele
aceitando ou não, ainda que no futuro ele decida ir embora mais uma vez, não
será sua culpa.
— Então, de quem é?
— De Ninguém. São coisas que acontecem e nós temos que
aceitá-las. E sendo sincera? Já era tempo, não? Se você tivesse conversado com
Nico, nada disso teria acontecido.
— Você… você estragou a surpresa. Eu devia ter falado com
ele sozinho.
— Exatamente, querido. Você não vê? Quanto menos você
disser, mais Nico se afastará de você.
— Você acha mesmo?
— Acredite em mim. Sei tudo sobre relações fracassadas. Não
crie distância entre vocês, sim?
— Eu nunca faria isso.
— Não? Se você não diz o que sente, Nico pode pensar que
você não se importa.
— Eu--
— Você conversou com ele nos últimos dias?
— Sim, mas--
— Como ele reagiu?
Percy queria revirar os olhos. Sua mãe estava certa, como
sempre. Nico tinha sido sincero de volta. O pior era pensar que Nico tinha
guardado tudo dentro do peito, pensando que Percy não iria aceitá-lo ou que
Percy não se importava. Pelo menos o tempo perdido no psiquiatra tinha servido
para algo.
— Você tem razão. — Percy admitiu, olhando ao redor para as
pessoas que continuavam andando de um lado para outro. — Eu não queria admitir
a derrota.
— Querido.
— Eu fiz Nico ir embora antes e não quero ser o culpado de
novo. É tão ruim ter cuidado em não destruir as coisas?
— É claro que não. Eu entendo.
— Entende mesmo? — Então, Percy voltou a encarar a mãe. — Se
você entende, você pode ficar fora disso?
— Tudo bem, não vou me meter. Mas você devia prestar atenção
em quem são seus amigos.
— O que isso significa?
— Aquela sua amiga loira está na festa. Pensei que vocês não
se falavam mais?
— Quem? Annabeth?
— Ela mesmo.
— Eu não convidei ela.
— Então, quem convidou? — Sally e Percy se encararam durante
longos momentos não entendendo o que estava acontecendo até que Percy em um
estalo dá as costas para a mãe, voltando para o lado de fora.
No jardim, ele encontrou uma cena que pensou que nunca fosse
ver. Annabeth com seus longos cabelos prateados, brilhando no sol, parecendo
furiosa e Nico, com as calças rasgadas e camiseta preta, a encarando como se
ela fosse uma minhoca prestes a ser pisoteada.
***
— O que está acontecendo aqui?
Quando Percy menos viu estava parado no meio da multidão,
vendo Annabeth e Nico o encarar de volta.
Como em um passe de mágica, o ambiente mudou. Nico veio para
seu lado e se segurou em sua mão, abaixando a cabeça e a encostando em seu
ombro como o garotinho mais obediente e comportado, enquanto que Annabeth ficou
lá, de cabeça erguida, parecendo mais furiosa ainda com a demonstração de
afeto.
— Não foi nada, Per. A gente estava conversando sobre os
velhos tempos. Não é, Anne? — Nico sorriu, o abraçando pela cintura e de
repente o silêncio se fez, até os garçons e ajudantes da cozinha ficaram em
silêncio.
— Você, por acaso, está bêbado?
— Eu? Nunca! — Ele olhou para Nico e Nico fez um biquinho
fofo. — Eu nunca faria isso.
Para provar sua teoria, Percy se inclinou sobre Nico e o
beijou ali mesmo. Dessa vez, Nico não pareceu nenhum pouco encabulado. O
garotinho o agarrou forte pela nuca e se deixou ser beijado, abrindo a boca na
demonstração mais sem vergonha de afeto.
— Meu bebê está com ciúmes, hm?
— Não sei do que você está falando. — Mas o rubor no rosto
de Nico dizia o que Percy precisava saber.
— Por que a gente não conversa num lugar mais calmo? — Entretanto,
antes de guiar Nico para longe da multidão, Percy se voltou para Annabeth: —
Você não foi convidada. Vá embora.
— Mas, Percy! Você prometeu!
— Eu não prometi nada.
— Seu mentir--
— Não vou repetir.
Com isso, ele pegou Nico pela mão e o guiou para dentro da
casa, deixando para trás uma multidão curiosa e uma loira espumando de raiva.
Extra
— Você é engraçado. — Nico lhe disse.
— Você que é.
E feito um garoto da
terceira série, coisa que ambos eram, riram novamente enquanto ouviam o sinal
tocar. Percy nem tinha percebido que meia hora tinha se passado, o que era mais
tempo do que ele costumava passar com seus velhos amigos nos últimos tempos. E
o que isso dizia sobre ele, hm?
— A gente tem que ir.
— Ele ouviu Nico dizer.
Eles realmente tinham.
Com pressa, ajudou Nico a recolher as marmitas e o acompanhou para a próxima
aula, descobrindo que Nico de fato estava na mesma sala que ele. Percy estava
tão distraído em tentar se esconder que não via o que acontecia à sua volta?
