Capítulo XI
— Tudo bem?
Agora eles estavam fora do banheiro, andando em direção ao
refeitório depois de jogar uma água no rosto e de uma bala de hortelã. Nico não
se orgulhava disso, mas tinham gastado muito tempo entre acordar, conversar com
Bianca, dirigir até o colégio e... ir ao banheiro. Sua garganta ainda estava
seca e seus lábios inchados, seus joelhos doíam e uma sensação fantasma
permanecia em seu couro cabeludo onde Percy tinha o segurado. Contudo, Nico não
conseguia controlar aquela sensaçãozinha no fundo de seu ser, contente e
satisfeita, pela forma que ao invés de Percy estar segurando em sua mão, ele
agarrava em sua cintura, todo possessivo, encarando qualquer um que dirigisse
um olhar para ele que durasse mais do que três segundos. Nico também tinha
sentido falta disso. E isso o fazia uma pessoa terrível.
— Nico.
— Hm? — Ele respondeu quando Percy parou no meio do
corredor, tocando em seu rosto e o fazendo encará-lo.
— Eu sinto muito. Não queria que aquilo acontecesse. Isso
não tem que mudar nada entre nós.
Então, era isso. Percy realmente tinha medo de que ele fosse
correr para a Itália como tinha acontecido antes.
— Per, eu quis.
Para provar que tudo estava bem, Nico ficou na ponta dos
pés, abraçou o pescoço de Percy e juntou seus lábios, deixando que seus olhos
se fechassem por um momento. Percy imediatamente o abraçou pela cintura e o
beijou de volta, todo intenso, mordiscando seus lábios e juntando suas línguas,
roubando seu ar.
Nico ouviu um pigarro e um assobio, e não se importou, era
tarde demais para se preocupar com o que as pessoas iriam dizer. No momento ele
precisava acalmar Percy e mostrar que estava tudo bem. Então, descolou seus
lábios e continuou no meio dos braços de Percy, levando suas mãos para os
cabelos do amigo, tentando consolá-lo.
— Relaxa, tudo bem? Eu estava curtindo o momento.
— Curtindo? — Percy repetiu, franzindo as sobrancelhas,
talvez o apertando com mais força.
— Eu gostei. — Nico deu de ombros, tentando não rir ou corar,
enquanto o vinco no rosto de Percy se aprofundava. — Qual o problema nisso?
— Se você gosta tanto assim, não precisava ter ido para tão
longe.
Nico quase revirou os olhos, sabia o quanto Percy podia ser
ciumento e sabia o quanto ele próprio podia ser ciumento de volta. Sempre tinha
sido assim, esse tinha sido o motivo que realmente o assustou e o forçou a
fugir, mostrando a ele sentimentos que não conseguia lidar. Nico sabia
exatamente o que aconteceria se ele voltasse e ali estava a prova, a
possessividade em pessoa. Sabia que não devia, mas também tinha sentido falta
disso.
— Per. — Foi tudo o que ele disse por alguns momentos e
Percy abaixou ligeiramente a cabeça, parecendo se dar conta do que fazia. —
Estou aqui agora, não estou? Eu prometo que é tudo o que aprendi na Itália.
Era uma mentira, é claro. Mesmo que ele tecnicamente ainda
fosse virgem.
— É? — Isso foi o suficiente para que Percy perdesse a
expressão assassina e seu rosto se suavizasse num olhar doce, embora um pouco
desconfiado. Um beijinho veio em seguida, um roçar de lábios suave e molhado,
mãos deslizando em sua nuca num afagar afetuoso.
— Prometo que isso não vai se repetir.
— Não prometa o que você não pode cumprir. — Nico disse
quando enfim as borboletas em seu estômago se acalmaram. — Não me importo se
acontecer de novo.
— Desculpa. — Percy disse em seu tom usual, parecendo voltar
ao normal.
Percy deu de ombros e enfim deu um passo para trás, olhando
para Nico todo sorridente, apenas para levantar uma das mãos e ajeitar os
cabelos de Nico, as mãos de Percy deslizando para seu pescoço, e só então Nico
percebeu que Percy estava massageando o lado de seu ombro. A área latejava
levemente, dolorida.
— Chupão?
Outra coisa que não o surpreendia. Quer dizer, como Nico
pôde não ver? Não era a primeira vez que isso tinha acontecido.
— Você é um cachorro? — Nico resmungou sem realmente se
importar, o resto de seu corpo não estava muito melhor. E como ele poderia ter
o direito de reclamar quando podia ver um chupão na parte alta do peito de
Percy onde a camisa não escondia a pele? Nico apenas não lembrava quando isso
tinha acontecido.
— Desculpa. — Percy disse mais uma vez, seu sorriso se
alargando.
É, parece que nada tinha mudado.
— Você quer comer?
Por que não? Nico deixou que Percy voltasse a segurar em sua
cintura e ambos caminharam em direção a cantina. Percy fez o pedido para eles,
um suco, um milkshake e um pedaço de torta. Bianca teria se revoltado
instantaneamente se visse como Percy nem o tinha deixado falar, como se ele não
tivesse a capacidade para decidir por si mesmo. A verdade é que Nico mal teria
percebido esse comportamento se seu ex não tivesse feito o mesmo com ele, meses
atrás. Ele tinha se ofendido na época, finalmente começando a entender o
problema, vendo o que seus antigos amigos diziam sobre Percy. E agora,
observando Percy pegar o pedido e trazer para a mesa em que eles estavam...
ainda era difícil se importar com isso quando se tratava de Percy.
Aparentemente, uma cegueira seletiva o abatia quando Nico
via aqueles olhos verdes e sorriso feliz.
— Não está com fome? Quer outra coisa?
— Não, obrigado.
Nico deu a primeira garfada e gemeu, se sentindo tão feliz de
poder sentir o mesmo gosto, mesmo que sua felicidade tivesse outro motivo. Essa
felicidade era tão intensa só porque Percy fez esse gesto por ele? Ou era
porque o fazia se lembrar de tempos mais simples?
— Coma devagar.
— Sim, papai. Vou comer direitinho.
Percy não parecia nenhum pouco impressionado pela piada. Ele
fez uma careta e pegou o guardanapo, limpando o canto da boca de Nico, dizendo:
— Por favor.
E Nico? Ele apenas sorriu e continuou comendo contente,
feliz por saber que nada tinha mudado; o cuidado e a preocupação ainda
evidentes, só que agora o sexo tinha se tornado parte do relacionamento deles,
enfim completando o que faltava.
— Obrigado. — Nico disse sem pensar, observando Percy jogar
fora o guardanapo. — Eu nunca disse quanto sou agradecido.
— Não quero sua gratidão. — Percy, então o encarou, fazendo
força para não ficar todo sério e estragar o clima feliz. Mas ele não podia
enganar a Nico.
— Eu sei. Queria que você soubesse.
— Então?
— Isso entre a gente não tem nada a ver com gratidão. Eu
queria que você soubesse disso também.
Nico queria falar mais, queria dizer que nunca quis magoá-lo
e que nunca mais iria abandoná-lo. Ao contrário disso, Nico segurou na mão de
Percy e sorriu para ele. Imediatamente, o ambiente ao redor voltou a ficar leve
e o mundo ao redor deles parou de girar, no meio daquele caos todo criando um
lugarzinho apenas para os dois.
***
— Exatamente quem eu estava procurando!
Nico piscou rapidamente, parecendo surpreso pela interrupção,
e desviou o olhar em direção as novas vozes.
— Percy, são os seus amigos.
Infelizmente, Nico estava mais do que certo.
Percy suspirou e contou até dez. Quem mais podia ser? Grover
e Luke, é claro. Para Percy não fazia diferença quem tinha os atrapalhado, tudo
o que ele sabia é que se arrependia de ter amigos como os dele. Sinceramente?
Percy não se importava com a presença deles desde que os amigos não
interrompessem seu tempo com Nico. Isso era algo inegociável, por isso, Percy
se negou a deixar que Nico se afastasse; mantendo a mão de Nico sobre a dele, Percy
se virou para os amigos, pronto para mandá-los de volta de onde tinham vindo:
— O que vocês querem? — Percy suspirou mais uma vez, ouvindo
Nico rir dele. Ele segurou na mão de Nico com mais firmeza ainda, e só não
reclamou porque Nico momentos depois encostou a cabeça em seu ombro e segurou
em seus braços, todo doce, meigo e inocente, seus olhos negros irradiando
felicidade e divertimento, talvez um certo toque de malícia.
— Onde você estava? Perdeu um teste importante. — Luke
disse.
— Você vai no treino, não vai? — Grover completou. Ambos
tinham sorrisos estranhos no rosto e mantinham certa distância da mesa deles.
— O que foi?
— Parece que mosquitos morderam vocês. Noite dura?
Percy apenas suspirou, ele estava cansado demais para as
piadinhas deles.
