sexta-feira, 9 de agosto de 2024

NÃO HÁ LUGAR COMO O LAR - Capítulo VI a X

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Capítulo VI

— Então me deixe decidir. Eu só preciso da sua permissão.

— Permissão para fazer o quê?

Em câmera lenta, Nico observou a mão que estava em volta de seu ombro viajar para sua nuca, massageando o lugar. Quando menos percebeu, Percy o puxou suavemente para mais perto, inclinando sua cabeça até alcançar a posição certa para os lábios de Percy finalmente descerem contra os seus no beijo mais inocente e doce que ele já tinha provado.

Sinceramente? Não era o que Nico esperava. Não, sua expectativa era borboletas no estomago e tremores de ansiedade, e ao invés disso, sua mente ficou em branco e completamente calma, como se Nico fosse suspendido no ar e o tempo ao redor deles desacelerasse, o mais doce alívio e a mais benevolente dádiva oferecida a ele em um prato de ouro. O melhor de tudo? Percy parecia estar em uma cruzada religiosa, determinado a recuperar tudo o que eles tinham perdido, começando por um beijo terno e casto, levemente molhado e lento, um leve roçar de lábios, jantares a luz de velas e… e muitos abraços?

O problema é que as coisas não ficariam castas por muito tempo. Gemendo e enfim sentindo tremores tomarem seu corpo, Nico sentiu uma das mãos de Percy descerem pelo meio de suas costas. A caricia se manteve lenta e com vontade, Percy fincando seus dedos na pele de Nico, entrando por dentro de sua camisa, o prensando contra o peito de Percy bem no exato momento em que Nico abriu a boca num arfar necessário. Ah, finalmente, as borboletas também chegaram, sua língua sendo capturada e chupada de forma tão gostosa que Nico se viu fechando os olhos e gemendo novamente, se agarrando nos ombros de Percy com medo de sair voando em êxtase.

— Tão bom assim, hm? — Percy murmurou algum momento depois, lábios ainda grudados aos dele, os mordiscando lentamente, mãos a salvo e longe de qualquer parte sensível. Por enquanto.

Isso era tão injusto! Nico tinha esperado tanto tempo por esse momento! E agora era difícil pensar, quanto mais devolver uma resposta aceitável. Nico não podia negar, tinha sentido falta dessa proximidade, e principalmente tinha sentido falta de beijar Percy, mesmo que tivesse o beijado apenas uma vez antes de ir para a Itália envergonhado e com o rabo entre as pernas.

— Bebê. — Percy sussurrou mais uma vez contra seus lábios e os lambeu, o pegando desprevenido mais uma vez. A língua de Percy se encontrou com a sua, selando seus lábios juntos, as mãos de Percy se fincando em seus cabelos, os puxando um pouco e lhe fazendo gemer, enquanto a outra mão de Percy em sua cintura o arrastava pelo banco, o puxando para mais perto, quase o colocando em seu colo. Isso é, Nico teria se sentado no colo de Percy se um pigarro em algum lugar próximo a deles não tivesse soado a seus ouvidos.

— Os senhores estão prontos para pedir?

O beijo foi quebrado com um barulho molhado e um choramingo necessitado que vinha dele mesmo.

Nico piscou lentamente, tentando entender o que acontecia. Porque ele voava, flutuava nas sensações que ele nem lembrava mais serem possíveis, e nem mesmo o garçom tentando chamar a atenção deles poderia impedi-lo de senti-las. Sentiu suas costas ser colocada contra o assento do banco e as mãos de Percy voltaram a seus ombros, agora o massageando devagar como se isso pudesse acalmá-lo. Nico ouviu uma risada sem graça e então a voz de Percy soou no ambiente, rouca e lenta, pedindo um vinho e o prato do dia. Apenas um prato. De qualquer forma, não é como se eles fossem comer muito.

— Obrigado. — Percy disse depois de alguns momentos para o garçom, e Nico? Bem, ele se sentia feliz, perfeitamente contente em ficar quieto e ver o garçom se afastar todo encabulado.

— Garoto mal, constrangendo pobres trabalhadores. O que eles vão dizer da gente?

— Quem é mal aqui? — Nico se viu dizendo, nenhum pouco arrependido, embora não tenha sido ele quem começou.

— Você tem razão, eu sou. Contanto que você seja bom pra mim.

Nico nem se deu ao trabalho de responder, apenas olhou para a expressão convencida no rosto de Percy, tão arrogante que Nico teve o impulso de mostrar quem mandava ali. Parecendo ler seus pensamentos, Percy sorriu e segurou no rosto de Nico, perto de seu pescoço, e encostou os lábios contra os dele, num gesto afetuoso que esquentava sua pele da mesma forma que algo mais intenso faria.

— Não fique bravo comigo. — Percy sussurrou contra seus lábios.

— Você acha que pode resolver tudo com beijos?

— Nem tudo. Sexo e presentes também podem ajudar. Quem sabe uma massagem bem relaxante?

Nico sentia vontade de bater em Percy até que não pudesse mais. Felizmente, a comida deles chegou e uma garrafa inteira com duas taças foi colocada na mesa.

— Você está tentando me deixar bêbado?

— É o seu preferido.

Realmente era o seu favorito, seco e tinto, forte. Uma boa safra também. Ele se perguntava se toda família italiana era assim, parecendo que tinha vinho correndo nas veias no lugar de sangue. Isso não era importante, logo Percy abria a garrafa e enchia suas taças até o limite.

— A novos começos e velhos amigos.

Eles brindaram, dando algumas garfadas nos intervalos de beijos e risadas, e beberam mais um pouco até que a garrafa estava vazia; o céu lá fora há muito tempo escuro, perdido no breu da noite junto a qualquer inibição que eles poderiam ter.

***

Era como Nico tinha dito, sua vida era um grande clichê barato. Nico não se lembrava como tinha chegado em casa, quem tinha aberto a porta ou como eles tinham subido as escadas em direção a seu quarto. Eles tinham trancado a porta? Onde estava sua mochila? E seu violão? Eles tinham--

— Nico… bebê… — Nico jogou a cabeça para trás e gemeu longamente, suas pernas nos ombros de Percy e suas mãos agarrando qualquer coisa que pudesse segurar. Não fazia muito tempo que Percy tinha o jogado na cama e arrancado suas roupas de uma vez só.