Bem, esse fato iria mudar a partir daquele instante.
***
Mais alguns dias
tinham passado e com eles, Percy começava a prestar atenção à sua volta.
Era estranho.
Como Percy não tinha
percebido a presença de Nico até aquele momento? Em qualquer direção que Percy
olhasse, Nico estaria ali, em qualquer lugar ou hora do dia, também. Isso é,
até que ambos fossem para suas respectivas casas, ensaios ou treinos, e ainda
assim, Percy continuaria pensando em Nico; enquanto esperava seu irmão mais
velho vir buscá-lo ou em casa ajudando a mãe cozinhar, provando novos pratos.
Foi o que continuou acontecendo por um longo tempo, dias, semanas, meses até,
era difícil ter uma noção de tempo quando as horas passavam tão rápido e os
dias eram todos iguais. Sentia como se emergisse de um sono paralisante, algo
que finalmente detinha sua atenção. Um dia ele notou que Nico sentava na frente
da sala e bem perto da porta de saída. Em outro, Nico estava mais para o meio
do cômodo e, então, o garotinho apareceu do seu lado, dividindo a carteira
dupla com ele. Grover estava na carteira ao lado da sua com Júniper, Luke atrás
dele com Thalia.
Percy olhou mais uma
vez para Nico e o viu escrevendo algo em volta de um desenho, um elmo negro, a
caligrafia tão bonita quanto os traços da figura. Percy queria perguntar desde
quando eles sentavam juntos. Desde quando Nico fazia parte do grupo de seus
amigos e desde quando ele se sentia tão confortável com a presença de Nico, com
a quietude que os atos de Nico traziam. Ao contrário disso, ele disse na voz
mais baixinha possível:
— O que é isso?
— Hm? — Nico murmurou
e olhou para ele, tão calmo como sempre. — Um design para uma novel. Não sei se
vou terminá-la.
O mais estranho era
que ele sabia exatamente sobre o que Nico falava, Percy tinha visto o rascunho
da novel em um dos intervalos compartilhados com comida, e como tudo o que Nico
fazia, era lindo e delicado, como se Nico colocasse uma parte de sua alma em
cada coisa que tocasse com as mãos, fosse um pedaço de papel, arte, comida ou a
tarefa de casa.
— Você devia. É lindo.
Nico não disse nada,
ele apenas abaixou a cabeça e continuou rabiscando, seu rosto escondido por
detrás dos cabelos compridos e negros que brilhavam ao refletir a luz do sol.
Nico em seguida rabiscou uma espada e uma armadura, luvas de couro, uma coroa de
rosas. Quanto mais ele via Nico desenhar, menos Percy entendia o que tanto
prendia sua atenção. Talvez fossem as mãos magras, os dedos longos e elegantes,
talvez fosse a atitude concentrada de Nico ou, ainda, fosse o corpo relaxado ao
lado do seu, sua cabeça junto a de Nico, admirando os traçados suaves que
revelavam tanta beleza.
— Muito bem, pessoal.
Peguem seus livros. — A professora disse e do nada, parte da magia foi
quebrada.
Os desenhos ainda
estavam no caderno de Nico, tão bonitos quanto antes e eles ainda estavam
colados um ao outro, inclinados sobre a carteira compartilhada. A diferença é
que Nico tinha tencionado e olhado para cima em direção a Percy, como se Nico
não tivesse prestado atenção ao que acontecia em volta dele até ouvir a voz da
professora. Percy também percebeu algo, talvez ele estivesse muito perto de
Nico, o abraçando pelos ombros feito uma prisão sem escapatória.
— Desculpa. — Mesmo
com tudo isso em mente, e mesmo se desculpando, Percy não fez nada para se
afastar ou soltá-lo.
Se Percy achava que
Nico era a coisa mais bonita que ele já tinha visto, nada se comprava em ver o
rubor se espalhar no rosto de Nico, a pele morena tomando um tom mais quente,
ao olhar e ao toque também, porque mesmo sobre as roupas, Percy podia sentir o
calor emanar de Nico nos pontos onde eles se tocavam, nos ombros e nos quadris,
quase fazendo Percy tocar naquele rosto delicado e bonito.
— … porto.
— O que foi?
— Eu não me importo. —
Nico repetiu no mesmo tom baixo e discreto, logo em seguida se voltando para
seu caderno, pegando os livros que eles iriam precisar.
Percy teve a impressão
que Nico se importava, sim, porém, de um jeito… positivo. Viu o garotinho abrir
o livro na página certa, se encostar no apoio da cadeira e contra seu braço e
começar a ler enquanto a professora explicava o assunto, como se aquela cena
fosse algo completamente comum.
Isso fez Percy se
perguntar mais uma vez: ele já havia feito isso com Nico? Desde quando eles
eram tão próximos? Não era Annabeth que devia estar a seu lado? Quer dizer,
eles nunca foram tão próximos ou agiram feito ele e Nico estava agindo, mas…
desde quando ela se sentava do outro lado da sala com Clarisse e Silena? Ele
não devia se importar um pouco mais além de levemente estranhar o
acontecimento? Ela era sua amiga, não era…? Percy não devia sentir falta dela?
