Capítulo VI
— Então me deixe decidir. Eu só
preciso da sua permissão.
— Permissão para fazer o quê?
Em câmera lenta, Nico observou a
mão que estava em volta de seu ombro viajar para sua nuca, massageando o lugar.
Quando menos percebeu, Percy o puxou suavemente para mais perto, inclinando sua
cabeça até alcançar a posição certa para os lábios de Percy finalmente descerem
contra os seus no beijo mais inocente e doce que ele já tinha provado.
Sinceramente? Não era o que Nico
esperava. Não, sua expectativa era borboletas no estomago e tremores de
ansiedade, e ao invés disso, sua mente ficou em branco e completamente calma,
como se Nico fosse suspendido no ar e o tempo ao redor deles desacelerasse, o
mais doce alívio e a mais benevolente dádiva oferecida a ele em um prato de
ouro. O melhor de tudo? Percy parecia estar em uma cruzada religiosa,
determinado a recuperar tudo o que eles tinham perdido, começando por um beijo
terno e casto, levemente molhado e lento, um leve roçar de lábios, jantares a
luz de velas e… e muitos abraços?
O problema é que as coisas não
ficariam castas por muito tempo. Gemendo e enfim sentindo tremores tomarem seu
corpo, Nico sentiu uma das mãos de Percy descerem pelo meio de suas costas. A
caricia se manteve lenta e com vontade, Percy fincando seus dedos na pele de
Nico, entrando por dentro de sua camisa, o prensando contra o peito de Percy
bem no exato momento em que Nico abriu a boca num arfar necessário. Ah,
finalmente, as borboletas também chegaram, sua língua sendo capturada e chupada
de forma tão gostosa que Nico se viu fechando os olhos e gemendo novamente, se
agarrando nos ombros de Percy com medo de sair voando em êxtase.
— Tão bom assim, hm? — Percy
murmurou algum momento depois, lábios ainda grudados aos dele, os mordiscando
lentamente, mãos a salvo e longe de qualquer parte sensível. Por enquanto.
Isso era tão injusto! Nico tinha esperado tanto tempo por
esse momento! E agora era difícil pensar, quanto mais devolver uma resposta
aceitável. Nico não podia negar, tinha sentido falta dessa proximidade, e
principalmente tinha sentido falta de beijar Percy, mesmo que tivesse o beijado
apenas uma vez antes de ir para a Itália envergonhado e com o rabo entre as
pernas.
— Bebê. — Percy sussurrou mais uma vez contra seus lábios e
os lambeu, o pegando desprevenido mais uma vez. A língua de Percy se encontrou
com a sua, selando seus lábios juntos, as mãos de Percy se fincando em seus
cabelos, os puxando um pouco e lhe fazendo gemer, enquanto a outra mão de Percy
em sua cintura o arrastava pelo banco, o puxando para mais perto, quase o
colocando em seu colo. Isso é, Nico teria se sentado no colo de Percy se um
pigarro em algum lugar próximo a deles não tivesse soado a seus ouvidos.
— Os senhores estão prontos para pedir?
O beijo foi quebrado com um barulho molhado e um choramingo
necessitado que vinha dele mesmo.
Nico piscou lentamente, tentando entender o que acontecia.
Porque ele voava, flutuava nas sensações que ele nem lembrava mais serem
possíveis, e nem mesmo o garçom tentando chamar a atenção deles poderia
impedi-lo de senti-las. Sentiu suas costas ser colocada contra o assento do
banco e as mãos de Percy voltaram a seus ombros, agora o massageando devagar
como se isso pudesse acalmá-lo. Nico ouviu uma risada sem graça e então a voz
de Percy soou no ambiente, rouca e lenta, pedindo um vinho e o prato do dia. Apenas
um prato. De qualquer forma, não é como se eles fossem comer muito.
— Obrigado. — Percy disse depois de alguns momentos para o
garçom, e Nico? Bem, ele se sentia feliz, perfeitamente contente em ficar
quieto e ver o garçom se afastar todo encabulado.
— Garoto mal, constrangendo pobres trabalhadores. O que eles
vão dizer da gente?
— Quem é mal aqui? — Nico se viu dizendo, nenhum pouco
arrependido, embora não tenha sido ele quem começou.
— Você tem razão, eu sou. Contanto que você seja bom pra
mim.
Nico nem se deu ao trabalho de responder, apenas olhou para
a expressão convencida no rosto de Percy, tão arrogante que Nico teve o impulso
de mostrar quem mandava ali. Parecendo ler seus pensamentos, Percy sorriu e
segurou no rosto de Nico, perto de seu pescoço, e encostou os lábios contra os
dele, num gesto afetuoso que esquentava sua pele da mesma forma que algo mais
intenso faria.
— Não fique bravo comigo. — Percy sussurrou contra seus
lábios.
— Você acha que pode resolver tudo com beijos?
— Nem tudo. Sexo e presentes também podem ajudar. Quem sabe
uma massagem bem relaxante?
Nico sentia vontade de bater em Percy até que não pudesse
mais. Felizmente, a comida deles chegou e uma garrafa inteira com duas taças
foi colocada na mesa.
— Você está tentando me deixar bêbado?
— É o seu preferido.
Realmente era o seu favorito, seco e tinto, forte. Uma boa
safra também. Ele se perguntava se toda família italiana era assim, parecendo
que tinha vinho correndo nas veias no lugar de sangue. Isso não era importante,
logo Percy abria a garrafa e enchia suas taças até o limite.
— A novos começos e velhos amigos.
Eles brindaram, dando algumas garfadas nos intervalos de
beijos e risadas, e beberam mais um pouco até que a garrafa estava vazia; o céu
lá fora há muito tempo escuro, perdido no breu da noite junto a qualquer
inibição que eles poderiam ter.
***
Era como Nico tinha dito, sua vida era um grande clichê
barato. Nico não se lembrava como tinha chegado em casa, quem tinha aberto a
porta ou como eles tinham subido as escadas em direção a seu quarto. Eles
tinham trancado a porta? Onde estava sua mochila? E seu violão? Eles tinham--
— Nico… bebê… — Nico jogou a cabeça para trás e gemeu
longamente, suas pernas nos ombros de Percy e suas mãos agarrando qualquer
coisa que pudesse segurar. Não fazia muito tempo que Percy tinha o jogado na
cama e arrancado suas roupas de uma vez só.