Nico mal teve tempo de subir até os travesseiros e Percy já estava lá, no meio de suas pernas, tocando, beijando, o marcando com seus dentes por onde quer que eles pousassem. As coisas estavam indo tão rápido que Nico apenas teve tempo de arfar, observando Percy lamber seu membro de cima até a base, deslizando ao redor da pontinha avermelhada para ir por suas bolas e então… então sua entrada, mordiscando, usando seus dedos e língua, ambos lutando contra o caminho estreito, mas tão estreito que o fez quere gritar até que não pudesse mais… fazia muito tempo que Nico tinha tentado alguma coisa, ainda que essa coisa não tenha tido sucesso.

— Nico, você tem que certeza que--

— Eu tenho!

— Está tudo bem mesmo? Está tão apertado… hmm… — Mas Percy estava gemendo, como se fosse ele quem estivesse sendo tocado. — E cheira tão bem…

Nico estava tão feliz de ter se precavido!-- ele nem teve tempo de terminar o pensamento quando sentiu… enfim sentiu os dedos de Percy sumirem de dentro dele, sendo substituídos pela língua de Percy, molhada e levemente áspera, roçando ao redor da área enrugada para se forçar para dentro, se movendo ritmicamente. Nico não ia conseguir! Fazia tanto tempo que ninguém tentava tocar ali, a sensação dessa vez foi bem melhor, tão gostosa que Nico podia, ah… sua coluna se curvou e ele gemeu, um som profundo vindo de um lugar escondido dentro dele, escapando por seus lábios. É claro que a boca de Percy já estava lá, ajudando a prolongar seu orgasmo, os dedos de Percy voltando a penetrá-lo, agora deslizando com mais facilidade, o lubrificante enfim fazendo seu trabalho.

Entretanto, era tarde demais. Os lábios de Percy sobre seu membro eram muito intensos, mais do que Nico podia aguentar, a pressão infinitamente melhor do que qualquer coisa Nico tenha sentido antes. Com um arfar sem som, Nico se sentiu gozando, se derramou na boca de Percy que continuou a chupá-lo com vontade, lambendo a cabecinha de seu membro, o fazendo doer tão gostoso que Nico teve que puxar Percy pelos cabelos para empurrá-lo para longe seu membro. Ainda pulsando contra os lábios de Percy, Nico viu o sêmen escapar pelos cantos da boca de Percy, escorrendo abaixo pelo pescoço dele.

— Tudo bem? — Percy perguntou e beijou suavemente a pontinha, enfim se afastando. A verdade era que Nico não sabia, gemendo com o gesto delicado. Parecia que tinham arrancado sua alma através de seu membro. Nico mal conseguia manter os olhos abertos ou respirar, ainda se sentindo pulsar e estremecer. — Eu te machuquei?

Nico conseguiu apenas negar com a cabeça, tentando controlar seu corpo. Tinha sido tão repentino que seus nervos ainda tentavam acompanhar os acontecimentos. Nico não lembrava de alguém já ter feito isso por ele, tão… tão… minuciosamente.

— Nico.

Nico estava tentando, jurava que estava. Ele só estava tendo dificuldade em fazer sua cabeça parar de girar.

— Nico, olhe para mim. — Então, Nico fez, parecia algo simples o suficiente.

— Aqui está você. Meu Nico mentiu para mim?

— Eu… menti? — Nico não entendeu a pergunta, por que ele mentiria? Nico piscou lentamente e viu que Percy não parecia bravo, ele se deitava entre suas pernas ainda completamente vestido e segurava em seus cabelos, os acariciando com um sorriso bonito no rosto.

— Quando foi a última vez?

— Não sei. Nunca? Nunca cheguei a… você sabe, ir até o fim. — Nico se viu suspirando, seus olhos ficando pesados por causa dos dedos de Percy em seu couro cabeludo o ninando devagar.

— Isso explica muita coisa.

— Hm?

— Por que você não descansa um pouco?

— Onde você vai? — Mas já era tarde demais.

Com outro suspiro, os olhos de Nico se fecharam mais uma vez, o fazendo dormir mais rápido do que nenhuma pílula jamais conseguiu.

Capítulo VII

Quando Nico abriu os olhos, estava escuro e o relógio na parede marcava duas da manhã. Eles ainda estavam na cama e como sempre, Percy tinha cumprido sua promessa; eles dormiam de lado. O lençol os cobria e Percy estava atrás de Nico, o abraçando pela cintura. Bem... o problema era a outra mão de Percy, que estava debaixo da cabeça de Nico, se curvando ao redor de seu pescoço. Peito contra costas, rosto contra nuca e talvez Nico estivesse segurando nesse braço ao redor de seu pescoço como se estivesse abraçando um ursinho de pelúcia contra o peito. Estranhamente, Nico não se sentia sufocado, igual aconteceria se fosse com qualquer outra pessoa. Era como… como um lembrete físico de que eles estavam ali juntos e que dessa vez Percy não o deixaria fugir.

O que ele estava fazendo? Há poucas horas estava dizendo que não estava preparado e que não queria um relacionamento e agora… o quê? Estava confortável em permanecer naquela posição, preso naquele agarre mais do que possessivo e ainda gostando disso? Aprovando a atitude de Percy? Nico tinha jurado que nunca mais deixaria ninguém se aproximar tanto assim, dessa forma afetiva. Mas, esse era Percy, não era? Sabia que podia confiar nele… certo? E além de tudo, era apenas sexo. Que mal tinha nisso? Mesmo que Nico estivesse falando de Percy, a pessoa que mais o conhecia nesse mundo todo…

Quer dizer, Nico tinha voltado porque sentia falta de Percy. Ele não esperava ser correspondido e muito menos tão rápido assim. Eles estiveram juntos por tanto tempo e nada havia acontecido. Por que aconteceria agora? Assim, do nada? Sabia que Percy estava tentando melhorar, porém, conhecendo Percy como ele o conhecia? Bem… Percy não era o tipo de pessoa que perdoava fácil; característica que ambos compartilhavam. Então, ninguém poderia culpá-lo se Nico estivesse esperando passar um tempo com o amigo para enfim se conformar que as coisas entre eles não iriam funcionar. Agora, Nico se pegava nesse beco sem saída, de fato, sendo correspondido. Nico não tinha se preparado para nada disso, não tinha pensado no que Percy o corresponder significava para seu futuro. Ele provavelmente teria voltado para a Itália depois de se formar em alguns anos, ficando o suficiente para resolver o que precisasse e depois… depois Nico iria fazer o que o pai vinha pedindo há anos.