Então, por que só havia percebido a ausência de Annabeth agora?
— Está tudo bem? — Ele
ouviu uma voz suave a seu lado, e então, a mão de Nico pousou sobre seu braço,
Percy encontrando o semblante fincado em preocupação do amigo.
Percy respirou fundo,
deixando seus ombros relaxarem e se viu sorrindo, algo dentro de seu peito se
esquentando e pulsando, como se a faísca de um sentimento desconhecido dentro
dele estivesse acordando.
— Está tudo ótimo.
Maravilhoso. Incrível.
— Seu bobo. — Nico
revirou os olhos e voltou a se encostar contra ele, continuando a ler o texto
que a professora tinha pedido.
Bem, depois disso,
Percy entendeu rápido o que acontecia; ou melhor, sua psiquiatra tinha lhe
ajudado a entender. Nico não estava o perseguindo, mas de fato, Nico fazia o
mesmo que ele; tentava viver uma vida discreta e longe dos olhares curiosos.
Até ele com seus onze anos de vida admirava a imagem que Nico fazia, o
garotinho se destacava tanto entre os outros alunos que Percy conseguia notar
claramente a diferença. Cabelos lisos e ondulados, grossos, boca pequena e
carnuda, intensos olhos negros, era um conjunto tão bonito que chegava a dar a
Nico um ar andrógeno e feminino, embora fosse impossível confundir Nico com uma
garota.
A questão era que Nico
tinha encontrado os melhores lugares para se esconder, os mesmos que Percy
tinha encontrado também. A sala de música, a floresta, as arquibancadas que
ficavam perto das quadras de esporte mais afastadas das salas de aula.
Percy não podia se
conter, dia após dia, se pegava fazendo os mesmos passos.
Além de passar seu
tempo em sala de aula perto de Nico, sempre na hora dos intervalos, fosse
durante o dia ou à tarde, ele se via andando e encontrando seu caminho para a
familiar arquibancada com a familiar cabeleira ao canto mais distante tentando
se esconder. Eles nunca combinavam em voz alta, era apenas algo que tinha se
tornado rotina. Nico saia primeiro, Percy trocava algumas palavras com os
amigos que tinham restado e então ele seguiria Nico; praticaria basquete
durante alguns minutos na quarta coberta e em seguida, se sentaria ao lado de
Nico, aceitando uma marmita recheada das coisas que ele mais amava, bolo e
torta, suco de Mirtilo também, e às vezes, Nico o surpreenderia, batatas
assadas ou panquecas; se Nico estivesse de bom humor uma lasanha ou algo
italiano. Não importava o que fosse, Percy comeria cada grão e cada pedaço de
comida de bom grado. Se Nico fazia para ele, o mínimo que ele podia fazer era
retribuir comendo tudo. Mas parecia tão pouco em comparação com o que Nico
fazia por ele… Percy queria compartilhar com Nico algo que fosse importante e
valioso também. Mas o que poderia ser mais valioso do que compartilhar a comida
que você mesmo fez com alguém?
— Os seus desenhos são
muito bons. Onde você aprendeu?
Eles estavam mais uma
vez nas arquibancadas, Percy ignorava a bola que ainda estava em suas mãos para
ver Nico levar uma garfada de comida a boca, parando no meio do caminho com o
garfo entre os lábios.
— Hm?
— Onde você aprendeu a
desenhar?
— Ah, isso? — Então,
Nico olhou para o próprio colo onde o caderno estava, e colocou sua marmita no
chão. — Eu tinha muito tempo livre.
Percy não sabia se
tinha entendido… mas Nico sorria para ele, parecendo ter entendido sua
confusão.
— Eu não tenho amigos.
Nunca tive. Imaginação era tudo o que restava.
— E eu sou o quê? Uma
árvore?
— Não, você é um
atleta popular e rico.
— Você tem razão. Eu
tenho muitas riquezas, que tal eu dividir com você?
— O que você está
dizendo? — Nico sorriu mais uma vez e Percy sentiu um palpitar no peito que não
tinha nada a ver com a asma que ele tinha quando bebê.
— Minha mãe gosta de
cozinhar.
— Isso não é óbvio?
Quer dizer, ela tem um restaurante, não tem? — Nico disse e inclinou a cabeça
para o lado, como se isso fosse fazê-lo entender o que Percy queria dizer com
isso.
— Ela ia adorar a
companhia.
— A gente… não tem um
trabalho para terminar?
— Eu tenho bastante
espaço em casa. Minha mãe não vai se importar.
— Você tem certeza? Eu
nunca fui na casa de ninguém.
Isso só fez o peito de
Percy se apertar mais ainda.
— Sempre tem a
primeira vez, certo?
Nico olhou para ele,
parecendo analisá-lo dos pés a cabeça e acabou dando de ombros.
— Vou confiar em você.