Nico mal teve tempo de subir até os travesseiros e Percy já
estava lá, no meio de suas pernas, tocando, beijando, o marcando com seus
dentes por onde quer que eles pousassem. As coisas estavam indo tão rápido que
Nico apenas teve tempo de arfar, observando Percy lamber seu membro de cima até
a base, deslizando ao redor da pontinha avermelhada para ir por suas bolas e
então… então sua entrada, mordiscando, usando seus dedos e língua, ambos
lutando contra o caminho estreito, mas tão estreito que o fez quere gritar até
que não pudesse mais… fazia muito tempo que Nico tinha tentado alguma coisa,
ainda que essa coisa não tenha tido sucesso.
— Nico, você tem que certeza que--
— Eu tenho!
— Está tudo bem mesmo? Está tão apertado… hmm… — Mas Percy
estava gemendo, como se fosse ele quem estivesse sendo tocado. — E cheira tão
bem…
Nico estava tão feliz de ter se
precavido!-- ele nem teve tempo de terminar o pensamento quando sentiu… enfim
sentiu os dedos de Percy sumirem de dentro dele, sendo substituídos pela língua
de Percy, molhada e levemente áspera, roçando ao redor da área enrugada para se
forçar para dentro, se movendo ritmicamente. Nico não ia conseguir! Fazia tanto
tempo que ninguém tentava tocar ali, a sensação dessa vez foi bem melhor, tão
gostosa que Nico podia, ah… sua coluna se curvou e ele gemeu, um som profundo
vindo de um lugar escondido dentro dele, escapando por seus lábios. É claro que
a boca de Percy já estava lá, ajudando a prolongar seu orgasmo, os dedos de
Percy voltando a penetrá-lo, agora deslizando com mais facilidade, o
lubrificante enfim fazendo seu trabalho.
Entretanto, era tarde demais. Os
lábios de Percy sobre seu membro eram muito intensos, mais do que Nico podia
aguentar, a pressão infinitamente melhor do que qualquer coisa Nico tenha
sentido antes. Com um arfar sem som, Nico se sentiu gozando, se derramou na
boca de Percy que continuou a chupá-lo com vontade, lambendo a cabecinha de seu
membro, o fazendo doer tão gostoso que Nico teve que puxar Percy pelos cabelos
para empurrá-lo para longe seu membro. Ainda pulsando contra os lábios de
Percy, Nico viu o sêmen escapar pelos cantos da boca de Percy, escorrendo
abaixo pelo pescoço dele.
— Tudo bem? — Percy perguntou e
beijou suavemente a pontinha, enfim se afastando. A verdade era que Nico não
sabia, gemendo com o gesto delicado. Parecia que tinham arrancado sua alma
através de seu membro. Nico mal conseguia manter os olhos abertos ou respirar,
ainda se sentindo pulsar e estremecer. — Eu te machuquei?
Nico conseguiu apenas negar com a
cabeça, tentando controlar seu corpo. Tinha sido tão repentino que seus nervos
ainda tentavam acompanhar os acontecimentos. Nico não lembrava de alguém já ter
feito isso por ele, tão… tão… minuciosamente.
— Nico.
Nico estava tentando, jurava que
estava. Ele só estava tendo dificuldade em fazer sua cabeça parar de girar.
— Nico, olhe para mim. — Então,
Nico fez, parecia algo simples o suficiente.
— Aqui está você. Meu Nico mentiu
para mim?
— Eu… menti? — Nico não entendeu a
pergunta, por que ele mentiria? Nico piscou lentamente e viu que Percy não
parecia bravo, ele se deitava entre suas pernas ainda completamente vestido e
segurava em seus cabelos, os acariciando com um sorriso bonito no rosto.
— Quando foi a última vez?
— Não sei. Nunca? Nunca cheguei a…
você sabe, ir até o fim. — Nico se viu suspirando, seus olhos ficando pesados
por causa dos dedos de Percy em seu couro cabeludo o ninando devagar.
— Isso explica muita coisa.
— Hm?
— Por que você não descansa um
pouco?
— Onde você vai? — Mas já era tarde
demais.
Com outro suspiro, os olhos de Nico
se fecharam mais uma vez, o fazendo dormir mais rápido do que nenhuma pílula
jamais conseguiu.
Capítulo VII
Quando Nico abriu os olhos, estava escuro e o relógio na
parede marcava duas da manhã. Eles ainda estavam na cama e como sempre, Percy
tinha cumprido sua promessa; eles dormiam de lado. O lençol os cobria e Percy
estava atrás de Nico, o abraçando pela cintura. Bem... o problema era a outra
mão de Percy, que estava debaixo da cabeça de Nico, se curvando ao redor de seu
pescoço. Peito contra costas, rosto contra nuca e talvez Nico estivesse
segurando nesse braço ao redor de seu pescoço como se estivesse abraçando um
ursinho de pelúcia contra o peito. Estranhamente, Nico não se sentia sufocado,
igual aconteceria se fosse com qualquer outra pessoa. Era como… como um
lembrete físico de que eles estavam ali juntos e que dessa vez Percy não o
deixaria fugir.
O que ele estava fazendo? Há poucas horas estava dizendo que
não estava preparado e que não queria um relacionamento e agora… o quê? Estava
confortável em permanecer naquela posição, preso naquele agarre mais do que
possessivo e ainda gostando disso? Aprovando a atitude de Percy? Nico tinha
jurado que nunca mais deixaria ninguém se aproximar tanto assim, dessa forma
afetiva. Mas, esse era Percy, não era? Sabia que podia confiar nele… certo? E
além de tudo, era apenas sexo. Que mal tinha nisso? Mesmo que Nico estivesse
falando de Percy, a pessoa que mais o conhecia nesse mundo todo…
Quer dizer, Nico tinha voltado porque sentia falta de Percy.
Ele não esperava ser correspondido e muito menos tão rápido assim. Eles
estiveram juntos por tanto tempo e nada havia acontecido. Por que aconteceria
agora? Assim, do nada? Sabia que Percy estava tentando melhorar, porém,
conhecendo Percy como ele o conhecia? Bem… Percy não era o tipo de pessoa que
perdoava fácil; característica que ambos compartilhavam. Então, ninguém poderia
culpá-lo se Nico estivesse esperando passar um tempo com o amigo para enfim se
conformar que as coisas entre eles não iriam funcionar. Agora, Nico se pegava
nesse beco sem saída, de fato, sendo correspondido. Nico não tinha se preparado
para nada disso, não tinha pensado no que Percy o corresponder significava para
seu futuro. Ele provavelmente teria voltado para a Itália depois de se formar
em alguns anos, ficando o suficiente para resolver o que precisasse e depois…
depois Nico iria fazer o que o pai vinha pedindo há anos.