O que ele devia fazer agora? Se deixar levar ou acabar com tudo naquele exato momento? Essa coisa entre eles não podia ser uma boa ideia, tinha certeza que algo ruim iria acontecer. Podia ser Annabeth ou até Hades. Será que não seria melhor manter a amizade deles do que ver tudo se destruir em sexo? Quem teria que lidar com as consequências, hm? Quando ele seria obrigado a voltar para a Itália e nunca mais voltar? Seria somente dele. Então, por que estava se deixando levar? Foi por causa do vinho? Do cansaço? Da saudade? Qual desculpa ele usaria agora que não estava mais bêbado? Por que continuava na mesma posição, tão contente como nunca esteve, se deixando ser abraçado daquela forma e sentindo Percy praticamente o prensar contra a cama em seu sono? E se ele--

— Nico? — Percy disse rouco, sua voz sonolenta chamando sua atenção.

— Eu te acordei?

— Seu coração. Está disparando.

Para provar seu ponto, Percy levou a mão para o meio do peito de Nico e massageou o local, subindo e descendo por sua pele, piorando as coisas com isso. Nico queria chorar e queria se debater, queria fugir de volta para a Itália e se esconder onde ninguém o encontraria. No fim, tudo o que Nico fez foi ficar quieto, quase sem respirar, sentindo Percy se mover contra ele e enfiar uma das pernas entre as dele, o fazendo arfar.

Nico admitia, agora que enfim estava entre os braços de Percy, sentindo o roçar os lábios contra sua nuca, a ideia de desistir se distanciava a cada segundo que Percy tocava nele, virando sua cabeça para trás e juntando seus lábios devagar num gesto afetuoso.

— O que aconteceu, hm? — Percy disse a Nico, suas palavras soando lentas, Percy parecendo mais estar dormindo do que acordado, se roçando contra ele, devagar e calmo, no controle.

Nico não sabia o que estava acontecendo exatamente, apenas sabia que estava funcionando. Sentindo pele na pele e tão seguro, deixou o ar sair e abriu a boca, encontrando Percy bem ali pronto para recebê-lo docemente mais uma vez, voltando a abraçá-lo com força, deslizando suas línguas juntas, fácil e gostoso, como se eles sempre tivessem feito isso, tão descomplicado feito respirar.

— Você não vai me dizer? — Percy se afastou por um momento e piscou lentamente para Nico, um pouco mais acordado.

Nico apenas olhou para Percy, cabelos bagunçados e lábios inchados, olhos quase se fechando de exaustão. Foi quando a realidade o acertou em cheio, feito um soco no estômago. Nico o amava, realmente o amava. Ele não gostava de Percy porque ninguém mais quis ser seu amigo em seu pior momento ou porque Percy o defendeu durante a infância, nem mesmo era porque Percy sempre foi seu melhor amigo e sempre seria. Agora, observando aqueles olhos verdes, enfim se dava conta da verdade. Como Nico poderia não amar alguém tão gentil e preocupado, alguém tão bondoso? Tão prestativo, sempre disposto a resolver seus problemas sem Nico nem ter que pedir ajuda?

— Eu te amo. — Nico disse sem pensar, distraído pela forma que Percy se inclinou em direção a ele mais uma vez, prestes a lhe dar mais um beijo. Isso fez Percy parar no meio do caminho, franzir o nariz numa expressão confusa e depois sorrir, se aproximando o resto da distância, encostando seus lábios num leve roçar.

— Eu te amo mais. Muito. Muito mais.

Era estranho, Nico não se sentia mais diferente do que há cinco minutos atras, Percy dizendo que o amava também não o fez se sentir melhor ou pior. Era um fato óbvio, principalmente depois de ver tudo o que aconteceu nesses últimos anos, mesmo que fosse difícil acreditar; Percy sempre o fez se sentir bem, como se nada pudesse dar errado, como se ele fosse a pessoa mais sortuda desse mundo. Isso aquecia seu coração, o fazia sorrir, como as ligações faziam, como olhar para o rosto de Percy e ver um sorriso caloroso ali, ou até mesmo como os braços de Percy sempre estavam abertos para lhe receber. Era uma extensão do que sempre esteve ali.

— Não precisa se preocupar com isso. — Percy disse, voltando a acariciar o meio do peito de Nico, o virando de frente e o abraçando de novo, sem um centímetro de distância entre eles. As mãos de Percy deslizaram por suas costas, uma delas se fincando nos cabelos de sua nuca, o lugar preferido de Percy o tocar, agora e no passado, quando Nico não sabia o que esse gesto significava. Ou melhor, quando Nico escolhia ignorar o fato.

— Me preocupar com o quê? — Nico disse um tempo depois, suspirando contente.

— Eu consigo ver no seu rosto.

— Eu não fiz nada.

— Mas quer fazer. Então, antes de você criar essas histórias na sua cabeça e agir impulsivamente, fale comigo.

— Per.

— Você prometeu que não ia fugir.

— Quando eu fiz isso?

— Quando disse que tinha voltado pra ficar.

Nico não prometeu nada, mas era como se tivesse.

No fim, Percy tinha razão. Ele devia se preocupar menos. O que adiantava antecipar o que poderia acontecer se o futuro tinha tantas possibilidades? Ou talvez esses pensamentos positivos e felizes pudessem ser a influência de Percy sobre ele. Nico suspeitava que assim que Percy parasse de tocá-lo, essas preocupações voltariam feito uma bigorna jogada em sua cabeça. Porém, naquele momento, Nico se deixaria ser consolado e abraçado, deixaria que o sorriso de Percy iluminasse a escuridão ao redor dele e deixaria que mais um beijo o fizesse suspirar e esquecer que amanhã era um novo dia e que com ele, mais problemas apareceriam para lhe preocupar.

Capítulo VIII

Nico piscou lentamente e colocou a mão sobre os olhos. A luz do sol atingia seu rosto, brilhando forte pelas persianas, os pássaros cantavam, e como em todas as outras vezes, eles estavam atrasados. Uma cena tão familiar, como se os últimos anos nunca tivessem acontecido. Nico tinha perdido a noção de quantas vezes eles estiveram nessa mesma situação. A diferença entre antes e agora? Eles estariam na cama de Percy e não na casa de seu pai. Sally já teria batido na porta e Tyson estaria fazendo o café da manhã enquanto a mãe se preparava para ir trabalhar no restaurante da família. Entretanto, o que lhe preocupava não era o fato deles estarem dormindo na mesma cama ou de ser quase sete horas da manhã, e sim que alguém estava batendo na porta, e que esse alguém ser sua irmã, Bianca, que geralmente estaria muito longe dali em sua primeira aula do dia. O pior de tudo é que ela estava parada no lado de dentro do cômodo, os observando alegremente, encostada contra o batente da porta.