— Percy, cara! Você desapareceu! Você não atende mais o
celular?
— Tanto faz.
— Ohhhh é um daqueles dias. — Luke disse, acenando, fingindo
estar pensando sobre algo sério. Ele até colocou a mão no queixo e franziu a
testa, fazendo uma pose pensativa.
— Não, é um daqueles “dia do bebê”. Você não se lembra? Um
clássico!
— Nãao! Perigo, perigo! É melhor a gente não se aproximar.
Devagar, bem devagar e sem movimentos bruscos.
Luke pegou no braço de Grover e juntos eles deram três
passos para trás, ainda de frente para eles, como se não quisessem dar as
costas para um animal selvagem e perigoso.
— Vocês são inacreditáveis. — Percy murmurou, tentando não
deixar que as memórias o lembrassem porque esses momentos eram chamados de “dia
do bebê”.
— A gente só queria saber como você estava! — Grover gritou já se afastando. — É bom te ver
de novo, Nico. E Percy, vê se aparece hoje!
Luke concordou e acenou sorrindo, ainda arrastando Grover
para longe.
— Dia do bebê? O que isso significa? — Nico disse quando
enfim eles desapareceram do outro lado do refeitório, o encarando com uma
expressão curiosa.
— Não é nada.
— Nada? — Nico insistiu. — Isso tem a ver com os dias que a
gente ficava em casa sem ver ninguém?
— Talvez.
Parte das vezes isso tinha a ver com a depressão que Nico
tentava esconder, mas em outras, calmas e felizes, tinha a ver com Percy querer
a atenção de Nico toda para ele. Era algo que eles não sabiam na época, Percy
descobriu que também tinha a doença, uma versão mais branda, mas que mesmo
assim, continuava a ser depressão e que por sorte não se desenvolveu para algo
mais sério.
— Que fofo. Vocês até têm um nome para isso. — A voz de Nico
soava brincalhona, então Percy achou que era seguro colocar a mão no ombro de
Nico e puxá-lo para mais perto, tentado a beijá-lo ali mesmo e sem pedir
permissão.
— Não foi ideia minha.
— Eu sei. É engraçado.
— O que é engraçado?
— Todo mundo menos eu via o que estava acontecendo.
— Quando você fala assim parece que eu te enganei. — Percy
disse, tirando do peito o que estava engasgado há anos.
— Não foi exatamente assim. No fundo, eu sabia.
— Você não estava pronto.
— Eu não estava. — Nico disse num tom de finalidade ainda
com a cabeça encostada em seu ombro, o que significava que ele não queria falar
sobre isso.
Não que eles precisassem, pois era óbvio. Sabia que se fosse
por Nico, eles nunca mais tocariam nesses assuntos, e sabia que Nico apenas
falava essas coisas para tranquilizá-lo. A verdade é que Nico tinha se mostrado
ser muito mais forte e independente que ele mesmo, e que se Nico dizia todas
essas coisas era para que ele se sentisse melhor. Percy até conseguia imaginar
o que mais Nico tinha percebido e escondido se essas coisas tinham sido o
motivo dele precisar atravessar o oceano para se sentir seguro.
— Na verdade. Eu não tinha certeza. — Nico disse de repente,
algum tempo depois. — Eu… eu nem sabia o que estava acontecendo entre a gente.
Eu sei que você… que você saia com outras pessoas e voltava… relaxado. Eu não
queria arriscar nossa amizade por algo que poderia estar dentro da minha
cabeça… e quando… quando você me beijou fiquei tão chocado! Parecia um sonho
dentro de um pesadelo, sabe?
— Pesadelo?
— Eu não sabia o que fazer ou como agir! Como eu deveria
receber isso? Você só me beijou e depois pediu desculpas! Pareceu que você
tinha se arrependido menos de dois minutos depois!
— Oh. — Percy franziu o cenho e tentou se lembrar daquela
noite. — Não é o que eu me lembro.
— O que você se lembra?
— Do seu olhar confuso e de medo. Você ficou tão tenso,
parecendo que queria fugir de mim. As lagrimas no seu rosto. Eu tentei
consertar as coisas, mas já era tarde demais. Você nem me deixou falar e saiu
correndo.
— Eu fiz isso? — Nico parecia sinceramente chocado com o
próprio comportamento. — Eu… eu só não queria ver aquela expressão de decepção
no seu rosto. Eu não conseguia ver nada além disso.
— Eu entendo.
A verdade era que Percy não entendia nada. Como ele pode ser
tão impulsivo? Como eles puderam se desencontrar a tal ponto de uma falha de
comunicação quase destruir tudo, quase o fazendo perder a pessoa que ele mais
amava?
Percy largou sua comida e abraçou Nico bem forte até que a
sensação de perda foi substituída pela de alívio. Ele nunca deixaria que isso
acontecesse novamente.
Capítulo XII
— Presta atenção! — Percy gritou
e passou a bola para Chris Rodriguez, um garoto alto de feições hispânicas. Um
amigo ótimo, mas que agora estava lhe dando nos nervos.
Tudo bem, não era culpa de Chris. Percy queria terminar logo
aquele treino e encontrar Nico que o esperava nas arquibancadas. Era demais
pedir que o tempo passasse mais rápido?
Percy gritou de novo, agora vendo Charles Beckendorf se
distrair com a namorada líder de torcida.
Porra, será que dava para alguém fazer alguma coisa certa!?
— Cara, pega leve! — Grover veio correndo até ele quando o
treinador encerrou o treino antes do normal. — Seu garoto não está cuidando de
você?
Grover estava certo, Nico tinha cuidado muito bem dele.
Percy até tinha relaxado depois do ato, mas então ele sentiu aquela raiva subir
para cabeça observando aquelas pessoas cobiçarem o que era dele. Quando Nico
era solitário e indefeso ninguém fez nada, preferindo o isolar, mas agora que
Nico cresceu e ficou alto com aqueles ombros largos e intensos olhos negros,
levando seu violão pelos cantos sendo impossível não se encantar quando ele
cantava, isso o tirava do sério. Trazia seu pior lado para fora.
Percy admitia que estava enlouquecendo, devagar e constante,
brigando com quem tentasse se aproximar. Esse devia ser o único motivo para ele
querer que as pessoas ficassem longe de Nico. Quer dizer, não era muito
diferente do que acontecia antes. Não que ele tentasse esconder, Percy afastava
as pessoas de propósito e sabia disso. Nico também sabia disso. Até o zelador
sabia. Ele queria se sentir mal por agir dessa forma, impulsivo e tão...
errado. Pensou que esse Percy tinha ficado no passado e que ele tinha morrido
com a partida de Nico, se achando tão adulto agora que não agia dessa forma.
Isso é, até Nico voltar e mostrar para ele que ainda era o mesmo menininho
inseguro e ciumento.
— Per-cy! Terra para Percy. Tem alguém em casa? — Grover
disse e balançou a mão em frente a seu rosto, vendo que agora um grupo de
garotos se formava ao redor deles.
Era normal, afinal ele era o capitão. Esse seria o momento
em que eles costumavam ter conversas sobre possíveis mudanças na estratégia de
jogo. Hoje não era um desses dias. Hoje, Percy não tinha prestado atenção em
nada, em passes de bola, a posição dos jogadores na quadra ou quantas cestas
foram feitas.
— Desculpa, gente. Vocês estão dispensados.
— Jackson, qual é? Fala logo. — Luke disse, caminhando
despreocupado até ele.
Percy respirou fundo e tentou se concentrar.
— Falar o quê?
— Você não vai pirar de novo, vai? — Outra pessoa falou,
embora todos soassem iguais para ele.
— Quem concorda no sub-capitão tomar conta do time? — É
claro que Luke falou isso já que ele era o sub-capitão.
— Façam o que vocês quiserem.
Nada importava mais do que Nico. Calmamente, ele tirou a
faixa de capitão do braço e jogou para quem estivesse mais perto, dando as
costas para eles.
— Quero ver quanto tempo vocês duram.
— Percy, volta aqui! Eu estava brincando! Desde quando você
escuta o que eu digo?
Percy não voltou, continuou marchando para a saída,
lembrando de pegar suas coisas perto do vestiário e só parou quando encontrou
Nico na parte de baixo da arquibancada, alheio ao que acontecia à sua volta.
Ele estava sentado na grama, com as costas apoiadas no pé da estrutura da
arquibancada, dedilhando no violão e murmurando algo baixo na voz mais
aveludada e doce que ele já tinha ouvido. Nico parou de tocar e então se virou
em direção ao caderno em frente a ele para anotar algo, tudo isso enquanto as
pessoas ao redor o observavam com admiração.