O que ele devia fazer agora? Se deixar levar ou acabar com
tudo naquele exato momento? Essa coisa entre eles não podia ser uma boa ideia,
tinha certeza que algo ruim iria acontecer. Podia ser Annabeth ou até Hades.
Será que não seria melhor manter a amizade deles do que ver tudo se destruir em
sexo? Quem teria que lidar com as consequências, hm? Quando ele seria obrigado
a voltar para a Itália e nunca mais voltar? Seria somente dele. Então, por que
estava se deixando levar? Foi por causa do vinho? Do cansaço? Da saudade? Qual
desculpa ele usaria agora que não estava mais bêbado? Por que continuava na
mesma posição, tão contente como nunca esteve, se deixando ser abraçado daquela
forma e sentindo Percy praticamente o prensar contra a cama em seu sono? E se ele--
— Nico? — Percy disse rouco, sua voz sonolenta chamando sua
atenção.
— Eu te acordei?
— Seu coração. Está disparando.
Para provar seu ponto, Percy levou a mão para o meio do
peito de Nico e massageou o local, subindo e descendo por sua pele, piorando as
coisas com isso. Nico queria chorar e queria se debater, queria fugir de volta
para a Itália e se esconder onde ninguém o encontraria. No fim, tudo o que Nico
fez foi ficar quieto, quase sem respirar, sentindo Percy se mover contra ele e
enfiar uma das pernas entre as dele, o fazendo arfar.
Nico admitia, agora que enfim estava entre os braços de
Percy, sentindo o roçar os lábios contra sua nuca, a ideia de desistir se
distanciava a cada segundo que Percy tocava nele, virando sua cabeça para trás
e juntando seus lábios devagar num gesto afetuoso.
— O que aconteceu, hm? — Percy disse a Nico, suas palavras
soando lentas, Percy parecendo mais estar dormindo do que acordado, se roçando
contra ele, devagar e calmo, no controle.
Nico não sabia o que estava acontecendo exatamente, apenas
sabia que estava funcionando. Sentindo pele na pele e tão seguro, deixou o ar
sair e abriu a boca, encontrando Percy bem ali pronto para recebê-lo docemente
mais uma vez, voltando a abraçá-lo com força, deslizando suas línguas juntas,
fácil e gostoso, como se eles sempre tivessem feito isso, tão descomplicado
feito respirar.
— Você não vai me dizer? — Percy se afastou por um momento e
piscou lentamente para Nico, um pouco mais acordado.
Nico apenas olhou para Percy, cabelos bagunçados e lábios
inchados, olhos quase se fechando de exaustão. Foi quando a realidade o acertou
em cheio, feito um soco no estômago. Nico o amava, realmente o amava. Ele não
gostava de Percy porque ninguém mais quis ser seu amigo em seu pior momento ou
porque Percy o defendeu durante a infância, nem mesmo era porque Percy sempre
foi seu melhor amigo e sempre seria. Agora, observando aqueles olhos verdes,
enfim se dava conta da verdade. Como Nico poderia não amar alguém tão gentil e
preocupado, alguém tão bondoso? Tão prestativo, sempre disposto a resolver seus
problemas sem Nico nem ter que pedir ajuda?
— Eu te amo. — Nico disse sem pensar, distraído pela forma
que Percy se inclinou em direção a ele mais uma vez, prestes a lhe dar mais um
beijo. Isso fez Percy parar no meio do caminho, franzir o nariz numa expressão
confusa e depois sorrir, se aproximando o resto da distância, encostando seus
lábios num leve roçar.
— Eu te amo mais. Muito. Muito mais.
Era estranho, Nico não se sentia mais diferente do que há
cinco minutos atras, Percy dizendo que o amava também não o fez se sentir
melhor ou pior. Era um fato óbvio, principalmente depois de ver tudo o que
aconteceu nesses últimos anos, mesmo que fosse difícil acreditar; Percy sempre
o fez se sentir bem, como se nada pudesse dar errado, como se ele fosse a
pessoa mais sortuda desse mundo. Isso aquecia seu coração, o fazia sorrir, como
as ligações faziam, como olhar para o rosto de Percy e ver um sorriso caloroso
ali, ou até mesmo como os braços de Percy sempre estavam abertos para lhe
receber. Era uma extensão do que sempre esteve ali.
— Não precisa se preocupar com isso. — Percy disse, voltando
a acariciar o meio do peito de Nico, o virando de frente e o abraçando de novo,
sem um centímetro de distância entre eles. As mãos de Percy deslizaram por suas
costas, uma delas se fincando nos cabelos de sua nuca, o lugar preferido de
Percy o tocar, agora e no passado, quando Nico não sabia o que esse gesto
significava. Ou melhor, quando Nico escolhia ignorar o fato.
— Me preocupar com o quê? — Nico disse um tempo depois,
suspirando contente.
— Eu consigo ver no seu rosto.
— Eu não fiz nada.
— Mas quer fazer. Então, antes de você criar essas histórias
na sua cabeça e agir impulsivamente, fale comigo.
— Per.
— Você prometeu que não ia fugir.
— Quando eu fiz isso?
— Quando disse que tinha voltado pra ficar.
Nico não prometeu nada, mas era como se tivesse.
No fim, Percy tinha razão. Ele devia se preocupar menos. O
que adiantava antecipar o que poderia acontecer se o futuro tinha tantas
possibilidades? Ou talvez esses pensamentos positivos e felizes pudessem ser a
influência de Percy sobre ele. Nico suspeitava que assim que Percy parasse de
tocá-lo, essas preocupações voltariam feito uma bigorna jogada em sua cabeça.
Porém, naquele momento, Nico se deixaria ser consolado e abraçado, deixaria que
o sorriso de Percy iluminasse a escuridão ao redor dele e deixaria que mais um
beijo o fizesse suspirar e esquecer que amanhã era um novo dia e que com ele,
mais problemas apareceriam para lhe preocupar.
Capítulo VIII
Nico piscou lentamente e colocou
a mão sobre os olhos. A luz do sol atingia seu rosto, brilhando forte pelas
persianas, os pássaros cantavam, e como em todas as outras vezes, eles estavam
atrasados. Uma cena tão familiar, como se os últimos anos nunca tivessem
acontecido. Nico tinha perdido a noção de quantas vezes eles estiveram nessa
mesma situação. A diferença entre antes e agora? Eles estariam na cama de Percy
e não na casa de seu pai. Sally já teria batido na porta e Tyson estaria
fazendo o café da manhã enquanto a mãe se preparava para ir trabalhar no
restaurante da família. Entretanto, o que lhe preocupava não era o fato deles
estarem dormindo na mesma cama ou de ser quase sete horas da manhã, e sim que
alguém estava batendo na porta, e que esse alguém ser sua irmã, Bianca, que
geralmente estaria muito longe dali em sua primeira aula do dia. O pior de tudo
é que ela estava parada no lado de dentro do cômodo, os observando alegremente,
encostada contra o batente da porta.