Nico piscou por um momento, seu cérebro lento para entender o que acontecia. Mas quando Nico finalmente entendeu, quis enterrar o rosto no travesseiro e só voltar a respirar quando o constrangimento o abandonasse. Porque, essa era a verdade. Aquilo era um pesadelo, essa devia ser a única explicação para justificar a cena em que Nico se encontrava. Percy contra suas costas, o abraçando apertado com apenas um lençol escondendo suas virilhas. Se Bianca decidisse puxar o lençol, veria tudo, as marcas nas costas de Percy e o cupão no meio de suas pernas sendo impossível não reparar mesmo daquela distância.

Ao contrário do que Nico pensava, Bianca decidiu por ser misericordiosa. Ela deu um tchauzinho com um sorrisinho de canto e fechou a porta suavemente, embora Nico conseguisse ouvir o som da risada abafada de Bianca que se afastava pelo corredor. E de novo, Nico se perguntava o que estava fazendo. Ele nem… nem tinha retribuído Percy na noite anterior. Ele era a pessoa mais mesquinha e egoísta desse mundo tod--

Nico teria continuado seu autoflagelo se não tivesse sentido uma risada silenciosa contra suas costas, um beijo sendo colocado contra sua nuca.

— Você está rindo de mim? — Nico disse, se virando nos braços de Percy. O garoto estava acordado e com um daqueles sorrisos que o enfurecia e excitava ao mesmo tempo.

— Você tem que admitir, é bem engraçado.

— Não é não!

— Qual a novidade nisso? Não é a primeira vez que alguém pega a gente dormindo junto.

— É? Mas é a primeira vez que estamos pelados!

— Oh. — Percy diz, seu sorriso se suavizando. — É melhor ainda.

— Seu-- seu--!

Nico se levantou mais rápido que um foguete, pegou a primeira coisa que viu e jogou na cabeça de Percy. Quando viu que era um travesseiro, pegou o objeto de novo e bateu com ele na cabeça de Percy até que seus braços começaram a doer. Nico foi obrigado a parar, se acomodando onde estava, e se permitiu um momento para respirar, só então percebeu ser o colo de Percy. O que mais o irritou foi o fato de Percy nem ter tentado se defender, rindo, estatelado na cama como se fosse o dia mais feliz de sua vida.

— Percy!

— Deuses! Acho que vou morrer. Eu voltei no tempo por acaso? Eu ainda me lembro--

— Não se atreva! Quantos anos você tem?

— Dez. Quer brincar de casinha? Vou construir um forte com cadeiras e cobertores, e a gente pode--

— O que deu em você hoje, hein?

— Eu estou feliz. Você não está?

Nico parou no meio de outra reclamação, percebendo que estava pelado e ainda sentado no colo de Percy, exatamente como em outras milhares de vezes, mas que dessa vez, significava muito mais.

— É claro que eu estou, mas você não precisa voltar para o maternal.

— Por que não? É mais divertido do que fingir ser um adulto responsável.

— A gente não está fingindo… está?

— Nico. — Foi o que Percy disse antes de se sentar e o abraçar forte pelo meio das costas. — Eu posso fingir muitas coisas, o que eu sinto por você não é uma delas.

— Eu não entendo por que logo agora. O que mudou?

— Tudo mudou. Você foi embora.

— Per… eu não sabia que você se importava tanto, pensei que… era melhor se você não tivesse uma sombra te seguindo pelos cantos.

— Nico. — Agora Percy parecia estar em dor. — Quem te disse isso? O que te faria pensar assim?

— Bem… é que… você sabe… ela disse aquelas coisas e eu me perguntei “e se for verdade?”. Pensei que um pouco de distância ia ser bom.

— Pra quem? Pra mim ou pra você?

Era uma boa pergunta. Nico só não queria se sentir tão mal a cada vez que via aquelas pessoas no corredor do colégio, murmurando em suas costas, coisas que ele nem queria saber o que era, mas que fundo já suspeitava o que poderia ser.

— Me responda. — Então, Percy segurou em seu rosto e o fez encará-lo. — Do que você estava fugindo?

— Faz diferença agora? O que você vai fazer? Ir atrás dela e dizer como ela é horrível? Do que… do que adianta ficar olhando para o passado?

— Quando foi que você cresceu tanto? — Percy não parecia feliz com isso, no máximo resignado.

— Quando eu tive que deixar para trás a pessoa que eu mais amava.

Isso finalmente fez Percy se calar, olhando para ele de forma tão triste que parecia que Percy cairia no choro a qualquer momento.

— Eu sei quem fez isso, eu precisava ouvir da sua boca. Não queria acreditar que ela faria algo assim.

Nico se pegou sorrindo, embora fosse um sorriso murcho e triste. Essa era a verdade, pessoas eram más e algumas delas fariam o impossível para conseguir o que queriam. O segredo era não ser inocente e se proteger, ou tentar ficar longe da ira delas. O que eles poderiam fazer além de tentar? Nico abraçou Percy bem apertado e colocou a cabeça sobre o ombro dele. Já que eles estavam atrasados, não tinha por que apressar as coisas.

***

Quando eles enfim desceram as escadas de banho tomado e de cabelos penteados, o café da manhã já estava posto na mesa; ovos, bacon, torradas, café e suco. Algo simples, mas que os Di Ângelo raramente tinham tempo para fazer. Por que eles não tinham? Ah, agora Nico se lembrava. Ter que correr de Will ou explicar para o pai por que ele não queria passar tempo na empresa, de fato, tinha tomado todo o seu tempo e disposição, o de Bianca também, que corria de Hades tanto ou mais do que ele. Mas, aqui? Na quietude, sem pessoas os perseguindo era o paraíso, um peso que finalmente tinha saído de suas costas. Provavelmente não ia durar muito, infelizmente. Era por isso que Nico queria ir devagar, e talvez assim, ele tivesse um tempo para organizar a mente e decidir o que fazer a partir daquele momento.

— Tudo bem? — Percy disse no corredor, assim que eles saíram do quarto e foram em direção às escadas para chegar no andar térreo. — Você está muito quieto desde que entramos no banho.