Naquela época Percy
não sabia o porquê de tantas palpitações ou porque a sensação de alívio tinha o
tomado de forma tão intensa. Mais tarde, ele reconheceria isso como o medo de
ser rejeitado, e mesmo que ele não entendesse ainda, sabia que alguém tão doce,
bonito e talentoso como Nico nunca o rejeitaria de forma tão rude. Desse jeito,
eles terminaram de comer e seguiram para suas próximas aulas, combinando de se
encontrar no portão principal após a última aula.
***
Percy admitia, tinha
perdido mais tempo do que pretendia falando com a professora de literatura.
Aparentemente, ele precisaria se esforçar mais se quisesse ter um futuro
naquele colégio. Ela brigou com ele, abordou cada coisinha errada que ele tinha
feito, e ainda por cima passou tarefas extras para se certificar que seus erros
seriam corrigidos. Percy saiu da sala de aula o mais rápido que pôde assim que
viu as horas e correu pelos corredores em direção ao portão principal da
escola. Quando chegou no lugar que ele e Nico tinham marcado, se lembrou porque
Nico vivia se escondendo pelos cantos, o que fez Percy se lembrar porque ele
também se escondia.
Eles já tinham vivido
essa cena. Nico estava prensado contra a parede do muro ao lado de fora do
portão e dois garotos o rodeavam, um deles segurando Nico pelo pescoço enquanto
o outro olhava ao redor de forma suspeita. A diferença dessa vez era que uma multidão
os observava e ninguém fazia nada para impedir o que estava prestes a
acontecer. Percy se aproximou deles, fingindo ser mais um espectador, ouvindo
murmúrios, enquanto um dos garotos falou:
— Quem vai te proteger
agora, hein? Por sua culpa nossos amigos foram expulsos. Porque você não se
coloca no seu lugar e--
— Que lugar seria
esse?
Percy não conseguiu se
segurar. Dessa vez, ele não queria explicações. Saiu do meio da multidão e
quando viu estava cara a cara com os garotos, ou melhor, seu punho estava
contra eles. A dor veio imediatamente, sentindo seus ossos se chocarem com o
rosto daqueles garotos que por sinal eram mais velhos do que ele, mas que não
eram páreo para Percy.
— É fácil mexer com
pessoas menores que você, não é? Por que você não brinca com alguém do seu
tamanho?
— Esse alguém seria
você?
— O que você acha?
O silêncio se fez,
silêncio esse que tinha se tornado comum não importava por onde Percy fosse. O
nariz do garoto que ele tinha socado agora escorria sangue rosto abaixo, o
outro que tinha observado tudo chocado demais para reagir, pareceu acordar do
transe. Esse seria o momento perfeito para eles revidarem, não?
Bem, era o que as
pessoas diziam; covardes logo desistem se encontram alguém que as combata. E
foi o que eles fizeram, o garoto que tinha assistido seu amigo ser derrubado
com um soco só, puxou o outro pelos braços, o ajudando a levantar e ambos
cambalearam para dentro da multidão, fugindo com o rabo entre as pernas.
Percy os observou
fugindo ao longe entre os carros e se virou para Nico que ainda estava
encostado contra o muro, o canto de seus lábios avermelhados e em seus braços e
pescoço, marcas de dedos e unhas. O pior era ver as lágrimas que não paravam de
cair ou como Nico se encolhia, como se esperasse que outras pessoas fossem vir
e fazer o mesmo com ele. Percy não pensou, se dando conta de que isso estava se
tornando algo comum para eles, e Percy não gostava disso nenhum pouco. O fato
de Nico ter que se esconder pelos cantos por causa do preconceito das pessoas
era inaceitável.
Ele foi até Nico e
parou em frente a ele, oferecendo sua mão. Tinha aprendido da pior forma que
tocar em alguém quando não se sente seguro ou quando estamos em choque era a
pior coisa a fazer. Então, ele apenas ficou perto sem tocar em Nico, e tentou
chamar a atenção dele:
— Nico. — Percy disse
na voz mais suave possível.
— Não, eu… Percy? —
Percy se segurou e tentou ser forte, Nico parecia estar reagindo a tudo pior do
que na vez anterior.
— Desculpa. Eu não
queria… eu estava te esperando… aí esses… esses garotos apareceram e…
Percy não sabia o que
fazer. Sentiu seu coração quebrar quando Nico deu um passo em sua direção e
abriu bem os olhos, suas pupilas desfocadas e molhadas, como se Nico estivesse
acordando de um pesadelo, e segurou em suas mãos, tremendo e respirando rápido,
ainda encolhido em si mesmo.
— Está tudo bem. Posso
te abraçar?
— Me abraçar? Por que…
por que você iria querer tocar em alguém como eu?
— Parece que você
precisa.
— Eu… preciso? —
Então, Nico olhou para Percy com o olhar mais desolado e perdido que ele já
havia visto.
— Nico. Está tudo bem.
— Percy repetiu, se negando a aceitar o que aquelas pessoas estavam fazendo com
Nico.
— Eu tenho… tenho que
falar com Bianca, minha-- minha irmã.