Nico piscou por um momento, seu cérebro lento para entender
o que acontecia. Mas quando Nico finalmente entendeu, quis enterrar o rosto no
travesseiro e só voltar a respirar quando o constrangimento o abandonasse.
Porque, essa era a verdade. Aquilo era um pesadelo, essa devia ser a única
explicação para justificar a cena em que Nico se encontrava. Percy contra suas
costas, o abraçando apertado com apenas um lençol escondendo suas virilhas. Se
Bianca decidisse puxar o lençol, veria tudo, as marcas nas costas de Percy e o
cupão no meio de suas pernas sendo impossível não reparar mesmo daquela
distância.
Ao contrário do que Nico pensava, Bianca decidiu por ser
misericordiosa. Ela deu um tchauzinho com um sorrisinho de canto e fechou a
porta suavemente, embora Nico conseguisse ouvir o som da risada abafada de
Bianca que se afastava pelo corredor. E de novo, Nico se perguntava o que
estava fazendo. Ele nem… nem tinha retribuído Percy na noite anterior. Ele era
a pessoa mais mesquinha e egoísta desse mundo tod--
Nico teria continuado seu autoflagelo se não tivesse sentido
uma risada silenciosa contra suas costas, um beijo sendo colocado contra sua
nuca.
— Você está rindo de mim? — Nico disse, se virando nos
braços de Percy. O garoto estava acordado e com um daqueles sorrisos que o
enfurecia e excitava ao mesmo tempo.
— Você tem que admitir, é bem engraçado.
— Não é não!
— Qual a novidade nisso? Não é a primeira vez que alguém
pega a gente dormindo junto.
— É? Mas é a primeira vez que estamos pelados!
— Oh. — Percy diz, seu sorriso se suavizando. — É melhor
ainda.
— Seu-- seu--!
Nico se levantou mais rápido que um foguete, pegou a
primeira coisa que viu e jogou na cabeça de Percy. Quando viu que era um
travesseiro, pegou o objeto de novo e bateu com ele na cabeça de Percy até que
seus braços começaram a doer. Nico foi obrigado a parar, se acomodando onde
estava, e se permitiu um momento para respirar, só então percebeu ser o colo de
Percy. O que mais o irritou foi o fato de Percy nem ter tentado se defender,
rindo, estatelado na cama como se fosse o dia mais feliz de sua vida.
— Percy!
— Deuses! Acho que vou morrer. Eu voltei no tempo por acaso?
Eu ainda me lembro--
— Não se atreva! Quantos anos você tem?
— Dez. Quer brincar de casinha? Vou construir um forte com
cadeiras e cobertores, e a gente pode--
— O que deu em você hoje, hein?
— Eu estou feliz. Você não está?
Nico parou no meio de outra reclamação, percebendo que
estava pelado e ainda sentado no colo de Percy, exatamente como em outras
milhares de vezes, mas que dessa vez, significava muito mais.
— É claro que eu estou, mas você não precisa voltar para o
maternal.
— Por que não? É mais divertido do que fingir ser um adulto
responsável.
— A gente não está fingindo… está?
— Nico. — Foi o que Percy disse antes de se sentar e o
abraçar forte pelo meio das costas. — Eu posso fingir muitas coisas, o que eu
sinto por você não é uma delas.
— Eu não entendo por que logo agora. O que mudou?
— Tudo mudou. Você foi embora.
— Per… eu não sabia que você se importava tanto, pensei que…
era melhor se você não tivesse uma sombra te seguindo pelos cantos.
— Nico. — Agora Percy parecia estar em dor. — Quem te disse
isso? O que te faria pensar assim?
— Bem… é que… você sabe… ela disse aquelas coisas e eu me
perguntei “e se for verdade?”. Pensei que um pouco de distância ia ser bom.
— Pra quem? Pra mim ou pra você?
Era uma boa pergunta. Nico só não queria se sentir tão mal a
cada vez que via aquelas pessoas no corredor do colégio, murmurando em suas
costas, coisas que ele nem queria saber o que era, mas que fundo já suspeitava
o que poderia ser.
— Me responda. — Então, Percy segurou em seu rosto e o fez
encará-lo. — Do que você estava fugindo?
— Faz diferença agora? O que você vai fazer? Ir atrás dela e
dizer como ela é horrível? Do que… do que adianta ficar olhando para o passado?
— Quando foi que você cresceu tanto? — Percy não parecia
feliz com isso, no máximo resignado.
— Quando eu tive que deixar para trás a pessoa que eu mais
amava.
Isso finalmente fez Percy se calar, olhando para ele de
forma tão triste que parecia que Percy cairia no choro a qualquer momento.
— Eu sei quem fez isso, eu precisava ouvir da sua boca. Não
queria acreditar que ela faria algo assim.
Nico se pegou sorrindo, embora fosse um sorriso murcho e
triste. Essa era a verdade, pessoas eram más e algumas delas fariam o
impossível para conseguir o que queriam. O segredo era não ser inocente e se
proteger, ou tentar ficar longe da ira delas. O que eles poderiam fazer além de
tentar? Nico abraçou Percy bem apertado e colocou a cabeça sobre o ombro dele.
Já que eles estavam atrasados, não tinha por que apressar as coisas.
***
Quando eles enfim desceram as escadas de banho tomado e de
cabelos penteados, o café da manhã já estava posto na mesa; ovos, bacon,
torradas, café e suco. Algo simples, mas que os Di Ângelo raramente tinham
tempo para fazer. Por que eles não tinham? Ah, agora Nico se lembrava. Ter que
correr de Will ou explicar para o pai por que ele não queria passar tempo na
empresa, de fato, tinha tomado todo o seu tempo e disposição, o de Bianca
também, que corria de Hades tanto ou mais do que ele. Mas, aqui? Na quietude,
sem pessoas os perseguindo era o paraíso, um peso que finalmente tinha saído de
suas costas. Provavelmente não ia durar muito, infelizmente. Era por isso que
Nico queria ir devagar, e talvez assim, ele tivesse um tempo para organizar a
mente e decidir o que fazer a partir daquele momento.
— Tudo bem? — Percy disse no corredor, assim que eles saíram
do quarto e foram em direção às escadas para chegar no andar térreo. — Você
está muito quieto desde que entramos no banho.