— Não é nada. — Ele era tão óbvio assim ou Percy apenas prestava atenção? — Eu estava pensando…

— No quê?

— Eu… eu só quero terminar o colégio sem drama, sabe? Me formar e tentar fazer algo útil da vida.

— Isso é sobre a gente?

— Falei sério quando disse que não queria um namorado. Mas quero meu melhor amigo de volta.

— Tudo bem. — Percy acenou, todo sério, embora ele tivesse as mãos sobre os ombros de Nico enquanto eles desciam as escadas, perto demais para falar a verdade. Mas era um perto que Nico gostava, mesmo que soubesse que isso tornava as coisas mais complicadas. — Você vai parar de falar comigo ou é sobre o sexo?

— Eu… — Era outra boa questão. Ele queria se afastar de Percy? Principalmente quando a noite anterior tinha sido bem melhor do que Nico jamais teria imaginado?

— Então, não há motivo para colocar rótulos no que a gente é. É só um nome. Nunca vou pedir algo que você não está interessado em oferecer.

Nico sabia disso, Percy nunca tinha o desrespeitado antes e não era agora que o amigo começaria a forçá-lo a algo. De fato, Percy tinha sido tão paciente que Nico tinha confundido cuidado com desinteresse durante todos esses anos. Agora, ele entendia. Bem, Nico entendia por causa do dia anterior. Era revelador. De verdade. Ou talvez fosse ele quem não quisesse acreditar, mesmo que a verdade sempre estivesse colada em seu rosto.

— Percy, olha--

— Eu entendo mais do que ninguém, mas isso não muda nada entre a gente. Não estou com pressa e não vou a lugar algum.

— Você promete?

— Eu prometo. Sou o mesmo velho Percy e você é o meu doce Nico. Nada vai mudar.

Nico piscou lentamente e se viu perdido nos olhos de Percy, preso em cada palavra e em cada sussurro proferido. Ele sabia de tudo isso e odiava como o apelido agora soava sexual, “Meu pequeno Nico” ou “Meu doce Nico”, saindo dos lábios de Percy num tom tão possessivo e quente que ele devia correr para bem longe enquanto ainda podia. Sabia que devia, e esse era o problema, a vontade e a compulsão de se aproximar de Percy eram maiores do que qualquer racionalização que Nico pudesse ter. Quando percebeu o que acontecia, se viu prensado contra a parede ao pé das escadas, Percy colado a ele, mãos em sua bunda, quadris se roçando aos seus e os dedos de Percy o puxando pelos cabelos naquele tipo de beijo indicado para a privacidade de quatro paredes.

Nico não se lembrava de Percy ser assim, tão intenso. Tudo isso realmente era porque ele tinha ficado longe por dois anos? O garoto que ele conhecia era doce, gentil e bondoso. Agora, na maioria das vezes, ele mal conseguia se controlar quando Percy decidia que falar não era o que eles deviam fazer. Como nesse momento, sentindo o quadril de Percy se esfregando contra o seu, quase o fazendo gozar nas calças feito um adolescente à flor da pele, algo que ele nunca tinha sido.

Reunindo forças de onde ele nem sabia que tinha, Nico arrastou seus lábios para longe dos de Percy e respirou fundo para em seguida o empurrar para longe, apenas o suficiente para desgrudar seus corpos, segurando Percy pelos ombros numa distância segura.

— Você não pode fazer isso. Eu não consigo. Você disse que não me forçaria.

— Não estou te forçando. — Então, Percy pensou de novo e completou: — Me desculpa. Não vou fazer de novo.

Nico não sabia se acreditava. Aqueles olhos verdes sobre ele, tão intensos que pareciam queimá-lo onde quer que pousassem e o respirar rápido e arfado lhe diziam outra coisa, lhe diziam que se Percy pudesse decidir eles não estariam parados no meio das escadas.

— Percy, acho que isso não vai dar certo.

— Eu disse que sinto muito. Tive que esperar por muito tempo. É só isso. Não sou um monstro, não importa o que as pessoas digam.

— Ninguém disse nada. — Bem, não desde que ele foi para o exterior. Nico se lembrava de como Lou e Alabaster insinuaram que Percy estava esperando o momento certo para atacar. E tudo o que ele tinha pensado na época era “E daí se Percy estivesse? Eles estavam com inveja?” No fim, Nico tinha ido embora com o coração partido e outro trauma para a coleção.

— Hm, lindo. — Percy sorriu e dessa vez Nico estava prestando atenção. Percy deu um passo para a frente e ao contrário do que ele esperava, Percy não tentou beijá-lo. Quer dizer, não nos lábios. Percy segurou em suas mãos e as levou aos próprios lábios, beijando cada dedo separadamente. — Eu nunca faria qualquer coisa que pudesse te machucar. Espero que você saiba disso.

— Eu sei. — Nico achava que sabia, mas ele tinha descoberto que pessoas boas podiam fazer coisas ruins e depois de seu último relacionamento, Nico não tinha certeza de nada. — Só… vamos devagar, sim?

— Claro, Nico.

Percy sorriu mais uma vez e deixou que ambas suas mãos se separassem apenas para segurá-las em um aperto reconfortante, enquanto os dois olhavam para suas mãos entrelaçadas. Era uma cena que Nico nunca se deixou visualizar antes, ele e Percy, um lugar tranquilo, natureza ao redor deles, talvez algumas cadeiras estiradas ao sol e eles dois juntos, segurando um na mão do outro enquanto observavam o sol se pôr. Talvez… talvez se eles tivessem sorte o suficiente. Num futuro não muito distante. Talvez se eles conseguissem--

— Aqui estão vocês. Quanto tempo vão ficar sussurrando no escuro?

Era Bianca. Quem mais poderia ser?


 

Capítulo IX

— Aqui estão vocês. Quanto tempo vão ficar sussurrando no escuro?

Era Bianca. Quem mais poderia ser?

Por algum motivo misterioso, Percy queria rir, embora a experiência estivesse sendo mais estranha do que ele tinha previsto. Ao invés de encontrar Hades que tinha dito para ele que chegaria naquela manhã, era Bianca que tinha os recebido na noite passada e aberto a porta para eles; ela não havia perguntado nada e apenas dito: — O quarto do Nico está no mesmo lugar.