Sabe, ninguém costumava assistir aos treinos além das
líderes de torcida, mas ali no sol do fim de tarde e com os pássaros cantando,
Nico nunca esteve tão belo; cabeça abaixada e postura relaxada, lhe dando a
impressão de que cada vez mais a plateia se multiplicaria se isso continuasse
acontecendo. Então… então aquela raiva voltou com tudo e foi tão de repente que
Percy parou antes que Nico pudesse notar sua presença. Ele não queria que Nico
visse essa parte sua.
Percy inspirou fundo por longos momentos e só quando teve
certeza que conseguiria se controlar, se aproximou o resto do caminho, parando
na frente de Nico.
— Você está pronto? — Perguntou a Nico.
— Hmhm. — Nico acenou. Ele levantou a mão do violão e se espreguiçou.
— Você não tem que fazer nada? Ainda são três horas da tarde.
— Não, hoje sou todo seu.
Foi quando Nico levantou a cabeça, o olhou entre os cílios e
sorriu para ele, todo meigo e tímido, o levando de volta para tempos mais
simples.
— Vamos? — Percy quase esqueceu das pessoas ao redor,
murmurando mais distantes deles. Bastou Nico acenar novamente enquanto guardava
suas coisas e segurar nas mãos de Percy para que aquelas pessoas insignificantes
desaparecessem de vista, embora elas ainda continuassem a murmurar feito
pequenos insetos barulhentos.
Ele pegou a mochila de Nico, o ajudando, e Nico colocou o
violão no ombro no lado onde Percy não segurava em sua mão.
— Música nova?
— O grupo de prática de banda vai se apresentar no baile.
— Vai, é? — Percy até já podia imaginar quantos fãs Nico
conseguiria nessa noite.
— Por que você não me disse sobre o baile? Nunca fui em um.
— Eu não estava planejando ir. — Não desde que Nico tinha
voltado, mas agora que ele mencionou o baile… — Você quer ir comigo?
— Senhor Jackson! Você está me chamando para sair? É um
encontro?
— Só se você quiser.
Percy não se conteve, Nico estava rindo e fazendo piadas com
tanta alegria que isso esquentava seu coração. Percy teve que parar no meio do
caminho, segurar Nico contra seu peito e beijá-lo até que ambos estivessem sem
ar; em seus lábios, maçãs do rosto, mandíbula e pescoço. Percy só parou quando
Nico riu tanto que lagrimas saíram de seus lindos olhos negros.
— Então, está marcado. É um encontro.
— Seu bobo. — Nico suspirou, o encarando bem de pertinho, e
outro impulso o tomou. Percy secou as lágrimas de risadas que ainda caiam e o
beijou mais uma vez, apenas para expressar o quando Percy o amava.
— Estou falando sério. Até vou usar um terno. O que você
acha? — Percy disse, dando uma voltinha como se já estivesse usando um.
— Eu acho que você vai ficar muito bonito.
— Eu pensei que eu já era. — Nico sorriu de novo e Percy nem
tentou se controlar. Dessa vez, ele abraçou Nico pela cintura e o beijou como
na noite passada, como se ninguém estivesse vendo. Nico gemeu, agudo no fundo
da garganta, e só assim Percy parou, sentindo Nico o afastar, o empurrando sem
força pelo peito.
— Per. — Nico choramingou, piscando devagar, quase gemendo
de frustração, mas tão suave que Percy sentia vontade de encostá-lo contra a
parede e resolver o problema deles bem ali. Isso iria mostrar a quem Nico
pertencia.
O quê? Não! Ele não era essa pessoa. Ele não…
— Per? — Ele sentiu dedos macios contra seu rosto e piscou,
tentando tirar esses pensamentos da cabeça. Nico parecia preocupado, um leve
vinco entre as sobrancelhas se formando. — Tudo bem?
— Claro, tudo bem.
Nico tinha razão em ter fugido dele. No fim, o perigo não estava
nas outras pessoas e sim nele, um garotinho doente e possessivo.
— Você quer comer alguma coisa? Está ficando tarde.
Percy apenas acenou, sendo puxado por Nico em direção a seu
carro. Ele sentia a preocupação emanar de Nico na forma que ele falava todo
baixinho e cuidadoso, os toques afetuosos em seu braço ou no ombro, como se
tentasse consolar um garotinho que tinha caído e machucado a perna. E mesmo
sabendo de tudo isso, Percy não se sentia culpado. Entendia perfeitamente o que
estava fazendo, e ainda assim, deixou que Nico o consolasse, absorvendo a
atenção que Nico lhe dava feito uma esponja no deserto.
No fim, eles acabaram voltando àquele mesmo restaurante que
Nico tanto tinha gostado, pedindo outra garrafa de vinho e toda a macarronada
que Nico fosse capaz de comer. Sabia que devia pelo menos avisar a mãe que a
esse ponto deveria estar preocupada com sua ausência. O problema é que Percy estava
contente demais e logo se esqueceu disso. Preferiu observar Nico comer com
vontade e beber mais da metade da garrafa de vinho como se fosse água, bem
menos bêbado que na vez anterior. Percy não se importava, porque, na realidade,
estava exatamente onde queria estar, com Nico sorrindo para ele e prestando
atenção somente nele.
Capítulo XIII
Nico nem se surpreendia com isso. Ele se deixou relaxar
contra o ombro de Percy e observou, desinteressado, Percy agarrar com força em
seus ombros, o puxando para mais perto. E sabem por quê? Tudo isso porque um
homem que passava em frente à mesa deles olhou em sua direção por mais tempo do
que o necessário. Imediatamente, Nico soube que algo estava errado. Ou melhor, soube
que eles estavam caindo nos mesmos vícios de antes.
Para falar a verdade, era difícil se preocupar com essas
coisas, como demonstrações de possessividade em público ou a tendência de
isolamento que eles tinham. Era desgastante repreender Percy por cada coisinha
que ele sabia ser errada, principalmente quando Nico, bem no fundo, gostava de
ver como sua presença afetava as ações de Percy, a forma que Percy o tocava sem
a hesitação de antes, ainda mais quando eles estavam tão próximos um do outro.
Nico não podia evitar, Percy cheirava tão bem, e sentir aqueles braços fortes
em volta dele e os beijos que o faziam estremecer, era irresistível.
Infelizmente, Nico não tinha escolha. Ele precisava fazer a coisa certa, e
parecia que aquele era o momento perfeito para falar sobre essas coisas, o
momento onde ninguém iria interrompê-los ou escutar o que ele tinha a dizer.
— Lindo. — Percy murmurou contra seus lábios antes que Nico
pudesse se decidir, e o puxou para perto, até que não restasse nenhuma
distância entre seus corpos. Eles ainda estavam no restaurante e essa não era
uma atitude adequada para se ter em um lugar público.
— Per. Para com isso.
— Hm? Eu não-- eu sinto muito.
— A gente precisa conversar.
Isso fez Percy parar e olhar para ele com aqueles intensos
olhos verdes. Nico viu Percy respirar fundo e o encarar todo sério. Isso era
pior ainda, a expressão no rosto de Percy o fazia querer abrir as pernas e
obedecer a tudo o que Percy mandasse, e Nico sabia exatamente o que Percy
pediria se eles se deixassem levar.
— A gente não precisa conversar. — Percy falou quando ele
não disse nada.
— Não precisamos?
— Eu sei de tudo. É o meu comportamento.
— Se você sabe…
— Não consigo me controlar.
Hm… isso era uma evolução. Nico acenou e sorriu, orgulhoso
de Percy. Mas, ainda assim, Nico não se sentia bem com a direção que as coisas
estavam tomando. Quer dizer, ele não se sentia bem moralmente. Nico não se
enganaria, Percy mudando sua atitude ou não, sendo correto ou não, a relação
entre eles continuaria se desenvolvendo e não havia nada que eles pudessem
fazer que o impediria de continuar ao lado de Percy.
— Sei que não é certo. — Percy voltou a falar, segurando
cuidadosamente no rosto de Nico.
— E o que mais?
— Vou tentar melhorar.
Nico deixou o ar sair e relaxou contra o assento do
restaurante. Era tudo o que ele queria ouvir. E isso era a pior coisa que
poderia acontecer. Percy falava o que ele queria ouvir, e não o que iria
acontecer.
— Olha, eu não me importo de verdade. — Nico enfim
confessou, sentindo seu estômago se revirar. Ele devia estar consertando as
coisas e não o incentivando ainda mais. Porque ele sabia quem tinha o controle
naquela relação, e se Percy quisesse, Nico deixaria tudo aquilo acontecer.
— Você não se importa? — Agora Percy parecia sinceramente
confuso. Ele até inclinou a cabeça, apertando os olhos em concentração.
— Eu sei quem você é e porque faz essas coisas. Talvez eu
tenha certa culpa…
— Então, qual o problema?
— Isso afeta sua relação com as pessoas. Você é capitão do
time e vai ser orador da turma. Não quero que isso… que nosso relacionamento
destrua o que você lutou para conquistar.