— Não é nada. — Ele era tão óbvio assim ou Percy apenas
prestava atenção? — Eu estava pensando…
— No quê?
— Eu… eu só quero terminar o colégio sem drama, sabe? Me
formar e tentar fazer algo útil da vida.
— Isso é sobre a gente?
— Falei sério quando disse que não queria um namorado. Mas
quero meu melhor amigo de volta.
— Tudo bem. — Percy acenou, todo sério, embora ele tivesse
as mãos sobre os ombros de Nico enquanto eles desciam as escadas, perto demais
para falar a verdade. Mas era um perto que Nico gostava, mesmo que soubesse que
isso tornava as coisas mais complicadas. — Você vai parar de falar comigo ou é
sobre o sexo?
— Eu… — Era outra boa questão. Ele queria se afastar de
Percy? Principalmente quando a noite anterior tinha sido bem melhor do que Nico
jamais teria imaginado?
— Então, não há motivo para colocar rótulos no que a gente
é. É só um nome. Nunca vou pedir algo que você não está interessado em
oferecer.
Nico sabia disso, Percy nunca tinha o desrespeitado antes e
não era agora que o amigo começaria a forçá-lo a algo. De fato, Percy tinha
sido tão paciente que Nico tinha confundido cuidado com desinteresse durante
todos esses anos. Agora, ele entendia. Bem, Nico entendia por causa do dia
anterior. Era revelador. De verdade. Ou talvez fosse ele quem não quisesse
acreditar, mesmo que a verdade sempre estivesse colada em seu rosto.
— Percy, olha--
— Eu entendo mais do que ninguém, mas isso não muda nada
entre a gente. Não estou com pressa e não vou a lugar algum.
— Você promete?
— Eu prometo. Sou o mesmo velho Percy e você é o meu doce
Nico. Nada vai mudar.
Nico piscou lentamente e se viu perdido nos olhos de Percy,
preso em cada palavra e em cada sussurro proferido. Ele sabia de tudo isso e
odiava como o apelido agora soava sexual, “Meu pequeno Nico” ou “Meu doce
Nico”, saindo dos lábios de Percy num tom tão possessivo e quente que ele devia
correr para bem longe enquanto ainda podia. Sabia que devia, e esse era o
problema, a vontade e a compulsão de se aproximar de Percy eram maiores do que
qualquer racionalização que Nico pudesse ter. Quando percebeu o que acontecia,
se viu prensado contra a parede ao pé das escadas, Percy colado a ele, mãos em
sua bunda, quadris se roçando aos seus e os dedos de Percy o puxando pelos
cabelos naquele tipo de beijo indicado para a privacidade de quatro paredes.
Nico não se lembrava de Percy ser assim, tão intenso. Tudo
isso realmente era porque ele tinha ficado longe por dois anos? O garoto que
ele conhecia era doce, gentil e bondoso. Agora, na maioria das vezes, ele mal
conseguia se controlar quando Percy decidia que falar não era o que eles deviam
fazer. Como nesse momento, sentindo o quadril de Percy se esfregando contra o
seu, quase o fazendo gozar nas calças feito um adolescente à flor da pele, algo
que ele nunca tinha sido.
Reunindo forças de onde ele nem sabia que tinha, Nico
arrastou seus lábios para longe dos de Percy e respirou fundo para em seguida o
empurrar para longe, apenas o suficiente para desgrudar seus corpos, segurando
Percy pelos ombros numa distância segura.
— Você não pode fazer isso. Eu não consigo. Você disse que
não me forçaria.
— Não estou te forçando. — Então, Percy pensou de novo e
completou: — Me desculpa. Não vou fazer de novo.
Nico não sabia se acreditava. Aqueles olhos verdes sobre
ele, tão intensos que pareciam queimá-lo onde quer que pousassem e o respirar
rápido e arfado lhe diziam outra coisa, lhe diziam que se Percy pudesse decidir
eles não estariam parados no meio das escadas.
— Percy, acho que isso não vai dar certo.
— Eu disse que sinto muito. Tive que esperar por muito
tempo. É só isso. Não sou um monstro, não importa o que as pessoas digam.
— Ninguém disse nada. — Bem, não desde que ele foi para o
exterior. Nico se lembrava de como Lou e Alabaster insinuaram que Percy estava
esperando o momento certo para atacar. E tudo o que ele tinha pensado na época
era “E daí se Percy estivesse? Eles estavam com inveja?” No fim, Nico tinha ido
embora com o coração partido e outro trauma para a coleção.
— Hm, lindo. — Percy sorriu e dessa vez Nico estava
prestando atenção. Percy deu um passo para a frente e ao contrário do que ele
esperava, Percy não tentou beijá-lo. Quer dizer, não nos lábios. Percy segurou
em suas mãos e as levou aos próprios lábios, beijando cada dedo separadamente.
— Eu nunca faria qualquer coisa que pudesse te machucar. Espero que você saiba
disso.
— Eu sei. — Nico achava que sabia, mas ele tinha descoberto
que pessoas boas podiam fazer coisas ruins e depois de seu último
relacionamento, Nico não tinha certeza de nada. — Só… vamos devagar, sim?
— Claro, Nico.
Percy sorriu mais uma vez e deixou que ambas suas mãos se
separassem apenas para segurá-las em um aperto reconfortante, enquanto os dois
olhavam para suas mãos entrelaçadas. Era uma cena que Nico nunca se deixou
visualizar antes, ele e Percy, um lugar tranquilo, natureza ao redor deles,
talvez algumas cadeiras estiradas ao sol e eles dois juntos, segurando um na
mão do outro enquanto observavam o sol se pôr. Talvez… talvez se eles tivessem
sorte o suficiente. Num futuro não muito distante. Talvez se eles conseguissem--
— Aqui estão vocês. Quanto tempo vão ficar sussurrando no
escuro?
Era Bianca. Quem mais poderia ser?
Capítulo IX
— Aqui estão vocês. Quanto tempo vão ficar sussurrando no
escuro?
Era Bianca. Quem mais poderia ser?
Por algum motivo misterioso, Percy queria rir, embora a
experiência estivesse sendo mais estranha do que ele tinha previsto. Ao invés
de encontrar Hades que tinha dito para ele que chegaria naquela manhã, era
Bianca que tinha os recebido na noite passada e aberto a porta para eles; ela
não havia perguntado nada e apenas dito: — O quarto do Nico está no mesmo
lugar.