Dando de ombros, Percy tinha pegado Nico no colo e subido as escadas nem um pouco desanimado pela presença de Bianca. Percy admitia, estava indo rápido demais, ansioso demais, porém, quem podia culpá-lo? Assim que entraram no quarto Nico tinha gemido suavemente e o beijado mais doce ainda, começando a tirar as próprias roupas e se deitando no meio da cama com as pernas abertas. Ele era apenas humano, e como o ser fraco que era, Percy fez o que Nico não tinha coragem de pedir, mas que dizia com o olhar e toda aquela pele exposta. Percy tinha se ajoelhado na cama, beijado desde as pernas de Nico até seu pescoço para enfim tocar onde ele mais queria. Talvez ele tenha se deixado levar um pouco ou tocado com muita força. Quando viu, Nico estava gozando em sua boca, em seu rosto, gemendo como se doesse e se contraindo tanto que por um momento Percy pensou que Nico fosse ter uma crise de epilepsia. O único motivo dele não se preocupar foi a expressão de puro êxtase no rosto moreno e delicado, o suspiro arfado, e a forma como Nico relaxou na cama, fechando os olhos, calmo e contente.

Percy nem tinha se importado com o resultado. Ele, excitado e frustrado, e Nico, dormindo tranquilamente e satisfeito. Percy não poderia culpar ninguém além de si mesmo, sendo que Nico não tinha nenhuma obrigação de retribuir, eles sendo namorados ou não. Respirando fundo, tudo o que Percy fez durante longos minutos foi observar Nico dormindo confortável na cama, braços estirados para cima da cabeça, agarrando os travesseiros, pernas abertas e membro agora flácido, pequeno e recolhido no caminho de pelos negros e ralos que iam desde a parte baixa de seu umbigo até sua virilha, ainda molhados por saliva e sêmen. Percy queria voltar a tocá-lo naquele mesmo instante, excitar Nico mais uma vez e ver quanto tempo Nico demoraria para gozar de novo.

No fim, fazendo esforço para se afastar, Percy saiu da cama devagar para não acordar Nico, entrou no banheiro que ficava dentro da suíte e abaixou as calças. Seria mais seguro se Percy cuidasse das coisas longe de Nico, apenas para ter certeza que conseguiria se comportar o resto da noite; sabia como Nico era desconfiado quando se tratava de sexualidade e confiança, principalmente quando um ano atrás Nico tinha terminado com o namorado, não contando a Percy qual o motivo. E mesmo que ele suspeitasse o que tinha acontecido, isso também não era de sua conta. Se Nico não queria contar a ele, Percy devia respeitar sua decisão. Por enquanto.

Dessa forma, Percy tinha cuidado das coisas mecanicamente, encontrado uma tolha limpa, a umedecido com água morna e tinha limpado Nico para logo em seguida tirar as roupas e se deitar na cama com ele. Percy mal tinha deitado a cabeça no travesseiro quando Nico o abraçou pelo pescoço em seu sono, se acomodando contra ele. Pernas contra pernas e peito contra peito, praticamente o beijando, estirado contra seu corpo.

— Senti sua falta. — Nico tinha murmurado, suspirando contente e voltado a relaxar em seu sono que se aprofundava uma vez mais.

Percy achava que aquele tinha sido um dos momentos mais felizes de sua vida, Nico depois de tanto tempo se deixava ficar vulnerável perto dele quando Percy pensava que esses momentos nunca se repetiriam.

Sentindo um aperto no coração como se ele fosse explodir a qualquer momento, querendo chorar, Percy enfim se permitiu fechar os olhos e aceitou que seus sentimentos finalmente estavam sendo correspondidos. Ele amava Nico, nem o tempo ou outras pessoas fariam com que essa mesma sensação de completude se instalasse; ninguém o fazia se sentir tão bem e tão poderoso como Nico fazia, ninguém o fazia rir ou chorar com tanta facilidade, ou gerava essa vontade louca nele de ser o melhor que poderia ser apenas para ter certeza que seria capaz de dar tudo o que Nico precisasse.

— Eu também senti sua falta. — Percy acabou murmurando de volta antes de cair no sono, puxando Nico para mais perto e enfim se deixando levar pelo cansaço.

Agora, eles estavam sentados à mesa da cozinha, Bianca sentada em frente a ele enquanto Nico se sentava a seu lado, enchendo um prato com comida e uma xícara com café puro e sem açúcar, entregando a ele.

— Você ainda se lembra. — Percy murmurou e pegou a xícara, tomando um gole e inalando a fragrância de café recém feito e recém-moído, não tão forte como ele gostava, mas era de qualidade exemplar. Era tudo tão familiar que Percy se pegou sorrindo, observando Bianca sorrir e Nico fingir que não estava encabulado pelo elogio. Nico nunca foi muito bom em recebê-los.

— Eu não fiz nada demais.

— Hm. — Percy murmurou, tentando não provocar Nico ainda mais. Porém ele não podia evitar, seguiu Nico com o olhar, o vendo finalmente se sentar e pegar um copo com suco de laranja, dando um longo gole antes de se concentrar em seu prato. Esse foi o momento que Bianca escolheu para encará-lo e perguntar:

— Percy Jackson, o que te traz aqui?

— Nico. — Ele disse e sorriu para Bianca. Entre eles nunca houve espaço para nada além de sinceridade sem rodeios. Afinal, ela tinha permitido que Nico praticamente se mudasse para sua casa naqueles longos e magníficos anos. Percy não faria nada que pudesse quebrar a confiança entre eles.

— É sério dessa vez?

— Sim.

— Tudo bem.

Bianca acenou, satisfeita. Ela se voltou para sua comida e levou uma garfada de ovos aos lábios.

— O que foi isso? — Nico perguntou, largando seu garfo. Ele cruzou os braços e os encarou.

— Eu queria saber. — Bianca deu de ombros. — Ontem vocês chegaram tarde.

— Não pode ser! — Nico cobriu o rosto e gemeu, ansioso. — Você viu a gente?

— Eu vi tudo.

O silêncio se fez, porém, não por muito tempo. Nico empurrou sua cadeira para trás e se levantou, cambaleando.

— Eu preciso… preciso pegar minha bolsa.

O que era apenas um motivo para Nico se esconder durante algum tempo ou até que o rubor sumisse.

Percy observou Nico se arrastar para fora da cozinha e se virou para Bianca.

— E, então? — Ele perguntou. Sabia que Bianca queria falar algo, mas não queria que Nico escutasse.

— Você parece diferente.

— Como?

— Mais… decidido. Adulto.