— Nico. — Foi quando ele viu Percy arregalar os olhos e o
encarar com um olhar perdido, o abraçando com mais força ainda.
— Você sabe que eu não fui embora por causa de você, não
sabe? — Nico teve que dizer, tentando esclarecer as coisas.
— Eu pensei que…
— Não, Per! Você não é o problema. Nem mesmo sua mania de
nos isolar dos outros me incomoda.
— Eu sou horrível.
— Eu também sou. Eu… eu gosto. Eu te incentivei. Quando
alguém mostrava interesse em você, eu…não me orgulho do que fiz.
— O que você fez? — E onde ele achava que veria julgamento,
Percy mostrou a ele a pura curiosidade.
— Você lembra da Rachel e dos irmãos Stroll? Não quero falar
disso. O problema aqui é que eu… eu não queria sexo e não sabia como dizer isso
pra você. Então, eu… eu fugi e agora… tudo está pior!
— Não diga isso. Eu prometo que--
— Não, você não entende! Eu senti sua falta todos os dias.
Nunca mais quero passar por isso. Eu… eu… você nunca mais vai se livrar de mim!
Está me ouvindo?! Nunca mais! — Para provar seu ponto, Nico puxou Percy pela
jaqueta e o beijou, praticamente batendo seus dentes e o abraçando bem apertado.
— Bebê.
— Não, não é isso. Quero dizer que agora você não tem razão
para me deixar estragar as coisas.
— Nico. — Percy falou aquilo tão baixinho e suavemente que Nico
teve que parar por um momento. — Você é a melhor coisa na minha vida. Eu te
amo, é minha culpa você pensar dessa forma.
— Não é sua culpa. E eu… eu também te amo.
Pronto, Nico tinha dito o que precisava. Por algum motivo
sentia um aperto no coração, uma pressão no peito que só o toque de Percy podia
aliviar. Ele mal conseguia pensar racionalmente, porque nada daquilo era
racional. Não essa possessividade que ambos sentiam ou essa necessidade de
estar perto um do outro. Não podia ser saudável. Ou normal. Como as outras
pessoas podiam viver sem se sentir tão amadas e desejadas como ele sentia ao
olhar para Percy?
— Está tudo bem. — Percy disse, esfuziante em seu sorrir. —
Você pertence a mim e eu pertenço a você. Pode não ser comum, mas porque
resistir?
— Está tudo bem mesmo?
— Está, eu prometo. Vou fazer de tudo para que dessa vez as
coisas deem certo. Você confia em mim?
— Eu confio. — Como ele podia não confiar quando seu corpo e
alma se elevavam com o simples toque de dedos contra sua nuca e lábios molhados
contra os seus?
— Você não precisa se preocupar, está tudo sobre controle.
E Nico acreditou.
Com um suspiro aliviado, Nico se deixou ser abraçado e
consolado. Confiaria que Percy cuidasse de tudo, exatamente como sempre tinha
sido.
Cena Bônus: Achei que
esse capítulo ficou pequeno, então decidi trazer uma cena do passado. Um
presente curto para vocês.
Extra - Festa do pijama
— Obrigado por vir. — Percy Jackson abriu a porta e deu
passagem para ela entrar.
Clarisse estranhou imediatamente,
eles não eram os melhores amigos e nunca seriam. Ela não sabia explicar, Percy
costumava ter uma aura de quem pisaria em qualquer um para ter o que queria… ou
melhor dizendo, Percy era uma das pessoas mais intimidadoras que ela já tinha
conhecido. Clarisse sabia que Percy usava sua altura e força para se destacar,
mas era algo mais do que isso. Sinceramente? Nunca pensou que fosse ser
convidada para participar das festas dos populares, e muito menos pelo
garotinho magro e nerd que sentava todas as aulas ao lado do capitão psicopata
de basquete. O que mais a constrangia era como da noite para o dia a atitude de
Percy tinha mudado, de valentão para polidamente educado.
Era por isso que nesse momento
Clarisse estava parada em frente a porta de Percy Jackson, hesitando em dar o
próximo passo. Nunca se sabia o que poderia ter dentro da casa de um psicopata.
Mas, enfim, quando parecia que nenhum dos se renderia, Percy estendeu a mão.
Entretanto, ele só pegou a travessa com os sanduíches e salgadinhos de suas
mãos quando ela ofereceu a ele primeiro.
— Isso é muita coisa. — Ele disse,
obviamente fazendo força para parecer simpático.
— Não foi nada. — Não foi mesmo,
eles tinham encomendado no dia anterior. Talvez sua mãe tenha exagerado.
A verdade é que ela não sabia ao
certo o que levar. Tudo o que Nico tinha dito era para ela trazer alguma coisa
e aparecer até o meio-dia. Geralmente ela ficaria bem longe daquele tipo de
gente, mas Annabeth tinha pedido para ela espionar, por isso estava ali,
tentando ser civilizada com a pessoa mais selvagem que ela já tinha conhecido.
— Entre. — Foi tudo o que Percy
disse antes de dar as costas e seguir pelo longo corredor para dentro da casa.
Ela o seguiu, se surpreendendo
pelo tamanho da sala de estar.
Ali havia uma grande mesa de
buffet onde Percy tinha colocado os salgados, sofás longos e confortáveis,
puffs, um telão de cinema e tanta comida que Clarisse achava ser impossível de
comer, sem contar os móveis de bom gosto, decoração em tons pastéis e uma
maravilhosa vista para um jardim bem cuidado e uma piscina olímpica.
— Se sinta à vontade. — Sem
esperar, Percy desapareceu subindo as escadas e entrou em outro corredor.
— Ele é assim mesmo. Você se
acostuma.
Distraída, Clarisse deu um pulo e
olhou em direção ao sofá. Era Grover! Finalmente alguém decente nesse lugar.
— O que está acontecendo aqui?
Cadê as pessoas dessa festa.
— Festa? É mais uma noite do
pijama.
— Noite do pijama?
— Percy e Nico não gostam de
confusão.
— Hm? — Ela não estava entendendo
nada.
— A gente se reúne pra comer
alguma coisa e assistir um filme. Às vezes pra jogar alguma coisa.
— É isso que vocês gente rica
fazem?
— Não, mas Percy e Nico gostam
assim.
— “Percy e Nico”? Eles são uma
entidade por acaso? Um ser único?
Isso fez Grover gargalhar. Sentado
no sofá, o garoto segurou a barriga e jogou a cabeça para trás.
— Você está mais certa do que
pensa! Gostei de você, acho que vai se encaixar muito bem com a gente.
— A gente? Quem exatamente? Não
estou vendo ninguém.
— Gente, temos companhia! — Grover
colocou a mão em volta da boca e gritou, criando um eco pela sala.
Miraculosamente, pessoas começaram a vir de todas as direções, escadas abaixo,
e de cada corredor ou porta fechada.
— Clarisse, é bom te ver. Como vai
a esgrima?
Silena foi a primeira a se
aproximar. Ela tinha sido sua parceira por anos antes de ter que se focar nos
estudos e nas líderes de torcida. Beckendorf estava atrás dela, todo sério e
quieto. Quem Clarisse não esperava encontrar era Luke e Thalia, Leo também. Não
que fosse surpresa, todos eram populares de seu próprio jeito. Ela só não
entendia por que Annabeth não estava entre eles; ela parecia alguém que se
encaixaria perfeitamente.
— O que te traz ao nosso humilde
cafofo? — Luke perguntou todo charmoso, desfilando até se sentar a seu lado. —
Nunca pensei que te veria aqui.
— Nico me convidou, então, eu vim.
— Ela deu de ombros. Talvez ela só estivesse curiosa para saber como aquela
gente vivia.
— Não se preocupe, logo perde a
graça. Você vai ver.
Como se anunciando a deixa, Percy
e Nico desceram as escadas, de mãos dadas e falando algo em um tom tão baixo
que seria impossível escutar daquela distância. Entretanto, assim que Nico viu
sua presença, ele veio até ela e a abraçou, dizendo: — Fico feliz que você
tenha vindo. Está com fome?
— Talvez, depois.
— Certo. — Nico sorriu para ela,
segurando em suas mãos rapidamente e se levantou indo em direção a Percy que
tinha observado tudo de braços cruzados e com a expressão mais ameaçadora que
ela já tinha visto. Isso é, tudo isso aconteceu antes de Nico se voltar para
Percy, pois no instante seguinte, Percy sorriu, mostrando dentes brancos e
covinhas bonitas, com tanto amor no olhar e oferecendo apenas bondade e
felicidade para Nico que Clarisse pensou que Percy fosse duas pessoas
diferentes.