— Nós vamos, depois
que chegarmos na minha casa. Sim?
— Você promete?
— Eu prometo.
Então, como se uma
chave tivesse sido virada, Nico segurou em seu braço e pegou suas bolsas do
chão, dizendo: — Você deixou cair. — Simples assim, como se nada tivesse
acontecido. Mas Nico ainda tremia, segurando mais firme em seu braço e
entregando uma das bolsas para Percy, segurando a sua própria contra o peito na
esperança de que a bolsa e Percy fossem protegê-lo.
Deuses! Como alguém
podia fazer isso com um ser tão vulnerável e indefeso? O que Nico tinha feito
para ser tratado dessa forma? Então, Percy olhou ao redor, reconhecendo aquelas
pessoas. Alguns estavam na mesma classe que eles, outros Percy conhecia de passagem,
e nenhum deles teve a decência de ajudar um colega sendo maltratado. Era por
isso que diziam que ele era “rebelde” e se dependesse dele, as coisas
continuariam exatamente como estavam.
— Você está pronto? —
Percy disse quando viu que Nico começava a se acalmar.
— Hm. Obrigado.
Percy pegou a mochila
do ombro de Nico, a colocou junto com a sua, e assim, guiou Nico pela mão entre
os carros estacionados perto da escola, avistando uma caminhonete preta e
familiar.
Capítulo XX
— Meu bebê está com
ciúmes, hm?
— Não sei do que você
está falando. — Mas o rubor no rosto de Nico dizia o que Percy precisava saber.
— Por que a gente não
conversa num lugar mais calmo? — Mas antes de guiar Nico para longe da
multidão, Percy se voltou para Annabeth: — Você não foi convidada. Vá embora.
— Mas, Percy! Você
prometeu!
— Eu não prometi nada.
— Seu mentir--
— Não vou repetir.
Com isso, ele pegou
Nico pela mão e o guiou para dentro da casa, deixando para trás uma multidão
curiosa e uma loira espumando de raiva. O pior era que ao invés de ficar
bravo com a demonstração de possessividade, seu peito voltou a se aquecer. Ele
nem ao menos poderia julgar o comportamento de Nico quando ele próprio fez
coisas piores. Na verdade, Percy amava ver Nico tão afetado e emotivo, tão
diferente do garotinho que guardava tudo para si mesmo e que nunca mostrava o
que sentia. Percy se sentia aliviado, como se não precisasse carregar esses
sentimentos sozinho e que talvez, só talvez, Nico o quisesse tanto quando Percy
queria Nico.
— Para de sorrir. — Nico murmurou contra seu ombro, ainda o
segurando pela cintura. Estava tudo bem porque Percy o segurava de volta, tão
forte quanto Nico, o guiando pelas costas e escadas acima, para dentro de seu
quarto mais uma vez, ambos se sentando em sua cama.
— Você quer conversar? — Percy tentou. Ele amava saber que
Nico tinha agido daquela forma por causa dele, o problema era que esse não era
um comportamento que Nico costumava ter. E se tinha alguma coisa errada, Percy
queria consertar antes que fosse tarde demais.
Não que ele realmente esperasse que Nico fosse esconder algo
dele, mas…
— Não é nada. — Então, Nico levantou a cabeça do seu ombro e
o encarou com aqueles grandes olhos negros, lacrimejando, e segurou em sua
camisa como se fosse arrancá-la para fora do caminho. — É só que… é só que ela
continua me perseguindo! Dizendo que você ficou com ela e… e que vocês passaram
muito tempo juntos e que por isso você ia no baile com ela!
— Nico. Bebê. — Talvez ele tenha soado um pouco…
autoritário. Rude. Até frio. Às vezes, era o único jeito de fazer Nico
escutá-lo, o que funcionou perfeitamente.
Nico parou imediatamente de reclamar e seu rosto corou num
tom incrivelmente avermelhado. Percy amava esses momentos onde ele podia ver o
velho Nico ressurgindo, todo obediente e comportado, tão tímido que o fazia
querer trancar a porta e mostrar o quanto Annabeth era insignificante. Talvez
ele devesse, ações sempre falariam mais alto do que palavras.
— Qual o problema? — Percy tentou mais uma vez.
— É verdade?
— Eu fiquei com alguns garotos. Luke é um deles. Ela só me
ajudou com algumas sessões de estudo e em troca eu iria no baile com ela.
— É só isso? — Nico se aproximou mais dele, se ajoelhando na
cama e engatinhando para sentar em seu colo.
— Eu nunca ficaria com ela. Depois de estudar com ela duas
vezes, encerrei nossas sessões.
— Por quê?
— Eu não precisava mais. — Percy deu de ombros, mas isso não
pareceu convencer Nico mesmo em seu estado inebriado.
— Ela tentou te beijar, não foi?
— Como você sabe disso?
— Ela pode ter insinuado algo assim…
Então esse era o problema.
— Lindo, você não precisa se preocupar. Eu vou me casar com
você. Não é o suficiente para provar o quanto eu te amo?