— Algumas coisas aconteceram.

Quando Bianca não disse mais nada, ele deu de ombros e continuou:

— Nico foi embora e eu descobri algumas coisas.

— Sim?

— Nada que não fosse obvio.

Bianca levantou as sobrancelhas e Percy se rendeu.

— Parece que eu era muito bonzinho e inocente. Então, decidi não ser mais.

— Não me diga.

— Ninguém me conta essas coisas! Pensei que Nico não pensava em… em…

— Sexo?

— Aparentemente, eu estava errado e ele pensou que eu não estava interessado.

— Hm… — Bianca olhou por mais alguns momentos para ele e teve misericórdia. — Não é sua culpa, era aquela garota loira que vivia atrás de você.

— Porra, eu nem gosto de mulher!

— É? Eu tomaria mais cuidado se fosse você.

Percy sabia que aquilo não era uma ameaça e sim um aviso, pois Bianca nunca faria nada para ficar no caminho da felicidade de Nico.

— Você acha que eu devia fazer algo mais drástico?

— Eu acho que o Nico faria algo drástico se ele pensar que está atrapalhando.

Percy parou de respirar por um momento e percebeu a gravidade do problema, só agora ele via que Bianca parecia preocupada. Ela não estaria em casa quando a responsabilidade sempre veio em primeiro lugar para os Di Ângelo; ela não estaria perdendo aquele precioso tempo se Bianca não pensasse que fosse extremamente importante.

— Eu vou cuidar de tudo. Você não precisa se preocupar.

— É o que eu espero.

Com isso, ambos baixaram a cabeça e continuaram a comer até que Nico voltou, mais calmo e composto. Nico também terminou de comer o resto da comida, e apressado, logo o puxou pela mão e em direção ao carro estacionado em frente à casa dos Di Ângelo.

Capítulo X

Nico sentia que estava fazendo algo de muito errado, como se estivesse manchando a imagem que Percy tinha dele. Mas eles já tinham se tocado daquela forma, dormido na mesma cama pelados e agora andavam pelos corredores da escola de mãos dadas como os namorados que ele dizia que eles não eram. Então, qual seria o problema se… se Nico mostrasse o quanto Percy era importante para ele? Principalmente se fosse pela forma que Percy cuidou dele na noite passada? Nico só queria retribuir o gesto. Assim, como quem não quer nada, disse:

— Per, preciso ir no banheiro.

Sem esperar, Nico ignorou o sinal da segunda aula e puxou Percy pelas mãos, o guiando em direção ao banheiro na área das quadras de esportes, banheiro que nessa hora do dia estaria deserto. Percy apenas inclinou a cabeça, todo confuso e o seguiu sem questionar, enquanto Nico tentava agir normalmente para não estragar a surpresa. Era inocência demais até para ele, mas, sinceramente?  Nico queria que Percy visse como era legal ser encurralado contra a parede e sem qualquer aviso.

Nico não deu muito tempo para Percy pensar. Assim que entraram no banheiro, puxou Percy para um dos cubículos, fechou a porta e colocou as mãos nos ombros de Percy, o empurrando para trás até que Percy bateu as costas na parede. Ele não conseguia acreditar como aquilo era divertido, ver os olhos de Percy se arregalando e sua respiração se tornando mais apressada, sendo que ele ainda nem tinha começado.

E por que perder mais tempo? Olhando nos olhos de Percy, Nico deixou que suas mãos deslizassem para baixo e se ajoelhou no chão. Se posicionou entre as pernas de Percy e colocou o rosto sobre sua virilha, massageando o lugar sobre a calça jeans e deixando que sua boca se aproximasse, beijando o tecido que já tinha um bom volume perceptível. Ele olhou para cima e sorriu, porém, Percy não sorria de volta. Não, ele estava todo tenso. Ombros retos, mandíbula trincada, respiração rápida e mãos em forma de punho ao lado do corpo. Isso costumava acontecer no passado também quando Percy fingia que não via e que não sabia o que estava acontecendo; esse era um Percy excitado e tentando esconder, tentando tanto ser o garoto honrado e bonzinho que todos pensavam que ele era. Quer dizer, Percy era o melhor, a questão era a libido alta que Nico não estava disposto a lidar naquela época.

Bem, agora as coisas tinham mudado. Ou melhor, evoluído.

O que Nico podia dizer? Admitia que era lento para fazer as coisas que pessoas da idade dele já eram experientes. Quando Nico se viu sozinho e arrependido de cada decisão que envolvia sexo, principalmente por não ter lidado bem com Percy e... e com beijos, já era tarde demais. Do outro lado do mundo e depois que o choque tinha passado, sentiu tanta falta de Percy que tinha pensado em voltar imediatamente e dizer que estava errado, implorando por perdão. No fim, sua família achou melhor que eles ficassem um tempo por lá para que Nico deixasse as coisas se acalmarem antes de tomar decisões precipitadas.

Isso já não importava. Nico preferia se concentrar no presente, na forma que Percy tentava se controlar, todo tenso e angustiado, querendo tocá-lo, mas como Percy tinha prometido, o amigo não iria forçá-lo. No fundo, Percy tinha razão; Nico dizia uma coisa e fazia o contrário. Talvez ele só estivesse ajoelhado entre as pernas de Percy porque Percy disse que não faria isso novamente. Talvez Nico quisesse testar o quanto Percy estava comprometido com as promessas fez. Nico, então, só para ter certeza, levou as mãos para o botão das calças de Percy e a abriu, prestes a descer o zíper quando Percy segurou suas mãos.

— O que você está fazendo? — Percy arfou, praticamente o acusando. Nico tentou não rir da cara de Percy, se sentindo vingado por aquela manhã na escada com sua irmã.

— Você não quer?

— Você disse que queria ir devagar.

— Isso não é devagar pra você?

— Nico! — Percy chiou entre os dentes, mantendo a voz baixa. — Eu estou tentando e você não está ajudando.

— Eu só queria te recompensar, você me tratou tão bem noite passada…

Nico piscou devagar e abaixou os cílios da forma mais inocente que conseguiu, falando todo doce e baixinho, como se estivesse sendo repreendido. Imediatamente se sentiu vitorioso, vendo o momento em que Percy desmoronou contra a parede, sua expressão num misto de frustração e angústia tão intenso que Nico não aguentou, ele encostou o queixo na perna de Percy e sorriu, deixando que sua risada ecoasse pelo banheiro vazio.