Ela estava ali há cinco minutos e
achava ser suicídio social tentar fazer qualquer coisa que atrapalhasse o que
estava acontecendo entre os garotos. E a cada momento que passava, se
surpreendia mais. Viu em câmera lenta Percy receber Nico entre seus braços e o
apertar bem forte para em seguida beijar a testa de Nico, enquanto Nico apenas
sorria contente, praticamente engolido pelo corpo de Percy. Ela nunca tinha
visto um gesto tão fraternal se tornar tão sexual e possessivo em meros
segundos.
— Isso é normal? Nico precisa de
ajuda? — Ela cochichou para Grover e Luke que estavam a seu lado.
— Você acha que ele precisa?
Era uma boa pergunta. Quase
desaparecendo atrás de Percy, viu Nico arrastar Percy para o meio da sala e se
sentar entre os puffs, em frente a uma mesinha de centro. Logo alguém trouxe
alguns pratos de comida para perto deles e todos começaram a comer, mesmo que
os pratos estivessem mais próximos de Nico. Isso é, quase todos começaram a
comer, Percy apenas observou o desenrolar dos fatos, parecendo fiscalizar o que
acontecia ao redor dele com um olhar satisfeito vendo Nico comer com
entusiasmo.
— Quer mais? — Percy perguntou a
Nico. E sem esperar a resposta, voltou com uma bandeja cheia de mini-pizzas. —
O seu favorito.
— Obrigado, Per. — Nico sorriu
docemente e sua voz soou ainda mais amorosa, destilando mel, açúcar e tudo de
bom no mundo.
— Acho que vou vomitar.
Clarisse concordava com Luke, meio
hipnotizada, vendo aquela cena doméstica. Felizmente ela foi quebrada quando
Percy olhou para eles com um sorriso de canto para lá de cínico, dizendo:
— O banheiro fica na segunda porta
à direita. — Entretanto, Percy logo disse, se lembrando de ser um anfitrião: —
Porque vocês não pegam um prato. Não quero ter que jogar comida fora.
E já que ele dizia de forma tão
amável, por que não?
Clarisse foi a primeira a se
levantar e ir até a mesa do buffet. Ela começou com um pedaço de bolo de limão
e um copo de suco de maçã. Se sentou ao lado de Nico e dessa vez, não parecia
que Percy iria a fuzilar com o olhar. Percy sinceramente parecia contente em se
sentar colado a Nico e vê-lo comer com um olhar enamorado.
Até o fim da noite, assistindo o
segundo filme e vendo Nico dormir sobre o ombro de Percy na maior demonstração
de amor que ela já tinha visto, Clarisse chegou a uma clara conclusão. Tinha
pena de Annabeth e de qualquer um que tentasse ficar no caminho de Percy
Jackson e seu doce companheiro que de inocente tinha apenas o sorriso.
***
— Por que tanta comida? — Era a grande questão da noite.
Clarisse percebeu que assim que um prato se esvaziava, outro
substituía seu lugar, um mais gostoso do que o outro. Tudo o que ela sabia é
que não aguentava mais e que não conseguia parar de comer.
— A família do Percy tem um restaurante.
— Eu sei disso. Todo mundo sabe.
— Nos considere um grupo de testadores. — Nico disse a ela,
comendo um doce que Clarisse não sabia o que era. — Se a gente gosta, entra no
cardápio. Se não, entra em revisão.
— A questão é. Quem fez tudo isso?
— Eu e Sally, a mãe de Percy. — Nico deu de ombros e sorriu
quando viu a reação de Clarisse.
— Você sabe cozinhar?
— Desde pequeno.
— Você não é rico? — Quando Nico olhou para ela, todo
confuso, Clarisse completou: — Quer dizer, você não tem empregados para isso?
— Cozinho quando estou nervoso ou ansioso.
— Sério?
— Pra gente, comida é um gesto de amor.
Mas Nico não falava isso olhando para ela, não, Nico tinha
as mãos no colo e seu rosto estava corado, observando Percy conversar com um
grupo de garotos perto da varanda enquanto eles continuavam perto da mesinha de
centro.
— Um gesto de amor?
— Sei que Percy parece grosseiro às vezes. É só que ele tem
dificuldade em confiar nas pessoas.
— E você?
— Eu confio nele.
— Claro.
— Sabe… a gente cuida dos nossos amigos…
— O que isso quer dizer?
Nico sorriu de novo para ela, seus olhos negros brilhando,
enquanto ele mordia mais um pedaço do doce. Logo Clarisse entendeu o que
acontecia. Percy vinha caminhando em direção a eles, todo orgulhoso de si
mesmo. Num primeiro momento Clarisse não tinha entendido nada, e só percebeu a
armadilha quando um garoto menor apareceu atrás de Percy. Era Chris, o garoto
que ela tinha visto pelos corredores e nunca tinha tido a coragem de falar com
ele.
Era até engraçado. Percy puxou Chris para a frente e deu um
empurrão no garoto até que ele estivesse em sua frente, o rosto corado de
vergonha.
— Clarisse, quero te apresentar Chris Rodriguez.
— A gente já se viu por aí.
— Isso não é ótimo? — Percy piscou para ela e guiou Nico
pelo braço tão rapidamente para longe que quando viu, ela e Chris estavam
sozinhos. E já que eles estavam ali… por que não? Ela sorriu para Chris,
pensando que no fundo Percy Jackson não era tão ruim assim.
Capítulo XIV
Nico não tinha certeza se devia
estar fazendo isso.
Não podia negar que noite passada tinha sido boa, porém, na
vez antes disso, Nico tentou com o ex e… bem, tinha sido tão ruim que tudo o
que ele sentiu foi ansiedade, dor e vontade de vomitar. Assim que pôde, Nico
saiu correndo e evitou de falar ou se encontrar com Will durante o resto do
tempo que ficou em Veneza. Parte disso era vergonha por ter entrado em pânico,
descobrindo no processo que não estava pronto para fazer certas coisas com
meros desconhecidos, e a outra parte era… não queria admitir, mas era difícil
para ele confiar nas pessoas. E daí se ele tivesse namorado outras pessoas
depois de Will? Não era sua culpa se não conseguia relaxar ao redor do loiro.
Era por esse motivo que hesitava, mesmo sabendo ser injusta
a comparação entre os dois. Ou entre qualquer outra pessoa e Percy. Will nunca
tinha o convidado para comer em lugares que ele gostava ou o levado para
conhecer, ou melhor, redescobrir a cidade como Percy tinha feito naquela noite.
Eles tomaram sorvete, visitaram um parque natural e andaram de mãos dadas pelas
ruas iluminadas sob a luz do luar. Tinha sido uma noite tão calma e agradável
que Nico se esqueceu do que tinha acontecido na Itália ou mesmo toda a confusão
com Annabeth que ele nem gostava de lembrar. Mas ali estavam eles, novamente em
seu quarto, mochilas e roupas jogadas ao chão. Eles nem tinham acendido as
luzes na pressa de chegar ao segundo andar da casa, indo em direção a sua cama
o mais rápido que puderam. Sua jaqueta e camisa vieram primeiro, em seguida,
Percy fez o mesmo consigo mesmo, mais rápido do que Nico podia acompanhar.
Nico tinha arfado e suas pernas tinham fraquejado, sentindo
Percy o tocar com força, o puxando pela cintura e se moldando contra suas
costas.
Pele na pele, braços em volta de seu corpo e respirações
apressadas em sincronia; lábios contra seu pescoço, mordiscadas que iam e vinham
por sua nuca e que encontravam o lóbulo de sua orelha, sugaram sua pele
devagar. As mãos grandes e quentes de Percy não ficaram para trás, o tocando no
peito. Elas subiram mais uma vez, massageando seus ombros e deslizaram
lentamente para baixo, chegando em seus quadris para enfim o tocar por cima do
jeans. Os botões foram os próximos, Percy os abriu e desceu o zíper, como se
desembrulhasse um presente valioso.
Tudo o que Nico pôde fazer foi observar e morder os lábios,
tentando não gemer enquanto via Percy explorar seu corpo, preso no meio do
caminho. A verdade é que Nico ainda não tinha certeza, não sabia o que
acontecia com ele; uma hora queria Percy o tocando com toda a força de seu ser
e na outra, não tinha certeza de nada. Apenas sabia que queria que Percy
continuasse a segurá-lo para sempre, mas que não o machucasse ou o forçasse
como outras pessoas tinham tentado.
— O que foi? — Percy disse contra a pele de seu ombro,
colocando mais um beijinho ali que o fez estremecer, seu corpo relaxando sem
sua permissão.
— Eu não sei. Eu…
— Hm. — Percy murmurou, se movendo devagar com ele em
direção a cama. — Você quer me dizer alguma coisa?
Sim, Nico queria. Queria dizer que não estava bêbado o
suficiente para ignorar seus medos e que tinha ignorado qualquer coisa sexual
por mais de um motivo. Mas antes de chegarem à cama, Percy parou no meio do
caminho e beijou seu pescoço mais uma vez, tão suavemente que Nico sentiu seu
coração dobrar de tamanho.