Dando de ombros, Percy tinha pegado Nico no colo e subido as
escadas nem um pouco desanimado pela presença de Bianca. Percy admitia, estava
indo rápido demais, ansioso demais, porém, quem podia culpá-lo? Assim que
entraram no quarto Nico tinha gemido suavemente e o beijado mais doce ainda,
começando a tirar as próprias roupas e se deitando no meio da cama com as
pernas abertas. Ele era apenas humano, e como o ser fraco que era, Percy fez o
que Nico não tinha coragem de pedir, mas que dizia com o olhar e toda aquela
pele exposta. Percy tinha se ajoelhado na cama, beijado desde as pernas de Nico
até seu pescoço para enfim tocar onde ele mais queria. Talvez ele tenha se
deixado levar um pouco ou tocado com muita força. Quando viu, Nico estava
gozando em sua boca, em seu rosto, gemendo como se doesse e se contraindo tanto
que por um momento Percy pensou que Nico fosse ter uma crise de epilepsia. O
único motivo dele não se preocupar foi a expressão de puro êxtase no rosto
moreno e delicado, o suspiro arfado, e a forma como Nico relaxou na cama,
fechando os olhos, calmo e contente.
Percy nem tinha se importado com o resultado. Ele, excitado
e frustrado, e Nico, dormindo tranquilamente e satisfeito. Percy não poderia
culpar ninguém além de si mesmo, sendo que Nico não tinha nenhuma obrigação de
retribuir, eles sendo namorados ou não. Respirando fundo, tudo o que Percy fez
durante longos minutos foi observar Nico dormindo confortável na cama, braços
estirados para cima da cabeça, agarrando os travesseiros, pernas abertas e
membro agora flácido, pequeno e recolhido no caminho de pelos negros e ralos
que iam desde a parte baixa de seu umbigo até sua virilha, ainda molhados por
saliva e sêmen. Percy queria voltar a tocá-lo naquele mesmo instante, excitar
Nico mais uma vez e ver quanto tempo Nico demoraria para gozar de novo.
No fim, fazendo esforço para se afastar, Percy saiu da cama
devagar para não acordar Nico, entrou no banheiro que ficava dentro da suíte e
abaixou as calças. Seria mais seguro se Percy cuidasse das coisas longe de
Nico, apenas para ter certeza que conseguiria se comportar o resto da noite;
sabia como Nico era desconfiado quando se tratava de sexualidade e confiança,
principalmente quando um ano atrás Nico tinha terminado com o namorado, não
contando a Percy qual o motivo. E mesmo que ele suspeitasse o que tinha
acontecido, isso também não era de sua conta. Se Nico não queria contar a ele,
Percy devia respeitar sua decisão. Por enquanto.
Dessa forma, Percy tinha cuidado das coisas mecanicamente,
encontrado uma tolha limpa, a umedecido com água morna e tinha limpado Nico
para logo em seguida tirar as roupas e se deitar na cama com ele. Percy mal
tinha deitado a cabeça no travesseiro quando Nico o abraçou pelo pescoço em seu
sono, se acomodando contra ele. Pernas contra pernas e peito contra peito,
praticamente o beijando, estirado contra seu corpo.
— Senti sua falta. — Nico tinha murmurado, suspirando
contente e voltado a relaxar em seu sono que se aprofundava uma vez mais.
Percy achava que aquele tinha sido um dos momentos mais
felizes de sua vida, Nico depois de tanto tempo se deixava ficar vulnerável
perto dele quando Percy pensava que esses momentos nunca se repetiriam.
Sentindo um aperto no coração como
se ele fosse explodir a qualquer momento, querendo chorar, Percy enfim se
permitiu fechar os olhos e aceitou que seus sentimentos finalmente estavam
sendo correspondidos. Ele amava Nico, nem o tempo ou outras pessoas fariam com
que essa mesma sensação de completude se instalasse; ninguém o fazia se sentir
tão bem e tão poderoso como Nico fazia, ninguém o fazia rir ou chorar com tanta
facilidade, ou gerava essa vontade louca nele de ser o melhor que poderia ser
apenas para ter certeza que seria capaz de dar tudo o que Nico precisasse.
— Eu também senti sua falta. —
Percy acabou murmurando de volta antes de cair no sono, puxando Nico para mais
perto e enfim se deixando levar pelo cansaço.
Agora, eles estavam sentados à mesa da cozinha, Bianca
sentada em frente a ele enquanto Nico se sentava a seu lado, enchendo um prato
com comida e uma xícara com café puro e sem açúcar, entregando a ele.
— Você ainda se lembra. — Percy murmurou e pegou a xícara,
tomando um gole e inalando a fragrância de café recém feito e recém-moído, não
tão forte como ele gostava, mas era de qualidade exemplar. Era tudo tão
familiar que Percy se pegou sorrindo, observando Bianca sorrir e Nico fingir
que não estava encabulado pelo elogio. Nico nunca foi muito bom em recebê-los.
— Eu não fiz nada demais.
— Hm. — Percy murmurou, tentando não provocar Nico ainda
mais. Porém ele não podia evitar, seguiu Nico com o olhar, o vendo finalmente
se sentar e pegar um copo com suco de laranja, dando um longo gole antes de se
concentrar em seu prato. Esse foi o momento que Bianca escolheu para encará-lo
e perguntar:
— Percy Jackson, o que te traz aqui?
— Nico. — Ele disse e sorriu para Bianca. Entre eles nunca
houve espaço para nada além de sinceridade sem rodeios. Afinal, ela tinha
permitido que Nico praticamente se mudasse para sua casa naqueles longos e
magníficos anos. Percy não faria nada que pudesse quebrar a confiança entre
eles.
— É sério dessa vez?
— Sim.
— Tudo bem.
Bianca acenou, satisfeita. Ela se voltou para sua comida e
levou uma garfada de ovos aos lábios.
— O que foi isso? — Nico perguntou, largando seu garfo. Ele
cruzou os braços e os encarou.
— Eu queria saber. — Bianca deu de ombros. — Ontem vocês
chegaram tarde.
— Não pode ser! — Nico cobriu o rosto e gemeu, ansioso. —
Você viu a gente?
— Eu vi tudo.
O silêncio se fez, porém, não por muito tempo. Nico empurrou
sua cadeira para trás e se levantou, cambaleando.
— Eu preciso… preciso pegar minha bolsa.
O que era apenas um motivo para Nico se esconder durante
algum tempo ou até que o rubor sumisse.
Percy observou Nico se arrastar para fora da cozinha e se
virou para Bianca.
— E, então? — Ele perguntou. Sabia que Bianca queria falar
algo, mas não queria que Nico escutasse.
— Você parece diferente.
— Como?
— Mais… decidido. Adulto.
— Algumas coisas aconteceram.