Nico o encarou longamente e mordeu os lábios, parecendo
ansioso: — Só porque você me deu uma aliança não significa que um casamento vai
acontecer.
Deuses! E Percy pensando que ele era o inseguro da relação.
— Você quer marcar a data? Que tal no mês seguinte da nossa
graduação? No verão antes da faculdade?
— Eu… — Nico abriu bem os olhos, parecendo acordar, e se
sentou melhor no colo de Percy, colocando certa distância entre eles. — A gente
nem teve uma festa de noivado! Como eu poderia marcar… marcar…
Agora Nico parecia que iria vomitar. Ou talvez sair correndo
de ansiedade.
— Shhh… é uma ideia que eu quero que você pense com cuidado.
Quero ficar com você pelo resto da vida. Uma festa e um documento dizendo que
somos um casal é apenas um detalhe. Você está me entendendo, Nico?
— Per! — Nico guinchou e se atirou contra Percy, o pegando
desprevenido. Nico os derrubou para trás na cama e Percy gargalhou, surpreso e
contente, ouvindo Nico fungar: — Porque você faz isso comigo!? Eu quero casar
em um lugar bonito e ao ar livre! Com muita música e comida. Depois quero
viajar o verão inteiro com você e te levar para conhecer minha nona!
— Isso é ótimo. Por que você está chorando? — Percy sorriu
para Nico e levou a mão ao rosto levemente corado e agora começando a inchar
por causa das lágrimas. — Não chore, sim?
— Então, não fale essas coisas pra mim! Meu coração não
aguenta. — Para mostrar o quanto Nico estava sendo sincero, ele segurou na mão
de Percy e a levou para o próprio peito.
De fato, o coração de Nico estava disparado, pulsando forte
e descompassado sobre suas mãos. Talvez Percy devesse dar mais uma razão para o
coração de Nico continuar a bater tão forte por sua causa. Então, observando
Nico respirar rápido, Percy deslizou sua mão do peito de Nico para o abdômen
dele, devagar e sensual, desceu mais um pouco e encontrou as calças de Nico.
Bastaram alguns suaves toques e com uma leve pressão, um pequeno volume se
formou ali, Percy decidindo que se eles se apressassem ninguém perceberia a
demora deles.
— O que-- o que você está fazendo?
— Mostrando o quanto o meu garoto é especial para mim.
— Percy!
Já era tarde para Nico.
Percy tirou Nico de seu colo, o colocou sobre os lençóis, se
ajoelhou no tapete felpudo e puxou Nico para a beirada da cama. Em poucos
instantes, Percy abriu as calças jeans de Nico e puxou o membro para fora, todo
ereto e molhado na cabecinha, poucos pelos finos decorando a virilha. Percy
gostava disso em Nico, gostava de tudo nele, desde o membro pequeno até os
pelos discretos, amava que com o mais suave dos toques Nico sempre ficava
excitado, às vezes tentando esconder, outras, manhoso, se deixando levar. Hoje,
eles pareciam estar no meio-termo, Nico tocando em seus ombros, parecendo que
iria pará-lo só para gemer e jogar a cabeça para trás quando Percy acariciou a
base, sentindo a pele macia, envolvendo o membro inteiro de Nico com a mão,
massageando devagar até que uma verdadeira bagunça se estabelecesse.
— Você quer gozar na minha mão ou na minha boca? — Percy
perguntou na intenção de permitir que Nico decidisse, apenas para ter o prazer
de ver o constrangimento emanar das feições de Nico. — Se você não me dizer,
não vou te deixar gozar.
— Per-cy!
— Vamos, é só uma palavrinha.
— Não!
— Você quer que eu pare?
— Percy!
— Por favor?
Quando Percy viu que dessa vez ele tinha perdido, se deu por
vencido.
— Dessa vez, eu decido. Mas na próxima, vou te torturar até
você implorar.
Percy era um homem de palavra. Sem avisar, segurou nas
pernas de Nico, as colocou sobre seus ombros e agarrou os quadris de Nico, o
mantendo no lugar. Ele gostaria de dizer que tinha durado, o problema é que
eles não tinham muito tempo. Bastou uma longa lambida, um beijinho na cabecinha
e algumas chupadas para que Nico estivesse gozando, as pernas de Nico se
enrolaram em volta de seu ombro e os dedos longos e finos se fincaram, puxando
seu cabelo. Foi uma visão maravilhosa para Percy, em dois minutos Nico tinha
gozado e agora o garotinho arfava olhando para teto, derretido contra os
lençóis. Percy podia dizer com segurança, tinha sido um recorde até para ele.
Mas tudo bem, eles tinham o resto da noite e do domingo para aproveitar.
***
Depois de cinco minutos, Nico e Percy reapareceram na festa
de mãos dadas e ambos bem mais calmos que antes. Nico tinha o rosto corado e a
expressão relaxada, enquanto Percy estava com os cabelos ligeiramente fora do
lugar e um grande sorriso no rosto. Era óbvio o que tinha acontecido para
qualquer pessoa com um bom senso, embora fosse algo novo para a pequena
multidão naquele jantar. Nico costumava ser um anjo intocado, mas parecia que
agora ele tinha se tornado humano como todos os outros.