— Sei que você tem medo. Sei que perdi o controle no
passado. Mas você pode confiar em mim.
— Per. — Tinha sido apenas um beijo, um impulso descuidado
no passado, e parece que aquele momento os perseguiria para o resto de suas
vidas. — Não é isso. Eu...
— Então, me diga. E eu vou te dar. Não importa o que seja.
Por que isso era tão difícil?
— Eu...
— É sobre o seu ex?
— Ele... ele...
Percy parou de se mover e até o ar ao redor deles se tornou
imóvel.
— O que ele fez com você?
— Nada! — Nico se apressou em dizer, ansioso. — Não foi
nada.
— Nico.
— Quer dizer! Você se lembra do Jason, o amigo que eu te
contei? Ele impediu que Will...
Foi quando Percy o virou de frente para ele e segurou forte
em seus ombros, seus olhos dilatados e ferozes o encarando como se Percy
quisesse arrancar a verdade dele dessa forma.
— Você mentiu para mim. O que mais esse garoto fez, hm?
— Percy! — Ele não queria acreditar que Percy era uma dessas
pessoas.
Percy o segurou pelos braços e o jogou na cama, prendendo
suas mãos acima da cabeça.
— Me responda!
— Ele... ele me amarrou e... e tirou minha roupa... e
quando... quando estava prestes a... Jason chegou, bateu em Will e me
desamarrou! Feliz agora!?
Assim que ele disse isso, Percy o soltou e parou de tocá-lo
imediatamente. Isso surpreendeu Nico, o ofendeu e o machucou na mesma
proporção. Percy tinha nojo dele sabendo que outro homem tinha tocado nele? Era
isso?
Então, a cama se moveu e Percy o tocou no ombro suavemente.
— Não, bebê, não chora. Eu sinto muito.
— Você não me ama mais? — Nico perguntou e escondeu o rosto
no travesseiro, tentando prender o soluço.
— Não, isso é impossível. Não quero que--
— Eu só… não gosto de ser amarrado e… — Outro soluço, — Foi
horrível quando ele tentou… tentou me penetrar e…
— Shhh, está tudo bem. Prometo que não vou te tocar.
Ele não aguentava mais! Não era isso o que Nico queria.
Chorando feito um bebê, ele engatinhou até onde Percy estava
deitado, todo tenso, e se sentou no colo de Percy, o abraçando bem apertado
pelo pescoço.
— Eu quero que você me toque! Quero que você me foda até que
eu não consiga andar, mas… doeu tanto! Não quero que doa. Quero que só você me
toque! Só você me beije! Só você… ah!
Nico gritou e curvou as costas quando Percy o puxou pelos
cabelos, aproximando seus rostos.
— Eu devia te punir. Devia te mostrar como um bom garoto tem
que se comportar.
— Eu--
— Não terminei. Não importa com quem você transou na Itália,
você mentiu para mim. Escondeu algo importante por causa de vergonha? Por que
um garoto qualquer te enganou e te humilhou? O que aconteceu? Eu quero a
verdade.
— Estou dizendo a verdade. — Nico virou a cara para o lado e
se calou, ele se negava. Não era da conta de Percy o que ele tinha feito.
— Vai ser assim? Desde quando você começou a mentir para
mim?
— Eu... eu não menti sobre não gostar.
— Você concordou em fazer alguma coisa e se arrependeu?
Nico acenou, sentindo o rosto esquentar.
— Você não confiava nele?
Acenou de novo.
— Pensei que estava pronto... e... — Nico deu de ombros. —
Aí, Jason me ouviu gritar e... preso na cama... ele bateu em Will e Will ficou
furioso. Will veio atrás de mim, mas eu não quis explicar o que tinha
acontecido, então, eu terminei com ele e Will ficou mais furioso ainda.
— Então, você brincou com o garoto, dispensou ele e deixou
que as pessoas pensassem que esse Will era o culpado?
— Eu não queria fazer isso, eu só...
— Nico.
Percy o conhecia bem demais.
***
— Então, você brincou com o garoto, dispensou ele e deixou
que as pessoas pensassem que esse Will era o culpado?
— Eu não queria fazer isso, eu só…
Quando Percy falava assim, era difícil negar o fato.
— Nico.
Percy o conhecia bem demais.
Nico odiava quando Percy falava assim com ele, sério e
rígido, todo autoritário. Se sentia feito um garotinho repreendido e indefeso,
esperando pelo castigo. Era algo nítido feito a água, ele faria de tudo para
Percy perdoá-lo. Não que fosse novidade. Então, respirando fundo, disse:
— Sinto muito. Eu nunca faria isso com você.
— Você já fez. — Percy disse e o olhou de forma firme e
dura, ainda o segurando pelos cabelos de um jeito doloroso que não doía de
verdade. Mas Percy estava certo, ele tinha feito, tinha fugido sem dar qualquer
explicação, e se arrependia muito disso. Se fosse necessário, Nico passaria o
resto da vida se desculpando.
— Como posso me redimir?
— Eu não sei.
— Por favor. Faço qualquer coisa.
— Qualquer coisa? — Então, Percy sorriu e soltou seus
cabelos, se ajeitando contra o batente da cama. — Tire suas calças.
Nico fez o que Percy pediu. Sentindo as pernas moles, ele se
levantou, tirou as calças, cueca e meias e voltou para cama prestes a se sentar
no colo de Percy quando foi parado.
Percy o segurou pelo ombro e com o mesmo sorriso, disse: —
De barriga para baixo. No meu colo.
— Eu não entendo.
— Logo você vai.
Ainda confuso, Nico se deitou contra as pernas de Percy e
esperou.
Momentos depois tudo fez sentido.
Primeiro, sentiu Percy se aconchegar contra a cabeceira da
cama, depois, com uma das mãos segurou em seus cabelos e com a outra, deslizou
por suas costas, chegando a sua bunda.
— Ainda quer continuar?
— Per?
— Eu te mimei muito. Permitindo que você fizesse o que
quisesse.
— Eu não quis… eu nunca…
— Você vai me obedecer?
Ele sentiu a mão de Percy dedilhar sua pele e não conseguiu
se conter:
— Es-espera!
— Última chance. Sim ou não?
Ele não sabia, tá bom!? Era muita pressão para Nico
aguentar. Quer dizer, ele sempre quis tentar isso com Percy, mas Nico não
queria que fosse assim, uma punição no lugar de diversão.
— Nico? — Percy voltou a dizer, seu tom soando firme e
calmo.
— Eu não sei. — Ele enfim disse, derrotado, o sentimento de
humilhação chegando antes mesmo de Percy encostar nele. — Confio em você.
E então, meros segundos depois, a mão pesada de Percy
estalou contra sua nádega direita, lhe arrancando um gemido que Nico fez
questão de abafar contra a fronha do travesseiro.
— Você está gostando. Não acredito nisso. — Percy disse, sua
voz soando maravilhada e irritada ao mesmo tempo. O que no fim não importava,
porque vieram mais duas palmadas, uma em seguida da outra. Nico jurava que
estava tentando se controlar e não mostrar o quanto realmente estava gostando.
Entretanto, ele não pôde se conter. Nico se contraiu todo, esfregando uma perna
na outra, tentando esconder o efeito que as palmadas causaram nele.
Ele ouviu Percy arfar e ajeitá-lo em seu colo, a calça jeans
roçando em seu membro exposto, e tudo o que Nico pôde fazer foi se segurar nos
lençóis para não gozar com o tratamento violento.
— Você está pronto para conversar? — A voz de Percy soou
baixa a seus ouvidos, o fazendo estremecer.
— Eu já... eu já disse tudo o que queria.
— Quem mais fez isso com você?
Merda! Como Percy sabia?
Percy mudou de lado e dessa vez o estalo reverberou no
cômodo inteiro, o fazendo gemer de verdade, curvando a coluna. Quando Nico não
disse nada, Percy continuou, suas mãos batendo em sua pele e massageando o
lugar até que ele quase... quase...
— Você disse para eu viver um pouco! Foi o que eu fiz! — Ele
gritou, tentando se controlar, se contorcendo todo, sentindo o prazer vir mais
rápido do que Nico esperava. Até que Percy parou de repente, o mantendo no pico
do êxtase para encerrar as palmadas sem avisar.
— Tudo o que eu quero é a verdade, Nico.
— Que bem isso vai trazer!? — Nico gritou mais uma vez,
frustrado, tentando obedecer.
— Você pensa que pode mentir para mim? Quanto mais você
esconde, mais eu quero saber.
— Percy! Não quero falar disso!
— Então, você não deve querer gozar.
— Você não vai fazer isso comigo!
— Quer apostar?
Percy o segurou pela cintura, o virou na cama e então o
colocou sentado no colo dele, o membro de Nico exposto para o ar frio do
quarto, o mantendo imóvel com sua bunda ardendo contra o jeans de Percy.