— Eu sabia que você ia se vingar de mim.

— Só um pouquinho. — Nico disse entre risadas. — Mas a oferta ainda está de pé.

— Está? — Percy murmurou, agora mais calmo e contido, levando uma das mãos aos cabelos de Nico, os acariciando suavemente.

Nico gostava muito disso, da voz e do toque firme e confiante, como Percy se certificou do que estava acontecendo com ele antes de deixar sua libido tomar conta. Era por isso que Percy merecia uma recompensa.

Ele enfim baixou o zíper e deslizou os dedos para dentro da cueca de Percy até achar pele quente e o membro ereto, o puxando para fora, admirando o tamanho e largura. Nico sabia que isso ia soar clichê, mas… mas era grande e longo, pesado, cheio de veias saltadas e molhado na pontinha de forma que o fazia querer lambê-lo até que estivesse molhado novamente.

— Você não precisa. — Nico ouviu num sussurro ao mesmo tempo que as mãos de Percy vieram para sua nuca e couro cabeludo com vontade, a voz de Percy perto demais. Isso o fez ver que Percy tinha se inclinado sobre ele, e que agora ele o puxava levemente pelo cabelo, o forçando a encará-lo. Percy se aproximou mais antes de beijar seus lábios, todo doce e suave, como se tentasse seduzi-lo: — Você não precisa. Nunca. Se você não quiser.

— Eu quero. — Se tinha uma coisa que Nico tinha aprendido é que gostava disso, era a única coisa que tinha gostado antes da noite passada. Mas ele não falaria isso para Percy, tinha medo de ver a reação dele. Era mais fácil agir e deixar que as coisas acontecessem.

Então, tomando coragem e ainda observando a reação de Percy, Nico segurou na base e levou os lábios á cabeçona. Lambeu feito um sorvete para logo em seguida selar os lábios em volta e chupar, devagar e lento, se certificando que seus dentes estariam fora do caminho. Fez uma leve pressão com os lábios e deslizou um pouco para baixo, bobeando a cabeça ainda mais devagar e enfim ouviu o primeiro gemido vir de Percy, estremecendo quando Percy puxou seus cabelos com força, o forçando a se afastar do membro.

— Quem te ensinou isso?

— Eu tive um namorado, sabe?

— Você disse que vocês não fizeram sexo. E isso é sexo.

— É?

— Se tem alguém tendo prazer ou gozando é sexo.

— Hmm. — Ele murmurou, lambendo os lábios. Percy ficava mais atraente ainda quando ficava todo… intenso.

Nico não devia pensar nessas coisas, sabia que não devia. Não era culpa dele se Percy continuava o segurando pelos cabelos como ele pertencesse a Percy ou se Percy continuava o encarando com aquele fogo no olhar, feito um animal enjaulado que queria vingança. Nico achava que precisava de ajuda psicológica, mas enquanto isso não acontecia, Nico podia se divertir, não?

— Você vai foder a minha boca?

— O-oquê?

— Quem sabe você quer--

— Não diga mais nada! — Percy rugiu, frustrado, se aproximando mais de seu rosto. — Você quer me matar? O que eu fiz para merecer isso?

— Per.

— Onde meu garoto inocente e tímido foi parar, hm?

— Ele ficou solitário e decidiu arranjar companhia. Mas essa companhia não foi muito boa.

Percy choramingou, frustrado, parecendo se agarrar aos últimos fios do controle que tinha e o beijou de novo, dessa vez com língua e tudo, o mantendo preso pelos cabelos.

Se fosse no passado, Nico teria parado de provocar Percy minutos atras. Mas aquilo não era mais suficiente, ele queria… queria chupar Percy até que sentisse gozo descer por sua garganta, queria ver Percy perder todo o controle e mostrar que duas pessoas podiam entrar nesse joguinho sujo. Foi Isso o que Nico fez. Quando Percy enfim o deixou respirar, ele abriu bem a boca, molhou os lábios e os deslizou pela extensão do membro de Percy, ouvindo um longo gemido e uma pancada em algum lugar perto deles; Nico abriu os olhos para ver o que tinha acontecido. Percy tinha socado a parede, tinha os olhos bem fechados e os lábios mordidos, prendendo os gemidos que insistiam em sair. Sim, Nico conseguia sentir Percy pulsar em sua língua, parecendo se alongar mais a cada toque e a cada lambida. Foi nesse momento em que Nico suspirou e relaxou o rosto, permitindo que aqueles últimos centímetros alcançassem o fundo de sua garganta.

Nico admitia que tinha engasgado indo com muita sede ao pote. Tudo valeu a pena, só para ver Percy se desfazendo a sua frente.

Percy jogou a cabeça para trás e voltou a agarrar em seus cabelos, guiando e movendo sua cabeça. Foi mágico o instante em que Percy enrolou as mãos em seus cabelos e o puxou com força, se afundando em sua garganta. Quando Nico menos esperava, sua boca estava sendo movida naquele membro gordo, de novo e de novo, sentindo as bolas de Percy baterem em seu queixo e o barulho de pele batendo em pele, tudo isso enquanto Nico apenas ficou ali, com as mãos no próprio colo, todo comportado, observando a cena se desenrolar e… ah… também admitia estar gostando um pouco além do aconselhável, dessa demonstração de força. A forma que Nico estava permitindo que Percy controlasse seu corpo, o encurralado contra a parede ao lado da privada e segurando sua cabeça, era algo que Nico negaria até a morte se alguém lhe perguntasse.

Nico mal percebeu quando Percy tinha gozado. Ele apenas se viu engolindo ao redor de Percy, devagar e sem pressa, fungando e flutuando. Ouviu Percy grunhir para, de repente, ser levantado pelos cabelos e depois pela cintura. Percy limpou seu rosto e o rodeando em seus braços, o tocou em todos os lugares que pudesse alcançar.

— Nico, bebê? — Então, ele mesmo estava gemendo, estremecendo sem motivo algum. A culpa era de Percy que tinha decidido abrir suas calças e tocá-lo, encontrando uma umidade ali. — Você gozou?

Ele… ele achava que tinha. Era algo que talvez tenha acontecido uma ou duas vezes antes… mas isso não importava. Nico flutuava e Percy o segurava para que ele não fosse muito longe, mas Nico sentiu lábios descerem contra os seus mais uma vez, e de novo e de novo, até que… Nico não sabia… até que seus pés tocassem o chão novamente.


Obrigada por ler!


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