Bem, Percy não se importava com as fofocas, o que não
significava que ele gostasse da forma que as pessoas olhavam para Nico. Será
que seria muito ruim se ele pegasse Nico e fosse para outro lugar? Talvez…
— Percy, meu rapaz! — Percy ouviu uma voz retumbar atrás
deles e imediatamente soube quem era. O tão infame Hades. Não para ele, porém
não foi Percy quem teve que viver com um pai ausente. Poseidon podia ter traído
sua mãe, mas o homem esteve presente em cada etapa de sua vida.
— Senhor. — Percy cumprimentou.
— Vejo que vocês finalmente se acertaram.
Hades se aproximou e com um grande sorriso cheio de dentes
brancos e olhos tão negros quanto os de Nico, apertou sua mão de forma
energética. Já quando chegou a vez de Nico ganhar um abraço, o garoto deu um
passo para trás, suas feições antes contentes se amargurando mais rápido do que
uma fruta podre caindo ao chão.
— Hades. — Nico disse, e só para se certificar, deu outro
passo para trás, se afastando de Hades e Percy. — Quem te convidou?
— Sally. Vim com Bianca. Ela deve estar em algum lugar por
aqui.
— Ótimo. — Sem qualquer outra palavra, Nico deu as costas
para eles e se meteu na multidão, desaparecendo de vista.
— Vejo que as coisas estão indo bem?
— Elas estão. Obrigado.
— Como Nico está?
— Muito bem. Melhor do que antes.
— Isso é bom. Continue assim.
Com isso, Hades tocou em seu ombro, acenou e tão rápido
quanto Nico, desapareceu entre as pessoas.
O que Percy podia dizer? Os Di Angelo eram conhecidos pela
brevidade. Eles eram diretos e diziam apenas o que precisavam dizer. Podia
parecer estranho, Percy sabia disso. O fato era que ele e Hades tinham um
trato. Percy contava o que acontecia na vida de Nico e Hades não se meteria no
relacionamento deles. Funcionava bem para todo mundo. Houve um tempo em que
Percy pensou que Hades iria impedir a amizade entre ele e Nico, mas, então, no
dia seguinte Hades fez uma visita a sua casa, falou com sua mãe e pediu
desculpas. Desde então eles têm esse acordo. Nico sabe disso, é claro, o que
não torna nada mais fácil. Percy sempre ficava preocupado quando pai e filho se
encontravam, por isso, foi sua vez de se meter na multidão, buscando pela
cabeleira negra de Nico.
Não demorou muito para encontrá-lo, Nico estava sentado em
uma das mesas vazias. Pratos, taças e talheres já estavam organizados na mesa
para o jantar que aconteceria mais tarde. Ninguém precisava dizer o que estava
acontecendo.
Percy deu a volta na mesa e abraçou Nico por trás, o
apertando forte entre seus braços.
— Sinto muito. — Sussurrou para que somente Nico pudesse
escutar.
— Ele perguntou como eu estava?
— Sim.
— Ridículo.
E realmente era. Ao invés de Hades falar com o filho, o
homem preferia perguntar para ele, ou para qualquer pessoa que não fosse o
próprio Nico.
— Sinto muito. — Era tudo o que ele podia dizer. Então,
colocou o rosto contra o pescoço de Nico e o beijou ali, escutando Nico rir, se
contraindo todo.
— Faz cócegas.
— Cócegas. Sei.
— Seu bobo.
Nico se virou em seus braços e enfim o abraçou de volta,
suspirando, colocando o rosto encostado em seu ombro.
— Não sei por que ainda me importo.
— Ele é seu pai.
— Ele nem teve coragem de visitar a gente na casa da nona! E
depois, ele aparece assim, como se tudo estivesse bem.
— Eu sei.
— Sabe quanto tempo eu não via ele? Um ano inteiro! Tive que
telefonar para ele avisando que eu estava voltando. Que tipo de pai faz isso?
— Shhh. Ele não vale sua preocupação.
— É tão frustrante!
— Nico.
— O quê foi?
— Quer dançar comigo?
— O quê? — Isso fez Nico parar no meio de outra reclamação e
levantar a cabeça, seus olhos lacrimejando, sem derrubar nenhuma lágrima.
— Vamos dançar.
Percy segurou na mão de Nico e o puxou suavemente pelo
gramado até chegar no centro do jardim, onde uma pista de dança improvisada
tinha sido colocada. Percy parou no centro da pista feita de uma espécie de
piso de plástico e se aproximou de Nico, colocou uma de suas mãos na cintura de
Nico e outra em seu ombro, enquanto Nico apenas ficou lá, parado no meio das
outras pessoas que dançavam, sua reação congelada chamando mais atenção ainda
do que seria o normal.
— Percy! Eles estão olhando pra gente! — Nico murmurou entre
os dentes, tentando se esconder contra o peito de Percy.