— Percy!
— Eu não vou incentivar esse tipo de atitude.
— Que atitude?
— É por isso que eu sou tão ciumento. Você sempre faz isso.
Flertando com todo mundo, mentindo e ignorando o problema quando a coisa fica
séria.
— Eu não faço isso. Faço…?
— Você vai me enlouquecer!
— Eu não quis—
— Você nunca quer! Esse é o problema.
— O que você quer que eu faça?
— Seja sincero. É pedir muito?
— Eu... eu não sabia como te contar. Como eu poderia dizer: “Olha,
Percy. Não fica bravo. Fiquei carente e deixei alguns garotos tocarem em mim de
formas que tenho vergonha de admitir”.
— Não parece tão difícil agora. — Percy murmurou, o
agarrando mais forte pela cintura. Nico até temia em saber o que aconteceria
nos próximos dias. — Por que você faz isso comigo?
— Eu não queria que você pensasse que eu... que eu sou...
— Uma vadia que se oferece para quem te der atenção?
Nico olhou para fora da janela e tentou prender o que estava
lutando para se libertar de seu peito.
— Nico, eu não me importo. Você pode ser meu doce Nico e
pode ser esse ser sensual que gosta de provocar as pessoas. Fico triste que
você sentiu a necessidade de esconder essa parte de mim.
— Eu não queria.
— Sei que não. Nunca pensei que você fosse um santo. Tudo o
que eu peço é sinceridade.
— Eu sei.
— Não quero te machucar, mas também não quero te tratar
feito um cristal. Não fuja de mim. Eu te amo.
— Eu também te amo. — Nico disse, relaxando contra o peito
de Percy. — Prometo que vou ser a pessoa mais honesta desse mundo.
Capítulo XV
As coisas pareciam ter se acalmado. Nico sentia que enfim o
peso do mundo tinha sumido de suas costas e se sentia leve e livre, sem mais
nada a esconder. Quer dizer, não tinha contado tudo o que aconteceu, porém,
Percy agora sabia de sua… sobre sua libido que tinha surgido na ausência de
Percy e que agora parecia estar mais acesa do que nunca.
Ele achava que tinha sido claro, não? Afinal, tinha gritado
para quem quisesse ouvir. Sinceramente, Nico estava feliz que após ouvir todas
aquelas coisas Percy ainda estivesse a seu lado, no momento, debaixo das
cobertas com ele, o abraçando pela cintura e ombros, os mantendo colados um ao
outro. Suas nádegas ainda doíam e seus olhos estavam inchados de tanto chorar.
Não o entendam mal, ele estaria de joelhos se isso fosse melhorar sua situação,
Percy apenas não estava no clima. Percy tinha tirado o resto das roupas que eles
usavam e se deitado junto a Nico na cama, o abraçando e fechado os olhos em
seguida. E Nico, como tinha ficado? Ainda excitado, mesmo com a dor das
palmadas e a humilhação das confissões, tentando ficar imóvel entre os braços
de Percy.
Por longas horas tentou fazer exatamente isso, obedecendo à
vontade de Percy. Mas não importava o quanto tentasse, abria e fechava os olhos
de tempos em tempos, vendo as horas passarem lentas e torturantes, o céu
mudando de tonalidades escuras para outras um pouco mais claras.
Ele não aguentava mais! Tocando na mão em volta de seu
peito, Nico fez um esforço e tentou não acordar Percy, entretanto, o agarre em
volta dele se apertou, os braços de Percy o puxaram de volta contra seu peito
forte.
— Onde você pensa que vai?
— Eu preciso… hm…
— Você precisa?
Nico queria morrer, mas antes que esse fato se
concretizasse, pegou uma das mãos sobre seu corpo e a levou para sua virilha.
— Entendo. — Percy murmurou, se aproximando mais.
Estava tudo bem, porque Nico enfim conseguiu o que desejava.
Percy cobriu sua virilha inteira, engolfando seu membro e massageou devagar,
bolas e falo, o apertando tão gostoso que em menos de um minuto estava ereto,
como se a conversa anterior e as palmadas nunca tivessem acontecido. Aquilo era
tão bom… por que era tão bom? Era por que Percy estava tocando nele? Era algo
mais emocional do que físico? Ou era a intimidade do meio da madrugada o
fazendo se sentir leve e despreocupado, mas tão vulnerável que ele queria se
esconder sob o corpo de Percy?
— O que você precisa? — Percy sussurrou contra seu pescoço,
sua voz rouca de sono.
— Você pode me… você pode me foder? — Será que ele estava
sendo claro o suficiente dessa vez?
— Você só precisava pedir.
Ele gemeu frustrado e escondeu o rosto no travesseiro,
ansioso e sentindo a humilhação de ter que pedir por algo, assim, feito um
garotinho carente, o constrangimento descendo por seu pescoço em forma do corar
que o esquentava dos pés à cabeça. O bom nisso é que finalmente seu pedido foi
concedido.
Percy o inclinou um pouco para frente, abriu suas pernas e Nico
imediatamente sentiu dígitos molhados roçarem suavemente e sem pressa contra
sua entrada. Ah… Nico não sabia que esse gesto poderia ser tão relaxante e
gostoso, massageando ao redor tempo o suficiente para que o orifício se abrisse
e permitisse que os dedos de Percy o penetrasse, fácil e sem dificuldade, o
abrindo com tanto cuidado que quando ele se viu estava deitado de bunda para
cima e gemendo com três dedos dentro dele. Nico mal sentiu quando Percy se deitou
sobre seu corpo, um ligeiro desconforto que imediatamente deu lugar ao prazer
quando a cabeça do membro de Percy entrou em contato com sua entrada, o penetrando
com uma leve pressão, o fazendo se abrir feito uma flor que desabrochava, mas
foi quando Percy se forçou um pouco mais para dentro, deixando que o peso de
seu corpo ajudasse no deslizar que Nico gemeu, como nunca tinha gemido na vida,
vendo estrelas.
— Estou te machucando? Onde doí? Estou indo muito rápido?
Nico parou de respirar por um momento, muitas sensações ao
mesmo tempo fritando seu cérebro. Ele… ele não sabia, estava relaxado demais
para determinar se era o puro prazer, se tinha dor no meio ou se precisava de
uma pausa; Nico mal conseguia levantar a cabeça do travesseiro, quanto entender
qualquer coisa que não fosse a necessidade de gozar.
— Bebê. — Percy suspirou, finalmente se encostando a suas
costas, mantendo seus quadris parados, arfando. — Eu preciso.
— Hm. — Nico achava que tinha gemido, que estava prestes a
gozar. Isso não podia ser normal. Não podia.
— Fale comigo.
Então, Percy se acomodou melhor e aquela leve fricção dentro
dele foi o suficiente para fazê-lo gemer, apertando o membro dentro dele tão
gostoso que Percy puxou seus cabelos, um aviso claro para Nico se comportar.
— Per!
Percy parou de novo, tentando recuperar o fôlego, e Nico
derreteu mais uma vez na cama, procurando as palavras certas para dizer o que
precisava.
— Per, eu… eu preciso… preciso…
— Vamos fazer assim, quando você não souber o que dizer e
quiser continuar, diga “obrigado”. Quando estiver gostoso e mesmo assim quiser
parar, diga “Por favor”.
— E se… e se eu não gostar?
— Diga pare e eu vou parar.
Parecia fácil o bastante, então, por que ainda tinha tanta
dúvida? Esse era o momento que Nico tinha a tendência de encerrar tudo. Era tão
intenso que Nico não conseguia continuar, mesmo quando ele usava seu vibrador
favorito. A verdade é que Nico não queria parar, queria continuar e ver onde
isso ia dar. Talvez se ele permitisse que Percy se movesse e o segurasse contra
a cama, exatamente como Percy estava fazendo, Nico poderia chegar ao fim.
— E, então? — Percy murmurou contra seu ouvido, o segurando
firme pelos cabelos e cintura.
— Eu… tudo bem… obrigado.
— Esse é o meu garoto. Todo educado e obediente.
Nico… Nico não deixaria que aquelas palavras o fizessem se
sentir mais à beira do precipício do que ele já estava. Mas quando Percy
acariciou seus cabelos e os puxou, dizendo um rápido “Bom garoto”, Nico não
conseguiu ignorar a reação que isso causava nele. Ele escondeu seu rosto no
travesseiro ao mesmo tempo que um gemido foi arrancado dele e Percy enfim
decidiu se mover.
Nessa noite, nada estava saindo como ele esperava, e ao
invés de Percy fodê-lo rápido e forte, sentiu primeiro Percy girar os quadris,
rebolando dentro dele para depois Percy se impulsionar para trás, devagar e
gostoso, e voltar a penetrá-lo mais devagar ainda, o fazendo curvar a coluna e
gemer longamente, como ele nunca tinha gemido, sem deixar lugar para qualquer
outro pensamento.