Quando Bianca não disse mais nada, ele deu de ombros e
continuou:
— Nico foi embora e eu descobri algumas coisas.
— Sim?
— Nada que não fosse obvio.
Bianca levantou as sobrancelhas e Percy se rendeu.
— Parece que eu era muito bonzinho e inocente. Então, decidi
não ser mais.
— Não me diga.
— Ninguém me conta essas coisas! Pensei que Nico não pensava
em… em…
— Sexo?
— Aparentemente, eu estava errado e ele pensou que eu não
estava interessado.
— Hm… — Bianca olhou por mais alguns momentos para ele e
teve misericórdia. — Não é sua culpa, era aquela garota loira que vivia atrás
de você.
— Porra, eu nem gosto de mulher!
— É? Eu tomaria mais cuidado se fosse você.
Percy sabia que aquilo não era uma ameaça e sim um aviso,
pois Bianca nunca faria nada para ficar no caminho da felicidade de Nico.
— Você acha que eu devia fazer algo mais drástico?
— Eu acho que o Nico faria algo drástico se ele pensar que
está atrapalhando.
Percy parou de respirar por um momento e percebeu a
gravidade do problema, só agora ele via que Bianca parecia preocupada. Ela não
estaria em casa quando a responsabilidade sempre veio em primeiro lugar para os
Di Ângelo; ela não estaria perdendo aquele precioso tempo se Bianca não
pensasse que fosse extremamente importante.
— Eu vou cuidar de tudo. Você não precisa se preocupar.
— É o que eu espero.
Com isso, ambos baixaram a cabeça e continuaram a comer até
que Nico voltou, mais calmo e composto. Nico também terminou de comer o resto
da comida, e apressado, logo o puxou pela mão e em direção ao carro estacionado
em frente à casa dos Di Ângelo.
Capítulo X
Nico sentia que estava fazendo
algo de muito errado, como se estivesse manchando a imagem que Percy tinha
dele. Mas eles já tinham se tocado daquela forma, dormido na mesma cama pelados
e agora andavam pelos corredores da escola de mãos dadas como os namorados que
ele dizia que eles não eram. Então, qual seria o problema se… se Nico mostrasse
o quanto Percy era importante para ele? Principalmente se fosse pela forma que
Percy cuidou dele na noite passada? Nico só queria retribuir o gesto. Assim,
como quem não quer nada, disse:
— Per, preciso ir no banheiro.
Sem esperar, Nico ignorou o sinal
da segunda aula e puxou Percy pelas mãos, o guiando em direção ao banheiro na
área das quadras de esportes, banheiro que nessa hora do dia estaria deserto.
Percy apenas inclinou a cabeça, todo confuso e o seguiu sem questionar,
enquanto Nico tentava agir normalmente para não estragar a surpresa. Era
inocência demais até para ele, mas, sinceramente? Nico queria que Percy visse como era legal
ser encurralado contra a parede e sem qualquer aviso.
Nico não deu muito tempo para Percy
pensar. Assim que entraram no banheiro, puxou Percy para um dos cubículos,
fechou a porta e colocou as mãos nos ombros de Percy, o empurrando para trás
até que Percy bateu as costas na parede. Ele não conseguia acreditar como
aquilo era divertido, ver os olhos de Percy se arregalando e sua respiração se
tornando mais apressada, sendo que ele ainda nem tinha começado.
E por que perder mais tempo?
Olhando nos olhos de Percy, Nico deixou que suas mãos deslizassem para baixo e
se ajoelhou no chão. Se posicionou entre as pernas de Percy e colocou o rosto
sobre sua virilha, massageando o lugar sobre a calça jeans e deixando que sua
boca se aproximasse, beijando o tecido que já tinha um bom volume perceptível.
Ele olhou para cima e sorriu, porém, Percy não sorria de volta. Não, ele estava
todo tenso. Ombros retos, mandíbula trincada, respiração rápida e mãos em forma
de punho ao lado do corpo. Isso costumava acontecer no passado também quando
Percy fingia que não via e que não sabia o que estava acontecendo; esse era um
Percy excitado e tentando esconder, tentando tanto ser o garoto honrado e
bonzinho que todos pensavam que ele era. Quer dizer, Percy era o melhor, a
questão era a libido alta que Nico não estava disposto a lidar naquela época.
Bem, agora as coisas tinham mudado.
Ou melhor, evoluído.
O que Nico podia dizer? Admitia que
era lento para fazer as coisas que pessoas da idade dele já eram experientes.
Quando Nico se viu sozinho e arrependido de cada decisão que envolvia sexo,
principalmente por não ter lidado bem com Percy e... e com beijos, já era tarde
demais. Do outro lado do mundo e depois que o choque tinha passado, sentiu
tanta falta de Percy que tinha pensado em voltar imediatamente e dizer que
estava errado, implorando por perdão. No fim, sua família achou melhor que eles
ficassem um tempo por lá para que Nico deixasse as coisas se acalmarem antes de
tomar decisões precipitadas.
Isso já não importava. Nico
preferia se concentrar no presente, na forma que Percy tentava se controlar,
todo tenso e angustiado, querendo tocá-lo, mas como Percy tinha prometido, o
amigo não iria forçá-lo. No fundo, Percy tinha razão; Nico dizia uma coisa e
fazia o contrário. Talvez ele só estivesse ajoelhado entre as pernas de Percy
porque Percy disse que não faria isso novamente. Talvez Nico quisesse testar o
quanto Percy estava comprometido com as promessas fez. Nico, então, só para ter
certeza, levou as mãos para o botão das calças de Percy e a abriu, prestes a
descer o zíper quando Percy segurou suas mãos.
— O que
você está fazendo? — Percy arfou, praticamente o acusando. Nico tentou não
rir da cara de Percy, se sentindo vingado por aquela manhã na escada com sua
irmã.
— Você não quer?
— Você disse que queria ir devagar.
— Isso não é devagar pra você?
— Nico! — Percy chiou entre os
dentes, mantendo a voz baixa. — Eu estou tentando e você não está ajudando.
— Eu só queria te recompensar, você
me tratou tão bem noite passada…
Nico piscou devagar e abaixou os
cílios da forma mais inocente que conseguiu, falando todo doce e baixinho, como
se estivesse sendo repreendido. Imediatamente se sentiu vitorioso, vendo o
momento em que Percy desmoronou contra a parede, sua expressão num misto de
frustração e angústia tão intenso que Nico não aguentou, ele encostou o queixo
na perna de Percy e sorriu, deixando que sua risada ecoasse pelo banheiro
vazio.
— Eu sabia que você ia se vingar de
mim.