— Deixe eles olhar. Devem estar com inveja. Olha pra você,
tão bonito e inteligente. Como eles poderiam não admirar algo tão lindo?
— Per-cy!
— Tá bom. — Percy sorriu para Nico e o puxou para mais perto
até que nenhum centímetro restasse entre eles. — Olhe para mim, tudo bem? Só
pra mim.
A expressão no rosto de Nico se suavizou e só assim Nico
relaxou, colocando as mãos nos ombros de Percy.
— Obrigado. — Nico murmurou, o olhando entre os cílios. —
Não sei o que eu faria sem você.
Percy queria soltar uma piadinha para ver se aliviava o peso
no coração de Nico, mas quando se tratava de família, não havia como consertar
as coisas. Então, ele decidiu fazer o que de melhor Percy sabia fazer; segurou
no pescoço de Nico e o beijou no meio da pista de dança. O mundo parou de girar
e o silêncio se fez dentro de sua cabeça, porque Nico o abraçou pelo pescoço e
abriu a boca, permitindo que seus lábios se tocassem, sem vergonha e sem pudor
algum. Foi quando Percy finalmente soube que não havia nada a temer ou a
esconder. Mesmo com todos os problemas, agora sabia que Nico finalmente era
seu.
***
A festa tinha sido um grande sucesso. Os pratos já tinham
sido retirados e as sobremesas comidas pela metade estavam espalhadas pelas
mesas, embora taças de bebidas ainda estivessem sendo oferecidas. Champanhe,
vinho, whisky e cerveja, apenas as pessoas que gostavam de beber ou que ainda
dançavam estavam presentes, com a maioria dos convidados se despedindo de sua
família no caminho para a saída. Bem, o fato é que estava ficando tarde e eles
enfim poderiam abandonar a festa sem parecer mal-educados.
Ele acenou para Luke, Thalia, Clarisse e Cris que passaram
por eles, decidindo que era a vez deles irem também.
— Bebê.
— Hm?
— Está na hora de ir pra cama.
— Cama?
Percy segurou Nico pela cintura para que ele não caísse e
Nico se ajeitou em seu colo, arrumando a cabeça contra o ombro de Percy. Era
agora ou nunca, parecendo que passariam o resto da noite sentados e bebendo sem
controle, o que acabaria dando em um espetáculo mais grandioso do que Percy
estava preparado para lidar.
Ele beijou o rosto de Nico e se levantou, segurando nas
pernas de Nico, enquanto Nico se apoiava sobre seus ombros.
— Hmmm… Per.
— Shhh. Segura firme.
Foi o que Nico fez. Eles andaram pelo gramado, Percy
carregando Nico feito um bebê e Nico reclamando de ser acordado. O bom é que
não restava mais ninguém que pudesse envergonhá-los. Sua mãe já tinha se
retirado com Tyson já que Paul, o novo marido de sua mãe estava fora em uma
viagem de negócios, Hades e Bianca tinham ficado na festa pelo menor tempo
possível e todos seus amigos estavam bêbados demais para se lembrar de alguma
coisa, ou também já tinham ido embora. Percy queria dizer que Nico estava
pesado e que era difícil de ver por onde eles iam, mas isso seria uma mentira.
Nico era tão leve que ele mal sentia o peso, o que ele sentia era Nico colado a
ele, suas pernas em volta de sua cintura, o volume entre elas óbvio demais para
que ele pudesse ignorar.
— Per. — Nico disse novamente, naquele mesmo tom suave e
doce. Só que ele não esperava que Nico fosse ser quem iria iniciar as coisas,
beijando seu pescoço e respirando contra sua orelha, ou melhor, gemendo e o
agarrando com força.
— Estamos quase lá.
Eles estavam mesmo, Percy apenas precisava andar mais alguns
passos e abrir a porta. Ou é o que ele teria feito se Nico não escolhesse
aquele momento para levantar a cabeça e com os olhos desfocados e dilatados, e
rosto corado, segurar em seu rosto e encostar seus lábios em um suave e quase
inocente toque.
— Você vai me fuder
hoje? Na sua cama, onde sua família pode ouvir?
Percy congelou no meio do caminho, suas pernas falhando na
mesma velocidade que o sangue em seu corpo descia para seu membro.
— Deuses, Nico! O quanto você bebeu?
— Eu não estou bêbado!
A forma que Nico mal conseguia manter os olhos abertos ou
sua fala lenta, mostrava o contrário. Felizmente, Percy estava sóbrio o
suficiente para continuar os poucos passos até seu quarto e trancar a porta, se
certificando que ninguém os interromperia.
— Você foi um garoto muito arteiro hoje. Você merece uma
punição. Meu garotinho lembra o que eu disse hoje mais cedo?
— Hmm… que você me deixaria gozar? — Nico tentou,
esperançoso.
— Não, que eu te faria implorar.
— Oh. — Foi tudo o que Nico disse antes de ser jogado na cama e de suas calças serem arrancadas.
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