— Hmm. — Percy murmurou todo rouco, aumentando a velocidade
e profundidade conforme os gemidos de Nico ficavam mais altos. — Sabia que você
seria perfeito. Todo macio e cheiroso. O encaixe perfeito.
— Eu… eu… ah!
— Hm?
— Obrigado!
Nico achava que tinha gritado, que tinha se contorcido tanto
que sentiu Percy segurá-lo pela nuca e forçar sua cabeça sobre o travesseiro,
dizendo para ele respirar. Mas Nico não conseguia, Percy tinha acertado algo
dentro dele que o fez apagar por um momento; Nico estava gozando e gozando,
cada vez que seu membro expelia, um choque de eletricidade atingia seu corpo, e
Percy ainda estava dentro dele, duro e pulsando, tão quente que Nico não sabia
como não tinha sido queimado.
— Está tudo bem, isso. Eu vou cuidar de você.
Nico sentiu dedos contra sua virilha e em seu membro, o
tocando suavemente. Ele gemeu de novo, pensando que iria morrer, sentindo seu
orgasmo se estendendo até que não aguentou mais:
— Por favor! — Então, gritou mais uma vez, lágrimas se
forçando para fora de seus olhos, sufocado pelo prazer: — Por favor!
— Bom garoto. — Percy gemeu em seu ouvido, sua voz firme e
baixa, sentindo os quadris de Percy irem o mais profundo possível e gozar
dentro dele, como Nico nunca havia permitido a ninguém antes.
Extra
(Percy P.O.V da cena passada de Sexo) - Eu ia lançar essa versão em
forma de original no Patreon, mas decidi colocar aqui . Um extra bem
curtinho
Percy admitia que não estava sendo justo com Nico. Não era
nada planejado, ele nem pensava em transar com Nico tão cedo. Em um momento,
Nico estava todo excitado e no seguinte, o afastava, feito as milhares de vezes
antes de tudo ir para os ares. Mas dessa vez… dessa vez Percy tinha decidido
fazer exatamente o que Nico fazia com ele. Foi uma decisão de último minuto
motivada pela frustração e desespero. Se ele fizesse Nico se sentir como ele se
sentia, Nico pararia de torturá-lo, não?
Primeiro, tentou devagar e sem pressa, passeando pela cidade
e parando na sorveteria favorita de Nico, depois, levou Nico para casa, o
beijando apenas quando tiveram privacidade. Percy jurava que não pretendia
fazer mais do que beijar Nico e ter uma noite tranquila, o problema apareceu
quando Nico o beijou de volta, todo carente, e se virou de costas, esfregando
aquela bundinha empinada contra sua virilha.
Lá se foi seu autocontrole pelo ralo. Nico cheirava tão bem
que Percy teve que beijar aquela pele macia, mordiscando a nuca e pescoço de
Nico até encontrar a boca mordida e avermelhada, se perdendo nele. Desabotoou
os botões da camisa de Nico e então da sua própria para encontrar pele macia e
sem pelos, o estômago liso e mamilos eriçados, pontudos, o forçando a brincar
com eles longamente. Percy simplesmente não conseguia parar de tocá-lo, ouvindo
os gemidinhos arfados, Nico se enroscando contra ele até que bem… vocês podem
imaginar, Nico ficou todo tenso e Percy foi obrigado parar, tentando raciocinar
no meio da densa névoa de excitação que percorria seu cérebro. Tentou conversar
e tentou se acalmar, mas aquela irritação continuava subindo por sua espinha.
Ele não aceitaria ser feito de idiota mais uma vez.
Percy não pensou muito, jogou Nico na cama, o prensou contra
ela e segurou suas mãos acima da cabeça, onde Nico não poderia usá-las para
distraí-lo. O que pareceu ter sido um erro, embora a confissão e meias verdades
tivessem escapado dos lábios de Nico feito uma cachoeira.
Agora, como ele sabia que Nico mentia? Nico desviou o olhar
e tentou se soltar na tentativa de fuga. Nico nem percebia o que estava
fazendo, ainda sem querer encará-lo. Porque era isso o que acontecia quando
Nico sentia que não podia dizer a verdade, ele mentia, tentava distraí-lo ou
fugir, como tinha feito há dois anos atrás e como fazia desde que eles eram
crianças; quando o mundo ficava muito difícil para Nico lidar, ele se escondia,
e sempre sobrava para Percy encontrá-lo e fazê-lo encarar a realidade. Estava
tudo bem quando Nico fugia do resto do mundo, mas quando as coisas eram entres
eles? Quem iria atrás de Nico para ter certeza que tudo ficaria bem?
Sinceramente? Ele não queria ouvir nada daquilo. Não queria
saber quem tinha feito Nico decidir querer sexo ou quem tinha o traumatizado ao
ponto de Nico se fechar tanto que Percy foi obrigado a arrancar a verdade da única
pessoa que nunca precisou ter segredos. Percy estava tão cansado que… que
apenas decidiu se afastar, o vendo chorar na cama como se ele tivesse ofendido
a mãe morta de Nico.
Foi demais para ele quando Nico disse um “Você não me ama
mais?”. Como ele poderia não amá-lo? Alguns garotos e escapadas sexuais não
seriam suficientes para destruir uma década inteira de dedicação e
comprometimento. Entretanto, o pior de tudo foi ouvir “Eu só… não gosto de ser
amarrado e… — Outro soluço, — Foi horrível quando ele tentou… tentou me
penetrar e…”, sabe por que era horrível ouvir isso? Nico estava mentindo outra
vez! Estava fazendo manhã e seu rosto estava tão.. tão… excitado! Numa mistura
de prazer e vergonha tão grande que nada que Nico dissesse no momento Percy
seria capaz de acreditar.
Infelizmente, Percy não tinha muitas opções. Ele respirou
fundo e disse a única coisa correta e racional que poderia, tentando acalmar
Nico, o que pareceu piorar as coisas. Desesperado, Nico engatinhou para seu
lado da cama e montou em seu colo, bem em cima de sua ereção e o olhou com
aqueles olhos cheios de lágrimas de crocodilo que mais o excitava do que o
preocupava, embora a forma ansiosa e angustiada que Nico agia fosse um
indicador mais certeiro do que se passava na mente de seu doce e não mais inocente
garotinho.
Ele estava tentando fazer o certo, não estava? Mas parecia
que Nico não queria isso. Com eles era tudo ou nada, a próxima fala de Nico
apenas deixava tudo mais claro: “Eu quero que você me toque! Quero que você me
foda até que eu não consiga andar, mas… doeu tanto! Não quero que doa. Quero
que só você me toque! Só você me beije! Só você!” e quem era ele para negar o
que seu bebê dramático e manipulador queria? Ele não podia culpar Nico quando o
garoto tinha aprendido com o melhor. Não que Nico estivesse enganando alguém
ali, mas se isso era o que Nico precisava para dizer o que estava engasgado,
ele faria o desejo de Nico se realizar; o que resultou em algo que Percy nunca
poderia prever: palmadas, gritos e confissões que dessa vez saíram bem mais
sinceras, embora ele tenha a impressão que Nico ainda guardava coisas dentro do
peito.
Bem, Percy não estava preocupado. Arrancaria cada um desses
segredinhos que Nico pensava poder esconder dele. Não porque quisesse saber,
mas porque Nico parecia tão aliviado enquanto cada mísera palavra escapava da
própria boca que sabia que o relacionamento deles nunca estaria perfeito
enquanto Nico não confessasse tudo para ele, exatamente como sempre tinha sido.
Admitia que não estava pronto para o que veio em seguida e admitia que queria
fazer Nico sofrer um pouco, o que não chegava perto do que Nico fez com ele,
mesmo que espalmar aquela bundinha empinada tenha sido eficaz. Agora ele
entendia por que Nico tinha fugido de sexo por tanto tempo, o garotinho era tão
sensível que em poucos toques ele estava gemendo como se estivesse prestes a
morrer e tão apertado que Percy enfim acreditou quando Nico dizia ser virgem.
Percy foi paciente e cuidadoso o fazendo relaxar para então… bem, fazer seu
melhor para não gozar enquanto deslizava para dentro daquele canal apertado e
quente.
A partir desse momento foi rápido. Nico apenas conseguia gemer e mal conseguia completar o que falava, arfando e choramingando, estatelado na cama. Não que ele estivesse melhor, segurou nos cabelos de Nico, o mantendo no lugar quando sentiu Nico estremecer dos pés a cabeça, quase o jogando para fora da cama. Percy não tinha conseguido se mover muito, tentando pensar no conforto de Nico, mas tinha sido o suficiente. Alguns momentos depois foi sua vez, gozando fundo dentro da pessoa mais importante de sua vida.
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