— Só um pouquinho. — Nico disse
entre risadas. — Mas a oferta ainda está de pé.
— Está? — Percy murmurou, agora
mais calmo e contido, levando uma das mãos aos cabelos de Nico, os acariciando
suavemente.
Nico gostava muito disso, da voz e
do toque firme e confiante, como Percy se certificou do que estava acontecendo
com ele antes de deixar sua libido tomar conta. Era por isso que Percy merecia
uma recompensa.
Ele enfim baixou o zíper e deslizou
os dedos para dentro da cueca de Percy até achar pele quente e o membro ereto,
o puxando para fora, admirando o tamanho e largura. Nico sabia que isso ia soar
clichê, mas… mas era grande e longo, pesado, cheio de veias saltadas e molhado
na pontinha de forma que o fazia querer lambê-lo até que estivesse molhado
novamente.
— Você não precisa. — Nico ouviu
num sussurro ao mesmo tempo que as mãos de Percy vieram para sua nuca e couro
cabeludo com vontade, a voz de Percy perto demais. Isso o fez ver que Percy
tinha se inclinado sobre ele, e que agora ele o puxava levemente pelo cabelo, o
forçando a encará-lo. Percy se aproximou mais antes de beijar seus lábios, todo
doce e suave, como se tentasse seduzi-lo: — Você não precisa. Nunca. Se você
não quiser.
— Eu quero. — Se tinha uma coisa
que Nico tinha aprendido é que gostava disso, era a única coisa que tinha
gostado antes da noite passada. Mas ele não falaria isso para Percy, tinha medo
de ver a reação dele. Era mais fácil agir e deixar que as coisas acontecessem.
Então, tomando coragem e ainda
observando a reação de Percy, Nico segurou na base e levou os lábios á
cabeçona. Lambeu feito um sorvete para logo em seguida selar os lábios em volta
e chupar, devagar e lento, se certificando que seus dentes estariam fora do
caminho. Fez uma leve pressão com os lábios e deslizou um pouco para baixo,
bobeando a cabeça ainda mais devagar e enfim ouviu o primeiro gemido vir de
Percy, estremecendo quando Percy puxou seus cabelos com força, o forçando a se
afastar do membro.
— Quem te ensinou isso?
— Eu tive um namorado, sabe?
— Você disse que vocês não fizeram
sexo. E isso é sexo.
— É?
— Se tem alguém tendo prazer ou
gozando é sexo.
— Hmm. — Ele murmurou, lambendo os
lábios. Percy ficava mais atraente ainda quando ficava todo… intenso.
Nico não devia pensar nessas
coisas, sabia que não devia. Não era culpa dele se Percy continuava o segurando
pelos cabelos como ele pertencesse a Percy ou se Percy continuava o encarando
com aquele fogo no olhar, feito um animal enjaulado que queria vingança. Nico
achava que precisava de ajuda psicológica, mas enquanto isso não acontecia,
Nico podia se divertir, não?
— Você vai foder a minha boca?
— O-oquê?
— Quem sabe você quer--
— Não diga mais nada! — Percy
rugiu, frustrado, se aproximando mais de seu rosto. — Você quer me matar? O que
eu fiz para merecer isso?
— Per.
— Onde meu garoto inocente e tímido
foi parar, hm?
— Ele ficou solitário e decidiu
arranjar companhia. Mas essa companhia não foi muito boa.
Percy choramingou, frustrado,
parecendo se agarrar aos últimos fios do controle que tinha e o beijou de novo,
dessa vez com língua e tudo, o mantendo preso pelos cabelos.
Se fosse no passado, Nico teria
parado de provocar Percy minutos atras. Mas aquilo não era mais suficiente, ele
queria… queria chupar Percy até que sentisse gozo descer por sua garganta,
queria ver Percy perder todo o controle e mostrar que duas pessoas podiam
entrar nesse joguinho sujo. Foi Isso o que Nico fez. Quando Percy enfim o
deixou respirar, ele abriu bem a boca, molhou os lábios e os deslizou pela
extensão do membro de Percy, ouvindo um longo gemido e uma pancada em algum
lugar perto deles; Nico abriu os olhos para ver o que tinha acontecido. Percy
tinha socado a parede, tinha os olhos bem fechados e os lábios mordidos,
prendendo os gemidos que insistiam em sair. Sim, Nico conseguia sentir Percy
pulsar em sua língua, parecendo se alongar mais a cada toque e a cada lambida.
Foi nesse momento em que Nico suspirou e relaxou o rosto, permitindo que
aqueles últimos centímetros alcançassem o fundo de sua garganta.
Nico admitia que tinha engasgado
indo com muita sede ao pote. Tudo valeu a pena, só para ver Percy se desfazendo
a sua frente.
Percy jogou a cabeça para trás e
voltou a agarrar em seus cabelos, guiando e movendo sua cabeça. Foi mágico o
instante em que Percy enrolou as mãos em seus cabelos e o puxou com força, se
afundando em sua garganta. Quando Nico menos esperava, sua boca estava sendo
movida naquele membro gordo, de novo e de novo, sentindo as bolas de Percy
baterem em seu queixo e o barulho de pele batendo em pele, tudo isso enquanto
Nico apenas ficou ali, com as mãos no próprio colo, todo comportado, observando
a cena se desenrolar e… ah… também admitia estar gostando um pouco além do
aconselhável, dessa demonstração de força. A forma que Nico estava permitindo
que Percy controlasse seu corpo, o encurralado contra a parede ao lado da
privada e segurando sua cabeça, era algo que Nico negaria até a morte se alguém
lhe perguntasse.
Nico mal percebeu quando Percy
tinha gozado. Ele apenas se viu engolindo ao redor de Percy, devagar e sem
pressa, fungando e flutuando. Ouviu Percy grunhir para, de repente, ser
levantado pelos cabelos e depois pela cintura. Percy limpou seu rosto e o rodeando
em seus braços, o tocou em todos os lugares que pudesse alcançar.
— Nico, bebê? — Então, ele mesmo
estava gemendo, estremecendo sem motivo algum. A culpa era de Percy que tinha
decidido abrir suas calças e tocá-lo, encontrando uma umidade ali. — Você
gozou?
Ele… ele achava que tinha. Era algo
que talvez tenha acontecido uma ou duas vezes antes… mas isso não importava.
Nico flutuava e Percy o segurava para que ele não fosse muito longe, mas Nico
sentiu lábios descerem contra os seus mais uma vez, e de novo e de novo, até
que… Nico não sabia… até que seus pés tocassem o chão novamente.
Obrigada por ler!
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